terça-feira, 28 de junho de 2011

“DILMA NÃO DEPENDE DE LULA”

Ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho

Do portal G1, da Globo:

ENTREVISTA COM GILBERTO CARVALHO, MINISTRO DA SECRETARIA-GERAL DA PRESIDÊNCIA

“Com seis meses de governo, o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, afirmou considerar “natural” que a presidente Dilma Rousseff seja candidata à reeleição em 2014. Em entrevista concedida ao “G1”, ele disse que não há “nenhuma hipótese” de o ex-presidente Lula disputar a Presidência em 2014. “(Lula) não quer (disputar o cargo) em 2014. Em hipótese nenhuma ele gostaria. E 2018 está muito longe. A oposição precisa levar em conta isso. Lula permanece figura que nos ajuda, apoia. Como candidatura, (não há) nenhuma hipótese de ele ser candidato em 2014″, afirmou Carvalho.

Fiel escudeiro do ex-presidente, o ministro é a principal ponte entre o antecessor e a atual chefe do Executivo. Com experiência acumulada de quem trabalha há mais de oito anos no governo, ele testemunhou as principais crises que abalaram a administração de Lula, como o ‘Mensalão do PT’, em 2005, e a queda dos ex-ministros José Dirceu (Casa Civil) e Antonio Palocci (Fazenda).

Gilberto Carvalho lamentou a “crise prematura” que atingiu o governo no início da gestão de Dilma, mas afirmou que a presidente é independente em seus atos. “Dilma não depende de Lula para tomar atitudes. Tanto que Gleisi e Ideli não foram sugestões dele. Ele é um apoio efetivo”, disse.

Leia a entrevista:

-O Sr. é visto como o principal elo entre o ex-presidente Lula e a presidente Dilma. Com essa visão privilegiada, qual balanço faz destes seis primeiros meses do governo?

Eu acho que, de um lado, dá para dizer que é nitidamente um governo de continuidade, no sentido de que o projeto geral –com lema de crescimento com distribuição de renda– está mantido, no sentido geral de inversão das prioridades, no sentido de privilegiar os que mais precisam. O governo é para todos, mas, especialmente, para os mais pobres –com o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), ‘Minha casa, Minha vida’. Eu diria que, de maneira geral, eu faço avaliação muito positiva de que os nossos pontos mais sagrados, mais importantes, estão não só mantidos, como reenfatizados. O lançamento do ‘Programa Brasil sem Miséria’ é apenas a consolidação disso que eu estou dizendo. É inegável, também, que é um governo que sofreu uma crise prematura, não vamos esconder o sol com a peneira. Essa crise do Palocci não dá para subestimar, foi um golpe duro que aconteceu prematuramente, e o governo não estava preparado. Governo nenhum está preparado para crise alguma, mas, vamos convir, foi cedo demais. Uma figura chave, muito importante. Foram 23 dias de muito sofrimento dela e de todos nós aqui dentro.

O Sr. estava no governo nas piores crises, como a própria queda de Palocci do Ministério da Fazenda, no governo Lula. Pode-se dizer foi um erro colocá-lo no governo Dilma?

Não foi não, porque, pelo papel que ele tinha desempenhado no governo Lula, pelo papel fundamental na campanha e a contribuição que ele deu nos últimos seis meses, acho que não foi equivocado não. Deve-se levar em conta que a razão pela qual Palocci caiu não foi por uma razão pós-posse dele, foi anterior. Confesso que tenho muita dificuldade para fazer avaliação moral desta história, acho que não me compete isso –tanto que saí em defesa do Palocci. Do ponto de vista legal, ele fez o que muita gente não faz neste País: ele emitiu nota, registrou os bens dele na Receita, compareceu à Comissão de Ética. Aí, a pergunta: “É muito dinheiro? É pouco dinheiro?” Eu, como sou incompetente para ganhar dinheiro, não sei avaliar isso. Claro que eu sei que é estranho, vejo a reação dos meus amigos, dos familiares. Politicamente analisando, Palocci não precisava ter feito o que fez, e nós não precisaríamos tê-lo perdido. Aí sim, acho que teve erro político, de comprar uma casa com tanta ostentação como aquela (que custou R$ 6,6 milhões) e assim por diante. Mas insisto: é julgamento relativo. No essencial, ele não cometeu erro legal nem ético enquanto esteve no governo.

