sábado, 27 de novembro de 2010

Niko Schvarz: "O INCIDENTE ENTRE AS DUAS COREIAS"


“Desde a terça-feira, dia 23, somos submetidos a uma intensa campanha midiática, que estabelece que a Coreia do Norte atacou uma ilha da Coreia do Sul, provocando a morte de dois soldados e dois civis, e baseado nisso se lançam toda a sorte de ameaças e impropérios contra o regime de Pyongyang.

Por Niko Schvarz, no ‘La República’ (Uruguai)

A essa altura aparecem sérios indícios que atravessam a espessa cortina de fumaça e indicam que as coisas aconteceram exatamente ao contrário. Por acontecimento, renunciou abruptamente o ministro de Defesa sul-coreano, reprovado por não ter desencadeado de imediato um bombardeio contra o território da Coreia do Norte. Além disso, tudo isso acontece em meio a manobras navais em grande escala entre Coreia do Sul e Estados Unidos, que mantém nesse território 28.500 soldados, desde a guerra de 1950 a 1953, e que emprega na "Operação Hoguk", que se estenderá até a quarta-feira, 1º de dezembro, o gigantesco porta-aviões USS George Washington.

Por outro lado, deve-se levar em conta o incidente da corveta "Cheonan", um dos vasos de guerra mais importantes da marinha coreana, naufragada em 26 de março também em meio a manobras navais dos Estados Unidos e da Coreia do Sul, e que se pretendeu atribuir também à Coreia do Norte, ficando claro posteriormente que foi afundada por um navio americano que estava instalando minas no leito marinho da área, muito perto da costa norte-coreana e de uma ilha altamente militarizada e com uma base ianque.

Olhemos agora para os últimos fatos. No mesmo dia 23, o Supremo Comando do Exército Popular da Coreia do Norte publicou um comunicado, que foi escassamente difundido. A nota diz: "Apesar de nossas repetidas advertências, os títeres sul-coreanos, que agravam a situação na península coreana, realizando o exércício bélico denominado 'Hoguk' contra a República Popular Democrática da Coreia, cometeram a imprudente provocação militar de disparar, a partir das 13h do dia 23, dezenas de obuses contra as águas jurisdicionais de nossa parte nos arredores da ilha Yeonpyeong do Mar Ocidental da Coreia".

A nota também diz que a provocação militar reitera a prática frequente da Coreia do Sul de enviar vasos de guerra à zona marítima limítrofe, a pretexto de controlar os barcos pesqueiros. Nessas condições — assinala — "nossas forças armadas revolucionárias, que defendem o sagrado mar territorial da pátria, tomaram a resoluta medida de responder com um forte e imediato golpe físico à provocação militar" e afirma, em sua conclusão, que "no futuro também nossas forças armadas revolucionárias seguirão assestando, sem vacilo algum, o implacável contra-ataque militar caso se atreverem a invadir, nem que for por 0,001 milímetro, as águas jurisdicionais da RPDC".

A ilha em questão se encontra no Mar Amarelo, em uma área disputada por ambas as Coreias e ao norte da linha divisória reivindicada pelo governo de Pyongyang. Em tal espaço são frequentes os incidentes navais, como os registrados em 1999, em 2002 e, por último, em novembro de 2009.

Outra fonte assinalou que o próprio governo da Coreia do Sul reconheceu que durante a realização de exercícios militares nas cercanias de suas fronteiras com a RPDC realizaram "testes de tiro" e que, ao impactarem no mar da república do norte, "podem ter sido interpretados como um ataque". Segundo eles se tratou apenas de "um acidente", e que ao receber o impacto dos projéteis lançados pelo norte, replicaram com outro ataque.

Na barafunda que se armou por estes fatos, se misturou o tema do programa de enriquecimento de urânio por parte da RPDC. Pelo visto, há países que continuam acreditando que têm direito ao monopólio do uso da energia nuclear. O mesmo acontece com o Irã. O governo dos Estados Unidos tentou empurrar a China para o bando que condenou o regime norte-coreano, mas a China se negou, limitando-se a expressar sua "preocupação" pelo incidente e pelo aumento da tensão na zona fronteiriça.

Afirma-se que este incidente é o mais grave desde o armistício da Guerra da Coreia, que colocou frente a frente, a partir de 1950, a Coreia do Norte, que contava com o apoio da República Popular da China, e a Coreia do Sul, apoiada pelo poderoso exército dos Estados Unidos, que mantém seus efetivos militares e suas bases no território do sul. O mesmo que aconteceu no Vietnã, até que foram expulsos definitivamente e para sempre.

Os Estados Unidos se envolveram completamente na guerra. Quando foi lançada a invasão ao norte da península, no paralelo 38º estava o secretário de Estado John Foster Dulles em pessoa. O mesmo que na 10ª Conferência Panamericana de Caracas, quatro anos depois, anunciou a invasão das hostes de Castillho Armas e da degola da Guatemala democrática de Juan José Arévalo e Jacobo Arbenz.”

FONTE: escrito por Niko Schvarz e publicado no ‘La República’ (Uruguai). Transcrito no portal “Vermelho” (http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=142431&id_secao=9) [imagem adicionada por este blog].

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