Cavaleiros Templários
Por Pepe Escobar, no “Asia Times Online”
AL-QAEDA CRISTÃ
“Progressistas ocidentais devem acender o alerta vermelho. Tabus terão de ser superados –principalmente para que se identifiquem as estratégias misturadas, mas quase sempre violentas, empregadas pelo fundamentalismo cristão de ultradireita e pelos sionistas para fomentar a islamofobia no ocidente.
Imaginem se Anders Behring Breivik, louro, branco, 32 anos, olhos azuis, 100% norueguês, doido varrido, cristão fundamentalista de direita e fascista, responsável pela explosão em Oslo e pelo assassinato deliberado (= ‘targeted assassinations’, diria a CIA) na ilha de Utoya que matou 93 pessoas… fosse imigrante e muçulmano.
Nem é preciso imaginar –porque os círculos concêntricos da indústria ocidental de islamofobia imediatamente atribuíram o massacre na Noruega à “al-Qaeda”. Depois, os fatos impuseram-se.
Mas, esperem… “Targeted assassinations”? Assassinatos deliberados, uma bala milimetricamente em cada cabeça? Ninguém pode duvidar, nem por um instante, que o assassino tenha pensado numa fórmula segundo a qual, se o governo de Barack Obama pode fazer –no ‘Af-Pak’, no Iraque, no Iêmen, na Somália, e sempre em nome da civilização ocidental– nada poderia impedir que um escandinavo sarado exercesse idênticos direitos de matar, em sua terra.
As tendências sobrepostas da ideologia da al-Qaeda podem ser examinadas em detalhes, em livros como ‘Al-Qaeda in Its Own Words’ [Al-Qaeda em suas próprias palavras], editado por Gilles Kepel e Jean-Pierre Milelli, publicado em inglês pela editora da Universidade de Harvard.
Breivik, o solitário, também escreveu seu próprio tratado-manifesto de ódio [1]. São 1.500 páginas [1] e leva o título de 2083: "Declaração de Independência Europeia". Aí também detona a democracia, o multiculturalismo e “o marxismo cultural” que estariam, para ele, destruindo a civilização cristã europeia.
Quer dizer, dado que a al-Qaeda –agora sob a liderança ideológica do Dr. Ayman al-Zawahiri–, já está em guerra de jihad defensiva (vez ou outra ofensiva) contra cristãos e judeus, Breivik convoca nada menos que uma jihad cristã para defender a Europa de nova invasão de muçulmanos.
A VOLTA DOS CRUZADOS CRISTÃOS
O que comprova que Breivik não é doido solitário é que a ideologia que há por trás do manifesto não condena somente todo o Islã per se, a imigração de muçulmanos para a Europa e o multiculturalismo, mas também as soluções neonazistas e raciais suprematistas que se usaram contra esses “males”.
Breivik, assassino de massa que adora canções do [festival] 'Eurovision' e o seriado norte-americano ‘The Shield’ [um esquadrão da morte: policiais que fazem justiça pelas próprias mãos], e que tem porte autorizado de arma para uma Glock, um rifle automático e outra pistola, é típico apóstolo da nova narrativa da ultradireita paneuropeia mais sofisticada –segundo a qual a batalha pela alma da Europa será disputada no campo da cultura.
Depois de rápida visita à Dinamarca e sul da Suécia no outono de 2010, escrevi sobre essas questões mais amplas (“Letter from Islamophobistan”, Asia Times Online, 22/10/2010, http://www.atimes.com/atimes/Front_Page/LJ22Aa01.html).
Breivik dá um passo adiante, porque acrescenta armas ao seu novo pensamento, –porque não se trata de os muçulmanos serem biologicamente inferiores ao ocidente cristão; o problema é que os princípios do Islã são absolutamente incompatíveis com o ocidente.
É questão cultural. “Eles” não partilham “nossos valores” nem nosso modo de vida. Em esperto movimento de ‘marketing’ (ou de “Relações Públicas” como se diz nos EUA), essa explicação culturalista visa a atrair também os moderados europeus.
Breivik e sua gangue culpam a democracia parlamentar ocidental como um todo –aí incluído o ‘politicamente correto’– por permitir que os muçulmanos estabeleçam-se na Europa como cavalos de Tróia.
Tudo e todos são ameaças –a al-Qaeda, tanto quanto a burocrática União Europeia e a ONU multicultural. Breivik e os dele são, todo o tempo, Huntingtonianos –temendo um choque de civilizações bem ali, em casa.
Não surpreende que o passo lógico tenha sido para Breivik tornar-se versão moderna dos Cavaleiros Templários em seu manifesto incongruente –e, assim, cria um caso exemplar. A agenda dos Templários: “tomar o controle político e militar dos países da Europa Ocidental e implementar uma agenda política e cultural conservadora”.
“Al-Qaeda” –ou a nuvem de franquias e simulacros rotulada como “al-Qaeda”- não tem os recursos necessários para atacar a Europa e, além do mais, essa não é sua prioridade; prioridade é o ‘Af-Pak’, a Ásia Central e a Índia, como já declarou Ilyas Kashmiri, principal comandante militar da al-Qaeda. Mas a prioridade do terror fundamentalista cristão é, declaradamente, a Europa. E os ataques virão tanto de loucos solitários, como Breivik, quanto de grupos organizados.
Progressistas ocidentais devem acender o alerta vermelho. Tabus terão de ser superados –principalmente para que se identifiquem as estratégias confusas, mas quase sempre violentas empregadas pelo fundamentalismo cristão de ultradireita e pelos sionistas, para fomentar a islamofobia no ocidente.
Por exemplo, os islamofóbicos, como os sionistas hardcore veem a opressão dos palestinos como defesa que Israel mobiliza num choque de civilizações. Breivik, discípulo modelo, elogia norte-americanos islamófobos notórios, como Pam Geller e Daniel Pipes, tanto quanto fustiga o apoio da Noruega à independência da Palestina e o seu reconhecimento como estado soberano.
Breivik escreveu: “É hipocrisia tratar muçulmanos, nazistas e marxistas como se fossem diferentes. Todos apoiam ideologias do ódio. Nem todos os muçulmanos, os nazistas e os marxistas são conservadores. Muitos são moderados. E que diferença faz?”
Não faz diferença: todos os fascistas são sedutores oportunistas. Haverá sangue –muito mais sangue, agora que a Europa terá de enfrentar o coração de suas trevas. Cuidado com o retorno –em massa– do cristão cruzado de olhos azuis.
NOTA:
[1]. Principais excertos retirados do "La Repubblica", Itália, em http://download.repubblica.it/pdf/2011/memoriale_oslo1.pdf?ref=HREA-1.”
FONTE: escrito por Pepe Escobar, publicado em 25/7/2011 no “Asia Times Online” e transcrito no portal “Viomundo” com tradução do “coletivo da Vila Vudu” (http://www.viomundo.com.br/politica/pepe-escobar-al-qaeda-crista.html) [imagem do Google adicionada por este blog; origem: http://carcara-ivab.blogspot.com/2011/07/al-qaeda-crista.html].
Será que um novo holocausto está sendo urdido, mas dessa vez contra os muçulmanos? Poderíamos considerar essas ações e idéias como antissemitas, pois o Islamismo é uma religião de origem semita, tal como o Judaísmo e muitos dos seus seguidores são semitas porque árabes.
ResponderExcluirFluxo,
ResponderExcluirCompartilho com suas reflexões.
Maria Tereza