-A escolha das ministras Gleisi Hoffmann (Casa Civil) e Ideli Salvatti (Relações Institucionais) o pegou de surpresa?

Difícil falar que pegou de surpresa porque acompanhei muito de perto a escolha. Fui chamado pela Dilma para emitir opinião.

-Com as escolhas, Dilma deu qual recado? Ela enfrentou os partidos?

Você sabe que a escolha ministerial já é uma tradição no País e com Lula era a mesma coisa. Quando ele escolheu a Dilma, ninguém também imaginava. Então, não acho que ela quis enfrentar ninguém. O único episódio que teve um pouco de conflito foi com a Ideli, que a bancada queria indicar alguém. Mas, aquela história: para ministro, não se faz campanha. É escolha pessoal.

-No começo do ano, o Sr. disse que o PMDB teria a chance de “melhorar sua imagem” no governo Dilma. Mas o PT tem dado tanto trabalho quanto o aliado, cobrando cargos do governo, fazendo pressões. Quem o Sr. diria que dá mais dor de cabeça para o governo Dilma: o PT ou o PMDB?

Eu acho que não pode ser visto desse jeito. Eu acho que não dá para falar em dor de cabeça. Você tem aliados –PT, PMDB, PSB, que cresce cada vez mais. Tem o fenômeno novo que é o PSD, que se estiver perto do PSB vai ser força grande. Então, as pedras se movimentam, e os problemas que elas geram e as ajudas que elas dão também são proporcionais ao tamanho delas. Não dá para dizer que o PMDB dá mais trabalho que o PT, depende do momento e do tema.

-Mas, e no momento?

O PT deu trabalho nesta dificuldade da bancada (de se chegar a um consenso sobre as indicações para os cargos), mas houve momento anterior em que houve problemas com o PMDB, pelas pressões por cargos. Eu prefiro olhar. Após oito anos nesta Casa, você aprende a ficar calejado, não se apavora. É um jogo da política, de pressões e contrapressões. Cada partido, dependendo do momento, vai apresentar suas demandas.

-Mas PT e PMDB se queixam o tempo todo de que não são atendidos por cargos e indicações.

É natural da política, o governo está montado, praticamente. Falta muita pouca coisa para nomear. Os ministérios, o essencial está trabalhando, falta pouca coisa para nomear. Cada um olha do seu lado. A Ideli trouxe para a Dilma esses dias um texto de jornal de 2008 (em) que, um ano depois, Lula ainda precisava pedir calma para o PT e PMDB por causa da montagem do governo. As coisas vão ficando (fora de controle). A pressão é infinita. Precisamos relativizar as coisas. (É) natural que os partidos façam suas demandas.

-Dilma cede menos em relação aos partidos que Lula?

Diria que sim, ela cede menos. Claro que ela pode fazer isso com a experiência que ela teve anteriormente (quando ocupou o cargo de ministra da Casa Civil após a queda de José Dirceu, no governo passado), que Lula não teve. Outra coisa: a base que ela tem na Câmara, Senado, é mais confortável do que (a que) Lula teve. Mas me agrada muito a clareza da Dilma, das posições dela. Eu fico muito triste de ver o nome dela vinculado a essa história de sigilo (dos gastos da Copa do Mundo de 2014, das Olimpíadas de 2016 e dos documentos oficiais do governo). Dilma é muito cuidadosa com a questão da transparência. Se tem alguém favorável à transparência é a Dilma.

-E os sigilos dos documentos oficiais?

