“O rebaixamento na classificação de crédito dos EUA aconteceu em momento delicado que ajuda a compreender a atual pandemia financeira, o colapso monetário e a contração global em marcha. Na semana passada, lembrávamos o quarto aniversário da crise dos “subprimes” que desencadeou a atual crise financeira. Agora, recordamos o fim dos acordos de “Bretton Woods” decretado por Nixon em 15 de agosto de 1971 e que constitui a origem da atual desordem financeira mundial.
Por Marco Antonio Moreno, no “Blog Salmón”
Sob o regime de “Bretton Woods”, todas as moedas estavam vinculadas ao dólar, o qual, por sua vez, estava amarrado a um preço fixo em ouro. Os bancos centrais tinham o direito de converter seus montantes em dólares em barras de ouro, à razão de 35 dólares a onça. Mas em 1971, em meio às dificuldades econômicas produzidas pela guerra do Vietnã, os Estados Unidos decretaram [unilateralmente] a inconvertibilidade do dólar em ouro, e fecharam a janela de câmbio aos bancos centrais do resto do mundo. Com isso, chegou a era do papel moeda, do dinheiro fiduciário, das taxas de câmbio flutuantes que alentaram a especulação e a concentração da riqueza.
O colapso do sistema de “Bretton Woods”, que durou 27 anos, marcou a primeira quebra dos Estados Unidos, que, apesar de tudo, foi perfeitamente camuflada pelo "direito" dos Estados Unidos de imprimir dólares. Com essa fórmula, os Estados Unidos se outorgaram o "direito" de cobrir todos os seus déficits com dólares e inundar de dólares tanto o sistema financeiro como os bancos centrais do mundo. Calcula-se que, na atualidade, 60% das reservas de divisas dos bancos centrais estão em dólares, o que acrescenta o nervosismo desses países com a debilidade manifesta do bilhete verde.
O fim do sistema de “Bretton Woods” e a adoção das taxas de câmbio flutuantes não foram a panaceia para a estabilidade econômica. Essa quebra teve uma série de efeitos colaterais. Alentou a especulação massiva e marcou a deterioração da economia real. Sob o sistema de “Bretton Woods” havia estritos controles de capital estabelecidos para proteger o taxa de câmbio fixa, algo que se tornou desnecessário com as taxas de câmbio flutuantes. A extinção desses controles permitiu o massivo aumento dos fluxos de capital que começaram a deslocar-se pelo mundo a ritmo cada vez mais vertiginoso e com o setor financeiro ganhando, cada vez mais, espaço em cada uma das etapas, enquanto relegava o capital produtivo a lugares de menor importância. Não é estranho que, enquanto nesse período os salários relativos dos trabalhadores produtivos se mantiveram estáveis, os salários dos profissionais vinculados ao setor financeiro experimentaram constantes aumentos.
Tampouco é de estranhar a constatação de que o período de 1945 a 1971 é um dos mais estáveis da história econômica, dado que não existiram bolhas de ativos nem grandes crises financeiras como as que se registraram nos anos 1980 e 1990 e nos primeiros anos deste século. O maior registro de perdas se registrou em 1957, quando o índice de Wall Street deslizou 14,1%. A existência de paridade com respeito ao ouro permitia economias mais estáveis, dado que os governos podiam fazer desvalorizações competitivas nas taxas de câmbio, para melhorar suas exportações.
O atual rebaixamento na qualificação de crédito dos Estados Unidos não é uma surpresa, é simplesmente a constatação da decadência do dólar e da quebra dos Estados Unidos que, desta vez, não terão mecanismos para evitá-la. O final da era “pós-Bretton Woods” não faz mais do que dar conta desse declive econômico, que, por sua vez, revela o estado atual de toda a economia mundial.”
FONTE: por Marco Antonio Moreno, no “Blog Salmón”. Transcrito no “Cubadebate” e no portal “Vermelho” (http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=161505&id_secao=2) [imagem do Google adicionada por este blog democracia&política]
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