Ministro do Esporte, Orlando Silva
Por Elói Pietá
“A denúncia passou a ser sua arma política poderosa, que incide sobre o maior capital eleitoral dos políticos ou dos partidos, que é a sua reputação.
A recente campanha das grandes empresas de mídia para derrubar ministros no primeiro ano do governo Dilma é mais uma demonstração de que elas são fortes agentes autonomeados da política. Isso vem de longa tradição.
Quando da campanha para derrubar Getúlio Vargas, que terminou no seu suicídio, os grandes órgãos da imprensa brasileira atacavam sistematicamente o seu governo (exceto o jornal “Última Hora”).
Batalha semelhante foi travada nos episódios que resultaram na deposição de João Goulart.
Nas campanhas presidenciais recentes, todos são testemunhas da parcialidade da grande mídia. O episódio mais lembrado ocorreu em 1989, após o último debate entre Collor e Lula, na véspera do segundo turno da eleição. A TV Globo editou as cenas do debate a favor de Collor.
Três anos depois, a mesma mídia que ajudou a elegê-lo teve papel decisivo para derrubá-lo. Tais campanhas políticas foram de grande importância, seja na mudança de governos e, portanto, na mudança das políticas governamentais, seja até na instalação da ditadura militar.
Em 2005 e 2006, ficou evidente o enorme esforço dessa grande mídia para impedir a reeleição do presidente Lula e, em conseqüência, para mudar a política econômica e voltar às políticas neoliberais que elas apoiavam e que tinham sido derrotadas pelo voto popular.
Como se vê, há na vida nacional uma espécie oculta de organizações partidárias sob o manto de TVs, rádios, jornais, revistas que são comandados por poderosos grupos privados, que detêm a propriedade cruzada de diversos meios de comunicação de massa, exercendo enorme influência midiática em todas as regiões do país.
A denúncia passou a ser arma política poderosa, que incide sobre o maior capital eleitoral dos políticos ou dos partidos, que é a sua reputação. A grande mídia destrói liminarmente esse capital. Ela parte da presunção de culpa, ao contrário do princípio constitucional de presunção da inocência. A si ela atribui o mandato de executar o juízo moral sumário.
A mídia privada brasileira encontrou esse caminho de forma não propriamente original. Ela bebeu nas fontes do jornalismo inglês e norte-americano a missão autoconcedida de corregedores gerais da pátria, de guardiães da moralidade dos governos. E, a partir daí, evoluiu para se transformar em partidos reais não assumidos.
As grandes empresas de mídia protegem os políticos que se afinam com seu pensamento sobre a economia e a sociedade, e atacam duramente os que divergem delas. Qualquer observatório da mídia há de encontrar inúmeros episódios da recente história brasileira que provam isso. Esse é o lado partidário da mídia. Mas, por se tratarem de empresas diferentes a disputar um mercado, o denuncismo também é fruto da concorrência entre elas por público sensível a esse estilo, especialmente nas classes médias.
Nem sempre os projetos políticos futuros desses partidos ocultos são traçados com antecedência e clareza. Mas, o desdobrar dos acontecimentos tende a levar a uma conjunção de fatores que favorecem a adoção de uma estratégia política. Vimos isso na trajetória que resultou na derrubada de Vargas em 1954, de João Goulart em 1964, de Collor em 1992, e na tentativa de derrubar Lula em 2005.
O mais recente plano dessas empresas privadas na política é a derrubada sistemática de ministros. Quando conseguem a cabeça de um, entra outro na pauta, e abre-se nova campanha. Não perdem tempo em aprofundar os fatos que fizeram cair os ministros anteriores. O que importa é a sequência de quedas e seu resultado político (e, de lucro, o prestígio do órgão da mídia pai da denúncia no mercado da informação). Agora, o alvo é o Ministro do Esporte, Orlando Silva.
