segunda-feira, 21 de novembro de 2011
CRISE É PIOR DO QUE 1929
Por Mário Augusto Jakobskind
“É grave a crise econômica na Europa. Há analistas que dizem ser pior do que a de 1929. Não é só a Europa, mas os Estados Unidos estão em recessão. Como as duas áreas do planeta são consumidoras, e a China é uma das principais beneficiárias com a exportação de seus produtos de consumo, se a fonte secar ou mesmo o fluxo de consumo de produtos chineses for reduzido, a América Latina, automaticamente, será afetada. Não poderá contar, como agora, com a República Popular da China para escoar as ‘commodities’.
Essa análise é feita por analistas que acompanham de perto o desenrolar dos acontecimentos.
Na Europa, depois da Grécia, a bola da vez é a Itália, que se encontra também em situação desesperadora. Depois de Silvio (bunga bunga) Berlusconi, ocupa o cargo de presidente do Conselho de Ministros, que corresponde a primeiro-ministro, um tal de Mario Monti, ex-vice-presidente da ‘Goldman Sachs’, gigante do mercado. Ou seja, a Itália, como a Grécia, coloca um “técnico” para fazer o jogo sujo do capital financeiro, mesmo perdendo a sua soberania.
Como afirmou Mikis Theodorakis, o compositor grego de longa tradição política e que aos 14 anos perdeu um olho quando combatia na resistência antinazifascista, se a Grécia se submeter às exigências dos chamados "parceiros europeus" será "o nosso fim, quer como povo, quer como nação".
Theodorakis, que ao longo dos anos sempre combateu o bom combate, além de compor músicas belíssimas (quem não se lembra da trilha sonora de ‘Zorba, o grego’?), alerta ainda que “se europeus não se levantarem, bancos trarão de volta o fascismo”.
Gregos, italianos, espanhóis, portugueses, estadunidenses estão nas ruas protestando contra as investidas do capital financeiro, responsável pela crise e que exige dos trabalhadores o pagamento da fatura.
Embora os europeus não conheçam a fúria dos generais de plantão, como aconteceu na América Latina nos anos 70 com o apoio integral de sucessivos governos dos EUA, não se exclui a possibilidade de que o mesmo capital financeiro exija a instalação de governos fortes no velho continente. Em princípio, estão tentando os técnicos ao seu serviço, mas se o caldo engrossar...
Um parêntesis: a Grécia, com o regime dos coronéis nos anos 70, Portugal, com o famigerado Oliveira Salazar e a Espanha, com o hediondo Francisco Franco, assolaram os seus povos com ditaduras ao estilo Pinochet/Médici e outros do gênero. Os tempos são outros, claro, e figuras como as mencionadas não teriam mais vez, mas isso não impede que, em situação de emergência, o capital financeiro se valha de regimes fortes.
Na verdade, quem dita as cartas das finanças na Europa é a Alemanha. A primeira ministra Angela Merkel é a senhora dos anéis. Ela tem ditado regras aos demais países, cujos dirigentes pouco se importam com a perda de soberania, que muitos analistas consideram coisas do passado. Para esses dirigentes e os analistas de sempre, o que importa mesmo é a ‘pós-modernidade’. E a ‘pós- modernidade’ é isso que está aí no cenário internacional.
Mas, já que falamos em repressão, um fato histórico vergonhoso, envolvendo as relações Brasil-Argentina, veio à tona. Documentos que se tornaram públicos indicam que, por volta de 1982, o então embaixador brasileiro em Londres, Roberto Campos, defensor histórico do capital financeiro, batalhou no sentido de que o então capitão Alfredo Astiz ficasse livre. Como se sabe, Astiz, o anjo da morte, que torturou e matou sem piedade, acabou de ser condenado à prisão perpétua.
Astiz, que literalmente se borrou quando foi preso nas Malvinas pelos britânicos, contou com os esforços de Roberto Campos no sentido de libertá-lo, segundo informa o jornal argentino “Pagina 12”. Tal fato demonstra, também, como a ditadura brasileira e argentina andavam juntas. A diferença agora é que os torturadores assassinos argentinos estão sendo julgados, enquanto os similares brasileiros contam com a impunidade de uma lei de anistia promulgada em 1979, nos estertores da ditadura, mas ainda na vigência do regime ditatorial e sob pressão dos que tinham culpa no cartório.
No mais, exemplo de promiscuidade jornalística mais recente fica por conta da TV Globo na cobertura, na quinta-feira (17), do que está acontecendo na Bacia de Campos com o derramamento de petróleo pela empresa estadunidense Chevron-Texaco. Sem o menor constrangimento, o repórter sobrevoou o local num avião cedido pela própria Chevron-Texaco, passando a relatar o que era de interesse da referida empresa. Ou seja, dourando a pílula da agressão ao meio ambiente provocada pelo derramamento.
Os noticiários dos outros canais de televisão simplesmente diziam que a Chevron-Texaco ‘não tinha se pronunciado’. Ficou caracterizada a exclusividade da TV Globo, mas com o noticiário divulgado em conformidade com a empresa estadunidense. [Logo após, a Chevron concedeu entrevista ‘para a imprensa’, mas a única convidada foi a TV Globo...]
Eis mais uma faceta do jornalismo global.”
FONTE: escrito por Mário Augusto Jakobskind, correspondente no Brasil do semanário uruguaio ‘Brecha’. Foi colaborador do ‘Pasquim’, repórter da ‘Folha de São Paulo’ e editor internacional da ‘Tribuna da Imprensa’. Integra o Conselho Editorial do seminário ‘Brasil de Fato’. É autor, entre outros livros, de ‘América que não está na mídia, Dossiê Tim Lopes - Fantástico/IBOPE’. Publicado no site “Direto da Redação (http://www.diretodaredacao.com/noticia/crise-e-pior-do-que-1929) [trecho entre colchetes adicionado por este blog ‘democracia&política’]
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