segunda-feira, 25 de abril de 2011

Yves Saint-Geours, Embaixador da França no Brasil: “NÃO PROVOCAMOS GUERRAS PARA MOSTRAR NOSSOS ARMAMENTOS” (Acredita?)


“Enviado ao Brasil como embaixador em 2009, o diplomata francês Yves Saint-Geours (foto) acompanha à distância o retorno de seu país ao papel de protagonista no tabuleiro mundial. Em conversa na embaixada da França em Brasília, Saint-Geours rechaçou para “Zero Hora” as interpretações de que o empenho militar do governo Nicolas Sarkozy esconderia tentativa de reverter seus baixos índices de popularidade. A seguir, a síntese da entrevista:

Zero Hora – No momento em que atinge o mais baixo nível de popularidade, o presidente Nicolas Sarkozy envolve a França em três campanhas militares simultâneas. O objetivo é tirar o foco da situação política interna?

Yves Saint-Geours –
Estamos no Afeganistão desde 2001. Na Costa do Marfim, temos tropas há muitos anos. Os franceses não chegaram agora nesses dois países. Quanto à Líbia, existe uma “efervescência”. Considerar que as operações militares são motivadas pela baixa popularidade do presidente não me parece baseado na realidade.

ZH – O protagonismo da França nas operações militares na Líbia e na Costa do Marfim demonstra que o país pretende ocupar novo espaço no cenário internacional ou é apenas defesa de sua esfera de influência?

Saint-Geours –
Há muito tempo, temos importante papel no cenário mundial. As pessoas esquecem que, na última década, a França participou de mais de 25 operações internacionais de “resgate de civis” [sic].

ZH – A postura do governo francês no episódio da insurgência na Tunísia, apoiando o regime do ditador Zine El Abidine Ben Ali, foi alvejada mundialmente. Houve erro de avaliação de Paris naquele momento?

Saint-Geours –
Os governantes franceses admitiram que não haviam captado com nitidez o episódio. As críticas serviram como advertência para tornar mais aguda a observação dos fatos mundiais.

ZH – As operações militares são uma vitrine para a venda de equipamentos bélicos franceses?

Saint-Geours –
Não provocamos guerras para mostrar que nossos armamentos são bons. Preferíamos que não houvesse conflitos.

ZH – Durante o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a França se tornou parceira estratégica do Brasil. A sucessão no Brasil arrefeceu a relação entre os dois países?

Saint-Geours –
Ainda que a parceria tenha sido encarnada por Lula e Sarkozy, temos de pensar nos motivos dessa sociedade: amizade, compartilhamento de valores, interesse de fazer mais negócios bilaterais e disposição de propor alterações na governança mundial. Apesar da chegada da presidente Dilma Rousseff, as motivações continuam as mesmas. A ordem global segue precisando de transformações.

ZH – Se a presidente Dilma Rousseff optar por não comprar os caças da França, o Palácio do Eliseu continuará defendendo uma vaga permanente para o Brasil no Conselho de Segurança da ONU?

Saint-Geours –
Não estamos trocando um assento no Conselho por caças. É óbvio que estamos fazendo o possível para ganhar essa concorrência. Contudo, não entramos nesse tipo de jogo.

ZH – Como a França viu a reaproximação do governo brasileiro com a Casa Branca, intensificada com a visita do presidente Barack Obama ao Brasil?

Saint-Geours –
Vimos de forma positiva. Afinal, somos aliados firmes dos americanos. Não considero que essa aproximação possa enfraquecer a parceria estratégica que a França construiu com o Brasil.

ZH – O governo francês pretende aproveitar o bom momento econômico brasileiro para aumentar as relações comerciais entre os dois países?

Saint-Geours –
Sim. No entanto, o comércio bilateral entre a França e o Brasil é equilibrado. Já a relação brasileira com os americanos apresenta déficit na balança comercial a favor dos EUA.

ZH – O know-how da França em sediar grandes eventos esportivos poderia ser emprestado para o Brasil organizar a Copa do Mundo e as Olimpíadas?

Saint-Geours –
Temos feito muitos contatos em segurança e infraestrutura. Por exemplo, o aeroporto Charles de Gaulle, em Paris, poderia prestar consultoria a aeroportos brasileiros. Estamos interessados em ajudar o Brasil.

ZH – A França apoia a reivindicação dos países do BRIC de reformar a ONU, o FMI e o Banco Mundial?

Saint-Geours –
A França milita mais por essa reforma do que Rússia, Índia e China, o “RIC” da sigla. Demonstramos isso durante as negociações para alterar o peso dos votos no Fundo Monetário Internacional e no Banco Mundial. Somos os maiores incentivadores de dividir as decisões mundiais com países como o Brasil.”

FONTE: publicado no jornal “Zero Hora” e transcrito no portal da FAB (http://www.fab.mil.br/portal/capa/index.php?datan=24/04/2011&page=mostra_notimpol) [imagem do Google adicionada por este blog]

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