quinta-feira, 13 de outubro de 2011

AS BOAS RAZÕES DOS BRICS


Por Mark Weisbrot, economist, colunista e codiretor do “Center for Economic and Policy Research” (CEPR), em Washington (EUA

NO CASO DA SÍRIA, O BLOCO ESTÁ CERTO EM IMPEDIR A ONU DE SER INSTRUMENTO DAS POTÊNCIAS IMPERIAIS

“Muito se criticou o fato de os países BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) terem bloqueado uma resolução na ONU contra o governo da Síria, na semana passada. China e Rússia, como membros permanentes do Conselho de Segurança, usaram de um raro veto duplo, e os outros três se abstiveram.

"A população do Oriente Médio pode agora enxergar claramente quais países optaram por ignorar seus chamados por democracia e escorar ditadores desesperados e cruéis", disse Susan Rice, representando Washington na ONU. Boa parte da mídia ocidental aderiu à narrativa transparentemente desonesta e orwelliana de Washington.

Os países BRICS tiveram boas razões para temer que essa resolução pudesse representar um passo em direção à intervenção militar. Faz só sete meses que a ONU autorizou a intervenção da OTAN na Líbia, sob o pretexto de proteger civis no país. Foi uma enorme mentira. As potências da OTAN lançaram mais de 5.000 ataques aéreos para derrubar o regime de Gaddafi. As razões, é claro, foram muito mais relacionadas a petróleo e império que a violações dos direitos humanos, que não foram problema para Washington quando enviou prisioneiros à Líbia de Gaddafi, em anos recentes, para serem torturados ali.

A resolução da ONU da semana passada acenava com a possibilidade de sanções, e todos sabemos como sanções -geralmente ineficazes para de fato promover direitos humanos- podem levar a guerras, como a do Iraque, que resultou em mais de 1 milhão de mortos.

Que o governo dos EUA e seus apoiadores falem sobre “direitos humanos” depois da matança em massa que desencadearam, de suas maciças violações dos direitos humanos no Afeganistão e dos assassinatos cometidos com aviões não tripulados no Paquistão, sem falar na negação dos direitos dos palestinos -bem, chega a surpreender que alguém no mundo os leve a sério.

Washington e seus aliados europeus demonstram pouco interesse em soluções negociadas ou salvar vidas nessa região. A política deles é completamente oportunista: manter Gaddafi no poder e Bashar Assad na Síria, ou Mubarak no Egito e Ben Ali na Tunísia não foi problema até que pareceu que poderiam ganhar mais se trocassem de lado.

Se estivessem realmente interessados em salvar vidas na Síria, poderiam tentar ajudar a negociar garantias dignas de crédito para proteger as minorias alauíta e cristã sob qualquer possível novo regime. O apoio à ditadura parece vir em grande medida dos medos -não inteiramente paranoicos, em vista do que se deu no Iraque e até na Líbia- de que, quando ela cair, elas podem virar vítimas de violência. Mas as potências da OTAN não fizeram nada para ajudar quanto a isso.

A “Primavera Árabe” vem mostrando o poder da resistência não violenta na promoção de mudanças democráticas, com maior êxito até agora no Egito e Tunísia. Outras lutas, como na Síria, sofrem repressão mais violenta e merecem a solidariedade e o apoio do mundo. Mas os BRICS têm razão em temer que uma intervenção EUA/OTAN piore as coisas ainda mais e em impedir a ONU de ser usada, mais uma vez, como instrumento dessas potências imperiais.”

FONTE: escrito por Mark Weisbrot, economista, colunista e codiretor do “Center for Economic and Policy Research” (CEPR), em Washington, D.C. Contribui para o “New York Times” (EUA), “The Guardian” (Reino Unido) e Folha de S. Paulo. Publicado na Folha de São Paulo com tradução de Clara Allain  (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft1210201115.htm) [mapa do Google adicionado por este blog ‘democracia&política’].

2 comentários:

  1. Bolsas dos Brics farão listagem cruzada de derivativos

    12/10/2011

    SÃO PAULO (Reuters) - As bolsas de valores do Brasil, Rússia, Índia, Hong Kong e África do Sul anunciaram nesta quarta-feira em Johanesburgo a criação de listagens cruzadas de derivativos de índices.

    Posteriormente, o grupo desenvolverá produtos para acompanhar as bolsas dos Brics.
    A iniciativa reúne, além da BM&FBovespa, a Micex russa, a National Stock Exchange of India, a Hong Kong Exchange --como representante chinês inicial--, e a Johannesburg Stock Exchange, segundo comunicado da bolsa brasileira.

    Além disso, a NSE e a BSE Ltd. (ex-Bombay Stock Exchange) já assinaram cartas de apoio e vão aderir à aliança após a finalização de algumas pendências.

    "As sete bolsas têm uma capitalização bursátil combinada de 9,02 trilhões de dólares, um volume financeiro diário médio de 422 bilhões de dólares e 9.481 empresas abertas", disse a BM&FBovespa.
    Durante a 51a reunião anual geral da WFE (World Federation of Exchanges), o presidente da Hong Kong Stock Exchange e da WFE Ronald Arculli, disse que "esta iniciativa foi inspirada pelo relacionamento próximo entre as bolsas de valores dos países Brics, por meio do qual os investidores globais ganharão acesso aos derivativos de índices de ações que agora serão cotados nas moedas locais destas bolsas."

    Estas listagens cruzadas ocorrerão até junho de 2012, segundo o executivo.
    Além de medir o desempenho dos mercados, os índices também servem como base para outros produtos financeiros, inclusive Exchange Traded Fund (ETFs).

    "Para a segunda fase do acordo, as bolsas concordaram em trabalhar juntas no desenvolvimento de produtos novos para listagens cruzadas nestas bolsas", explicou Russell Loubser, diretor-presidente da sul-africana JSE.

    Além disso, a segunda fase também incluirá o desenvolvimento de produtos que oferecem acesso às empresas listadas em todas as bolsas da aliança.

    "Depois disso, acontecerá a listagem cruzada destes produtos e sua negociação em moeda local", disse Edemir Pinto, diretor presidente da BM&FBovespa. "Os produtos também permitirão que os investidores acessem outros mercados em desenvolvimento por meio de um produto listado local."
    A terceira fase pode incluir o desenvolvimento de produtos e a cooperação com mais tipos de ativos de serviços, completou a bolsa brasileira.

    (Por Carolina Marcondes; Edição de Roberto Samora)

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  2. Probus,
    Obrigada. Não havia lido.
    Maria Tereza

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