O RELATÓRIO SOBRE O AFEGANISTÃO QUE O PENTÁGONO NÃO QUER QUE VOCÊ LEIA
Por Michael Hastings, do site da revista norte-americana “Rolling Stone”; tradução de Heloisa Villela
“No começo da semana, Scott Shane, do “New York Times”, publicou matéria bombástica sobre o coronel Daniel Davis, um veterano do exército com 17 anos de experiência que voltou há pouco de uma segunda missão no Afeganistão.
De acordo com o “Times”, Davis, de 48 anos, escreveu relatório de 84 páginas, que não é secreto, e também um segundo relatório, secreto, onde apresenta sua avaliação a respeito da guerra que já leva uma longa década. A avaliação, essencialmente, é de que a guerra é um desastre e que o alto comando militar não disse ao público norte-americano quão ruim ela tem sido.
“Quantos mais precisarão morrer dando apoio a uma missão que não está tendo sucesso?” Davis pergunta abertamente no artigo em que resumiu suas ideias, publicado no jornal das Forças Armadas.
No mês passado, Davis submeteu o relatório – intitulado “Dereliction of Duty II: Senior Military Leader’s Loss of Integrity Wounds Afghan War Effort” – para revisão interna no Exército. Assim, o relatório poderia ser divulgado para o público. Porém, de acordo com oficiais militares que acompanharam de perto a história, o Pentágono se recusa a divulgar o documento.
A “Rolling Stone” conseguiu uma cópia da versão de 84 páginas, não secreta, que está circulando dentro do governo norte-americano, inclusive na Casa Branca. Decidimos publicar na íntegra; vale a pena ler por conta própria.
Na minha avaliação, é um dos documentos mais significativos já publicados por um oficial da ativa nos últimos dez anos.
Aqui estão as primeiras linhas do relatório: “Os oficiais militares mais graduados dos Estados Unidos, quando se comunicaram com o Congresso ou com o povo norte-americano, distorceram a verdade a respeito das condições no Afeganistão de uma maneira que a verdade se tornou irreconhecível. Essa enganação prejudicou a credibilidade dos Estados Unidos entre nossos aliados e nossos inimigos, limitou severamente nossa habilidade de alcançar uma solução política para a guerra do Afeganistão”.
Davis segue em frente para explicar que tudo no relatório vem de “fontes abertas”, ou seja, informação não secreta. De acordo com Davis, o relatório secreto, que ele submeteu legalmente ao Congresso, é ainda mais devastador.
“Se o público tivesse acesso a esses relatórios secretos ele veria o abismo dramático que existe entre o que os nossos principais líderes dizem em público e o que é realmente verdadeiro por trás dos panos”, escreve Davis.
“Seria ilegal, da minha parte, discutir ou citar material secreto em um meio aberto, por isso não vou adiante; não sou o cara do WikiLeaks Part II.”
De acordo com a reportagem do “Times”, Davis deu um briefing a quatro congressistas e dezenas de funcionários do Congresso e mandou o relatório secreto para o inspetor geral do Departamento de Defesa e, claro, falou com o repórter do jornal; somente depois de tudo isso ele informou ao comando o que estava fazendo.
Evidentemente, a campanha de Davis pela verdade chacoalhou o Pentágono, levando oficiais anônimos a ameaçarem com a possibilidade de instaurar investigações por “possíveis violações de segurança”, de acordo com a [rede de televisão] NBC.
Apesar dos críticos tentarem desmerecer as afirmações de Davis como apenas opiniões de um “reservista” – como disse Max Boot – o relatório dele tem várias revelações, análises e dados que comprovam cada uma de suas afirmações.
Ele detalha o grande desastre do programa de treinamento do exército afegão, como o exército cruza a fronteira entre relações públicas e “operações de informações” (significa, essencialmente, propaganda), e a manipulação da mídia norte-americana por parte do Pentágono. (Ele contrasta, com conhecimento, as declarações públicas de altos oficiais militares com a realidade aguda no Afeganistão).
Davis conclui: “Minha recomendação é de que o Congresso dos Estados Unidos – as comissões das Forças Armadas da Câmara e do Senado, em particular – deve conduzir investigação bipartidária sobre as várias acusações de desonestidade e fraude contidas nesse relatório e audiências públicas também”, ele escreve.
“Essas audiências devem incluir os generais mais graduados e generais reformados aos quais me refiro neste relatório, para que possam ter todas as chances de dar ao público a versão deles.” Em outras palavras, colocar os generais sob juramento e, aí sim, ver que história eles contam.
Aqui, para quem quiser baixar, o relatório completo em inglês: http://www1.rollingstone.com/extras/RS_REPORT.pdf
FONTE: escrito por Michael Hastings, do site da revista mensal norte-americana “Rolling Stone”; tradução de Heloisa Villela. O autor, Michael Hastings, é editor contribuinte da “Rolling Stone” e autor de “The operators: The Wild and Terrifying Inside Story of America’s War in Afghanistan”. Artigo transcrito no portal de Luis Nassif (http://www.viomundo.com.br/politica/afeganistao-ecos-do-vietna.html). [Postagem por sugestão do leitor Probus].
Oi Maria Tereza, segue umas matérias, divirta-se:
ResponderExcluirBarcos de guerra do Irã fazem operação no Mediterrâneo
http://www.defesanet.com.br/geopolitica/noticia/4848/Barcos-de-guerra-do-Ira-fazem-operacao-no-Mediterraneo
Delfim Netto: A estratégia chinesa
http://www.cartacapital.com.br/economia/a-estrategia-chinesa/
Watchkeeper será o principal pilar da cooperação de defesa entre Reino Unido e França
http://www.cavok.com.br/blog/?p=46551
Probus,
ResponderExcluirMuito boas indicações. Postarei as duas, provavelmente, amanhã.
Obrigada
Fazer blog assim é mais fácil
Maria Tereza
Mas, estas matérias que eu enviei são complementares as que você postou.
ResponderExcluirEsta dos Destroyers iranianos em Tartus são complementares ao do Beto Almeida e "os 33 anos da Revolução iraniana", convém olhar bem a fotos dos destroyers, quisera o BraSil ter a tecnologia de fabricar um desse.
A matéria dos DRONES dos genocidas Sarkozy e Camerom também é complementar a "Pentágono: OS PLANOS PARA PRISÕES, DRONES E OPERAÇÕES SECRETAS NO AFEGANISTÃO".
E a análise do Delfim Netto... ora, Delfim Netto é Delfim Netto, QUASE TODO o resto é cereja de enfeitar a torta.
Probus,
ResponderExcluirRelmente, lembrei-me após que o artigo do Delfim Netto eu já o havia postado sexta-feira, 17 de fevereiro, sob o título: "SE NÃO É GUERRA, O QUE É?"
É recente, não é necessário repetí-lo.
De qualquer forma, você o selecionou bem, Sua peneira de garimpo é boa.
Obrigada
Maria Tereza