quinta-feira, 25 de novembro de 2010
VÍDEO DA ÍNTEGRA DA ENTREVISTA DE LULA COM BLOGUEIROS
Presidente Lula durante entrevista coletiva com blogueiros no Palácio do Planalto, ouvindo pergunta feita online diretamente de São Paulo (Foto: Ricardo Stuckert/PR)
LULA AVISA: “SEREI BLOGUEIRO, SEREI TUITEIRO”
A dinâmica da entrevista não foi a ideal, certamente. Mas era a única possível: só uma pergunta por entrevistado, sem possibilidade de réplica, para que os outros blogueiros pudessem perguntar também (em coletivas “convencionais”, repórteres brigam pelas perguntas, atropelam uns aos outros muitas vezes; os blogueiros combinaram de agir de outra forma).
Além disso, faltaram as mulheres (só Conceição Oliveira entrou, via twitcam). Fizeram muita falta.
Mas o importante é registrar o fato histórico: blogs sem ligação com nenhum portal da internet foram recebidos pelo Presidente da República numa coletiva hoje cedo [ontem, 24/11], no Palácio do Planalto. E os portais tradicionais (quase todos) abriram janelas na capa para transmitir a entrevista – ao vivo.
Não sei se os leitores têm dimensão do que isso significa: quebrou-se o monopólio. Internautas puderam perguntar, via twitter. O mundo da comunicação se moveu. Foi simbólico o que vimos hoje [24/11].
A velha mídia vai seguir existindo. Ninguém quer acabar com ela. Mas já não fala sozinha. Ao contrário: Estadão, UOL e outros ficaram ligados na entrevista com o presidente. Entrevista feita por blogueiros que Serra, recentemente, chamou de “sujos”. Os sujinhos entraram no jogo…
Foi só o primeiro passo. Caminhamos para a diversidade. O que é muito bom.
Quanto ao conteúdo, importante registrar que Lula anunciou: quando “desencarnar” da presidência (expressão repetida várias vezes durante a coletiva), vai entrar na internet. “Serei blogueiro, serei tuiteiro”.
O presidente deixou algumas questões sem resposta. Não explicou de forma convincente dois pontos: por que Brasil não abre arquivos da ditadura? E porque Paulo Lacerda foi afastado da PF e da ABIN depois da Satiagraha? Sobre esse último ponto, Lula chegou a dizer: “Tem coisas que não posso dizer como presidente da República."
Hum… Frustrante. O mistério ficou. Paulo Lacerda contrariou quais interesses?
Os blogueiros não perguntaram sobre Reforma Agrária. Falha grave. Nem sobre saúde. E sobre política externa ninguém falou; felizmente, Lula desembestou a falar sobre o tema (mesmo sem ser perguntado), contando um ótimo (e divertido) bastidor sobre as conversas dele com o líder iraniano.
Natural que muitas perguntas tenham se concentrado na questão das comunicações. É essa a batalha que move os blogueiros. Mas ainda bem que surgiram também outros temas, como Direitos Humanos, jornada de trabalho, fator previdenciário, Judiciário, composição do Supremo.
Numa coletiva para a velha mídia, a pauta certamente seria diferente. Haveria mais perguntas sobre a composição do ministério de Dilma, sobre guerra cambial. Mas aí seria uma coletiva da velha mídia. Papel dos blogueiros foi trazer outros temas ao debate.
Poderíamos ter feito melhor, sem dúvida. Da próxima vez, deveríamos debater melhor a composição da bancada de entrevistadores. Fiquei um pouco frustrado, também, porque havia a promessa de uma segunda rodada de perguntas. Mas não houve tempo. Parte do jogo.
Importante é que esse canal está aberto.
Tentei, durante a entrevista, resumir o que Lula ia falando. Um resumo falho em vários pontos. Mas serve como uma primeira leitura.
A seguir, o resumo da primeira coletiva de um presidente da República aos blogueiros progressistas no Brasil.
