quinta-feira, 31 de março de 2011
FOGUETE SUBORBITAL BRASILEIRO VSB-30 LANÇADO NA SUÉCIA
“O lançamento do “VSB-30 V15 - TEXUS 49” ocorreu com sucesso esta semana, no dia 29 de março, às 6h (horário local), a partir do Centro de Lançamento de Esrange, em Kiruna - Suécia. O voo foi perfeito e a carga útil recuperada.
O foguete alcançou a altitude de 268 km. A carga útil, que continha quatro experimentos científicos, ficou seis minutos em ambiente de microgravidade e foi recuperada a 90 km do local do lançamento.
Nesse lançamento, a ESA (Agência Espacial Européia) comemorou 50 voos da carga útil TEXUS.
A Operação "Texus 49" teve início em 18 de março e o lançamento somente ocorreu em 29/03 em virtude de condições meteorológicas desfavoráveis (fortes ventos) nos dias anteriores.
PRINCIPAIS DADOS DO VOO DO "VSB-30 V15 – Texus 49":
- Massa de carga útil: 379 kg;
- Apogeu: 268,2 km (nominal = 264,0 km);
- Tempo de microgravidade = 378 sec;
- Alcance = 92 km;
- ponto de impacto < 1 sigma; - aceleração máxima do 1E = 7,9 g; - aceleração máxima do 2E = 12,6 g.
O FOGUETE VSB-30 (obs adicional deste blog com informações do Wikipedia):
O VSB-30 é foguete suborbital de pequeno porte, de 13 m de comprimento e 2,7 toneladas, para experimentos em ambientes microgravitacionais. Possui dois estágios, estabilizado rotacionalmente. Não necessita de torre de integração. Decola por trilhos. Consegue superar a velocidade Mach 6 (seis vezes a velocidade do som). Foi desenvolvido e fabricado em São José dos Campos, no Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE), integrante do CTA, do Comando da Aeronáutica.
O foguete recebeu pouca contribuição internacional para o projeto. O Brasil teve que desenvolver tecnologia própria.
No seu primeiro estágio, há um propulsor booster, chamado S31; o segundo conta com um propulsor S30, de emprego também nos foguetes VS-30, VS-30/ORION e Sonda III. Ambos propulsores são alimentados com propelente sólido composite a base de polibutadieno hidroxilado e possuem envelopes-motores feitos em aço SAE 4140.
A massa da carga útil (até 400 kg), dependendo do seu valor influencia na altidude apogeu e no período de microgravidade (neste voo, foi de seis minutos e dezoito segundos).
Para o VSB-30-Texus, a Agência Espacial Alemã (DLR) financiou parte do desenvolvimento do estágio da carga útil, para atender ao Programa Europeu de Microgravidade da Agência Espacial Européia (ESA). O VSB-30-Texus substitui os foguetes britânicos Skylark, cuja produção foi descontinuada.
(Ver mais informações sobre o assunto na postagem deste blog de 28 de julho de 2009, intitulada “FOGUETE BRASILEIRO RECEBE CERTIFICAÇÃO”)
FONTE: portal da FAB (http://www.fab.mil.br/portal/capa/index.php?mostra=6916) [imagem e texto sobre o foguete VSB-30 adicionados por este blog com informações do Wikipedia].
OBAMA x BUSH: “EM QUE DIFEREM?”
Por Lustosa da Costa
“Qual a diferença entre Barack Obama e George W. Bush? Um é seguramente mais educado. Espanca, pedindo licença, com boas maneiras. O outro não se educou em casa, nem na faculdade onde se diplomou graças ao grande prestígio do pai.
Enquanto Bush despejava bombas de uma tonelada sobre residências de iraquianos, Barack manda 110 navios de guerra devastarem a Líbia, “para preservar vidas humanas” [que estariam ameaçadas pelo] ditador, que só agora é como tal reconhecido e condenado.
Um “queria a democracia”, implantada à base do porrete. O outro também, sendo que pede desculpas, fazendo o mesmo, quando manda descer o cassetete sobre árabes, orientais em geral.
ARMAS LETAIS
Desta vez, para o governo americano avançar sobre as reservas de petróleo da Líbia, nem precisou alegar, como Bush o fez mentirosamente [contra Saddam], que o ditador [Kaddafi], agora apedrejado, mantinha guardadas "armas de destruição em massa". O atual presidente quer “preservar vidas de líbios”. Por isso, metralhou, impiedosamente, a população de Trípoli com os canhões [mísseis] de seus poderosos navios de guerra e defende “os valores americanos”, ameaçados naquele país. Tudo é pretexto para saquear o ouro negro dos árabes.
O MESMO DO MESMO
Em suma, Barack Obama não acabou a guerra contra os árabes do Iraque, lá deixando no território ocupado quase 100 mil americanos armados até os dentes, inclusive as forças de mercenários contratados pelas empresas ianques. Intensificou a guerra contra o Afeganistão, onde os americanos deverão sofrer derrota mais humilhante que a experimentada no Vietnã. E, agora, por procuração, manda a OTAN declarar guerra a Kaddafi “por agredir os valores americanos há quatro décadas”. É por isso que esse negrinho de alma branca está destruído politicamente. Obedeceu ao lobby armamentista e financeiro e não à sua consciência. Deu no que deu.”
FONTE: escrito por Lustosa da Costa em sua coluna no Diário do Nordeste (http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=955699)[pequenos adendos entre colchetes adicionados por este blog].
VOO DO PRIMEIRO ASTRONAUTA BRASILEIRO COMPLETA CINCO ANOS
MISSÃO CENTENÁRIO
“Há exatos cinco anos, decolava a nave espacial que levaria ao espaço o primeiro e até agora único astronauta brasileiro, Marcos Pontes. O voo durou dez dias e foi parte da “Missão Centenário”, que recebeu esse nome em homenagem aos cem anos [em 2006] do primeiro voo de Santos Dumont com o 14-Bis.
As metas da Missão Centenário eram realizar experimentos nacionais em ambiente de microgravidade, incentivar o crescimento dessa área de pesquisa no Brasil, homenagear Santos Dumont e promover o Programa Espacial Brasileiro.
"Os objetivos foram integralmente cumpridos", afirmou o gerente da missão na ocasião, Raimundo Mussi. Ele acredita que o maior êxito da missão foi despertar o interesse nacional nas atividades espaciais brasileiras, devido à ampla cobertura da mídia que o evento recebeu. "O povo brasileiro não sabia que o Brasil tinha um programa espacial antes da missão", disse Mussi.
CARREIRAS EM CIÊNCIA E TECNOLOGIA
Para o astronauta Marcos Pontes, "uma grande realização foi a motivação dos jovens para seguirem carreira em ciência e tecnologia". O fato pode ser comprovado pelo aumento na participação de alunos na Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica (OBA) depois da Missão Centenário. Em 2005, pouco mais de 185 mil alunos participaram da OBA. Já em 2006, ano do voo de Marcos Pontes, 306 mil alunos fizeram a prova da olimpíada.
Raimundo Mussi acredita que a Missão também serviu para mostrar à comunidade científica brasileira a possibilidade e a efetividade de realizar determinados experimentos em ambiente de microgravidade e a capacidade técnica brasileira de prepará-los em curto tempo e seguindo as estritas exigências de segurança para embarque em voo espacial tripulado. Ao todo, Pontes levou e executou oito experimentos, selecionados por meio do Programa Microgravidade, da Agência Espacial Brasileira.
EXPERIMENTOS BRASILEIROS NO ESPAÇO
O pesquisador do Centro Universitário da FEI, Alessandro La Neve, foi coordenador do projeto "Efeito da Microgravidade na Cinética das Enzimas". Apesar de ter participado dos anúncios de oportunidades dos programas Uniespaço e Microgravidade da AEB desde 1999, La Neve acredita que a Missão Centenário foi um marco para sua equipe, já que tiveram que adaptar o experimento às normas da ISS.
"Foi um desafio. Para isso, contamos com apoio da AEB, do Instituto de Pesquisas Espaciais (INPE), e do Instituto de Aeronáutica de Espaço [IAE/CTA/FAB]. O conhecimento adquirido durante todo o processo foi transmitido para as outras experiências em voos suborbitais", contou o pesquisador.
O experimento de La Neve na Missão Centenário apresentou resultados contraditórios e, por isso, deverá ser repetido. A equipe tem projeto aprovado pela AEB para repetir experimento na ISS. "Já fizemos experiências parecidas em voos suborbitais. No entanto, ela tem que ser repetida na ISS porque o tempo de exposição a ambiente de microgravidade nos foguetes é muito curto (aproximadamente seis minutos) e na ISS é de dias", explicou o pesquisador.
Para o pesquisador da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e coordenador do projeto "Teste de Evaporadores Capilares em Ambiente de Microgravidade" (CEM), Edson Bazzo, "a Missão Centenário abriu rara oportunidade para que pesquisadores de seu grupo, e também de sua universidade, pudessem participar de projeto desafiador. Isso refletiu diretamente na autoconfiança de nossos alunos de doutorado e de mestrado na sua capacidade científica de atender demandas de alto nível tecnológico" afirmou o pesquisador.
Segundo Bazzo, a participação de novos alunos da universidade em projetos orientados à pesquisa experimental e espacial aumentou. "Considerando a experiência bem sucedida e os bons resultados colhidos com o experimento CEM, os trabalhos foram então orientados ao desenvolvimento de materiais alternativos visando a aplicação tanto espacial quanto industrial" disse o pesquisador.
A Missão Espacial também possibilitou o desenvolvimento de tecnologias utilizadas nos dias atuais. O coordenador do projeto "Nuvens de Interação Proteica" (NIP) e pesquisador do Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer (CTI), conta que as tecnologias criadas para o NIP estão sendo utilizadas hoje no desenvolvimento de sensores de gases e sensores para doenças tropicais. "Estamos desenvolvendo, também, um micro cromatógrafo e um sistema de deposição de filmes" conta Archer.
Dois experimentos (germinação de sementes de feijão e cromatografia da clorofila) realizados durante a Missão Centenário eram da Secretaria de Educação de São José dos Campos (SP). Segundo uma das coordenadoras do projeto, Elisa Farinha, a Missão aproximou de forma concreta a temática espacial do dia-a-dia da sala de aula. "A oportunidade de contato com pesquisadores da área, dos institutos de pesquisa do Brasil e da Rússia foi de grande relevância", disse a coordenadora.
Elisa destacou, também, a interação dos alunos com o astronauta Marcos Pontes. "Ele se tornou referência para o grupo. Isso aconteceu não só pelo feito de ser o primeiro astronauta brasileiro a participar de uma missão espacial, mas pela história de vida e exemplo de superação e dedicação", afirmou Elisa.
Segundo o gerente da Missão Centenário, apesar dos experimentos educacionais terem sido criticados pela imprensa, eles foram considerados altamente inovadores por diversas agências espaciais, que inclusive solicitaram detalhes de sua elaboração e execução. Por isso, ele acredita que as críticas aos experimentos foram, portanto, descabidas.
