quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

ENTREVISTA COM MARCO ANTONIO RAUPP (novo Ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação)

Ministro Marco Antonio Raupp, em Brasília

EMPRESAS DO PAÍS DEVEM INVESTIR EM CIÊNCIA

Em entrevista à “Folha”, novo ministro da ciência reforça papel das parcerias com setor privado

Por Sabine Righetti, na “Folha de São Paulo”

“O físico Marco Antonio Raupp assumiu, terça-feira (24), o MCTI (Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação) e já elegeu como prioridade o estímulo da ciência por meio de parcerias com empresas.

"Temos exemplos de sucesso na ciência brasileira. Precisamos parar de reclamar de falta de recursos e nos espelhar neles", disse.

Para o físico, que deve seguir a linha de seu antecessor, Aloizio Mercadante, a ciência que dá certo no país está nos setores de petróleo, agricultura e aviação, em que as pesquisas são feitas com a colaboração entre universidades e grandes empresas.

Em entrevista exclusiva à “Folha”, Raupp afirmou que quer reformular o programa espacial brasileiro. A ideia é que AEB (Agência Espacial Brasileira) e INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), duas instituições que Raupp já comandou, parem de concorrer entre si.

-Folha - Qual será o maior desafio da sua gestão?

Marco Antonio Raupp - É estabelecer uma parceria com o setor produtivo para dar consistência à pesquisa tecnológica no país.

-Mas poucas empresas fazem ciência no Brasil.

Temos exemplos de empresas que fazem pesquisa de ponta. O sistema de pesquisa e inovação da Petrobras levou à superação de questões importantes na produção de petróleo. Importávamos petróleo e, hoje, somos exportadores. Também temos o bom exemplo da EMBRAPA [Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária]. Hoje, produzimos no Centro-Oeste, que até há pouco tempo não tinha nada. Isso sem falar na EMBRAER [Empresa Brasileira de Aeronáutica]. Temos de seguir esses exemplos. Há propostas que quero implementar para isso.

-Quais propostas?

A EMBRAPII [Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial], que o [Aloizio] Mercadante deixa para eu implementar. O que a EMBRAPA fez para a agricultura a EMBRAPII tem de fazer para a indústria. Neste momento em que as exportações estão caindo, isso é vital.

As empresas têm de investir também. Precisamos criar condições para que elas vejam que poderão ter benefício econômico a partir de pesquisa. Esse é um grande desafio para o plano plurianual que vou desenhar para os anos de 2012 a 2015.

-Falta pesquisador no Brasil?

Sim. Nossa pós-graduação se concentrou em formar pessoas para as próprias universidades. Agora, precisamos de gente para trabalhar nas empresas e nas instituições governamentais. Temos brutal necessidade de engenheiros. É preciso formá-los e trazer gente de fora. O programa “Ciência sem Fronteiras” possibilita justamente isso.

-EMBRAPII e “Ciência sem Fronteiras” são projetos da gestão de Mercadante. Seu governo será de continuidade?

É o mesmo governo. Não vou reinventar a roda. Minha missão é acelerar a roda.

-Há grandes projetos aprovados ainda sem recursos, como o reator multipropósito do IPEN (Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares), o novo anel de luz síncrotron e a parceria com o ESO (Observatório Europeu do Sul). Qual será a sua prioridade?

Esses projetos são importantes para a ciência brasileira. É preciso viabilizá-los mesmo que tenhamos de distribuir o orçamento em vários anos. E há outros, como o programa espacial.

-O programa espacial será o foco da sua gestão?

Sempre foi prioridade, mas existem muitos problemas. Sempre fui crítico à maneira como o sistema espacial está articulado, com duas instituições concorrendo entre si: a AEB e o INPE. No ministério, olharei para essa questão.

-INPE e AEB serão unificados?

Não, a ideia é manter as instituições de maneira que AEB e INPE não concorram entre si. Não podemos misturar política espacial com fazer satélite. Mas INPE e AEB têm de atuar juntas. O governo não quer as duas trabalhando separadamente porque isso é perder dinheiro.

-O INPE tem sofrido para contratar pessoas após a aposentadoria de funcionários. Como resolver essa questão?

Temos de ter aparato legal para conseguir contratar de maneira mais flexível. Mas me pergunto se é o Estado que deve contratar todas as pessoas para fazer pesquisa no país. É evidente que não. Por isso, insisto nas parcerias com o setor privado.

-As parcerias com o setor produtivo são a sua estratégia para aumentar os recursos para ciência? Hoje, temos 1,1% do PIB em ciência. A meta para 2010 era 1,5%...

Não adianta a gente ficar falando que precisa de mais recursos para fazer um projeto se não justificamos a proposta. E precisamos buscar o dinheiro. Não podemos ficar parados esperando alguma coisa acontecer.”

FONTE: entrevista conduzida por Sabine Righetti, publicada na “Folha de São Paulo”  (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ciencia/21918-empresas-do-pais-devem-investir-em-ciencia.shtml).

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