sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

ABASTECIMENTO: RESPOSTAS DA PETROBRAS À COLUNA DE MIRIAN LEITÃO/GLOBO

                                 Míriam Leitão

“Referente à “Visão da Petrobras” (versão on-line), texto publicado quinta-feira (17/02), na coluna “Panorama Econômico”, de Mirian Leitão, do jornal “O Globo”.

Confira, abaixo, a entrevista concedida pelo diretor de Abastecimento da Companhia, Paulo Roberto Costa, ao veículo.

Pergunta de Miriam Leitão: Estou aqui para entender as exportações da Petrobras, os produtos importados e exportados, o déficit, os efeito do dólar, se o dólar atrapalha, se não atrapalha, se está neutro para a Petrobras. Que país está abrindo o mercado, quais que não estão, infraestrutura, no que a empresa precisa se virar sozinha, o que há de carência, o que não há. E, por exemplo, eu dei uma olhada nos números da Petrobras e vi que em 2010 foi o momento do déficit, da balança comercial em relação a 2009, acho que um déficit de 200 milhões, se eu não me engano. Eu me lembro pelos números lá do Ministério do Desenvolvimento. Pelo que eu conversei com analistas me disseram que houve muita importação de derivados. Primeiro, eu gostaria de entender o déficit; o que houve de aumento. É só derivado mesmo? O que é que nós temos de investimento, de importação de investimento? Então eu gostaria de primeiro entender esses números. Nós exportamos US$18 bilhões e importamos US$19 bilhões. O que é que nós exportamos e para quem?

Resposta de Paulo Roberto Costa: Deixe-me ver se entendi a pergunta. A minha área é a área de Abastecimento. A importação de produtos aqui na minha área são produtos no estado líquido. Portanto, a área de abastecimento trabalha com o principal: diesel, gasolina, querosene de aviação -que é o QAV-, GLP, nafta. Eu não faço aqui o balanço da parte de gás natural, pois é outra diretoria.

Pergunta: Mas gás natural é muita coisa?

 Resposta: Sim. É bastante. Por exemplo, em relação ao gás natural nós temos importação da Bolívia; 25 milhões a 30 milhões de metros cúbicos por dia. E há também o GNL, que é o gás natural liquefeito. Temos hoje dois terminais para isso, um na Baía de Guanabara e um em Pecém, e também importamos. Portanto, tudo o que eu vou lhe dizer aqui é da parte de líquidos: diesel, gasolina, QAV, GLP e nafta –esses são os principais.

Pergunta: Que deve ser o grosso do que estamos falando.

Resposta: Sim, que é o grosso. Bom, vamos lá. No ano de 2009, nós tivemos saldo positivo na balança nesses combustíveis de US$ 2,8 bilhões em termos de dinheiro. E também saldo positivo em termos de volume. Em 2010, nós tivemos saldo positivo de US$ 1,5 bilhão. Ou seja, nos derivados líquidos, eu tive superávit de $1,5 bilhão.

Como é que nós operamos na parte desses derivados líquidos? Os derivados são esses, e depois há o carro chefe que é o petróleo cru. Então o que é que normalmente temos aqui? Nós não somos autossuficientes em diesel; somos importadores de diesel. Então, em 2009, nós importamos, em média, 50 mil barris por dia de diesel em 2009. Em 2010, a nossa importação foi para 154 mil barris por dia. Subimos 104 (mil) barris a mais. Depois eu vou detalhar o porquê disso e o percentual. Em relação à gasolina, nós normalmente somos exportadores de gasolina. Neste ano de 2010, depois de muitos anos, nós viemos a ser importadores. Também explicarei o porquê. E no ano de 2010 importamos em média 10 mil barris por dia. Esse é um volume relativamente pequeno. Em relação ao QAV, nós normalmente somos importadores de QAV. E em 2010 importamos 33 mil barris por dia de QAV, ou querosene de aviação. Em relação a GLP, nós às vezes importamos e às vezes exportamos GLP. Nesse ano [2010], nós também fomos importadores de o equivalente de 60 mil barris por dia de GLP. Em relação à nafta petroquímica, também somos importadores. Nesse ano, importamos 39 mil barris por dia. Há outros dois derivados importantes, que é o óleo combustível e o bunker. Nós somos exportadores desses dois. Em 2010 nós exportamos 68 mil barris por dia de bunker, que é o combustível usado em navios. E exportamos 93 mil barris por dia de óleo combustível para a indústria, de um modo geral. Normalmente, nos últimos anos nós importamos diesel, exportamos gasolina, importamos QAV, importamos GLP, importamos nafta, exportamos óleo combustível e exportamos bunker. Então há três produtos que são normalmente exportados: gasolina, óleo combustível e bunker. E há outros quatro produtos que são normalmente importados: diesel, QAV, GLP e nafta. Em relação ao petróleo, nós temos balança positiva já há alguns anos; somos mais exportadores que importadores. Mas também continuamos importando petróleo para blendar.

Pergunta: Petróleo mais leve?

Resposta: Sim, petróleo mais leve. Por exemplo, em 2010 nós exportamos, em termos de petróleo, 502 mil barris por dia e importamos 322 mil barris por dia. Ou seja, somos autossuficientes na parte de petróleo.

Pergunta: Mas estamos exportando petróleo cru, mais pesado, e importando petróleo mais leve.

Resposta: Sim. Para fazer o blend. Principalmente por dois pontos: O primeiro é o blend nas refinarias e o mais importante é o petróleo leve que nós importamos para a Reduc para produzir lubrificantes. Então, na minha área aqui, que é a área de abastecimento, esses foram os principais números, sendo que, em termos de balança, nós fechamos 2010 na minha área com $1,5 bilhões positivo.