Em 2010, a Secretaria de Educação de São José e seus alunos participaram da Operação Maracati II com Experimentos Educacionais em Microgravidade que voaram no foguete de sondagem VSB-30. "A participação das escolas nessa Operação foi desdobramento significativo da Missão Centenário", afirmou Elisa Farinha.
"Germinação de sementes em microgravidade", coordenado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e "Minitubos de Calor", da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) foram os outros dois experimentos realizados por Pontes na ISS. A pesquisa da UFSC comprovou que minitubos brasileiros, feitos por processo de fabricação inovador e mais simples, funcionam. A tecnologia desenvolvida pela universidade gerou derivações para outros setores industriais, como o petroquímico e até a fabricação de fornos de padaria.
MISSÃO CUMPRIDA
Para relatar tudo o que aconteceu antes, durante e depois de sua viagem ao espaço, Marcos Pontes lançou, em março, o livro "Missão Cumprida". "A obra é um registro histórico da Missão Centenário," disse. Segundo o astronauta, o livro conta um pouco da ansiedade, a preparação e os estudos que aconteceram antes do voo.
A publicação traz os bastidores da Missão e responde a diversas perguntas. Como é o espaço? Como é voar em uma espaçonave? Como é o dia-a-dia na ISS? São algumas delas. A publicação faz, ainda, uma análise de Pontes sobre os impactos, as críticas e as polêmicas que envolveram a viagem. "Esperei cinco anos para escrever o livro porque queria registrar toda a Missão e esse foi o tempo que levei para analisar tudo", diz o astronauta. "Minha intenção é deixar tudo registrado para que futuras gerações aprendam com nossos erros e acertos", completa.
Além do livro sobre a Missão Centenário, Pontes é autor do "É possível! Como transformar seus sonhos em realidade", um mix de suas experiências no espaço e dicas de como ser bem-sucedido. Foi publicado em 2010.”
OBS ADICIONAL DESTE BLOG (com informações do wikipedia):
Marcos Cesar Pontes (Bauru, 11 de março de 1963), tenente-coronel da Força Aérea Brasileira (FAB), atualmente na reserva, foi o primeiro cosmonauta brasileiro, o primeiro sul-americano e o primeiro lusófono a ir ao espaço. Foi na "Missão Centenário", assim batizada em comemoração dos cem anos do 1º voo autônomo no mundo, realizado por Santos Dumont no avião 14 Bis, em 1906. (Os irmãos Wright disseram que já haviam realizado nos EUA pequeno voo em 1903, porém sem testemunhas e com impulso externo propiciado por catapulta).
Pontes formou-se no Colégio Liceu Noroeste, em Bauru, Estado de São Paulo, no ano de 1980. Em 1984, recebeu o bacharelado em tecnologia aeronáutica da Academia da Força Aérea (AFA), localizada em Pirassununga, São Paulo. Em 1989, iniciou o curso de engenharia aeronáutica no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), em São José dos Campos, São Paulo, recebendo o título de engenheiro em 1993. Em 1998, Pontes tornou-se mestre em engenharia de sistemas pela "Naval Postgraduate School", localizada em Monterrey, Califórnia.
Como piloto da FAB, possui mais de 1.900 horas de vôo em mais de vinte modelos de jatos.
Em 30 de março de 2006, partiu em direção à Estação Espacial Internacional (ISS) a bordo da nave russa Soyuz TMA-8, com oito experimentos científicos brasileiros para execução em ambiente de microgravidade. Retornou no dia 8 de abril a bordo da nave Soyuz TMA-7.
Foi agraciado com a Medalha Santos Dumont e com a Medalha de Ouro Yuri Gagarin, pela Federação Aeronáutica Internacional.
FONTE: publicado no site “Inovação Tecnológica” e transcrito no portal da FAB (http://www.fab.mil.br/portal/capa/index.php?datan=30/03/2011&page=mostra_notimpol) [OBS sobre o astronauta e imagens do google adicionados por este blog].
Royal Society: “BRASIL ESTÁ SE TORNANDO POTÊNCIA CIENTÍFICA”
Da BBC Brasil
O BRASIL AVANÇANDO EM CIÊNCIA
BRASIL ESTÁ SE TORNANDO UMA POTÊNCIA CIENTÍFICA, DIZ RELATÓRIO
“Estudo afirma que há avanços em áreas específicas da ciência em alguns países, como a de biocombustíveis no Brasil.
Um relatório divulgado na Grã-Bretanha indica que o Brasil e outros países emergentes, liderados pela China, estão despontando como grandes potências na área de produção de estudos científicos, capazes de rivalizar com países que têm tradição nessa área, como os Estados Unidos, nações da Europa Ocidental e o Japão.
De acordo com o estudo feito pela “Royal Society”, a academia nacional de ciência britânica,São Paulo subiu para do 38º para o 17º lugar na lista de cidades com mais publicações científicas no mundo, o que “reflete o rápido crescimento da atividade científica brasileira”.
A representatividade dos estudos brasileiros teve leve aumento: entre 1999 e 2003, eles equivaliam a 1,3% do total de pesquisas científicas globais. Entre 2004 e 2008, essa porcentagem subiu para 1,6%.
Mas “as reduções significativas no orçamento de ciência em 2011 levantam preocupações”, diz o relatório. Em meio aos cortes de R$ 50 bilhões anunciados pelo governo no orçamento federal, o Ministério de Ciência e Tecnologia deve perder R$ 1,7 bilhão.
CHINA
O relatório, chamado “Conhecimento, Redes e Nações: A Colaboração Científica no Século 21”, analisa a publicação de trabalhos científicos por país no período entre 1996 e 2008.
Segundo o levantamento, o desempenho da China é "particularmente notável" -a publicação de documentos científicos do país superou as do Japão e da Europa nos últimos anos.
O país asiático só é ultrapassado pelos Estados Unidos, mas deve superá-los antes de 2020, se a atual tendência continuar.
Em 1996, os Estados Unidos tinham produção científica dez vezes maior que a chinesa; hoje, sua produção, com crescimento menor, não chega a ser o dobro da do país asiático.
No entanto, o relatório diz que "ainda demorará algum tempo para que a produção dessas nações emergentes esteja à altura de ser referência para a comunidade científica internacional", ressalta a pesquisa.
ÁREAS ESPECÍFICAS
O estudo diz que há avanços em áreas específicas da ciência em alguns países, entre eles o Brasil.
"Existe diversificação de alguns países demonstrando lideranças em setores específicos, como a China em nanotecnolgia, e o Brasil em biocombustíveis, mas as nações avançadas do ponto de vista científico continuam a dominar a contagem de citações."
A pesquisa também identificou nações emergentes no campo da ciência que não costumam ser associadas a uma base científica forte, como o Irã, a Tunísia e a Turquia.
As projeções feitas pelo relatório “sugerem que o sistema científico global está se desvencilhando de seu padrão anterior”.
“China e Coreia do Sul cumprem com suas ambiciosas metas de investimento em pesquisa e desenvolvimento, enquanto economias como Brasil e Rússia também prometem recursos substancialmente maiores para pesquisas.”
Com isso, é possível que nações emergentes –Brasil incluído– superem os investimentos de países como Japão e França no setor.”
FONTE: reportagem da agência britânica de notícias BBC transcrita no blog de Luis Nassif (http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/o-brasil-avancando-em-ciencia#more) [imagem do google adicionada por este blog]
SÃO PAULO É A 1ª CIDADE DO HEMISFÉRIO SUL EM PRODUÇÃO CIENTÍFICA
SP SOBE 21 POSIÇÕES NO RANKING MUNDIAL DE PRODUÇÃO CIENTÍFICA POR CIDADES
ENTRE 1996 E 2008, FOI DO 38º AO 17º LUGAR, DIZ ESTUDO BRITÂNICO
“São Paulo é agora a única cidade do hemisfério Sul entre as 20 que mais produzem artigos científicos no mundo, diz novo estudo. Ela subiu 21 posições desde 1996.
Ao conseguir centralizar o rápido crescimento da atividade científica brasileira, diz a “Royal Society” (a academia nacional de ciência britânica), São Paulo se destaca entre as cidades em ascensão, especialmente por causa da FAPESP, órgão que fomenta a pesquisa no Estado.
Os britânicos ressaltam que a Constituição paulista obriga o Estado a repassar 1% da sua receita tributária ao órgão e cita o seu diretor científico, Carlos Henrique de Brito Cruz, dizendo que, por isso, "provavelmente nenhuma outra agência de fomento no mundo inteiro tem tal segurança e autonomia".
Eles estão preocupados, porém, com "as reduções significativas no orçamento de ciência em 2011" do país.
O Ministério da Ciência e Tecnologia deve ter um corte de cerca de R$ 1,7 bilhão.
"É preocupante, mas em São Paulo 65% do dinheiro para a ciência é estadual, contra uma média de 20% no resto do país", diz Brito.
Além disso, é citada a barreira do português, língua na qual muitos cientistas brasileiros ainda publicam, mas que é pouco amigável para a colaboração internacional.
A subida da capital paulista só foi ofuscada por cidades chinesas que também entraram no top 20, como Nanquim, que subiu 66 posições.
Além de São Paulo e Nanquim, a lista tem outras quatro cidades chinesas, cinco americanas, as cinco principais capitais europeias, Moscou, Toronto, Seul e Tóquio.
No que se refere ao crescimento chinês, o relatório sugere uma revisão da previsão de que o país ultrapassaria os EUA em número de artigos publicados depois de 2020. Pelo andar da carruagem, isso acontecerá já em 2013.”
FONTE: "Folha de São Paulo" (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ciencia/fe3003201103.htm) [título e imagem do google adicionada por este blog].
SETOR DE MÁQUINAS E EQUIPAMENTOS CRESCE 12% EM FEVEREIRO
“A indústria de máquinas e equipamentos teve, em fevereiro, faturamento de R$ 5,81 bilhões, 12% superior ao de janeiro e 11,8% a mais do que em fevereiro de 2010. No acumulado do ano, o setor faturou R$ 11 bilhões, crescimento de 10,9% sobre o mesmo período de 2010.
Os dados foram divulgados ontem (30) pela Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (ABIMAQ).
Em fevereiro, as exportações do setor de máquinas e equipamentos ficaram novamente abaixo das importações. As exportações totalizaram US$ 895 milhões e as importações, US$ 2,04 bilhões. Segundo a ABIMAQ, o déficit comercial do setor deverá chegar, no final de 2011, a US$ 30 bilhões, US$ 15 bilhões a mais que o saldo negativo em 2010 (US$ 15,7 bilhões).”
FONTE: reportagem de Bruno Bocchini publicada pela Agência Brasil (edição: Juliana Andrade) (http://agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2011-03-30/setor-de-maquinas-e-equipamentos-cresce-12-em-fevereiro) [imagem do google adicionada por este blog]
NORDESTE CONCENTRARÁ 78% DO REFINO BRASILEIRO
“O crescimento econômico do Nordeste também se reflete no mercado de combustíveis: em nove anos, a região responderá por 78% da capacidade de refino do país. Esse e outros reflexos da exploração de petróleo e gás foram tema do seminário “O Nordeste e o pré-sal”, realizado na terça-feira (29/03), em Recife, patrocinado pela Petrobras.
