segunda-feira, 29 de agosto de 2011
APRÈS MOI, LE RIFIFI
Por José Inácio Werneck
“Bristol (EUA) – Muitos de meus leitores não têm idade suficiente para se lembrarem do clássico filme “Du Rififi Chez les Hommes” (e quem se lembra da famosa canção-tema?), de Jules Dassin. Coisa da década de 50, mas ilustrava perfeitamente a confusão e discórdia entre supostos aliados depois de um bem sucedido roubo em uma joalheria.
No deserto norte-africano, em vez de dilúvio de Luis XV, o caos.
Não vou dizer que o que se passa na Líbia é um roubo puro e simples.
Certamente, as grandes empresas petrolíferas do oeste estiveram por trás das manobras contra o governo do coronel Muammar el-Qaddafi, mas tampouco é inegável que o homem era um ditador sanguinário.
Não há dúvida que a maioria da população líbia está satisfeita com a queda de Qaddafi, mas, onde quer que ele se encontre no momento, é certo que espera que a confusão venha a imperar entre os rebeldes. É uma aposta relativamente fácil, pois a Líbia é menos um país do que um ajuntamento de tribos, com rivalidades e ódios imemoriais. O General Abdul Fattah Younes foi morto no dia 28 de julho por seus próprios aliados de rebelião. Ele era um ex-amigo de Qaddafi e seu Ministro do Interior, antes de trocar de lado.
Mas diversos dos atuais rebeldes também tinham sido ligados a Qaddafi. Talvez, alguns deles tenham desconfiado de que Younes era um agente duplo. Talvez, alguns deles sejam agentes duplos.
De concreto mesmo, só existe a certeza de que ninguém conhece direito os rebeldes, sua ideologia, suas ambições. Que espécie de entrosamento, de unidade haverá entre eles? O tempo dirá, mas meu prognóstico é de que muita confusão, muito rififi, ainda vem pela frente.
No atual panorama, pode-se afirmar que Barack Obaminha (eleito como Barack Obamão) é um vencedor, tendo praticamente levado franceses, ingleses e outros europeus a arcarem com a maior responsabilidade da intervenção militar sem envolver soldados americanos. Constate-se, ‘for the record’, que Obama conseguiu dar fim a dois dos maiores inimigos de presidentes republicanos: Osama bin Laden, no caso de George W. Bush, e Muammar el-Qaddafi, no caso de Ronald Reagan. Algo que Bush e Reagan tentaram em vão.
O Brasil sai como perdedor, através dos interesses da Petrobrás. As grandes empresas petrolíferas dos Estados Unidos, da Inglaterra, da França e da Itália já estão alvoroçadas, à espera de grandes contratos, e o porta-voz rebelde Abdeljalil Mayouf já as encorajou. O Brasil, a China e a Rússia, que advogaram contemporização com Qaddafi, enfrentarão o que Mayouf chamou de “barreiras políticas”.
Mas, antes que assinaturas sejam postas em contratos, teremos ‘du rififi chez les hommes’.”
FONTE: escrito por José Inácio Werneck, em Bristol-EUA. O autor é jornalista e escritor com passagem em órgãos de comunicação no Brasil, Inglaterra e Estados Unidos. Publicou "Com Esperança no Coração: Os imigrantes brasileiros nos Estados Unidos", estudo sociológico, e "Sabor de Mar", novela. É intérprete judicial do Estado de Connecticut-EUA. Artigo publicado no site “Direto da Redação” (http://www.diretodaredacao.com/noticia/apr-s-moi-le-rififi).
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