domingo, 27 de novembro de 2011

O REINO DA QUINTA-ESSÊNCIA


BRASIL É UM PAÍS SURREALISTA

Por Fernando Brito

“Esta semana, ‘O Globo’ anunciou que “somente 16 dias após o início do vazamento de óleo no litoral do Rio, a ‘Agência Nacional do Petróleo’ decidiu suspender as atividades de perfuração da empresa americana Chevron no Brasil”.

A crítica poderia ser adequada, se o jornal não tivesse levado “apenas” dez dias para noticiar, com destaque, o vazamento de petróleo. Como, aliás, quase toda a imprensa.

A notícia segue, dizendo que o Tribunal de Contas da União determinou uma auditoria na Petrobras, para “verificar se há previsão contratual de ressarcimento das despesas que a estatal teve com equipamentos e mão-de-obra próprios nas ações de contingência.”

Ou seja, se a Petrobras, diante da emergência de óleo vazando no mar, tinha um contratinho para “cobrir” o empréstimo de equipamentos e pessoal especializado para agir na contenção imediata do vazamento de óleo.

Meu Deus, será possível, numa hora daquelas, parar para que alguns advogados e procuradores fizessem um documento dessa ordem? “Os senhores deixem aí o óleo vazando até o parecer da assessoria jurídica, está bem?”.

Francamente, isso lembra a história fantástica de Rabelais e o seu ‘reino da Quinta-Essência’, onde as pessoas se dedicavam a questões de alta indagação, mas de absoluta inutilidade.

Se o Tribunal de Contas quer averiguar as relações contratuais entre a Chevron e a Petrobras, deve recuar até 1999, no Governo Fernando Henrique, onde o controle do campo de Frade, descoberto em 1986 pela Petrobras, foi transferido para a petroleira americana.

Foi uma operação conhecida no mercado como ‘farm-in/farm-out’, quando é comprada e vendida uma concessão pública adquirida por uma empresa.

Isso, sim, é uma boa providência, que vai às entranhas do criminoso processo de privatização brasileiro, quando negócios bilionários foram fechados nas barbas do Tribunal e ninguém determinou uma “auditoria de emergência”.

Agora, ver se tinha um ‘contrato de locação para os dois robôs submarinos da Petrobras’ usados para descobrir o vazamento da Chevron é realmente, como faziam os súditos daquele reino rabelaisiano, se dedicar a desenhar na água e a medir o salto das pulgas.”

FONTE: escrito por Fernando Brito no blog “Projeto Nacional”  (http://blogprojetonacional.com.br/o-reino-da-quinta-essencia-2/).

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