sábado, 28 de janeiro de 2012

EUROPA CASTIGADA PELO PRÓPRIO VENENO DO EMBARGO

bandeira do Irã

EMBARGO [contra o IRÃ]: A VOLTA DO CHICOTE NO LOMBO DE QUEM BATEU”

Por Pepe Escobar, no “Asia Times Online

“THE IRANIAN OIL EMBARGO BLOWBACK”

“Se aquela patética coleção de poodles europeus – que o analista Chris Floyd chama deliciosamente de 'Europuppies' – conhecesse alguma coisa da cultura persa, saberia que a volta do chicote da guerra econômica, que declarara sob a forma de embargo ao petróleo do Irã, não tardaria e viria dura como rock-pauleira.

Melhor dizendo: como rock-pauleira-pauleira-mesmo. O Majlis (Parlamento do Irã) decidirá amanhã, domingo, em sessão aberta, se cancela completa e absolutamente todas as exportações de petróleo iraniano para todos os países europeus que aceitarem o embargo – segundo Emad Hosseini, relator da Comissão de Energia do Majlis [1]. E com aviso, em tom apocalíptico, via a agência de notícias FARS, cortesia do deputado Nasser Soudani: “A Europa arderá no fogo dos poços iranianos.” [2]

Soudani manifesta o pensamento de todo o establishment em Teerã, quando diz que “a estrutura das refinarias europeias só é compatível com o petróleo iraniano” – portanto, os europeus não têm alternativa; o embargo “fará subir o preço do petróleo, os europeus terão de comprar e serão obrigados a pagar mais”. Quer dizer: a Europa “terá de comprar petróleo iraniano indiretamente, dos intermediários”.

Nos termos do pacote de sanções da União Europeia, todos os contratos continuam vigentes até 1º de julho; e ficam proibidos quaisquer novos contratos. Então... imaginem que a nova legislação “preventiva” seja aprovada no Irã, nos próximos dias. Países do Club Med europeu, como Espanha e, principalmente, Itália e Grécia, estarão encurralados nas cordas, sem tempo para buscar alguma possível alternativa para o cru iraniano, extremamente leve, de altíssima qualidade.

A Arábia Saudita – e digam o que disserem os ‘especialistas’ em petróleo da imprensa corporativa ocidental – não tem capacidade reserva para suprir a demanda extra. E, sobretudo, a absoluta prioridade da Casa de Saud é vender petróleo ao preço mais alto possível (porque os sauditas precisam de muito dinheiro para subornar – além de reprimir – a própria população e fazê-la esquecer aquelas ideias estúpidas de primaveras árabes).

Então, é isso. As economias europeias já quebradas podem ser obrigadas a continuar comprando petróleo iraniano, não do Irã, diretamente, mas dos vencedores selecionados: os intermediários-abutres.

Não surpreende que os derrotados nessas táticas de Guerra Fria, anacronicamente requentadas, em tempos de mercado aberto global, sejam os próprios europeus. A Grécia – que já está à beira do abismo – compra petróleo do Irã com grandes descontos no preço. Há alta probabilidade de que o embargo lance o governo grego diretamente em situação de calote – e, daí em diante, há alta probabilidade de um efeito cascata catastrófico na eurozona (Irlanda, Portugal, Itália, Espanha e por aí vai).

O mundo carece de um Heródoto digital que explique como esses poodles europeus, que dizem representar a “civilização”, conseguiram, num só golpe, fazer sofrer, simultaneamente, a Grécia – onde nasceu a civilização ocidental – e a Pérsia, uma das civilizações mais sofisticadas que o mundo jamais conheceu. E que espantosa reencenação histórica da tragédia, como farsa! É como se gregos e persas estivessem lado a lado, nas Termópilas, assistindo ao massacre dos exércitos da Organização do Tratado do Atlântico Norte, OTAN.

ENTRE NA DANÇA DA EURÁSIA [3]

Agora, comparem aquele cenário e a ação que se vê por toda a Eurásia. O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, disse que “Sanções unilaterais não servirão para nada”. O ministro das Relações Exteriores da China, em Pequim, com muito tato, mas irrepreensivelmente direto ao ponto, disse que “Pressionar cegamente e impor sanções ao Irã não são abordagens construtivas”. [4] O ministro das Relações Exteriores da Turquia, Ahmet Davutoglu, disse que “Temos muito boas relações com o Irã, e estamos empenhando muitos esforços para reabrir as conversações entre o Irã e os mediadores do [grupo] “5+1” [chamado “Irã 6”: os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU mais a Alemanha]. A Turquia continuará a buscar solução pacífica para a questão”.