Em sua palestra durante o evento, o gerente-executivo de Programas de Investimento da área de Abastecimento da Petrobras, Luiz Alberto Domingues, explicou que a estratégia da Companhia para os próximos anos visa dar autossuficiência ao Brasil também no refino: atualmente, o consumo é 8% maior do que a quantidade de produtos das refinarias. A previsão é de que, em 2020, essa situação se inverta e a demanda pelos derivados de petróleos seja de 2,79 milhões de barris/dia; enquanto o volume processado será de 3,16 milhões, 13,2% maior.
O início dos esforços da Petrobras rumo à autossuficiência no refino foi no início dos anos 2000, com a modernização das instalações já existentes, construídas a partir dos anos 60. Agora, a fase é de investimento na ampliação do parque de refino. A Refinaria Abreu e Lima, que está sendo construída no Complexo Portuário de Suape (a 60km de Recife), está entre os maiores empreendimentos da área. Em 2013, ela vai começar a processar 230 mil barris de petróleo diários. Entre 2014 e 2010, as refinarias Premium I, no Maranhão, e Premium II, no Ceará, vão consumir 900 mil barris/dia (66% deles na Premium I).
Com as novas usinas, o parque de refino da Petrobras passará de 11 para 14 unidades. Há, ainda, aportes na área petroquímica, cuja matéria-prima também é o óleo: o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) e a PetroquímicaSuape (em Pernambuco). Além de garantir o abastecimento no mercado brasileiro, os investimentos também têm como objetivo o crescimento do mercado internacional de derivados de petróleo. “O mercado interno é nosso mercado premium. Foi o que nos sustentou nos últimos 50 anos e continuará sendo prioridade nos próximos 50”, ponderou Domingues.
PERNAMBUCO
O secretário de Desenvolvimento Econômico do Estado de Pernambuco, Geraldo Júlio, estava entre os palestrantes do evento e ressaltou que o governo está atento a esse movimento na região e em Pernambuco, um dos principais focos de atenção da área de petróleo e gás no país. Não apenas pela Refinaria Abreu e Lima e a PetroquímicaSuape, mas também pela atração de estaleiros para Pernambuco. Os estaleiros estão se instalando devido às encomendas de navios da Transpetro, que buscam atender a demanda de aumento da produção de petróleo, especialmente com o pré-sal.
A criação do “Fórum Suape Global” é uma das ações do governo estadual. “Foi construída uma grande composição da sociedade, governo e grande número de parceiros, para transformar o Estado num polo global provedor de bens e serviços para toda a cadeia”, explicou o secretário. As áreas de atuação do fórum são desenvolvimento de recursos humanos, desenvolvimento industrial, infraestrutura e meio ambiente, pesquisa, tecnologia e inovação, desenvolvimento de negócios e comunicação e divulgação. “Nossa meta é proporcionar o desenvolvimento de atividade industrial inovadora e de forte base científico-tecnológica, capaz de garantir a sustentabilidade para os próximos 50 anos. Vamos consolidar Suape como um centro irradiador de desenvolvimento”.
O seminário “O Nordeste e o pré-sal” foi promovido pelos Diários Associados de Pernambuco e contou ainda com a participação de especialistas, como a diretora da consultoria Ceplan, Tânia Barcelar, e do presidente da Federação das Indústrias da Paraíba (FIEP), Arlindo Almeida.”
FONTE: blog “Fatos e Dados”, da Petrobras (http://fatosedados.blogspetrobras.com.br/2011/03/29/nordeste-concentrara-78-do-refino-brasileiro/#more-37689) [imagem do google adicionada por este blog]
quarta-feira, 30 de março de 2011
“TODO MUNDO ERA BOM DEPOIS DE MORRER. ALENCAR ERA BOM EM VIDA”, chorou Lula
Por Paulo Henrique Amorim, com texto extraído do blog “Os Amigos do Presidente Lula”:
“Foi em prantos que a presidenta Dilma e Lula falaram da morte de José Alencar, pouco depois de serem informados pelo médico do ex-vice-presidente.
“Todo mundo era bom depois de morrer. Alencar era bom em vida”, chorou Lula.
A visita de ambos a Portugal foi encurtada. Lula dedicará a Alencar o título de doutor honoris causa na Universidade de Coimbra, na manhã de hoje, e ambos voltam ao Brasil em seguida. A presidenta cancelou a agenda oficial em Portugal que deveria ocorrer nesta quarta-feira à tarde.
A presidenta informou que a família de Alencar aceitou que o corpo seja velado no Palácio do Planalto. O governo decretará luto oficial de sete dias.”
FONTE: postado por Paulo Henrique Amorim em seu portal “Conversa Afiada”, com texto extraído do blog “Os Amigos do Presidente Lula” (com informações do jornal “Valor”) (http://www.conversaafiada.com.br/politica/2011/03/29/todo-mundo-era-bom-depois-de-morrer-alencar-era-bom-em-vida-chorou-lula/).
A VIDA ETERNA DE JOSÉ ALENCAR
Com informações da Wikipedia editadas por Eduardo Guimarães no seu blog “Cidadania.com”:
“José Alencar Gomes da Silva (Muriaé,1931 + São Paulo,2011) foi senador por Minas Gerais e vice-presidente do Brasil de 2003 a 2011. Foi um dos maiores empresários de Minas Gerais. Construiu um império no ramo têxtil, sendo a Coteminas sua principal empresa. Elegeu-se vice-presidente da República na chapa de Luiz Inácio Lula da Silva, em 2003, conseguindo a reeleição em 2006.
Filho de Antônio Gomes da Silva e Dolores Peres Gomes da Silva, começou a trabalhar com sete anos de idade, ajudando o pai em sua loja. Tinha 14 irmãos e irmãs. Quando fez quinze anos, em 1946, foi trabalhar como balconista numa loja de tecidos conhecida por “A Sedutora”. Em maio de 1948, mudou-se para Caratinga para trabalhar na “Casa Bonfim”.
Notabilizou-se como grande vendedor, tanto neste último emprego, quanto no anterior. Ainda durante sua infância, tornou-se escoteiro. Aos dezoito anos, iniciou seu próprio negócio. Contou com a ajuda do irmão Geraldo Gomes da Silva, que lhe emprestou quinze mil cruzeiros.
Em 1950, abriu a sua primeira empresa, denominada “A Queimadeira”, localizada na cidade de Caratinga. Vendia diversos artigos: chapéus, calçados, tecidos, guarda-chuvas, sombrinhas, etc.
Em 1953, iniciou seu segundo negócio, na área de cereais por atacado, ainda em Caratinga. Logo em seguida participou –em sociedade com José Carlos de Oliveira, Wantuil Teixeira de Paula e seu irmão Antônio Gomes da Silva Filho– de uma fábrica de macarrão, a “Fábrica de Macarrão Santa Cruz”.
No final de 1959, seu irmão Geraldo faleceu. Assumiu então os negócios deixados por ele na empresa União dos Cometas. Em homenagem ao irmão, a razão social foi alterada para Geraldo Gomes da Silva, Tecidos S.A.
Em 1963, constituiu a Companhia Industrial de Roupas União dos Cometas, que, mais tarde, passaria a se chamar Wembley Roupas S.A.
Em 1967, em parceria com o empresário e deputado Luiz de Paula Ferreira, fundou, em Montes Claros, a Companhia de Tecidos Norte de Minas, Coteminas. Em 1975, inaugurava a mais moderna fábrica de fiação e tecidos que o país já conheceu.
A Coteminas cresceu e hoje são onze unidades que fabricam e distribuem os produtos: fios, tecidos, malhas, camisetas, meias, toalhas de banho e de rosto, roupões e lençóis para o mercado interno, para os Estados Unidos, Europa e Mercosul.
Na vida política, foi presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais, presidente da FIEMG (SESI, SENAI, IEL, CASFAM) e vice-presidente da Confederação Nacional da Indústria. Candidatou-se às eleições para o governo de Minas Gerais em 1994 e, em 1998, disputou vaga no Senado Federal, elegendo-se com quase três milhões de votos.
No Senado, foi presidente da Comissão Permanente de Serviço de Infra-Estrutura – CI, membro da Comissão Permanente de Assuntos Econômicos e membro da Comissão Permanente de Assuntos Sociais.
Foi, ao início, vice-presidente polêmico, ao assumir o cargo em 2003, tendo sido uma voz discordante dentro do governo contra a política econômica defendida pelo ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci, que mantem os juros altos na tentativa de conter a inflação e manter a economia sob controle.
Já a partir de 2004, passou a acumular a vice-presidência com o cargo de ministro da Defesa. Por diversas oportunidades, demonstrou-se reticente quanto à sua permanência em um cargo tão distinto de seus conhecimentos empresariais, mas a pedidos do presidente Lula, exerceu a função até 2006. Na ocasião, renunciou para cumprir as determinações legais com o intuito de poder participar das eleições de 2006.
José Alencar tinha delicado histórico médico. A partir de 2000, enfrentou um câncer na região abdominal, tendo passado por mais de 15 cirurgias –uma delas com duração superior a 20 horas. Em sua longa batalha contra o câncer, submeteu-se a um tratamento experimental nos Estados Unidos, com resultado inconclusivo. Em 2010, após repetidas internações e intervenções médicas, decidiu desistir de se candidatar ao Senado, por considerar uma injustiça com os eleitores.
No final de seu mandato como vice-presidente, em 2010, apresentou o complexo estado de saúde, sendo até mesmo necessário interromper o tratamento contra o câncer. No dia 22 de dezembro de 2010, foi submetido a uma cirurgia para tentar conter uma hemorragia no abdome. Voltou a ser internado em março de 2011, vindo a morrer no dia 29 devido à parada cardíaca e falência múltipla dos órgãos.
São poucos os políticos brasileiros que nos fazem chorar quando morrem. José Alencar é um deles.”
FONTE: escrito por Eduardo Guimarães no seu blog “Cidadania.com” com informações da Wikipedia editadas (http://www.blogcidadania.com.br/2011/03/a-vida-eterna-d-jose-de-alencar/).
ZÉ ALENCAR, A DIGNIDADE VENCEU O PRECONCEITO
“Em junho de 2002, quando o preconceito contra o candidato Lula e o ódio a seu partido, o PT, eram inoculados diuturnamente na opinião pública pelas trombetas da orquestra midiático-tucana, um empresário rico, bem-sucedido, aceitou transformar-se em antídoto ao veneno difamatório.
Tornou-se vice na chapa do operário metalúrgico. Filho de Muriaé (MG), dono do maior complexo têxtil do país, a Coteminas, o então senador José Alencar, o Zé, como Lula passou a chamá-lo carinhosamente, sabia muito bem o que estava fazendo. A voz grave e pausada de quem conhece o manejo criterioso da pontuação oral tornou-se aos poucos portadora de mensagens que muitos de seus pares, majoritariamente engajados então na candidatura de José Serra, estremeciam só de ouvir. Em parte, a esquerda petista também se surpreendeu; aos poucos trocaria o preconceito pelo respeito afetuoso.
