domingo, 21 de agosto de 2011

FHC e DILMA, LULA e SERRA


Por Eduardo Guimarães

“Minha avozinha diria que “o mundo está de cabeça para baixo”. Era o que dizia, em seus últimos anos, enquanto via seu mundo mudar –nem sempre para melhor. Certamente é o que diria vendo Fernando Henrique Cardoso defendendo que seu partido apóie o governo Dilma e manifestando preocupação com a queda contínua de seus ministros.

A aproximação de políticos como Dilma, FHC e Geraldo Alckmin no âmbito de algum tipo de mutirão suprapartidário contra a pobreza e a miséria, porém, é ruim para dois políticos que têm muito pouco em comum: Lula e José Serra, que vêm mantendo o tom beligerante contra seus adversários.

Tanto o ex-presidente quanto o ex-governador de São Paulo continuam batendo nos adversários –o petista bate na mídia e na oposição e o tucano na herança lulista e na “corrupção e falta de rumo deste governo”. E parecem pouco dispostos a contemporizar.

Nos respectivos partidos de Lula e Serra, a situação é parecida. PT e PSDB abrigam setores inconformados com a aproximação entre petistas e tucanos, mesmo que tal aproximação venha se resumindo ao “namoro” entre Dilma, FHC e, agora, Alckmin.

É difícil dizer, ainda, quais facções são majoritárias dentro desses partidos. No PSDB, parece haver um interesse maior pela aproximação. Talvez até por falta de opções –Serra estaria isolado dentro de seu partido devido à sua pregação a favor da beligerância contra o governo Dilma e a herança de Lula. Já no PT, ainda não está claro qual é a corrente majoritária.

Quem conhece algum petista de relevância sabe quanta preocupação há devido à “faxina ética” de Dilma –que, nos últimos dias, ela passou a negar– e ao discurso tucano-midiático sobre “herança maldita” –que vem recebendo, da presidente, um silêncio ensurdecedor. Esse setor do PT julga que tanto a “faxina” quanto a “herança maldita” depõem contra a liderança maior do partido.

São justas as preocupações desses setores do PT. Durante seu período na Presidência e mesmo antes dele, Lula foi sempre maior do que o partido. Elegeu milhares de petistas e aliados pelo Brasil afora e, sem seu apoio, todos teriam sucumbido durante a artilharia midiática da década passada contra o governo do país, seu partido e aqueles aliados.

Dilma passou a negar a “faxina” e a contrapor feitos do governo anterior à tal “herança maldita”, mas a mídia insiste. Setores restritos do PT reclamam da falta de empenho de quem tem a caneta presidencial em combater teses da oposição midiática que se teme que afetem a imagem daquele que é o maior ativo eleitoral petista.

Enquanto Dilma e FHC não saem da mídia com as palavras melosas que vêm dedicando um ao outro em encontros frequentes, Serra passou a ser ignorado e Lula, metralhado.

Por outro lado, é prematuro dizer que a mídia aderiu a FHC e isolou Serra. Não se pode esquecer de que o ministro demissionário Wagner Rossi atribuiu ao ex-governador a autoria das acusações que culminaram a com a sua saída do governo. Seria verdadeiro, assim, esse “isolamento” de Serra? Como pode estar isolado quem continua puxando os cordões da mídia?

Sem dúvida, a política sofisticou-se no Brasil. As estratégias são muito menos evidentes, chegando ao ponto de fazerem crer, a muitos, que não são estratégias. Há quem acredite, por exemplo, que PT e PSDB se uniriam contra a miséria. Estariam superando as divergências por causa nobilíssima, acreditam.

A divisão de lucros e prejuízos, por incrível que possa parecer, tem sido pior para os petistas e aliados apesar de terem começado o ano por cima da carne seca. O governo Dilma aparece prejudicado nas pesquisas e a mídia –sempre um braço da direita– ganha credibilidade com a concordância desse governo às suas denúncias.

De qualquer forma, a prevalência de Dilma e FHC sobre Lula e Serra é clara ao menos no noticiário. Só não se sabe se os líderes petistas e tucanos não engendraram uma estratégia do tipo “tira bom, tira mau”, imortalizada por Hollywood em filmes em que um policial bonzinho e outro malvado interrogam um preso.

Vale a pena deixar a imagem de Lula se deteriorar para obter um pacto de convivência com a mídia? O que será do PT sem um Lula forte e influente, capaz de transferir a outros a popularidade que transferiu a Dilma no ano passado? E para o PSDB, vale condescender com um governo contra o qual fez tantas acusações?

Por enquanto, só quem vem ganhando com o novo quadro político, é a mídia. Como ela tem lado, no entanto, os tucanos acabarão sendo beneficiados. Ano que vem, durante as eleições municipais, a tal “corrupção” herdada de Lula pode diminuir o poder dele de transferir votos. E a mídia ganhou credibilidade para indicar os “melhores” candidatos.”

FONTE: escrito por Eduardo Guimarães e publicado em seu blog “Cidadania.com”  (http://www.blogcidadania.com.br/2011/08/fhc-e-dilma-lula-e-serra/).

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