JB Costa
“Um dos fatos mais marcantes, porque trágico tal qual uma peça do teatro grego, da história política brasileira foi, sem nenhuma dúvida, o caso Olga Benário.
Em resumo: presa pela ditadura de Getúlio Vargas e esperando um filho de Luís Carlos Prestes, então Secretário geral do OCB e ícone da esquerda brasileira, Olga, judia, foi deportada por conta de um pedido de extradição da Alemanha Nazista. Encarcerada num campo de concentração acabou sendo executada em 1942.
Bem, qual o destino dos dois personagens principais da tragédia? O que o destino, ou, a face mais pragmática da política, os levou? Nada de ressentimentos, de revanche: em 1950, Prestes subiu no mesmo palanque de Getúlio e o ajudou na retomada do Poder, agora pela via do voto.
A ida de Dilma à Folha longe está da magnitude do que foi a "rendição" de Prestes a realpolitik. Além dos aspectos institucionais (liturgia do cargo, relacionamentos institucionais etc), houve o sentido político. Os gestos dos que militam nessa arte são, não raro, muito mais reveladores que palavras ou discursos, estes sempre envoltos em tergiversações e simulações.
A meu ver, a alternativa mais danosa seria a presidenta ter-se negado ao convite. Tal gesto passaria, tanto para a mídia, como para a própria população, espírito de revanche, de vingança. Seria plausível, institucional e politicamente, uma ação dessas de um governante em início de governo? Que ainda busca firmar-se porque ainda à sombra de um político da dimensão do Lula?
Entendo perfeitamente o desencanto e desalento dos que votaram na coligação vitoriosa. O Eduardo Guimarães [blog “Cidadania.com”], pessoa íntegra e que sempre esteve à frente dos embates por conta dos desvios da mídia, repassa todo o sentimento de frustração pelo gesto da Dilma. Sua integridade moral -inquestionável- o levará certamente a uma leitura menos emotiva e mais contextualizada desse evento. O mesmo pode ocorrer com alguns frequentadores do blog, cuja sinceridade é inquestionável.
Não tenho a pretensão de querer anular, ou avaliar como ilegítimas ou equivocadas essas visões do "ensarilhar armas". Chamo a atenção apenas para um aspecto: o institucional; detalhe que passa despercebido pelo jornalista Leandro Fortes no seu artigo "Dilma na cova dos leões", na última edição (nº 634) da “Carta Capital”.
A imprensa é uma instituição. A criação de qualquer acrônimo depreciativo nunca modificará esse fato. E as instituições são um dos resultados do processo civilizatório. Pode-se, aliás, deve-se, colocar em xeque sua credibilidade, sua honestidade, falta de ética, partidarismo, e tudo o mais. Mas nunca a sua própria liberdade e existência, desde que no âmbito das leis vigentes.
Nesse sentido, como se costuma dizer, as pessoas passam e as instituições ficam. Dilma, pelo viés protocolar, foi prestar reverência à instituição imprensa, não a Tavinho ou Tavão. Pela leitura política, estabelecer uma trégua num embate que só prejuízos acarretam para a sociedade e, de quebra, inserir uma cunha, não por rendição, mas por estratégia junto ao eleitorado mais conservador, cujo nicho maior sempre foi São Paulo.
A blogosfera não pode deixar-se apossar pelo autoengano do galo chantecler, aquele que pensava que o Sol despontava todas as manhãs pelo seu belo canto. Não vejo amplitude nem força nos blogs para uma eventual influência ativa e incisiva nos rumos da macropolítica. No varejo, talvez.
Esse é o maior dissabor do autoengano: quando a realidade se impõe, o sentimento é de total desolação. Bate o desespero. Nesses momentos, vale recorrer à leitura do velho Maquiavel que há quinhentos anos nos ensina que a política é da seara dos homens imperfeitos.
E para o futuro é bom nos resguardar. Novas emoções virão.”
FONTE: blog do jornalista Luis Nassif (http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/o-pragmatismo-de-dilma-e-o-auto-engano-na-blogosfera#more) [imagem do google adicionada por este blog].
JB Costa?! (Quem é esse cara?). Olha, gostei tanto do texto que estou aqui meio que de bobeira. E, surpreende que num espaço tão curto, de tão poucos Kbytes se possa produzir esse primor de análise. É assim, cara. É assim que se cria ou se fortalece um sistema de referência realmente útil. Parabéns JB Costa.
ResponderExcluirVida longa, amigo.
Não nos dispersemos, jamais!
Att.,
Mário SF Alves.