sexta-feira, 26 de novembro de 2010
LULA BYE
Presidente Lula durante entrevista a blogueiros no Palácio do Planalto, no último dia 24
Terra Magazine
Paulo Costa Lima, De Salvador (BA)
“Lula já se despediu do cargo várias vezes durante os últimos meses, criando falsos finais curiosos e às vezes jocosos, mas o dia do adeus mesmo está chegando...
Ao descer a rampa do Palácio estará fechando o ciclo de uma longa narrativa, que mobilizou a atenção dos brasileiros e do mundo em geral, e que cadencia em tonalidade maior com a aprovação inaudita de sua gestão - "nunca dantes na história desse País!"
O fato é que a trajetória de Lula mobiliza sentidos plurais - polissêmicos, sendo as últimas três décadas de construção de um partido popular com inserção nacional, apenas a parte mais visível do fenômeno.
Aquilo que sua ascensão ao poder significou reverbera de forma profunda na psique coletiva dos brasileiros - não apenas como empatia e entusiasmo, mas também como estranhamento e repúdio - e reúne pelo menos duas vertentes poderosas.
A primeira delas tem a ver com a saga de um dos 'de baixo' assumindo o poder, invertendo a ordem aparentemente imutável das coisas, no caso, um operário-nordestino-migrante que vira presidente e liderança mundial, "o cara", segundo Obama. A outra, que complementa a primeira, incide diretamente sobre o sonho de uma sociedade menos injusta e desigual.
O século XX reuniu uma série de movimentos e expectativas nessa direção. Para início de conversa, foram 35 anos de ditadura, gerando imobilidade e repressão generalizada, e também sonhos heróicos. Além disso, foram longos períodos de 'desintoxicação' (acho que ainda não saímos do último deles). Carlos Prestes ganhou a alcunha de 'Cavaleiro da Esperança'.
Uma história das utopias brasileiras, dos sonhos de transformação, teria muitos capítulos. A luta pela abolição seria um dos mais densos. Penso em Joaquim Nabuco e seu sonho de nação. E antes ainda, há que lembrar de Cipriano Barata, gritando nas Cortes Portuguesas que índios e negros eram 'cidadãos portugueses', isso em 1821.
De lá do fundo dos tempos brasílicos teríamos que registrar a esperança 'sebastianista', as figuras míticas que reacendem a utopia de um reino de fartura e de justiça, lembrando o desaparecimento do rei D. Sebastião na África, e quase delirando com o seu iminente retorno - tal como descrito de forma candente por Ariano Suassuna, e tematizado soberbamente em 'A Pedra do Reino'.
Lula e o sebastianismo, quem diria!
O gênio satírico baiano do século XVII, Gregório de Mattos, a eles se referia como 'bestianistas', desfazendo, portanto, de quaisquer utopias e duvidando de mudanças significativas na contramarcha da 'máquina mercante'. Essas duas atitudes também permaneceram até os dias de hoje, com variantes.
Assistiremos emocionados à cena do final de mandato (com empatia ou não). Porém, a questão mais importante não será a despedida de Lula, e sim o destino da relação entre o cidadão brasileiro e a narrativa-esperança da construção de uma sociedade mais justa... A construção de redes de desenvolvimento, o investimento em nosso capital humano... A maturidade da leitura crítica da nossa realidade... A decência na política.
Apesar desse incrível processo de engenharia do imaginário (vulgo marketing político) colando a imagem de Lula à de Dilma, agora teremos o teste da realidade.
E, justamente, o desafio de manter esse anseio secular por transformações humanizadoras estruturantes, apesar da dura realidade social que ainda enfrentamos, gerando entusiasmo, coragem e ação...”
FONTE: escrito por Paulo Costa Lima, compositor, pesquisador pelo CNPq,professor de composição da Universidade Federal da Bahia. Publicado no portal “Terra Magazine”, de Bob Fernandes (www.myspace.com/paulocostalima - http://www.paulolima.ufba.br/
http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI4809971-EI8214,00-Lula+Bye.html).
Gostei do título. Vamos compor o "Rock'n'Roll Lula Bye.
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