Pergunta: E o saldo foi o que? Quanto exportamos e quanto importamos nessa área?

Resposta: Como assim?

Pergunta: Aqui é o saldo, o superávit, $1,5 bilhão.

Resposta: E os principais derivados eu lhe passei.

Pergunta: Mas quanto é que nós exportamos e quanto importamos para resultar nesse saldo de $1,5 bilhão? Só para ver percentualmente em relação ao total da empresa.

Resposta: Isso foi o que eu acabei de falar para você. Óleo combustível: exportamos 93 mil barris por dia.

Pergunta: Mas isso está em barril dia. Eu gostaria de saber o valor.

Resposta: Ah, em valor.

Pergunta: Só para poder comparar com a importância disso para o comércio.

Resposta: Eu não tenho esses valores.

Pergunta: Depois eu pego.

Resposta: Sim. Em valor eu não tenho; tenho só em volume.

Pergunta: Mas percentualmente é muito, não é? Olhando para essa corrente de comércio total da Petrobras, isso deve corresponder a quanto? 10%, 50%, 60%?

Resposta: A grande parte da corrente comercial em termos de importação e exportação são esses derivados, porque fora isso aqui praticamente só há gás natural.

Pergunta: Então será muito disso aqui, não é?

Resposta: Muito, muito, muito.

Pergunta: Mas aqui também há investimento. O que os analistas de mercado estavam me falando é que tivemos muita importação de derivados e é por isso que o déficit da empresa aumentou. Mas se um setor está com superávit, não há um déficit.

Resposta: Na realidade, o que acontece é que nós tivemos uma demanda muito grande de gasolina esse ano [2010]. Vou lhe dar os números agora e depois vou explicar isso que você perguntou. Por exemplo, o ano 2008 versus o ano 2009. Lembremos que em 2008 nós tivemos um princípio de recessão, a qual pegou um pouco de 2009. Se eu comparar esses principais produtos que eu lhe falei –GLP, nafta, gasolina, QAV, diesel e óleo combustível– nós tivemos decréscimo de mercado, comparando 2008 com 2009, de 1,2%.

Pergunta: Isso é consumo interno?

Resposta: Sim.

Pergunta: 2008 versus 2009?

 Resposta: 2008 nesses principais derivados: GLP, nafta, gasolina, QAV, diesel, óleo combustível. Então -1,2% comparando 2008 com 2009. Quando eu comparo 2009 com 2010, eu tive um acréscimo de 9,9% no mercado, portanto o mercado cresceu muito.

Pergunta: Até mais que o PIB, não é?

Resposta: Mais que o PIB. Portanto, esse é um ponto diferente e fora do padrão. Normalmente, esses derivados líquidos que eu lhe mencionei cresciam menos que o PIB. É o que chamamos de elasticidade. Normalmente, se o PIB crescia 4%, os derivados líquidos cresciam 2% ou 2,5% – sempre menor que um de elasticidade. Nesse ano de 2010, que foi um ano diferente, também explicarei o porquê disso, nós tivemos um crescimento de 9,9% dos derivados; de um PIB, o qual não tenho um valor, mas que talvez fique entre 7,3% e 7,5%.

Pergunta: Resulta em elasticidade de 1,2 ou algo assim.

Resposta: Exatamente. O que não é normal. Como é que os principais derivados se comportaram em 2010? A gasolina cresceu em relação a 2009, 17,8%, que é um crescimento gigantesco. O QAV cresceu 16,6%, que também é algo extraordinário. O óleo diesel cresceu 8,8%. Por que cresceu dessa maneira? Por que nesse ano de 2010 a elasticidade ficou maior que um, se nos últimos 10 a 15 anos era menor que um? O principal ponto aqui é que obviamente houve um PIB grande. Mas, normalmente com um PIB de 5%, que tivemos algumas vezes daria 2,5. Por que é que agora com 7% deu 9%? Porque no ano de 2010 nós tivemos um ingresso de um contingente no mercado consumidor de população –de povo, de talvez 20 milhões, 25 milhões de pessoas que passaram da classe D para a classe C, da C para a B e da B para a A etc– que consumiu esse valor muito grande. São pessoas que, por exemplo, estão viajando pela primeira vez de avião. É só ir até o aeroporto para ver como os aeroportos estão. Vemos que é a primeira, ou segunda ou terceira viagem de avião para muitas pessoas.

Pergunta: E incentivo para compras de carro?

Resposta: Vamos falar sobre gasolina. Hoje se produz no Brasil 92%, 95% dos carros que são flex fuel. Ou seja, o consumidor escolhe na bomba o combustível que melhor lhe convém. Por que é que a gasolina cresceu dessa maneira?

Pergunta: Porque o preço do álcool subiu muito.

Resposta: Porque o preço do álcool subiu muito, frustração de safra, o álcool subiu demais. Até a semana passada –e esta semana deve estar se repetindo agora em 2011- só há dois estados onde compensa abastecer com etanol, que é Goiás e Mato Grosso. Todos os outros estados compensam mais a gasolina. Portanto, houve transferência do consumo de etanol para gasolina, que representou 17,8%. O diesel cresceu 8,8%. Foi uma safra de mais de 150 milhões de grãos, o crescimento da indústria etc. Portanto, nós tivemos um ano de 2010 totalmente diferente dos outros anos. Mas, mesmo assim, nessa parte dos derivados e do petróleo, nós tivemos um volume [maior], um saldo positivo de balança. Caiu em relação a 2009 de 2,8% para 1,5%, mas ainda assim foi muito positivo. Por que? Porque exportamos muito petróleo.”

FONTE: blog “Fatos e Dados”, da Petrobras (http://fatosedados.blogspetrobras.com.br/2011/02/17/abastecimento-mirian-leitao/#more-36301) [imagem do google adicionada por este blog].

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