(O senador Fernando) Collor fez um pedido a ela (para que mantivesse em segredo os documentos considerados ultrassecretos) e isso foi vazado como se fosse uma posição dela.

-Mas a notícia é a de que houve um recuo da posição da presidente. Até porque houve um desencontro de opiniões dos próprios componentes do governo, como a ministra Ideli e o líder do governo no Senado, Romero Jucá. Houve um recuo?

É verdade. Mas não houve um recuo. Eu estava ao lado dela no almoço do PTB quando Collor falou que achava perigoso a emenda colocada (no projeto) por Walter Pinheiro (atual senador pelo PT-BA) que abre tudo, as questões internacionais. Ela comentou internamente que precisava olhar com cuidado isso, mas nem ela sabia direito os detalhes da emenda que a Câmara tinha feito. A partir disso, foi vazado –não com palavras dela– que Dilma iria apoiar a medida que Collor tinha proposto. Depois, quando ela foi examinar a questão, percebeu que não era correto isso (manter o sigilo eterno das informações), que não tinha sentido aquela posição, porque o projeto da Câmara não era nenhum desastre. É apenas um exemplo de como a comunicação é importante. Senão, a gente apanha por versões que não correspondem aos fatos.

-Sobre o ex-presidente Lula, como o senhor avalia as intervenções dele em momentos de crise do governo Dilma?

A relação Lula e Dilma vai merecer muitos estudos no futuro, é muito especial. É muito impressionante a sintonia (entre eles), mas também o cuidado que ele tem para não fazer uma interferência inadequada. Acho natural que as pessoas interpretem os fatos como elas veem. Aquela bendita vinda dele aqui (no Palácio do Planalto) com a bancada do PT no Senado, depois (o encontro) com o pessoal na casa do Sarney, aquilo foi interpretado como “Dilma em crise e pediu socorro ao Lula.”

-E não foi?

Não teve nada disso. Ele tinha combinado um encontro com senadores, foi convidado pelo Sarney.

Eu concordo que o resultado não foi bom. O sinal externo não foi bom, pareceu que Lula chegou a Brasilia para salvar a Dilma. Mas, na prática, não houve nada disso. Como a cada 15 dias eles se encontram, era mais um desses encontros. O que quero dizer é: a Dilma não depende de Lula para tomar atitudes. Tanto que Gleisi e Ideli não foram sugestões dele. Ela não pediu licença dele. Dilma o consultou respeitosamente. Não tem essa de que ele é uma sombra dela. Ele é um apoio efetivo. Não há hipótese de ruptura entre os dois, pelo menos no horizonte que eu enxergo.

-O senhor ainda acha que Lula está na reserva para a eleição de 2014 ou Dilma é a candidata natural à reeleição do PT?

As duas coisas. Eu acho que ela é candidata. Mas não posso responder sem consultá-la. Não sei se ela está cansada com seis meses do governo. Mas eu acho que é natural que ela seja candidata. Agora, Lula é reserva para nós, claro que é. Tem (as eleições de) 2018. Quando digo que ele está no banco, é no sentido de que ele está ajudando, não necessariamente que será candidato no lugar da Dilma. Ele não quer voltar. Não vejo no Lula nenhuma manifestação dele de estar se preparando para voltar.

-Lula não quer voltar?

Não quer. Em 2014, em hipótese nenhuma ele gostaria. E 2018 está muito longe. A oposição precisa levar em conta isso. Nosso time, além de bom plantel, tem bom banco. Não pense que colocamos todas as fichas na mesa. E Lula permanece figura que nos ajuda, apoia. Como candidatura, (não há) nenhuma hipótese de ele ser candidato em 2014. Ele não aceitaria de jeito nenhum.”


FONTE: postado por Helena Sthephanowitz no blog “Os amigos do Brasil”  (http://osamigosdobrasil.com.br/2011/06/26/dilma-nao-depende-de-lula/) [imagens do Google adicionadas por este blog].

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