Carta Maior
“A cabeça de Kadafi é uma guerra pequena para o porte da crise que paralisa a respiração da economia mundial. No colapso de 29, foi preciso um conflito planetário [2ª Guerra Mundial] para reativar recursos e forças produtivas empoçados na economia.
A reconquista do petróleo líbio e a reconstrução do país dão esperança de oxigênio para alguns países, como França e Inglaterra que lideram o ataque da OTAN. Mas é bule pequeno para o tamanho da boca recessiva.
Todas as atenções dirigem-se à próxima 6ª feira, depois de amanhã, dia 26, quando o BC norte-americano, o FED, realiza um encontro anual em Kansas City. Mas o que os EUA -fiscalmente anulados pelo ‘Tea Party’- ainda podem fazer pela reativação do crescimento?
O efeito da dúvida tem gerado desdobramentos preocupantes. A crise agiganta aquilo que Keynes considerava o principal inimigo do investimento produtivo indispensável ao crescimento estável: 'a obsessão mórbida pela liquidez'. O temor de uma recessão com eventual quebra de bancos e países empurra capitais ariscos à busca de abrigo em títulos públicos do EUA. Mesmo a juro zero, esses papéis se mostram mais confiáveis do que as demais opções disponíveis no planeta.
Bancos dos EUA têm US$ 1,6 trilhão estocados em caixa ou em papéis do Tesouro. Empresas podem ter outro tanto. Não investem em negócios produtivos, assim como bancos não emprestam à consumidores endividados, sem folga no orçamento. Colocar dinheiro a juro zero é o mesmo que guardar capital em caixa de sapato. Bancos e grandes corporações acham preferível, aos riscos visíveis num horizonte de mais recessão e agravamento fiscal, sobretudo na periferia da UE.
Desde maio, fundos norte-americanos reduziram em 20% suas aplicações em títulos de bancos europeus, pondo em xeque a solvência dessas instituições. A depender da conversa de Ben Bernanke na 6ª feira, a revoada discreta pode se transformar em debandada fatal. A quebra de um banco na área do euro poder servir como uma espoleta com potencial destrutivo equivalente à falência do ‘Lehman Brothers’, em 2008, marco bancário da crise mundial.
A cabeça de Kadafi não tem sequer o potencial simbólico de Bin Laden. Morto pelos EUA em maio, elevou em 11 pontos a popularidade de Obama (56%). Durou pouco. Em 5 de junho, a crise e o desemprego reduziam esse cacife para 50%; em 29 de julho ele desceria para 40%.”
FONTE: cabeçalho do site “Carta Maior” ontem, 23/08/2011 (http://www.cartamaior.com.br/templates/index.cfm) [imagem do google adicionada por este blog ‘democracia&política’].
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