sábado, 30 de julho de 2011
Delfim Netto: “SEMANA FELIZ”
“A última semana foi marcada por alguns fatos da maior importância:
1º) A decidida aplicação (com amplo apoio da sociedade) de um aditivo anticorrupção no combustível do Ministério dos Transportes;
2º) A forte indução do governo para que a Petrobras e a Vale enfrentem com determinação o problema do potássio;
3º) E, não menos importante, a adequação do orçamento da Petrobras nos termos da sugestão do ministro da Fazenda, Guido Mantega, à presidente Dilma Rousseff. Isso reduzirá a pressão inflacionária no curto prazo e dará tempo para melhorar as condições de competição do equipamento nacional na exploração do pré-sal.
Os três fatos revelam a recuperação de uma visão de longo prazo absolutamente necessária para que o Brasil possa resolver o seu verdadeiro problema: construir uma estrutura produtiva eficiente capaz de gerar bons empregos aos quase 150 milhões de brasileiros que, em 2030, terão entre 15 e 65 anos. Isso deve ser feito com equilíbrio interno e externo.
Não faremos isso com o modelo agromineral-exportador energizado pelo desenvolvimento da China. Para tal modelo, fomos descuidadamente empurrados.
Sua justificativa é a míope construção teórica ["neoliberal" aqui predominante no governo demotucano] que afirma que caminhamos para a "harmonia universal" produzida pelo funcionamento de uma natural "divisão do trabalho" construída pela globalização.
[Segundo ela] teremos a paz perpétua: para uns (EUA, Alemanha, China...), a indústria; para outros (Reino Unido, Índia...), os serviços; e para os demais (Brasil, Canadá, Austrália...), a agricultura e a mineração.
Para alguns países, isso talvez seja uma fatalidade. Não é, seguramente, o caso brasileiro. Sua aceitação não levará à estrutura produtiva que precisaremos até 2030. Para nós, somente a ação de um Estado indutor inteligente (e eficiente!) estimulará a sua construção.
A regra de ouro da sua ação deve ser: forte estímulo à competição doméstica entre as empresas, com adequadas medidas microeconômicas que permitam-nas disputar com eficiência nosso crescente mercado interno. E mais: condições macroeconômicas que lhes deem isonomia para complementar na margem, com decrescente proteção, os ganhos de dimensão necessários para enfrentar a competição do mercado externo.
Atrair a montadora chinesa Chery, que começa a se instalar em Jacareí (SP) e vai ampliar a competição também no setor de autopeças, e ajustar a velocidade dos investimentos da Petrobras de forma a criar a capacidade para atendê-los (com indústrias nacionais ou estrangeiras aqui instaladas), é um exemplo da política que temos de praticar: concorrência interna impiedosa e proteção externa inteligente.”
FONTE: escrito por Antonio Delfim Netto e publicado na “Folha de São Paulo” (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz2707201106.htm) [imagem do Google e trechos entre colchetes adicionados por este blog].
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