Ao querer a queda do ministro, vários resultados são buscados: um deles, sempre almejado, é o sistemático desgaste do governo, que não é o governo que as grandes empresas de mídia querem, apesar de a maioria do povo brasileiro querer. Outro resultado pretendido no caso é jogar lenha nas críticas sobre os atrasos para as obras da Copa do Mundo (quem olha em retrospectiva a ação dessas empresas de mídia neste tema há de notar que, na verdade, elas não querem o sucesso do governo nas obras da Copa). Pode haver outro resultado desejado, talvez favorecer a FIFA na disputa com o governo brasileiro, para depois criticar o governo por ceder à FIFA.
Juntando o histórico, os fatos recentes e os atuais, vê-se que há um fio condutor de política pensada na aparente individualidade de cada fato. Há associação com propósito específico de concorrentes no mercado da informação, o que se poderia chamar uma “cooperação antagônica”.
Sem dúvida, as grandes empresas privadas de mídia, além de mirar pontos no mercado, miram, mais adiante, o centro do governo. E, talvez, mais profundamente, mirem a deterioração da confiança coletiva na política praticada pelos políticos e pelos partidos formalmente registrados (rivais alguns, aliados outros dos partidos ocultos da mídia privada).
Se for isso, há tentativa de preparar a consciência popular para governos fora das regras atuais, de qual tipo não se sabe hoje, pois só a aproximação das condições propícias poderá a eles mesmos esclarecer. Tal meta pareceria impossível, mas não é, porque já se viu ocorrer no passado. Várias dessas empresas da comunicação, não faz muito tempo, contribuíram para o golpe militar, associaram-se à ditadura, abandonaram-na no momento em que essa não mais lhes serviu.
Quando o PT, no seu recente 4º Congresso, reafirmou a necessidade do debate sobre a democratização da comunicação no Brasil, de imediato a grande mídia procurou demonizar esse debate. As poucas empresas que controlam a comunicação de massa, que não querem a democratização dessa área essencial à sociedade moderna, atacaram a proposta do PT de abrir o debate no Congresso Nacional, sobre um marco regulador da comunicação social que amplie as possibilidades de livre expressão do pensamento e amplie o acesso da população a todos os meios.
O PT reafirmou que, para si, como para nossa presidenta Dilma, é questão de princípio repudiar qualquer tentativa de censura à liberdade de imprensa. Por isso, só um projeto claro, em debate público, no Congresso Nacional é que vai esfumaçar os fantasmas que se criam para refrear qualquer tentativa de avanço da democracia na área da comunicação de massa.
Os fatos recentes da campanha para a derrubada de ministros e a forma como as notícias seletivas são alardeadas e notícias outras são sufocadas, reafirma a atualidade desse debate no Congresso Nacional e na sociedade.”
FONTE: escrito por Elói Pietá, secretário Geral Nacional do PT. Publicado no portal do PT (http://www.pt.org.br/index.php?/noticias/view/artigo_significados_da_campanha_da_midia_para_derrubar_ministros_por_eloi_p).
P.S. NOTA OFICIAL
"Sexta-feira, 21 de outubro de 2011 às 21:21
Nota à imprensa:
“Após a reunião com o ministro do Esporte, Orlando Silva, a presidenta Dilma Rousseff disse que o governo “não condena ninguém sem provas e parte do princípio civilizatório da presunção da inocência”.
“Não lutamos inutilmente para acabar com o arbítrio e não vamos aceitar que alguém seja condenado sumariamente”, disse a presidenta.
Na reunião, o ministro informou à presidenta que tomou todas as medidas para corrigir e punir malfeitos, ressarcir os cofres públicos e aperfeiçoar os mecanismos de controle do Ministério do Esporte.
Secretaria de Comunicação Social”
FONTE: Blog do Planalto (http://blog.planalto.gov.br/nota-a-imprensa/).
O interessante nisso tudo é que além de ser o único ministro do PC do B, é o único negro... E, até o "mundo mineral" sabe que a luta contra os comunistas e a discriminação contra os negros é EVIDENTE, sem contar que quem está por trás disso tudo são os BILDERBERGs da organização MAFIOSA denominada FIFA.
ResponderExcluirPor falar em Discriminação Racial, porque no DEM e no PSDB não existem parlamentares negros?????
Probus,
ResponderExcluirDesconfio que você está 100% certo.
