quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

FUKUYAMA E O FUTURO DA HISTÓRIA

Francis Fukuyama

Por Roberto Abdenur

Nos EUA, em 1974, o 1% mais rico detinha 9% da riqueza nacional. Hoje, possui quase 25% dela

Em dois continentes de importância para o mundo, desdobram-se, neste momento, crises virtualmente existenciais no que diz respeito a seus modelos econômico-sociais.

Nos EUA, a oposição republicana a Obama tenta conquistar a Casa Branca com base em postura quase religiosa em favor da redução do imenso déficit público unicamente pela via da eliminação de gastos, com a preservação, e mesmo a ampliação, de vantagens tributárias que só fazem privilegiar os mais ricos.

Na Europa, o Estado do bem-estar se vê questionado. Não tanto sua essência, mas sim sua extensão passa a ser objeto de reavaliação, ao impacto de crise recessiva que tende a perdurar por longo tempo.

Enquanto isso, na China e em outras partes da Ásia Oriental, viceja um autoritário capitalismo de Estado que, aos olhos de alguns analistas do Ocidente, constituiria modelo invejável -ainda que, pensando bem, seja esse alegado "Consenso de Pequim" (fazendo jogo de contraste com o "Consenso de Washington") de indesejável e inviável implantação em países com regimes verdadeiramente democráticos, baseados no Estado de Direito, nas liberdades civis e na economia de mercado.

Nos EUA, a corrida eleitoral em curso expressa sociedade inusitadamente polarizada. E, em certo sentido, espantada e desorientada diante de nova realidade pouco assimilada: a inexorável tendência à crescente desigualdade socioeconômica.

Em 1974, o 1% mais rico detinha 9% da riqueza nacional. Hoje, possui quase 25%. Desigualdade que uns desejam enfrentar pela via do assistencialismo e de medidas de sentido distributivo e outros preferem não enxergar ou acreditam ser um mal passageiro, a ser sobrepujado pelo retorno ao "laissez-faire" e a medidas regressivas, supostamente favorecedoras dos pobres e das classes médias pela via do "trickle down" (gotejamento) da riqueza acumulada pelos ricos.
"trickle down"
Na Europa, supostamente mais organizada, falhou a regulamentação financeira, o que convergiu com a crise de 2008 nos EUA para dar origem à presente situação. Nesse erro, se encontraram o capitalismo neoliberal americano e a "economia social de mercado" dos alemães.

É interessante constatar, em tal contexto, o surgimento, em vários países, de movimentos populistas de direita (veja-se o “Tea Party” nos EUA) e a ausência de um pensamento de esquerda mais amplo e integrado, capaz de colocar alternativas ao que tem sido uma globalização em importantes aspectos descontrolada, que ameaça encolher as classes médias nos países desenvolvidos, trazendo riscos à própria democracia representativa.

E, surpresa!, quem a esta altura clama pelo surgimento de um lúcido pensamento de esquerda, a contrabalançar os populismos de direita, é o famoso Francis Fukuyama. Ele, que com seu livro "O Fim da História" dera como definitivo o triunfo da democracia liberal e da economia de mercado sobre o socialismo real, expressa, em recente artigo na prestigiosa "Foreign Affairs" ("O Futuro da História"), preocupação com os riscos de que os avanços tecnológicos subjacentes à globalização enfraqueçam as classes médias nos países desenvolvidos. Critica o que chama de "ausência da esquerda" e clama por nova mobilização em favor de Estados mais fortes, de medidas redistributivas e de questionamento dos privilégios das atuais elites dominantes.”

FONTE: escrito por Roberto Abdenur na Folha de São Paulo  (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/22018-fukuyama-e-o-futuro-da-historia.shtml) [imagens do Google adicionadas por este blog ‘democracia&política’].

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