Por Fernando Brito
“Uma matéria publicada quinta-feira no jornal “Valor Econômico” dá ideia do que vêm sendo os investimentos públicos em infraestrutura e do que representa a política de compras desenvolvida pelo Estado brasileiro, estabelecendo patamares mínimos de conteúdo nacional nas compras de máquinas e equipamentos que esses [investimentos públicos] requerem.
Diz a reportagem de João Villaverde que o ”investimento realizado pelas empresas e pelo setor público em máquinas e equipamentos já se aproxima de 11% do Produto Interno Bruto (PIB), uma das maiores taxas do mundo”. Segundo estudo realizado pelo Ministério da Fazenda, a taxa de investimento em máquinas e equipamentos no Brasil seria a terceira maior em um grupo de 12 países, liderado por China, com investimentos de 14,9% do PIB, e Índia (13%).
Esse percentual é quase 50% maior do que era registrado em 2005 – quando era de 7,9% – e representa o atingimento, já no primeiro ano, da média da inversão em máquinas e equipamentos prevista para o período 2011-2014, pouco menos de 60% do total de “Formação Bruta de Capital Fixo” [FBKF], que abrange, além dela, os investimentos em construções e outros itens que compõem os investimentos produtivos.
Os índices são obtidos incorporando-se as importações, é certo, mas é possível imaginar como um volume de investimento dessa ordem representa em encomendas para a indústria brasileira.
Segundo levantamento da “Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos”, a ABIMAQ, entre 2011 e 2014, serão feitos no setor investimentos de R$ 3,1 trilhões, volume 57,5% maior do que os investimentos realizados no período de 2006 a 2009, que somaram R$ 1,9 trilhão.
O efeito disso, na descrição de dois economistas do BNDES, Fernando Puga e Gilberto Borça Jr., reflete-se diretamente no crescimento do país:
“(…) quanto maior a concentração da FBKF de uma economia no segmento de bens de capital, maior tende a ser a produtividade do investimento e, consequentemente, sua contribuição para elevar a taxa de crescimento de longo prazo. (…)
Assim, em função da composição da taxa de investimento brasileira, mais concentrada no item máquinas e equipamentos, uma elevação de 1% na taxa de investimento, implicaria em elevação de 0,163 % na taxa de crescimento da economia. Essa mesma comparação, quando feita para a taxa de investimento mundial, implicaria em elevação de 0,136% na taxa de crescimento. Isso significa que a produtividade do investimento brasileiro era, em 2005, cerca de 20% superior à mundial. Até mesmo a China, que possuía a maior taxa de investimento da amostra, com 41,5% do PIB, tinha produtividade de 0,121%, ou seja, quase 34% inferior à brasileira.
Portanto, tendo como referência os dados do Banco Mundial de 2005, a comparação internacional entre a produtividade do investimento em diversos países mostra que o Brasil, por possuir concentração maior no item máquinas e equipamentos, consegue viabilizar maiores taxas de crescimento econômico com menor esforço em termos de taxas de investimento.”
É fácil verificar, portanto, que os pesados investimentos que o Brasil está realizando, sobretudo na área do petróleo, são capazes de gerar imensa cadeia de valor econômico. A escala, nesse setor e em outros, como a indústria automobilística e a construção naval, justifica plenamente que indústrias estrangeiras se instalem aqui, participando dessa formação de capital e transferindo conhecimento tecnológico e inovação.
É claro que é difícil determinar os critérios que definem conteúdo local num mercado mundializado, até na fabricação de pequenos objetos. Mas é, sem dúvida, fator decisivo para que essa cadeia de valor se desdobre dentro do Brasil. Dentro dessa regra geral, claro que se pode e se deve criar exceções naquilo que represente inovação e produza dificuldades transitórias. E, ainda, aceitar que essa opção leve a velocidade ligeiramente menor na implantação de alguns projetos.
Mas o tempo de um investimento de longo prazo aceita dilatações que a nossa cultura do “overnight” tem dificuldades em compreender.
Um mínimo de bom senso, um olhar mesmo superficial sobre os países aquinhoados com potencial petrolífero como o que representa o nosso pré-sal, porém, faz qualquer cabeça dotada de um mínimo de bom-senso entender que, como na fábula da galinha dos ovos de ouro, a pressa pode ser a ruína.”
FONTE: escrito por Fernando Brito no blog “Projeto Nacional” (http://blogprojetonacional.com.br/conteudo-nacional-e-criar-valor-valor-para-os-brasileiros/).
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