"Nacionalismo não é xenofobia, é interesse pelo próprio país", disparava em entrevista ao site da campanha Lula Presidente, em julho de 2002. “Podemos abdicar de nossas fronteiras econômicas?, questionava na mesma ocasião, indagando sobre a ALCA, agenda prestigiosa então, majoritariamente defendida pelo conservadorismo pró-Serra. "Mas e as fronteiras políticas?" arguia mineiramente. "Vamos ter um só Presidente da República no mundo globalizado? Será que ele vai defender nossos interesses? Uma só moeda? Quem vai controlá-la? Uma só política monetária? Sabemos que não é assim", respondia então com o mesmo sorriso maroto que arrematava as interrogações provocativas. "Se não é assim, continuamos a existir como país. Não podemos abdicar de nossas fronteiras e obrigações políticas".
Por essas e por outras, Lula, na passagem para o segundo turno em outubro de 2002, num debate com delegações estrangeiras, brincou: "Às vezes, eu preciso lembrar o Zé que é para ele ficar a minha direita, não a minha esquerda".
José Alencar faleceu ontem em São Paulo, aos 79 anos de idade.”
FONTE: cabeçalho do site “Carta Maior” em 29/03/2011 (http://www.cartamaior.com.br/templates/index.cfm) [imagem do Google adicionada por este blog].
EUA E OTAN CERCANDO A RÚSSIA E A CHINA COM A MÃO DO GATO
CERCAR A RÚSSIA, VISAR A CHINA: O VERDADEIRO PAPEL DA OTAN NA GRANDE ESTRATÉGIA DOS EUA
“Embora escrito antes da Cúpula da OTAN em Lisboa, este texto de Diana Johnstone mantém toda a atualidade [adaptado temporalmente por este blog].
Depois de desmascarar os objetivos da OTAN, a autora conclui: “Os governos euro-atlânticos proclamam a sua «democracia» como prova do seu direito absoluto de intervir nos assuntos do resto do mundo. Com base na falácia de que os «direitos humanos são necessários para a paz», proclamam o seu direito de fazer a guerra. Uma questão crucial é se a «democracia ocidental» ainda tem força para desmantelar esta máquina de guerra antes que seja tarde demais".
Nos dias 19 e 20 de Novembro, reuniram-se em Lisboa dirigentes da OTAN numa cúpula chamada de “Conceito Estratégico da OTAN”. Entre os tópicos para discussão encontrava-se uma série de “ameaças” assustadoras, desde a guerra cibernética até à alteração climática, assim como belas coisas protetoras como armas nucleares e uma inútil Linha Maginot de alta tecnologia destinada a fazer parar os mísseis inimigos em pleno vôo. Os dirigentes da OTAN não conseguiram evitar falar da guerra no Afeganistão, essa cruzada interminável que une o mundo civilizado contra o esquivo Velho da Montanha, Hassan i Sabah, chefe dos Assassinos do século onze na sua mais recente encarnação como Osama bin Laden. Sem dúvida, muita conversa sobre os “nossos valores comuns”.
A maior parte do discutido é ficção com uma etiqueta de preço.
A única coisa que falta na agenda da cúpula “Conceito Estratégico” é discussão a sério sobre estratégia.
Isto, em parte, resulta de a OTAN, enquanto tal, não ter qualquer estratégia, e não poder ter a sua própria estratégia. A OTAN é, na verdade, um instrumento da estratégia dos Estados Unidos. O seu único Conceito Estratégico operacional é o que é posto em prática pelos Estados Unidos. Mas até esse é um fantasma esquivo. Segundo parece, os dirigentes americanos preferem posições impressionantes, “soluções espetaculares”, em vez de definirem estratégias.
Um dos que pretendem definir uma estratégia é Zbigniew Brzezinski, padrinho dos mujahidin afegãos quando estes podiam ser utilizados para destruir a União Soviética. Brzezinski não evitou declarar abertamente o objetivo estratégico da política dos Estados Unidos no seu livro de 1993, "O Grande Tabuleiro de Xadrez: A supremacia americana”.
Quanto à OTAN, descreveu-a como uma das instituições que servem para perpetuar a hegemonia americana, “fazendo dos Estados Unidos um participante-chave até nos assuntos intraeuropeus”. Na sua “rede global de instituições especializadas”, que obviamente incluem a OTAN (NATO), os Estados Unidos exercem o seu poder através de “permanente negociação, diálogo, difusão e procura de consenso formal, apesar de o poder ser sempre proveniente de uma única fonte, nomeadamente, Washington, D.C.”
Essa descrição cai como uma luva na conferência “Conceito Estratégico” de Lisboa. Na semana passada, o secretário-geral dinamarquês da OTAN, Anders Fogh Rasmussen, anunciou que “estamos muito perto de um consenso”. E este consenso, de acordo com o New York Times, “seguirá provavelmente a formulação do presidente Barack Obama: trabalhar para um mundo não nuclear, mantendo, apesar disso, um dissuasor nuclear”.
Esperem aí, será que isto faz sentido? Não, mas é o tipo de consenso da OTAN. A paz através da guerra, o desarmamento nuclear através do armamento nuclear, e acima de tudo, a defesa dos estados membros enviando forças expedicionárias para enfurecer os nativos de países distantes.
Uma estratégia não é um consenso escrito por comissões.
O método americano de “permanente negociação, diálogo, difusão e procura de um consenso formal” neutraliza qualquer resistência que possa aparecer ocasionalmente. Assim, a Alemanha e a França resistiram inicialmente à entrada da Geórgia na OTAN, assim como ao célebre “escudo antimíssil”, considerados ambos como provocações abertas capazes de provocar nova corrida às armas com a Rússia e de prejudicar as frutuosas relações da Alemanha e da França com Moscou, sem qualquer resultado útil. Mas os Estados Unidos não aceitam um não como resposta, e continuam a repetir os seus imperativos até esmorecer a resistência. A única exceção recente foi a recusa da França em aderir à invasão do Iraque, mas a reação irritada dos Estados Unidos assustou a classe política conservadora francesa, o que levou ao apoio de Nicolas Sarkozy, pró-americano.
À PROCURA DE “AMEAÇAS” E “DESAFIOS”
O verdadeiro conteúdo do que passa por um “conceito estratégico” foi declarado pela primeira vez, e posto em ação, na primavera de 1999, quando a OTAN desafiou a lei internacional, as Nações Unidas e a sua própria carta inicial entrando numa guerra agressiva, fora do seu perímetro de defesa, contra a Iugoslávia. Esse passo transformou a OTAN de uma aliança defensiva para uma aliança ofensiva. Dez anos depois, a madrinha dessa guerra, Madeleine Albright, foi escolhida para presidir o “grupo de especialistas” que passou vários meses realizando seminários, consultas e reuniões para preparação da agenda de Lisboa.
Entre os mais importantes nesses encontros estavam Lord Peter Levene, presidente do Lloyd’s de Londres, a gigantesca seguradora, e o antigo diretor executivo da Royal Dutch Shell, Jeroen van der Veer. Essas figuras da classe dirigente não são propriamente estrategistas militares, mas a sua participação serve para garantir, à comunidade internacional de negócios, que vão ser levados em consideração os seus interesses a nível mundial.
É bem verdade que o rol de ameaças enumeradas por Rasmussen num discurso do ano passado dava a entender que a OTAN trabalhava para a indústria dos seguros. Disse ser necessário que a OTAN tratasse do combate à pirataria, da segurança cibernética, da alteração climática, de incidentes radicais do clima tais como tempestades e inundações catastróficas, da elevação dos níveis do mar, da movimentação em grande escala de populações para áreas desabitadas, por vezes atravessando fronteiras, da escassez de água, secas, da diminuição da produção de alimentos, do aquecimento global, das emissões de CO2, do recuo dos gelos do Ártico, que revelam recursos até agora inacessíveis, da eficiência de combustíveis, da dependência de recursos externos etc.
A maior parte das ameaças apresentadas nem mesmo de longe podem ser interpretadas como exigindo soluções militares. Obviamente, não são os “estados vilões” nem os “bastiões de tirania” nem os “terroristas internacionais” que são responsáveis pela alteração climática; no entanto, Rasmussen apresenta-os como desafios para a OTAN.
Por outro lado, alguns dos resultados desses cenários, como os movimentos de populações provocados pela elevação dos níveis do mar ou pela seca, podem de fato ser considerados como potenciais causas de crises. O aspecto sinistro dessa enumeração é precisamente que esses problemas são avidamente agarrados pela OTAN como exigindo soluções militares.
A maior ameaça para a OTAN é ficar obsoleta. E a procura de um “conceito estratégico” é a procura de pretextos para se manter em ação.
A AMEAÇA DA OTAN PARA O MUNDO
Embora ande à procura de ameaças, é a própria OTAN que constitui uma ameaça crescente para o mundo. A ameaça básica é a sua contribuição para o reforço da tendência liderada pelos Estados Unidos para abandonar a diplomacia e as negociações em favor da força militar. Isto percebe-se claramente quando Rasmussen inclui os fenômenos climáticos na sua lista de ameaças para a OTAN, quando eles deviam ser, pelo contrário, problemas para a diplomacia e negociações internacionais. O perigo crescente é que a diplomacia ocidental está moribunda. Os Estados Unidos deram o tom: nós somos virtuosos, nós temos o poder, o resto do mundo tem que obedecer, senão…
A diplomacia é desprezada como sendo uma fraqueza. O Departamento de Estado há muito que deixou de estar no centro da política externa dos Estados Unidos. Com a sua ampla rede de bases militares em todo o mundo, assim como adidos militares em embaixadas e inúmeras missões em países clientes, o Pentágono é incomparavelmente mais poderoso e influente no mundo que o Departamento de Estado.
Os últimos secretários de Estado, longe de procurarem alternativas diplomáticas à guerra, desempenharam de fato um papel preponderante na defesa da guerra em vez da diplomacia, desde Madeleine Albright nos Balcãs ou Colin Powell acenando com falsos tubos de ensaio no Conselho de Segurança das Nações Unidas. A política é definida pelo Conselheiro de Segurança Nacional, por diversos grupos de opinião financiados por privados e pelo Pentágono, com a intervenção de um Congresso que, por sua vez, é formado por políticos ansiosos em obter contratos militares para as suas clientelas.
A OTAN está arrastando os aliados europeus de Washington pelo mesmo caminho. Tal como o Pentágono substituiu o Departamento de Estado, a OTAN está a ser utilizada pelos Estados Unidos como potencial substituto para as Nações Unidas. A “guerra do Kosovo” de 1999 foi um primeiro passo importante nessa direção. A França de Sarkozy, depois de ter entrado no comando conjunto da OTAN, está destruindo os serviços de diplomacia franceses, tradicionalmente competentes, reduzindo a sua representação civil em todo o mundo. Os serviços de relações externas da União Europeia que estão sendo criados por Lady Ashton não vão ter nem política nem autoridade próprias.