Maria Tereza
25/10/2011: Refúgio de Canalhas
ResponderExcluirTHEÓFILO SILVA, no O Globo
“Quem é Charles Augustus Milverton, Holmes? O maior canalha de Londres, Watson”, responde Sherlock Holmes. O maior detetive de todos os tempos não economizou no adjetivo ao qualificar o sujeito, cuja ocupação era achacar pessoas honradas.
Chamo também de canalhas, aqueles que maculam a honra alheia plantando mentiras em veículos de comunicação. A pistolagem moderna – mesmo que ainda existam pistoleiros – chama-se reportagem caluniosa, uma matéria jornalística, imputando um crime a alguém, sem nenhuma prova material. É de pensar que esses textos são feitos apenas por crápulas que escrevem em Blogs de aluguel. Mas não é. A prática está disseminada em grandes veículos de comunicação, que estão rompendo com as mais elementares regras do jornalismo. Não estou me referindo ao caso do ministro dos esportes, nem sobre comentários de leitores em artigos e matérias em geral.
Falo dos órgãos de imprensa que estão entrando no mesmo nível de marginalidade dos adversários que combatem; usando os mesmos métodos vergonhosos de seus acusados; a mesma prática suja dos homens públicos envolvidos em falcatruas, e isso é muito ruim. Governo é para apanhar. A imprensa tem que fiscalizar, escarafunchar, desmascarar, bater mesmo. Outra coisa é colocar pessoas honradas no mesmo saco dos sujos, imputando-lhes crimes para atingir outrem. Essa prática é mercenária.
Ninguém é ingênuo, ao ponto de pensar que órgãos de imprensa e jornalistas não têm lado e que, a verdade não seja sacrificada em nome de interesses, sejam eles quais forem. Mesmo nos EUA e Inglaterra, a imprensa age assim. O velho inescrupuloso, Rupert Murdoch, dono de um império de comunicações, é prova disso. A diferença é que, nesses países, a justiça funciona, e os caluniadores pagam caro por suas canalhices.
Costumo dizer em rodas de conversa, debatendo nossos problemas, que, no Brasil, você gira, gira, discutindo coisas e, no final, conclui que nossas desgraças são causadas pela ineficiência do nosso estado de direito. Nossa justiça é ruim, muito ruim. Não temos como deter a corrupção no Brasil, em suas múltiplas formas, se não punirmos as pessoas. A Inglaterra deu certo por isso, e a Grécia está agonizando por que é corrupta.
Difamadores de aluguel sempre existiram, jornais venais também. Há cinco séculos, um caluniador chamado Aretino vendia sua verve a quem pagasse mais. Era contratado por nobres para destruir a reputação de seus inimigos, com seus panfletos difamatórios. Aretino chegou a ser apunhalado e espancado por suas vítimas, várias vezes.
A imprensa é livre e deve permanecer assim. Tudo que for visto de errado deve ser denunciado, principalmente na esfera pública. Mas o que fazer com os caluniadores e defensores de bandidos, contratados para espalhar mentiras, escondidos nas redações? Infelizmente, o refúgio para esses canalhas, como diria o Dr. Johnson, no Brasil, é o poder judiciário, que, na sua incompetência, não os pune como deveria.
Que ninguém pense que estou atacando o trabalho fiscalizador da imprensa séria. Do mesmo jeito que bato em homens públicos corruptos, todas as semanas, neste espaço, é meu dever também acusar o jornalismo nefasto.
Shakespeare nos disse em Medida por Medida: “Nem a grandeza, nem o poder, neste mundo mortal, podem escapar da calúnia que fere pelas costas e ataca a mais branca das virtudes.”. E pergunta: “Que Rei é bastante poderoso para conter o fel de uma língua caluniadora?”. A resposta é, nenhum!
No passado, os ofendidos defendiam sua honra em duelos com pistolas, mas a lei proibiu a prática. Hoje, apenas os caluniadores podem usar pistolas e atirar pelas costas. No Brasil, a justiça garante!
(Theófilo Silva é articulista colaborador da Rádio do Moreno: