Fernando Rodrigues
“Seria suicídio ficar contra a presença das Forças Armadas no Rio no atual momento. A operação de caça à bandidagem seria um fracasso completo sem o apoio de Exército, Marinha e Aeronáutica.
Há também um efeito colateral positivo. A área militar vai reconstruindo sua imagem entre os brasileiros. Depois de 21 anos de ditadura militar (1964-1985), formou-se um ranço deletério em relação a tudo que se referia (sobretudo) ao Exército. É saudável numa democracia a população reconhecer o valor das Forças Armadas.
Mas fica por aí a exaltação a respeito dessa presente operação militar no Rio. No sábado, ousei escrever sobre o quão alarmante é o fato de uma esmagadora maioria achar muito natural a presença de soldados no combate ao crime organizado. Houve uma enxurrada de protestos -dos quais sou sempre merecedor-, mas muitos acertavam o alvo sem considerar a conjuntura.
A ação de Exército, Marinha e Aeronáutica no combate ao crime organizado é para ser uma exceção. Nunca a regra. Sociedades desenvolvidas devem evitar esse tipo de ação se tornando corriqueira. As polícias é que devem ser aparelhadas e treinadas para exercer essa função. Se a segurança no Rio chegou ao conhecido nível de deterioração, a responsabilidade é dos governadores recentes e de suas políticas ineptas para o setor.
A operação atual não é a primeira. Na Eco-92, o Rio ficou calminho com o patrulhamento ostensivo do Exército. No final de 1994, as Forças Armadas já haviam participado de atividade semelhante. Os resultados sempre foram positivos.
É muito provável que daqui a alguns dias o Rio esteja pacificado. Mas sem a ação rápida do Estado para ocupar as áreas desinfestadas, em breve a maioria estará pedindo outra vez as Forças Armadas. Ao cidadão, resta torcer. Esperar que desta vez seja diferente. O histórico recente, é triste constatar, não recomenda ter grandes esperanças.”
FONTE: escrito por Fernando Rodrigues e publicado na Folha de São Paulo (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz2911201004.htm).
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