A Índia, dos BRICS – como Rússia e China – também desaprovou as sanções. A Índia continuará a comprar petróleo do Irã, pagando em rúpias ou em ouro. Coreia do Sul e Japão, sem dúvida, arrancarão isenções do governo de Barack Obama.

Por toda a Eurásia, o comércio afasta-se rapidamente do dólar norte-americano. E, muito importante: a “Zona Asiática de Exclusão do Dólar” implica também que a Ásia, aos poucos, já se está afastando dos bancos ocidentais.

O movimento pode ser liderado pela China – mas, em todos os casos, é movimento irreversivelmente transnacional. Como sempre, siga o dinheiro. China e Brasil, dois países BRICS, começaram a afastar-se do dólar norte-americano nas transações comerciais em 2007. Rússia e China, também BRICS, seguiram o mesmo caminho em 2010. Japão e China – os dois gigantes asiáticos-, fizeram exatamente o mesmo, mês passado.

Semana passada, Arábia Saudita e China assinaram contrato para a construção de uma refinaria gigante de petróleo no Mar Vermelho. E a Índia, mais ou menos secretamente, está decidindo pagar em ouro, pelo petróleo que compre do Irã – com o que deixará de lado também o atual intermediário, um banco turco.

A Ásia quer um novo sistema internacional – e está trabalhando nessa direção.

Consequências inevitáveis no longo prazo: o dólar norte-americano – e, claro, o petrodólar – encaminha-se lentamente para a irrelevância. “Grande demais para falir” acabará por ser, não imperativo categórico, mas epitáfio.”

NOTAS DOS TRADUTORES:

[1] 27/1/2012, Press TV, Teerã, “Oil war with Iran will cripple EU
[2] 25/1/2012, Mehr News, Teerã, “Iranian parliament mulling plan to cut oil exports to Europe
[3] Orig. "Hit the eurasian groove". "Hit the groove" é expressão que equivale, em português, a “entre no ritmo”, “acerte o ritmo”, “caia na festa” etc. Vê-se e ouve-se uma gravação de “Hit the groove”, com o grupo Echobeat
[4] 26/1/2012, Xinhuanet, Pequim, “China says sanctions on Iran not constructive

FONTE: escrito por Pepe Escobar, no “Asia Times Online”, sob o título “The Iranian oil embargo blowback”. Transcrito no blog “redecastorphoto” traduzido pelo “pessoal da Vila Vudu”  (http://redecastorphoto.blogspot.com/2012/01/pepe-escobar-embargo-volta-do-chicote.html) [título e imagem do Google adicionados por este blog ‘democracia&política’] [Postagem por sugestão do leitor Probus].

10 comentários:

  1. Maria Teresa, o que estou avaliando é o seguinte: a UE, que pretende embargar o petróleo iraniano, é composta de países milenares e experientes,não são bobinhos.Daí que tomando tal atitude não teria avaliado o máximo possível as suas consequências? Não teria ajustado as suas refinarias a outro tipo de petróleo ou mesmo que possam refinar tipos diferentes de petróleo? Os russos são sempre dúbios nas suas ações e como também precisam do "vil metal", não poderiam ter feito tratos com os europeus para fornecimento de óleo? Onde a Índia terá tanto ouro para pagar importações de petróleo e cobrir outras necessidades? Quanto em ouro esse país realmente tem? Alguém sabe? Quando a URSS saiu do palco da História, pensei cá com meus botões,o pior será quando os EUA tiverem que sair. Foi uma intuição, contudo, está se mostrando verdadeira e os problemas estão se avolumando. A rigor, não tenho ódio a sistemas, mas eles são autofágicos. Criam os seus monstros que depois os devoram.

    ResponderExcluir
  2. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  3. Fluxo,
    Suas reflexões fazem sentido. Não tenho convicção nas respostas. Algumas considerações:
    1) A UE, menos milenar e experiente que os persas, deve ter feito, sim, suas avaliações. Porém, líderes ocidentais pouco inteligentes, megalômanos e pretensiosos, como Bush e Sarkozy, atropelam análises e assessoramentos contrários e têm causado tragédias, com centenas de milhares de civis mortos, mas com graves prejuízos políticos e econômicos também para o próprio Ocidente. Vide Iraque e Líbia, somente citando alguns exemplos desta década;
    2) não parto de premissas preconceituosas de que "os russos são sempre dúbios nas suas ações", de que "o pior será quando os EUA saírem do palco da História", de que "sistemas são todos autofágicos". Os preconceitos prejudicam análises;
    3) Ultimamente, tenho lido em fontes diversas que a Ìndia tem grande produção e estoque de ouro. Não sei se é verdade.
    Maria Tereza

    ResponderExcluir
  4. Vim de longe e vou mais longe, quem tem fé vai me esperar(escrevendo numa conta pra junto a gente cobrar. No dia que já vem vindo, que esse mundo vai virar).

