terça-feira, 18 de outubro de 2011

“O GLOBO” NÃO ATACA O “BOLSA-RICO”


“BOLSA-FAMÍLIA” É CARO? O “BOLSA-RENTISTA” É MAIS…

Por Brizola Neto

“O jornal ‘Valor Econômico’ [propriedade dos Grupos ‘Folha’ e ‘Globo’] trouxe segunda-feira (17) levantamento do número de famílias que deixaram de receber, por elevação da renda, os benefícios do Bolsa-Família. São 2,227 milhões, o que equivale a cerca de 10 milhões de brasileiros que deixaram a pobreza extrema. E este número pode ser ainda muito maior se cosideramos de nos outros 3,6 milhões de benefícios cancelados. Muitos deles têm a melhoria da situação como motivo pelo desinteresse em comprovar o cumprimento das condicionalidades em educação e saúde ou mesmo de participar dos recadastramentos.

Por mais que sejam importantes os cursos de qualificação oferecidos aos beneficiários, o cerne desse fenômeno é o crescimento da economia e, com ela, do emprego.

Dez milhões de pessoas saírem de um estado de semi-indigência já teria valido o investimento. Mas ele rendeu mais, embora continue sendo atacado de forma obtusa por quem procura encobrir sua insensibilidade debaixo de razões contábeis.

Domingo (16), o jornal “O Globo” deu manchete para um “escândalo”: os programas de transferência de renda [incluindo o Bolsa Família] somam o dobro dos recursos orçamentários previstos para investimentos públicos. Ou R$ 114 bilhões, contra R$ 44,6 bilhões.

A conta não se sustenta para quem não tem uma obtusa “cabeça de planilha”, como diz o jornalista Luís Nassif.

A primeira e fundamental diferença entre um e outro gastos é simples: as transferências de renda se convertem, imediatamente, em consumo e este em impostos. E consumo de pobre, já se mostrou aqui, paga muito imposto: mais de 40%, segundo o IPEA, para famílias de até dois salários mínimos de renda [na prática, as de maior renda pagam percentual muito menor de impostos].

Portanto, mais de 40% desses recursos voltam para os cofres públicos da União, Estados e Municípios quase que de imediato, ao contrário do que ocorre com os investimentos, que retornam em escala menor e mais lenta aos cofres públicos.

Mas o jornal não toca nem de leve no ‘xis’ da questão quando se fala na falta de recursos para investimentos públicos.

Porque isso mexe com um “santo” do altar neoliberal: os juros.

O país vai pagar, este ano, R$ 240 bilhões em juros e serviço da dívida pública. Talvez um pouco menos, se o COPOM, esta semana, baixar um pouco mais a taxa SELIC, porque cada ponto percentual dela vale a bagatela de R$ 17 bilhões. Fora outros R$ 110 bilhões que os juros tiram das pessoas e empresas.

Em termos proporcionais, isso representa 36% do Orçamento, contra 17% dos programas de transferência de renda para os pobres e 7% de investimentos.

Mas essa rubrica, a mais pesada de todo o Orçamento é intocável, não é?

Aliás, o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas, Luiz Aubert Neto, usa uma frase perfeita para definir o que é a política de endividamento e juros altos que o Brasil segue –e é prisioneiro dela, em boa parte– desde o início do governo FHC: “A política de juros altos dos últimos 17 anos representa a maior transferência de renda da história do capitalismo neste planeta.”

Transferência de renda para os ricos, claro. Esta não escandaliza “O Globo”.

FONTE: escrito por Brizola Neto no seu blog “Tijolaço”  (http://www.tijolaco.com/bolsa-familia-e-caro-o-bolsa-rentista-e-mais/) [imagem do Google, título e trechos entre colchetes adicionados por este blog ‘democracia&política’].

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