(Pergunta do Renato Rovai, sobre avanços nas comunicações – por que não se avançou mais no mandato de Lula)
“Avanço nas comunicações depende da correlação de forças na sociedade. Esforço agora para votar a PL29, chega uma hora e pára.” Lembra que foi difícil fazer Confecom, “muita gente querendo boicotar, bocado de gente não quis participar. Deixamos preparado, costurado para a Dilma avançar mais nessa área. Precisamos ter correlação de forças no Congresso para ter mais avanços.” Eu agora quero desencarnar da presidência, deixar internamente de ser presidente. Ex-presidente é que nem vaso chinês, é bonito, mas muitas vezes não tem onde guardá-lo.” Fala do projeto de Azeredo (AI-5 digital) “estupidez – querer censurar internet.”
(Pegunta de Conceição Oliveira, via twitcam, sobre preconceito contra negros na escola)
Lula lembra como foi difícil aprovar cotas, muita gente contra. “Matamos essa história com ProUni, que trouxe muitos negros para a Universidade.” Lembra que vai lançar Universidade Afro-brasielira em Redenção (CE). Mas é um processo longo para ensinar a história, como negros chegaram ao Brasil, ensinar isso na escola. “Trabalho com a certeza de que a atual geração que está no Ensino Fundamental, quando tiver 20 anos, vai estar com a cabeça mais arejada para tratar da questão da igualdade racial, com mais força. Quando sair da presidência, quero visitar quilombos pelo país, ver o que avançou, o que não avançou. Estou otimista, vamos evoluir. Mas preconceito é uma doença que está nas entranhas das pessoas. Essa campanha (eleitoral) mostrou um pouco isso. O fato de alguém dizer que era preciso afogar um nordestino mostra isso. Se fosse nordestino e negro, então…”
(Leandro fortes sobre Direitos Humanos, PNDH-3)
“Como cidadão, sou contra aborto. Mas como chefe de Estado reconheço que é caso de saúde publica, meninas por aí fazem aborto; chefe de Estado sabe que isso existe, e não vai permitir que madame vá a Paris fazer aborto e uma menina pobre morra. Os PNDH 1 e 2, feitos no governo FHC, trataram as coisas de forma muito parecida. Os meios de comunicação que estão triturando agora o PNDH3 não falaram nada no primeiro e segundo. Até a questão do controle social da mídia está nos planos anteriores.” Sobre Araguaia: “Eu gostaria de ter encontrado os cadáveres. Gostaria. Por isso, mandamos a comissão para o Araguaia. É justo que a história seja contada na sua totalidade, não apenas meia história.”
(Altino Machado, sobre derrota de Dilma no Acre)
“Erro político no Acre. Não foi o povo que errou, disso tenho certeza. Até a Marina lá teria dificuldade para se eleger. Uma das causas de ela ter saído [candidata] a presidente é que teria dificuldades para ganhar para o Senado”. Lula prometeu visitar o Acre em seis meses e esclarecer melhor o que se passou por lá. Prometeu entrevista ao Altino quando for para lá, depois de deixar presidência.
(Rodrigo Vianna , sobre a velha mídia que agora é nacionalista, quer barrar entrada de estrangeiros)
“Tem que ter controle de entrada de estrangeiros, sim. Uma coisa é ser dono de banco, que lida com bolso, outra é a imprensa que lida com a cabeça das pessoas. Mas tenho problemas na relação com a mídia antiga. Sei que lutaram para me derrotar. Sou resultado da liberdade de imprensa neste país. Temos telespectador, ouvinte, leitor. Eles (velha mídia) acham que povo é massa de manobra. Eles se enganam. Têm que lidar com internet, algo que eles não sabem como lidar. Temos também que trabalhar para democratizar a mídia eletrônica. Sai pesquisa com 80% de aprovação, e eles ficam assustados. O povo brasileiro conseguiu conquistar espaço extraordinário. Não se deixa levar por um colunista que não tem interesse em divulgar os fatos. Antes, eles não tinham que se explicar; agora, eles têm. Precisa se explicar, também, para os blogueiros. Quanto mais liberdade, melhor…”
(Altamiro Borges pergunta sobre 40 horas e Fator previdenciário)
Lula diz que seria necessário mudar, mas não dá resposta objetiva. Depende de negociações e tal…
(Ze Augusto, sobre Lula pós mandato, se ele vai cuidar da reforma Política)
“Reforma Política, sou a favor. Quero saber porque há dificuldades dos partidos de esquerda ajudarem na reforma politica.”
(Eduardo Guimarães, sobre casos de alarmismo da mídia)
Lula se estende e volta a lembrar as dificuldades na relação com a velha mídia.
(Sr Cloaca, sobre demora pra convocar Confecom e relação com mídia)
(Túlio Vianna, sobre indicações de Lula ao STF, perfil conservador)
“Graças a Deus o Supremo não é minha cara. Se não, voltaríamos ao tempo do Império ou do ACM na Bahia. Indiquei o companheiro Brito, indicação de juristas de esquerda. Depois, Joaquim Barboza (primeiro negro). Não conhecia Carmen quando indiquei. Lewandovski eu não tinha relação pessoal. O único com quem tinha amizade era o Eros Grau. Todos com visão progressista. O Peluso eu não conhecia. O Direito, para mim, foi surpresa; muita gente tinha dúvida porque eu estaria indicando um ministro de direita, mas a atuação dele foi boa. Não pode indicar pensando na próxima votação na Suprema Corte, nem nos processos contra o presidente da República. Tem que pensar na competência jurídica. Tem gente de direita, de esquerda… Eu posso indicar até o dia 17, ou deixar a Dilma indicar. O indicado agora vai ter muita responsabilidade: Ficha Limpa, Mensalão, Batisti. Quero acertar com a Dilma, saber se tem alguém que ela queira indicar; ou vamos construir junto. E faria o mesmo se o Serra tivesse ganhado. É o jeito de ser republicano”.
Volta a falar de mídia: “Não leio jornais, revistas. A raiva deles é que não os leio. Pelo fato de não ler, não fico nervoso. Tenho muita informação, mas não preciso ler muitas coisas que eles escrevem para ter essa informação. Ninguém pode reclamar, ganharam dinheiro. Algumas (empresas de mídia) estavam quebradas quando eu cheguei ao poder”.
Fala de política externa: Lula conta que perguntou ao Ahmanidejad se é verdade que ele nega o holocausto, porque seria o único no mundo a negar. O líder iraniano negou, disse que quis dizer que morreram milhões na Segunda Guerra, não só judeus. Nunca ninguém (líderes importantes) tinha conversado com o líder iraniano. Conta em seguida bastidor sobre conversas com o iraniano.”
(Pierre Lucena sobre Satiagraha e PF, afastamento do Paulo Lacerda)
“Tenho coisas que não posso dizer como presidente da República, mas posso dizer que quanto mais combate à corrupção, mais ela aparece. Mas a PF nunca trabalhou 20% do que trabalhou no meu mandato. Paulo Lacerda saiu porque estava há muito tempo na PF. Esse companheiro Luiz Fernando é grande diretor da PF. A PF como um todo só merece elogio. No meu governo, minha família foi investigada, entraram na casa do meu irmão. Não agi pra evitar. Quero que investiguem tudo, escancarem. Mas primeiro provem, depois denunciem.”
(Pergunta de leitora, via twitter, sobre momento mais complicado na presidência)
Lula diz que foi o acidente da TAM em Congonhas. Tentaram culpar o governo pelo acidente. Ficou frustrado por ver vidas humanas usadas para abater o governo.
No fim, voltou à campanha eleitoral, falou do lamentável episódio da “Bolilnha de entrevista” e repetiu: Serra deve desculpas ao povo brasileiro! (antes de a entrevista começar, Lula brincou com blgueiros: “vou amassar uma folha e jogar bolinha na cabeça de vocês”).”
FONTE: texto publicado no blog “Escrivinhador”, do jornalista Rodrigo Vianna [vídeo obtido no blog de Luis Nassif. Foto obtida no Blog do Planalto. Pequenas modificações de forma e entre colchetes introduzidos por este blog].
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