INÉRCIA BUROCRÁTICA
Por detrás dos seus apelos aos “valores comuns”, a OTAN é impulsionada, sobretudo, pela sua inércia burocrática. A própria aliança é uma excrescência do complexo militar-industrial dos Estados Unidos. Há sessenta anos que as aquisições militares e os contratos do Pentágono têm sido uma fonte essencial da investigação industrial, dos seus lucros, de empregos, de carreiras no Congresso e até mesmo de financiamentos universitários. A interação desses diversos interesses converge para determinar uma estratégia implícita dos Estados Unidos de conquista do mundo.
Uma rede global sempre em expansão, de 800 a mil bases militares em solo estrangeiro.
Acordos militares bilaterais com estados-clientes que oferecem formação em troca da compra obrigatória de armas fabricadas nos Estados Unidos e da reestruturação das suas forças armadas, trocando a defesa nacional pela segurança interna (ou seja, repressão) e a possível integração nas guerras de agressão lideradas pelos Estados Unidos [caso típico da pressão sobre o Brasil].
Utilização dessas relações estreitas com as forças armadas locais para influenciar a política interna de estados mais fracos.
Exercícios militares permanentes com estados clientes, que fornecem ao Pentágono um conhecimento perfeito sobre o potencial militar dos estados clientes, os integram na máquina militar dos Estados Unidos e alimentam mentalidade de “prontos para a guerra”.
Posicionamento estratégico da sua rede de bases, exercícios com “aliados” e militares de forma a cercar, isolar, intimidar e acabar por provocar importantes nações consideradas potenciais rivais, nomeadamente a Rússia e a China.
A estratégia implícita dos Estados Unidos, tal como as suas ações dão a entender, é uma conquista militar gradual para garantir o domínio do mundo. Uma característica original desse projeto de conquista do mundo é que, embora extremamente ativo, dia após dia, é praticamente ignorado pela grande maioria da população da nação conquistadora, assim como pelos seus aliados mais estreitamente dominados, ou seja, pelos estados da OTAN.
A propaganda infindável acerca das “ameaças terroristas” (as pulgas do elefante) e outras diversões mantêm a maioria dos americanos totalmente inconscientes quanto ao que está acontecendo, tanto mais facilmente quanto os americanos praticamente desconhecem o resto do mundo e. portanto. não se interessam minimamente. Os Estados Unidos podem varrer do mapa um país antes que a grande maioria dos americanos saiba onde é que ele se encontra.
A tarefa principal dos estrategistas dos Estados Unidos, cujas carreiras passam pelos grupos de opinião, conselhos de diretores, firmas de consultoria e governo, é muito mais justificar esse gigantesco mecanismo do que tentar dirigí-lo. Em grande medida, ele dirige-se a si mesmo.
Desde o colapso da “ameaça soviética”, que os políticos andam à procura de ameaças invisíveis ou potenciais. A doutrina militar dos Estados Unidos tem como objetivo atuar preventivamente contra qualquer rival potencial para a hegemonia mundial dos Estados Unidos. Desde o colapso da União Soviética, é a Rússia que mantém o maior arsenal bélico para além dos Estados Unidos e a China está crescendo rapidamente em poder econômico. Nenhum deles ameaça os Estados Unidos ou a Europa ocidental. Pelo contrário, ambos estão dispostos e desejosos de se concentrarem em negócios pacíficos.
Mas encontram-se cada vez mais alarmados com o cerco militar e com os exercícios militares provocatórios realizados pelos Estados Unidos mesmo à sua porta. A implícita estratégia agressiva pode ser obscura para a maioria dos americanos, mas é certeza absoluta que os dirigentes dos países visados percebem o que está acontecendo.
O TRIÂNGULO RÚSSIA-IRÃ-ISRAEL
Atualmente, o principal “inimigo” explícito é o Irã.
Washington afirma que o “escudo antimíssil”, que tenta impor aos seus aliados europeus, se destina a defender o ocidente do Irã. Mas os russos veem muito claramente que o escudo antimíssil está virado contra eles. Primeiro de tudo, sabem perfeitamente bem que o Irã não tem mísseis capazes, nem nenhum motivo para os usar contra o ocidente. É perfeitamente óbvio para todos os analistas bem informados que, mesmo que o Irã desenvolvesse armas nucleares e mísseis, seriam destinados a funcionar como dissuasor contra Israel, a superpotência nuclear regional que tem mãos livres para atacar os países vizinhos. Israel não quer perder essa liberdade de atacar, e naturalmente opõe-se ao dissuasor iraniano.
Os propagandistas israelenses clamam em voz alta contra a ameaça do Irã, e têm trabalhado incansavelmente para infectar a OTAN com a sua paranóia.
Israel até já foi descrita como o “29º membro da OTAN global”. Os funcionários israelenses têm trabalhado assiduamente junto de uma Madeleine Albright receptiva para se assegurarem de que os interesses israelenses são incluídos no “Conceito Estratégico”. Nos últimos cinco anos, Israel e a OTAN tomaram parte em exercícios navais conjuntos no Mar Vermelho e no Mediterrâneo, assim como em exercícios terrestres conjuntos desde Bruxelas até à Ucrânia. Em 16 de outubro de 2006, Israel tornou-se o primeiro país não europeu a fazer um acordo chamado “Programa de Cooperação Individual” com a OTAN para cooperação em 27 áreas diferentes.
Vale a pena notar que Israel é o único país fora da Europa que os Estados Unidos incluem na área da responsabilidade de seu Comando Europeu (em vez do Comando Central que cobre o resto do Médio Oriente).
Num seminário de Relações OTAN-Israel em Herzliya em 24 de Outubro de 2006, a ministra de relações exteriores israelense de então, Tzipi Livni, declarou que “a aliança entre a OTAN e Israel é uma coisa natural… Israel e a OTAN partilham uma visão estratégica comum. Sob muitos aspectos, Israel é a linha da frente que defende o nosso estilo de vida comum”.
Nem toda a gente nos países europeus considera que os colonatos israelenses na Palestina ocupada refletem “o nosso estilo de vida comum”.
Esta é sem dúvida uma das razões pelas quais o aprofundamento da união entre a OTAN e Israel não assumiu a forma aberta de dar a Israel uma vaga na OTAN. Principalmente depois do selvagem ataque a Gaza, uma decisão dessas iria levantar objeções nos países europeus. No entanto, Israel continua a fazer-se convidado da OTAN, apoiado ardentemente, claro, pelos seus fieis seguidores no Congresso dos Estados Unidos.
A causa principal dessa crescente simbiose Israel-OTAN foi identificada por Mearsheimer e Walt: é o vigoroso e poderoso lobby pró-Israel nos Estados Unidos. [1]
Os lobbies israelenses também são fortes na França, na Grã-Bretanha e no Reino Unido. Têm desenvolvido com entusiasmo o tema de Israel como a “linha da frente” na defesa dos “valores ocidentais” contra o islã militante. O fato de o islã militante ser principalmente um produto dessa “linha da frente” cria um círculo vicioso perfeito.
A atitude agressiva de Israel para com os seus vizinhos regionais seria uma responsabilidade grave para a OTAN, capaz de ser arrastada para guerras do interesse de Israel que não interessam mesmo nada à Europa.
Mas há uma sutil vantagem estratégica na conexão israelense que, segundo parece, está sendo usado pelos Estados Unidos… contra a Rússia.
Subscrevendo a histérica teoria da “ameaça iraniana”, os Estados Unidos podem continuar a afirmar, sem corar, que o planejado escudo antimíssil é dirigido contra o Irã, e não contra a Rússia. Não é que esperem convencer os russos. Mas pode ser utilizado para fazer com que os protestos deles pareçam “paranóicos” –pelo menos aos ouvidos dos ingênuos ocidentais. Meu caro, de que é que eles se queixam, se nós “restabelecemos” as nossas relações com Moscou e convidamos o presidente russo para a nossa alegre assembleia de “Conceito Estratégico?
No entanto, os russos sabem muito bem que:
--O escudo anti-míssil vai ser construído em volta da Rússia, que tem mísseis, que mantêm como dissuasores.
--Neutralizando os mísseis russos, os Estados Unidos ficam de mãos livres para atacar a Rússia, sabendo que a Rússia não pode retaliar.
Portanto, digam o que disserem, o escudo antimíssil, se funcionar, servirá para facilitar uma eventual agressão contra a Rússia.
O CERCO EM VOLTA DA RÚSSIA
O cerco em volta da Rússia continua no Mar Vermelho, no Báltico e no círculo Ártico.
Funcionários dos Estados Unidos continuam a afirmar que a Ucrânia deve integrar a OTAN.
Ainda esta semana, numa coluna do New York Times, Ian J. Brzezinski, filho de Zbigniew, avisou Obama quanto ao perigo do abandono da “visão” de uma Europa “unida, livre e segura” incluindo “a inclusão da Geórgia e da Ucrânia na OTAN e na União Europeia”. O fato de a grande maioria da população da Ucrânia ser contra a entrada na OTAN não foi levada em consideração.
Para o atual rebento da nobre dinastia Brzezinski, é a minoria que conta. Abandonar a visão “isola os que, na Geórgia e na Ucrânia, veem o seu futuro na Europa. Reforça as aspirações do Kremlin a uma esfera de influência…”
A noção de que “o Kremlin” aspira a uma “esfera de influência” na Ucrânia é absurda, considerando os laços históricos extremamente fortes entre a Rússia e a Ucrânia, cuja capital Kiev foi o berço do estado russo. Mas a família Brzezinski é proveniente da Galícia, a parte da Ucrânia ocidental que pertenceu outrora à Polônia, e que é o centro da minoria antirussa. A política externa dos Estados Unidos é, frequentemente, influenciada por essas rivalidades estrangeiras que a grande maioria dos americanos ignora completamente.
Os Estados Unidos continuam com a sua insistência incansável em absorver a Ucrânia, apesar de isso implicar a expulsão da frota russa do Mar Negro da sua base na península da Crimeia, onde a população local é esmagadoramente de língua russa e pró-russa. Isto é a receita para uma guerra com a Rússia, se alguma vez ocorrer.
E, entretanto, os funcionários americanos continuam a declarar o seu apoio à Geórgia, cujo presidente treinado pelos americanos espera abertamente levar a OTAN a apoiar a sua próxima guerra contra a Rússia.
Para além das manobras navais provocatórias no Mar Negro, os Estados Unidos, a OTAN e a Suécia e a Finlândia que não são (ainda) membros da OTAN, realizam regularmente importantes exercícios militares no Mar Báltico, praticamente à vista das cidades russas de São Petersburgo e Kaliningrado. Esses exercícios envolvem milhares de efetivos terrestres, centenas de aeronaves, incluindo os caças a jato F-15, aviões AWACS, assim como forças navais que incluem o U.S. Carrier Strike Group 12, barcos de desembarque e navios de guerra de uma dúzia de países.
Talvez o mais sinistro disto tudo, os Estados Unidos têm envolvido persistentemente, na região do Ártico, o Canadá e os estados escandinavos (incluindo a Dinamarca através da Groenlândia) num posicionamento estratégico militar abertamente dirigido contra a Rússia. O objetivo desse posicionamento no Ártico foi afirmado por Fogh Rasmussen quando referiu, entre as “ameaças” que a OTAN tem que enfrentar, o fato de que o “gelo do Ártico está recuando, libertando recursos que até agora têm estado cobertos pelos gelos”.