    Noite e dia, vem de longe, branco e preto a trabalhar e o "Dono Senhor de Tudo", sentado, mandando dar (e a gente fazendo conta pro dia que vai chegar).

    Marinheiro! Marinheiro!! Quero ver você no mar. Eu também sou marinheiro, eu também sei governar: Madeira de dar em doido vai descer até quebrar!! É a volta do cipó de aroeira no lombo de quem mandou dar!!

    http://www.youtube.com/watch?v=4Ozr4xMsmok&feature=fvwrel

    É o modo "Persa" de negociar... "parece" que eles fazem isso há 5000... quem sabe os arrogantes genocidas da UE não aprendas agora a sutil "arte de negociar", não é mesmo???

    ResponderExcluir
  5. Maria Teresa, agradeço ter me chamado de preconceituoso. Sim, posso sê-lo, sem nenhuma ironia. Admito-o, sem nenhuma autocomiseração. Só gostaria de retificar que o escrito por mim foi: "...o pior será quando os EUA tiverem que sair" e não "o pior será quando os EUA saírem do palco da História", pois, como vemos, sua missão diuturna é tratar de sobreviver como Civilização e Potência Global, lançando mão de toda e qualquer estratégia para lograr tal fim, com todos os riscos (riscos? Alguma potência levará às últimas consequências o seu apoio ao Irão?) que possa trazer à sobrevivência da Humanidade. O Irão nada poderá sozinho e não vejo, melhor sinto, como os países que dizem apoiá-lo poderão manter essa posição. Talvez o artigo “O Islã norte-americano avança no Oriente Médio”, de M.L. Bhadrakumar, postado em oportuno momento, expresse melhor o que gostaria de ter dito ou mesmo ter tal nível de informação.

    ResponderExcluir
  6. Fluxo,
    Português é belo e rico idioma, porém qualquer descuido pode levar a interpretações diferentes da desejada.
    Não quis dizer que você é preconceituoso, mas que é preconceito dizer "os russos são sempre dúbios nas suas ações". Todos nós carregamos inúmeros preconceitos inevitavelmente acumulados ao longo da vida. Eu os tenho em grande quantidade.

    Outro exemplo de armadilha do idioma: a simples mudança de “tiverem que sair” para “saírem” já lhe fez ver conotações indesejadas.
    Concordo com a sua avaliação do citado artigo de M.L. Bhadrakumar publicado no “Indian Punchline”. Também o achei muito bom e expressando melhor o que eu conseguiria dizer se tivesse tal nível de informação. Por isso, o transcrevi hoje (29) neste blog.
    Maria Tereza

    ResponderExcluir
  7. Quanto ao pagamento em ouro do petróleo importado pela Índia, teríamos: Importação diária de petróleo em nº de barris:3,06 milhões de barris x 365= 1.116.900.000 barris por ano, ao custo de US$97,43/barris WTI (o Brent custa US$116,56/barril), ao custo total cerca de US$ 109 bilhões. A Índia tem 558 toneladas de ouro, avaliadas em U$S 23 bilhões, o que não daria para pagar 1/4 do petróleo necessario durante o ano. Logo, a Índia vai preservar as suas reservas de ouro e não pagará o óleo com esse metal.

    ResponderExcluir
  8. Fluxo,
    Seu raciocínio e contas fazem sentido. Com as premissas que você usou, a ordem de grandeza do resultado indica ser improvável a Índia pagar petróleo com ouro. Infelizmente, não conheço dados confiáveis sobre as reservas da Índia em ouro, nem da sua produção atual e da potencial, para argumentar pró ou contra essa informação sobre forma de pagamento.
    Maria Tereza

    ResponderExcluir
  9. Ora, tá na cara que o "OURO" é "NÃO" comercializar, seja o que for, em DÓLAR, e sim, em suas distintas moedas fugindo do dólar de araque.

    O "pagar em ouro" (como diria o José serra) é tudo trolóló, ou, como diria Delfim Netto: O recheio da torta é "ficar distante do dólar" o resto é creme de chantily.

    ResponderExcluir
  10. Maria Tereza, tive que fazer tudo depressa, porém, as fontes são confiáveis e você mesma pode ter acesso e são: Para as Reservas: World Gold Council, tendo que fazer registro 2)Importações de petróleo em barris/dia: World Fact Book, CIA, desnecessário registro. O resto é fazer algumas contas que não são complicadas.

    ResponderExcluir