Ora bem, podíamos pensar que essa descoberta de recursos seria uma oportunidade para a cooperação na sua exploração. Mas não é essa a disposição oficial dos Estados Unidos.
Em outubro passado, o almirante americano James G. Stavridis, comandante supremo da OTAN na Europa, disse que o aquecimento global e a corrida aos recursos poderia levar a um conflito no Ártico. O almirante Christopher C. Colvin, da Guarda Costeira, responsável pela linha costeira do Alasca, disse que a atividade mercante marítima russa no Oceano Ártico constituía “preocupação especial” para os Estados Unidos e pediu mais recursos militares na região.
O Serviço Geológico dos EUA crê que o Ártico contém um quarto dos depósitos mundiais inexplorados de petróleo e de gás. Sob a Convenção da Lei dos Mares das Nações Unidas, de 1982, um estado costeiro tem direito a uma EEZ [Zona Econômica Exclusiva] de 200 milhas náuticas e pode reclamar mais 150 milhas se provar que o fundo do mar é a continuação da sua plataforma continental.
A Rússia está requerendo isso.
Depois de pressionar o resto do mundo a adotar a Convenção, o Senado dos Estados Unidos ainda não ratificou o Tratado.
Em janeiro de 2009, a OTAN declarou que o “Alto Norte” era de “interesse estratégico para a Aliança” e, desde então, a OTAN tem realizado vários importantes jogos de guerra nitidamente em preparação de um eventual conflito com a Rússia sobre os recursos do Ártico.
A Rússia desmantelou fortemente as suas defesas no Ártico depois do colapso da União Soviética e tem apelado para a negociação de compromissos quanto ao controle de recursos.
Em setembro passado, o primeiro-ministro Vladimir Putin apelou por esforços conjuntos para proteger o frágil ecossistema, atrair o investimento estrangeiro, promover tecnologias amigáveis ao ambiente e tentar solucionar as disputas através da lei internacional.
Mas os Estados Unidos, como de costume, preferem resolver as questões pela força. Isso pode levar a uma nova corrida armamentista no Ártico e até mesmo a confrontos armados.
Apesar de todas essas movimentações provocatórias, é muito pouco provável que os Estados Unidos procurem uma guerra com a Rússia, embora não se possam excluir confrontos e incidentes aqui e além.
Segundo parece, a política dos Estados Unidos é cercar e intimidar a Rússia de tal modo que ela aceite um estatuto de semissatélite que a neutralize no futuro conflito previsível com a China.
O ALVO CHINA
A única razão para ter a China na mira é a mesma da razão proverbial para escalar a montanha: ela está ali. É grande. E os Estados Unidos têm que estar no topo de tudo.
A estratégia para dominar a China é a mesma seguida para com a Rússia. É a guerra clássica: cerco, assédio, apoio mais ou menos clandestino a questões internas.
Como exemplos dessa estratégia:
--Os Estados Unidos estão reforçando de forma provocativa a sua presença militar ao longo das costas chinesas do Pacífico, oferecendo “proteção contra a China” a países asiáticos do leste.
--Durante a guerra fria, quando a Índia recebia o seu armamento da União Soviética e assumia uma postura não alinhada, os Estados Unidos armaram o Paquistão como seu principal aliado regional. Agora, os Estados Unidos estão desviando os seus favores para a Índia, a fim de manter a Índia fora da órbita da “Organização de Cooperação Xangai” e de a utilizar como um contrapeso à China.
--Os Estados Unidos e seus aliados apoiam qualquer dissidência interna que possa enfraquecer a China, seja o Dalai Lama, os Uighurs, ou Liu Xiaobo, o dissidente preso.
O “Prêmio Nobel da Paz” foi atribuído a Liu Xiaobo por uma comissão de legisladores noruegueses chefiados por Thorbjorn Jagland, o eco de Tony Blair na Noruega, que foi primeiro-ministro e ministro das relações exteriores da Noruega, e tem sido um dos principais defensores da OTAN em seu país.
Numa conferência patrocinada pela OTAN de parlamentares europeus no ano passado, Jagland declarou: “Quando somos incapazes de impedir a tirania, começa a guerra. É por isso que a OTAN é indispensável. A OTAN é a única organização militar multilateral com raízes na lei internacional. É uma organização que a ONU pode usar quando necessário –para impedir a tirania, tal como fizemos nos Balcãs”. Isso é uma espantosa adulteração dos fatos, considerando que a OTAN desafiou abertamente a lei internacional e as Nações Unidas quando declarou guerra nos Balcãs –onde, na realidade, havia conflitos étnicos, mas não havia “tirania” alguma.
Ao anunciar a escolha de Liu, a comissão norueguesa do Nobel, chefiada por Jagland, declarou que “há muito que considerava que há estreita ligação entre os direitos humanos e a paz”. A “estreita ligação”, para seguir a lógica das próprias afirmações de Jagland, é que, se um estado estrangeiro não respeita os direitos humanos segundo as interpretações ocidentais, pode ser bombardeado, tal como a OTAN bombardeou a Iugoslávia. De fato, os mesmos poderes que mais barulho fizeram sobre os “direitos humanos”, nomeadamente os Estados Unidos e a Grã-Bretanha, são os que mais guerras fazem em todo o mundo. As afirmações do norueguês tornam claro que a atribuição do “Prêmio Nobel da Paz” a Liu (que passou algum tempo na Noruega quando jovem) correspondia, na realidade, a uma confirmação da OTAN.
“DEMOCRACIAS” PARA SUBSTITUIR AS NAÇÕES UNIDAS
Os membros europeus da OTAN pouco acrescentam ao poder militar dos Estados Unidos. A sua contribuição é acima de tudo política. A sua presença mantém a ilusão de uma “Comunidade Internacional”. A conquista do mundo que está sendo tentada pela inércia burocrática do Pentágono pode ser apresentada como a cruzada das “democracias” do mundo para espalhar a sua ordem política esclarecida pelo resto de um mundo recalcitrante.
Os governos euro-atlânticos proclamam a sua “democracia” como prova do seu direito absoluto de intervir nos assuntos do resto do mundo. Com base na falácia de que os “direitos humanos são necessários para a paz”, proclamam o seu direito a fazer a guerra.
Uma questão crucial é se a “democracia ocidental” ainda tem força para desmantelar esta máquina de guerra antes que seja tarde demais."
[1] No seu livro “The Israel Lobby and U.S. Foreign Policy” (2007), descrevem este lobby como uma “coligação informal de indivíduos e organizações que trabalham ativamente para guiar a política externa dos Estados Unidos numa direcção pró-Israel”. O livro “concentra-se principalmente na influência do lobby sobre a política externa dos Estados Unidos e nos seus efeitos negativos para os interesses americanos” (N.T.)
PS do “Viomundo”: Brilhantes analistas descobriram virtudes no texto do voto brasileiro que aprovou o envio de um investigador dos Direitos Humanos ao Irã. Teria sido um tapa com luva de pelica nos Estados Unidos. [Pausa para a gargalhada]. Podem esperar sentados por uma articulação internacional que resulte numa investigação de Guantánamo. [Pausa para nova gargalhada]. O que interessa a Washington é isolar o Irã politicamente para facilitar a troca de regime. O resto é delírio tropical.
FONTE: escrito por Diana Johnstone, analista de política internacional especializada em assuntos militares. Tradução de Margarida Ferreira.
Publicado, em 02.12.10, no “Diario.info” de Portugal. Agora transcrito no portal “Viomundo” por sugestão de “Vila Vudu”, ajustado para o idioma português “brasileiro” (http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/cercando-a-russia-e-a-china-com-a-mao-do-gato.html) [imagem do Google adicionada por este blog].
A OTAN SE DÁ O PAPEL DE DERRUBAR GOVERNOS
GUERRA DA OTAN NA LÍBIA?
Por MK Bhadrakumar, no “Indian Punchline”
“72 horas depois de a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) ter sido incumbida pelas potências ocidentais da tarefa de fazer valer uma zona aérea de exclusão e um embargo de armas na Líbia, a aliança deu grande salto adiante. O próprio corpo que toma decisões da própria OTAN decidiu que a própria OTAN ficará encarregada de implantar também todas as demais decisões da Resolução nº 1.973 do Conselho de Segurança da ONU sobre a Líbia [R-1973].
Declaração da OTAN, feita em Bruxelas no final desse domingo (27/03), mal disfarçava o tom triunfalista: “É passo muito significativo, que prova a capacidade da OTAN para empreender ação decisiva”.
Mas tem gato na tuba.
A declaração da OTAN nada diz sobre quem estaria esperando que a OTAN “provasse” alguma coisa, ou que “ação decisiva” a OTAN agora por-se-á a “empreender”. A questão, de fato, é que a OTAN, afinal, recebeu a chance de provar-se ela mesma –de provar que é a única organização militar em escala global que pode intervir militarmente e “empreender ação decisiva” contra qualquer país (fora do mundo ocidental, sempre, é claro).
Não há dúvida que se trata de “passo muito significativo” no que tenha a ver com a segurança internacional. O Conceito Estratégico adotado na cúpula da OTAN em Lisboa [1], novembro passado, definiu que o objetivo da aliança seria constituir-se como organização de segurança global. Mas ninguém do mundo externo, naquele momento, jamais supôs que o objetivo seria alcançado nesse prazo recorde.
A realidade política é que a R-1.073 não atribuiu nenhum papel específico à OTAN. A própria OTAN se autoatribuiu um papel e esse específico papel.
As potências ocidentais interpretaram unilateralmente a R-1.973 e incluíram nela os raids aéreos contra forças do governo líbio para, militarmente, alterar o equilíbrio militar na Líbia a favor dos ‘rebeldes’. Agora, também a OTAN por-se-á a atacar militarmente a Líbia.
Em termos mais simples, a OTAN acaba de entrar no sangrento negócio de derrubar governos, “mudança de regimes”, em países fora da Europa nos quais interesses ocidentais sejam ameaçados.
A declaração da OTAN dizia que a aliança está preparada para “iniciar imediatamente a operação efetiva”. Significa que a OTAN já sabia que seria encarregada dessa ação e manteve-se em estado de prontidão, enquanto todos os analistas ocidentais, pela imprensa, sugeriam que a aliança estaria sendo empurrada para um dilema. Muito evidentemente tudo acontece segundo plano bem preparado –armar os ‘rebeldes’ líbios; instigar o conflito até situação extrema; e, então, interferir diretamente, com poder bélico gigantesco, para derrubar um governo, digo, para “mudar um regime”.
É a primeira vez que a OTAN inicia operação militar na África/Oriente Médio. As operações “fora de área”, da OTAN começaram, no mundo, nos Bálcãs, quando se tratou de dividir a antiga Iugoslávia; e a guerra do Afeganistão forneceu o cenário para que a OTAN chegasse à Ásia sul e central.
Ninguém precisa esperar o resultado da conferência das potências ocidentais que aconteceu em Londres ontem, 3ª-feira, para entender as dimensões políticas da missão da OTAN na Líbia.
As potências ocidentais estão passando a perna na ONU, depois de obter uma “legitimidade”, de fato, uma folha de parreira, mediante a R-1.073. Os dois membros que têm poder de veto no Conselho de Segurança –Rússia e China– já acionaram as respectivas máquinas de propaganda, mas é altamente improvável que algum dos dois considere, mesmo que remotamente, a possibilidade de convocar sessão do Conselho de Segurança para enfrentar, de fato, as novas dimensões do problema da Líbia. Assim sendo, EUA, França e Inglaterra estão totalmente livres para desenhar como bem entendam a missão da OTAN. Se os ataques aéreos não conseguirem arrancar de lá o governo Gaddafi, a OTAN será convocada para mandar suas tropas de ocupação por terra.
É possível até que Rússia e China estejam estimando que não será de todo mau para seus interesses se o ocidente envolver-se em guerra na Líbia. Ocupados na Líbia, diminuem os riscos de que a OTAN e o ocidente se metam pelos quintais russos ou chineses, pelo menos por algum tempo.
Assim sendo, só resta a União Africana para protestar contra operações militares decididas unilateralmente contra o governo líbio. O problema é que, como dizem que Stalin teria perguntado sobre o papa: “Quantas divisões tem a União Africana?”. A resposta é óbvia: ‘Zilch’, necas.
Feliz, só o presidente Barack Obama, dos EUA. Afinal, é a OTAN, não os EUA, que inauguram um novo, grande espaço, para longas guerras.”
FONTE: escrito por MK Bhadrakumar e publicado no “Indian Punchline”. Transcrito no portal “Viomundo” com tradução do “coletivo da Vila Vudu” (http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/a-otan-se-da-o-papel-de-derrubar-governos.html) [imagem do Google adicionada por este blog].
Moniz Bandeira: EUA E ALIADOS QUEREM LEGITIMAR DOUTRINA DA “INTERVENÇÃO HUMANITÁRIA”
Por Marco Aurélio Weissheimer
“As razões pelas quais Estados Unidos, França e Inglaterra dediciram liderar uma ação militar na Líbia contra o regime de Muammar Kadafi ainda não estão muito claras. Os limites dessa ação determinados pela resolução aprovada no Conselho de Segurança das Nações Unidas falavam da instalação de uma "zona de exclusão aérea" com o objetivo de proteger a população civil dos ataques dos aviões de Kadafi. Mas esses limites já foram extrapolados, com ataques no solo a tanques e tropas leais ao governo líbio. O que, afinal, está por trás dessa ação?
Em entrevista à “Carta Maior”, concedida por correio eletrônico, o historiador e cientista político Luiz Alberto de Vianna Moniz Bandeira analisa as revoltas populares que estão acontecendo no Oriente Médio e no norte da África. Sobre o conflito líbio, Moniz Bandeira reconhece que as razões da posição de EUA, França e Inglaterra não estão muito claras e podem estar relacionadas a questões internas destes países e também à vontade de legitimar a doutrina da intervenção humanitária.
"Os objetivos não estão claros. A guerra foi praticamente iniciada pelo presidente da França, Nicolas Sarkozy. Supõe-se que ele deseje evitar que uma guerra civil na Líbia provoque grande fluxo de refugiados para o sul da França. Mas há outras hipóteses. Tanto na França como nos Estados Unidos, cujos presidentes estão muito desgastados, bem como na Inglaterra, motivos eleitorais provavelmente influíram na decisão de deflagrar a guerra. O petróleo, aparentemente, não foi um fator decisivo", avalia.
Cientista político e professor titular de história da política exterior do Brasil na UnB (aposentado), Moniz Bandeira é autor de mais de 20 obras, entre as quais "Formação do Império Americano", que lhe valeu a escolha de Intelectual do Ano 2005, pela União Brasileira de Escritores, e o Troféu Juca Pato. Em abril, deve estar nas livrarias a 3ª edição de seu livro "Brasil-Estados Unidos: a rivalidade emergente", prefaciado pelo embaixador Samuel Pinheiro Guimarães.
Carta Maior: Na sua avaliação, quais são as principais causas das revoltas que estamos assistindo hoje no Oriente Médio e norte da África?
Moniz Bandeira: É difícil apontar os principais fatores que determinaram e determinam a eclosão das revoltas nos países árabes. São diversos e complexos. E tudo indica que são autóctones, não obstante o fenômeno do contágio. O sucesso do levante na Tunísia estimulou o alçamento no Egito e daí se alastrou, conforme as condições domésticas de cada um dos países da região. Há, decerto, diferenças históricas, sociais e políticas entre os dois países. Suas estruturas de Estados e instituições são diferentes. Ao contrário da Tunísia, o Egito é o mais populoso país árabe e o mais importante, do ângulo geopolítico e geoestratégico, no Oriente Médio. Entretanto, nos dois países, há juventude com certo nível de educação e saúde que não encontra emprego ou ocupação adequada à sua capacitação.
A Tunísia tem população de cerca de 10,4 milhões de habitantes, altamente alfabetizada e urbanizada e apenas 3,8% vivem abaixo do nível de pobreza. Porém, com força de trabalho de quase 4 milhões de pessoas, o nível de desemprego, da ordem de 14%, é muito elevado. O Egito, por sua vez, tem população de 76,5 milhões de habitantes, dos quais cerca de 20% a 25% vivem abaixo do nível de pobreza. Sua força de trabalho soma 26,1 milhões, mas o índice de desemprego, da ordem de 9.7%, é bastante elevado. Apesar de haver crescido 5% nos últimos anos, sua economia não conseguiu criar empregos conforme as necessidades da população. A juventude está seriamente afetada pelo desemprego. Cerca de 90% dos desempregados são jovens com menos de 30 anos. Os graduados têm de esperar pelo menos cinco anos por uma oportunidade de trabalho na administração. E as políticas neoliberais executadas pelo ditador Hosni Mubarak agravaram as desigualdades e o empobrecimento de milhões de famílias.
As oportunidades de trabalho, desde há muitas décadas, crescem muito menos do que a taxa de crescimento da população. Entrementes, no campo, há algumas regiões com excesso de força de trabalho, e outras com carência. E os regimes tanto na Tunísia e quanto no Egito estavam politicamente estagnados, sob ditaduras corruptas e brutais de Zine el-Abidine Ben Ali e de Hosni Mubarak. Esse fato, em meio à ao desemprego, extrema pobreza, inflação, alta dos preços dos alimentos e o ressentimento político provocado pela sistemática repressão, foi aparentemente fundamental na deflagração das revoltas, que, sem dúvidas, seitas islâmicas fundamentalistas, como a “Irmandade Muçulmana” no Egito, e interesses estrangeiros trataram e tratam de aproveitar.
Carta Maior: Essas revoltas pegaram os Estados Unidos e seus aliados de surpresa, desestabilizando suas políticas na região, ou a turbulência atual não representa risco maior para eles?
Moniz Bandeira: Muito provavelmente as revoltas na Tunísia e também no Egito surpreenderam os Estados Unidos e a todos os países do Ocidente. Durante algumas semanas, o governo de Washington nada disse sobre a sublevação na Tunísia. E, quando Hilary Clinton viajou para Tunis, dois meses após a derrubada do ditador, ocorreram demonstrações contra a sua visita. Se houvesse consciência do que estava a acontecer, a secretária de Estado não haveria declarado, quando o levante começou no Cairo, "Our assessment is that the Egyptian government is stable and is looking for ways to respond to the legitimate needs and interests of the Egyptian people." Essa avaliação de que o regime de Mubarack era estável demonstra o grau de desconhecimento que o governo dos Estados Unidos tinha da real situação no Egito. Que havia descontentamento, sabia-se, mas não a sua extensão nem o que poderia provocar.
É claro que tal turbulência representa risco para os Estados Unidos e para a União Européia, pois não se pode descartar a possibilidade de que a “Irmandade Muçulmana”, a única força organizada no Egito, vença as eleições e assuma o governo e que os fundamentalistas islâmicos venham a predominar, de alguma forma, nos outros países árabes.
Carta Maior: Como o Sr. vê o que está acontecendo na Líbia agora? Trata-se de uma revolta popular em busca de mais democracia no país, ou de uma insurreição de outra natureza?
Moniz Bandeira: O que se sabe sobre a Líbia é que ninguém sabe de fato o que lá está acontecendo. Há muita contra-informação e informações fragmentadas e confusas, manipuladas pela grande mídia internacional. Winston Churchill, o ex-primeiro ministro britânico, escreveu em suas memórias que, em tempos de guerra, a verdade é tão preciosa que deve estar sempre escoltada por uma frota de mentiras. E o certo é que em nenhum desses países árabes há consciência democrática, tal como se imagina no Ocidente. Há apenas uma idéia difusa e confusa. Não há tradição e as condições históricas, políticas e culturais são diversas das que terminaram o desenvolvimento da democracia no Ocidente.
A democracia para os povos árabes, que se insurgem no norte da África e no Oriente Médio, significa maiores oportunidades de trabalho, de participação política, liberdade de expressão e melhoria econômica e social. E, na Líbia, como na Tunísia e no Egito, a elevação do preço dos alimentos fomentou o descontentamento, ao agravar as condições sociais e políticas lá existentes. E ela sofreu o efeito do contágio. A Líbia tem 6,5 milhões de habitantes, dos quais 43% são urbanizados, mas o desemprego é da ordem de 30% e um terço da população vive abaixo da linha de pobreza. Importa 75% dos alimentos e as exportações de petróleo respondem por cerca de 95% de sua receita comercial e 80% da receita do governo.
A situação da Líbia, porém, é ainda mais complexa do que na Tunísia e no Egito. Gaddafi assumiu o poder em 1969. Com um golpe militar derrubou o rei Idris, da seita Senussi, fundada no século XIX, em Meca, por sayyd Muhhammad ibn Ali as-Senussi, da tribo Walad Sidi Abdalla e sharif, isto é, descendente da Fatmimah, filha de Maomé. Desde então, Gaddafi buscou impor à Líbia um só partido. Mas a Líbia, diferentemente da Tunísia e do Egito, é uma nação que ainda não se consolidou. É o mais tribal entre os países árabes. Pode-se dizer que é Estado semitribal. Sua estrutura rural é praticamente assentada em tribos nômades e seminômades, muito segmentadas Lá existem mais de 140 tribos e clãs. Gaddafi, no início, tentou reduzir a influência das tribos, mas posteriormente teve de fazer alianças e manipular a fidelidade das tribos para manter sua ditadura.
A tribo de Gaddafi, Ghadafa (Qadhadhfah) é de origem bérbere-árabe e aliou-se à confederação Sa'adi, liderada por Bara'as (a tribo da esposa de Gaddafi, Farkash al-Haddad al-Bara'as). Os conflitos entre as forças do governo de Gaddafi e outras tribos –as tribos Zawiya e Toubou- começaram entre 2006 e 2008, no oasis de Kufra, localizado no sudeste da Líbia, 950 quilômetros ao sul de Benghasi, perto da fronteira com o Egito, Sudão Chad. Benghasi, onde a rebelião começou, está na Cirenaica, antiga província romana (Pentapolis) e tradicionalmente separatista, na parte oriental da Líbia. Misurata é a única cidade na Tripolitânia, oeste da Líbia, que habita a tribo Warfallah, o maior grupo tribal, dividido em 52 subtribos, com cerca de um milhão pessoas. Essa tribo foi levada para a Líbia, no século XI, pelos Fatimidas, por motivos políticos. A ela está aliada a tribo Az-Zintan, que habita as montanhas ocidentais, entre as cidades bérberes, Jado, Yefren e Kabaw. E essas tribos romperam com o governo de Gaddafi, insurgiram-se e sustentam a rebelião. Não há indício de que houve estímulo direto do estrangeiro quando ela começou. Porém, em seguida, seguramente, houve participação externa, contrabandeando armamentos para os rebeldes em Benghazi. O contrabando continua. Mas a rebelião conta com o apoio do “Grupo de Combate Islâmico”, cujos membros estão estreitamente ligados a Bin Laden e podem tentar a tomada do governo, com a queda de Gaddafi. Tudo indica que a oposição à ditadura de Gaddafi está mais alinhada com a al’Qaida. Sob o comando de Abu Yahya Al- Libi, os jhadistas do Grupo Islâmico de Combate (Al-Jama'ah al-Islamiyah al-Muqatilah bi-Libia) já tinham se levantado contra o regime em 1990 e o centro da rebelião, atualmente, são as cidades de Benghazi e Darnah, onde eles se haviam concentrado e ocorrerem os levantes em 1990.
Muitos islamistas radicais, exilados por Gaddafi, estão a voltar, entrando pelas fronteiras de Mali, Egito e outras. Os rebeldes, saudados pelos americanos como ‘freedom fighters’, não são, certamente, democratas. Um estudo da Academia Militar dos Estados Unidos, em 2007, indicou que do leste da Líbia saiu grande contribuição para a al-Qaeda no Iraque. Em tais circunstâncias, tudo pode acontecer na Líbia, com a prevalência e a desordem política, pior do que no Iraque e no Afeganistão.
Os Estados Unidos, França e Inglaterra não têm como controlar a situação. A razão pela qual esses países estão apoiar os rebeldes islamistas não está muito clara. O mais provável é que queiram legitimar a “doutrina da intervenção humanitária”, tal como ocorreu no Kosovo e Sierra Leoa. Há contradição inexplicável de interesses em jogo. E não sem razão o ex-presidente Bill Clinton, ao visitar o Brasil, em 25 de março, declarou, a respeito do que os Estados Unidos, França e Inglaterra estão a fazer na Líbia: "Vai ser mais difícil construir estabilidade nesses países do que foi para derrubar a velha ordem. Então, agora acho que estão atirando em uma incerteza".
Carta Maior: E quanto à resolução aprovada pela ONU, qual sua opinião?
Moniz Bandeira: A resolução aprovada Conselho de Segurança viola a própria carta das Nações Unidas. O art. 2, do Cap. I, estabelece que “nenhuma disposição da presente Carta autorizará as Nações Unidas a intervir em assuntos que dependam essencialmente da jurisdição interna de qualquer Estado, ou obrigará os membros a submeterem tais assuntos a uma solução, nos termos da presente Carta; este princípio, porém, não prejudicará a aplicação das medidas coercitivas constantes do capítulo VII”. E o art. 42 do Capítulo VII dispõe que, se o Conselho de Segurança, considerar que “as medidas previstas no artigo 41 seriam ou demonstraram ser inadequadas (interrupção completa ou parcial das relações econômicas, dos meios de comunicação ferroviários, marítimos, aéreos, postais, telegráficos, radioelétricos, ou de outra qualquer espécie, e o rompimento das relações diplomáticas), poderá levar a efeito, por meio de forças aéreas, navais ou terrestres, a ação que julgar necessária para manter ou restabelecer a paz e a segurança internacionais. Tal ação poderá compreender demonstrações, bloqueios e outras operações, por parte das forças aéreas, navais ou terrestres dos membros das Nações Unidas”.
Está bem claro que as operações militares aéreas, navais ou terrestres dos membros das Nações Unidas só poderão ocorrer caso sejam necessárias “para manter ou restabelecer a paz e a segurança internacionais”. O que ocorria na Líbia era uma questão interna, não ameaçava a paz e a segurança internacionais. O ataque a um país soberano é uma guerra. Não há nenhuma força multilateral. E os Estados Unidos, França e Inglaterra foram além de estabelecer uma no-fly zone para proteger civis. Como proteger civis, matando civis com mísseis lançados contra as cidades da Líbia? É o que continua a acontecer no Iraque, Afeganistão e Paquistão. Os civis são os mais sacrificados.
No Afeganistão, somente em 2009, foram mortos por bombardeios cerca de 2.412 pessoas, 14% mais do que em 2008. Entre 2005 e 2008, as forças dos Estados Unidos e outras da OTAN mataram entre 2.699 e 3.273. No Iraque, calcula-se que, de 2003, quando a guerra começou, até 2007, mais de um milhão de civis foram mortos. E calcula-se que cerca de 700 civis foram pelos bombardeios americanos desde 2006. Segundo o “Conflict Monitoring Center” (CMC), em Islamabad, somente em 2011 mais de 2.000 pessoas foram mortas, a maioria das quais inocentes civis.
Na realidade, na Líbia, os Estados Unidos, França a Inglaterra estão a participar da guerra civil apoiando os rebeldes, como a Alemanha nazista fez durante a guerra civil na Espanha (1936-1939), quando bombardearam não apenas Guernica, mas diversas outras cidades, estreando seus bombardeiros Junkers Ju 52 e Heinkel He 111, bem como os caças Messerschmitt e Junkers Ju 87, que destruíram 386 aviões dos republicanos. Os navios de guerra dos Estados Unidos e da Inglaterra já lançaram contra a Líbia, para a destruir as defesas de Gaddafi, cerca de 124 mísseis de cruzeiro. Cada um custa US$ 1 milhão e o novo modelo US$ 2 milhões. No primeiro dia da “Operation Odyssey Dawn” os gastos dos Estados Unidos apenas com mísseis já chegaram a US$100 milhões.
Carta Maior: Neste cenário, não é fácil precisar quais os objetivos dos Estados Unidos, França e Inglaterra no ataque às forças de Gaddafi, ajudando os rebeldes...
Moniz Bandeira – Os objetivos não estão claros. A guerra foi praticamente iniciada pelo presidente da França, Nicolas Sarkozy. Supõe-se que ele deseje evitar que uma guerra civil na Líbia provoque um grande fluxo de refugiados para o sul da França. Mas há outras hipóteses. Tanto na França como nos Estados Unidos, cujos presidentes estão muito desgastados, bem como na Inglaterra, motivos eleitorais provavelmente influíram na decisão de deflagrar a guerra. O petróleo, aparentemente, não foi um fator decisivo. A França somente importa 5,63% do petróleo da Líbia, mas, possivelmente, deseja assegurar para seu abastecimento, durante o século XXI, as vastas reservas lá existentes, estimadas em 41 bilhões de barris, conquanto representem menos de 2% das reservas mundiais. Os países que mais importam o óleo da Líbia são Itália, entre 18,9% e 22%; China, 10,4%; Alemanha, entre 7,8 e 9,7. Porém, as operações na Líbia, de onde só importa 0,6% de petróleo, poderão custar para os Estados Unidos um montante entre US$ 400 milhões e US$ 800 milhões, de acordo com o “Center for Strategic and Budgetary Assessments”, enquanto os gastos no Afeganistão já ultrapassam US$377 bilhões.
Calcula-se que a guerra contra a Líbia custará para os Estados Unidos US$ 1 bilhão por semana. E o Pentágono necessita este ano de mais US$ 708 bilhões, incluindo U$ 159 bilhões para as guerras no Iraque e Afeganistão. Entrementes, em março, o déficit orçamentário atingiu o montante recorde de US$ 222,5 bilhões.
E o Departamento do Estado calcula que, através dos cinco meses do ano fiscal de 2011, o déficit cumulativo seja de U$ 641 bilhões. Entretanto, pelo menos 50.000 americanos carecem de recursos básicos de saúde, e cerca de 50.000 morrem em conseqüência disso, todos os anos.
No Reino Unido, ao mesmo tempo em que corta das despesas públicas £95 bilhões, a pretexto de reduzir, e cria um milhão de desempregados, o governo conservador de David Cameron gasta em torno de £3 milhões por dia com as operações aéreas contra as forças de Gaddafi. A missão de uma aeronave custa por hora entre £35.000 e £50.000. O total diário é £200.000 por avião. Estima-se que o custo para os contribuintes ingleses alcançará £100 milhões dentro de seis semanas. Os mísseis Tomahawk, comprados dos Estados Unidos, custam £500,000 cada e os mísseis Storm Shadow custam £800,000 cada. A manutenção do submarino HMS Triumph, que dispara os mísseis contra a Líbia, custa cerca de £200,000 por dia. E aí os custos disparam.
Carta Maior: O presidente dos EUA, Barack Obama autorizou o início dos bombardeios contra a Líbia durante sua visita ao Brasil. Qual sua avaliação sobre essa visita e, de um modo mais geral, sobre a política externa do governo Obama. Houve alguma mudança significativa em relação aquela praticada pelo governo Bush?
Moniz Bandeira: O que está por trás de do presidente Barack Obama é o mesmo Complexo Industrial-Militar que sustentou o presidente George W. Bush. Ele deu continuidade às guerras no Afeganistão e no Iraque, onde ainda mantém cerca de 40 mil soldados, além dos mercenários (contractors) das ‘private military company’ (PMC), como a Halliburton, Blackwater e outras. E não contente em continuar as guerras no Afeganistão e no Iraque, deu início a uma terceira, na Líbia. E aí tudo indica que a decisão inicial, após conversar com o presidente Sarkozy, foi tomada pela secretária de Estado, Hilary Clinton, e Obama simplesmente autorizou. Na realidade, ela se sobrepõe ao presidente Obama e é quem está efetivamente conduzindo a política internacional dos Estados Unidos, de modo a atender aos setores mais conservadores do Partido Democrata e aumentar sua popularidade, para candidatar-se outra vez à presidência dos Estados Unidos.
Quanto à visita do presidente Obama ao Brasil, não representou qualquer mudança na política externa dos Estados Unidos nem nas relações com o Brasil. Foi uma visita protocolar, ele nada pôde, nem tinha o que, oferecer ao Brasil, cuja diretriz de política externa a presidente Dilma Roussef essencialmente mantém. O voto em favor de um delegado da ONU para verificar a questão dos direitos humanos na Irã é um fato isolado e não representa uma alteração fundamental na posição do Brasil.”
FONTE: entrevista realizada por Marco Aurélio Weissheimer com o historiador e cientista político Luiz Alberto de Vianna Moniz Bandeira. Publicada no site “Carta Maior” (http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=17611).