quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

DESENVOLVIMENTO E CIÊNCIA, por Delfim Netto


Da “CartaCapital”

“Dilma rousseff tem viagem marcada para o início do mês de abril aos Estados Unidos, onde vai se encontrar com Barack Obama. Vai cumprir uma agenda, cujos destaques serão os temas relacionados com a educação, em particular iniciativas para turbinar o “Programa Ciência sem Fronteiras”, que prevê o intercâmbio de professores americanos e alunos brasileiros nas universidades e centros de pesquisas dos dois países.

É intenção do governo – segundo informou o ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, em entrevista a “CartaCapital” na quarta 15 de fevereiro – aumentar neste ano para 18 mil o número de bolsas em cursos de pós-graduação no exterior e não somente nos EUA. Faz parte do objetivo estratégico de ampliar os incentivos à inovação, anunciado pela presidenta Dilma no fim de 2011, o financiamento oficial a 100 mil bolsistas brasileiros nos próximos três a quatro anos, em todas as áreas que ofereçam oportunidade de acelerar o desenvolvimento tecnológico.

Os Estados Unidos são ainda a fonte mais avançada do conhecimento técnico-científico e, prosperando os acordos que se pretende firmar durante a visita, a economia brasileira poderá se beneficiar muito desse entrosamento, especialmente o seu setor industrial que depende fundamentalmente da inovação para garantir a futura capacidade de competição nos mercados mundiais. Não custa lembrar que o grande competidor universal mantém 200 mil chineses estudando em universidades e cursos científicos no exterior, aproximadamente 80% nos Estados Unidos, Canadá e Inglaterra.

Reportagem especial da [revista semanal inglesa] “The Economist”, sob o título geral de “Capitalismo de Estado” (na verdade um primoroso ensaio de 14 páginas), inserida na edição de 15 de fevereiro de “CartaCapital”, traz informações e comentários muito interessantes sobre a evolução da economia mundial, com foco no que apontam como a batalha definitiva do século XXI: “Não será entre capitalismo e socialismo, mas entre versões diferentes do capitalismo…”

O Brasil é citado, “embora ‘en passant’”, como um dos ‘players’ importantes desse “grande jogo” que vai decidir o futuro da economia mundial. Somos apresentados como “um exemplo de boas práticas para os capitalistas de Estado se espelharem” e pelo fato de “ter sido pioneiro no uso do Estado como um acionista minoritário”. Certamente, uma referência ao papel do BNDES, à presença dominante da Petrobras na área de energia e à participação dos fundos de pensão das empresas estatais nos investimentos privados e do próprio Estado.

A estrela da reportagem, como não podia deixar de ser, é a China: sua subida meteórica ao primeiro escalão do poder mundial, suas demonstrações de eficiência na concepção de “novos” modelos e na gestão do processo de desenvolvimento e, fundamentalmente, suas ambições de, singelamente, ter o mundo em suas mãos.

Como realizá-las, superando “brutal competição por recursos limitados”? (Leia-se energia… energia, petróleo!). O texto relaciona ações do Estado chinês nas duas últimas décadas à procura de matérias-primas em todo o mundo (algumas, heterodoxas, bem conhecidas). Muito elucidativa é a avaliação de uma alta fonte diplomática, citada na revista: “Os países ocidentais se sentem seguros ao comprar petróleo internacionalmente porque criaram o sistema. A China, não. Ela está convencida de que precisa usar todos os elementos do poder nacional – suas empresas e bancos, suas agências de fomento e diplomatas – para assegurar sua cota justa”.

Fica no ar a pergunta: e se o poder financeiro e “as ações diplomáticas” não forem suficientes para garantir a “cota justa”?

São questões que certamente estarão presentes nos encontros que a presidenta Dilma terá com seu colega Obama e demais personalidades do governo e do empresariado americano. Além do tema principal do intercâmbio universitário (no programa consta visita ao MIT), a mídia internacional [e a brasileira] já incluiu na pauta o interesse americano de discutir parcerias na área energética, com destaque para as oportunidades de exploração [pelos EUA] do petróleo e gás das jazidas do pré-sal [!!!] e para novos investimentos no desenvolvimento da indústria petroquímica.

Durante a visita, uma delegação de cerca de cem empresários organizada pela “Confederação Nacional da Indústria” (CNI) estará se encontrando com seus colegas americanos para discutir parcerias e transferência de tecnologia – segundo informou à imprensa o presidente da CNI, Robson Andrade.”

FONTE: publicado na revista “Carta Capital” e transcrito no portal de Luis Nassif  (http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/desenvolvimento-e-ciencia-por-delfim-netto#more) [Imagens do google e trechos entre colchetes adicionados por este blog ‘democracia&política’].

5 comentários:

  1. Maria Tereza
    Tecnologia é o X da questão.
    Para mim não são os recursos naturais. Pelo menos assim penso.
    Só que o Brasil até hoje não conseguiu entrar no clube dos desenvolvedores de tecnologia.
    Sabe no máximo utilizar o que os paises do Norte desenvolvem.Até a Petrobras. Estive conversando com um geólogo da Petrobras e ele disse que esse negócio de que a tecnologia de exploração em águas profundas quem desenvolveu foi a petrobras é balela.Foi a Schulumberger e outras multinacionais.
    O Brasil ainda não é um centro de criação de conhecimento.
    Só quero saber o que a Dilma vai fazer para mudar isso.

    ResponderExcluir
  2. Iurikorolev,
    Você tem razão. Tecnologia é o mais importante. É o que faz a diferença, o que faz sair do subdesenvolvimento.
    O Brasil vem crescendo rápido nessa área. Há uma década, éramos a 14ª economia do mundo. Agora, somos a 6ª. Porém, como todo adolescente que estica de repente, ainda arrastamos no corpo do país muitos setores subdesenvolvidos.
    Nós, brasileiros, não devemos ficar esperando para ver o que a Dilma vai fazer para mudar isso. Cada um deve dar sua contribuição. Tecnologia depende também de investimentos, mas, antes de tudo, resulta de muito estudo individual, de esforço, de persistência no objetivo, de coragem de arriscar, testar e empreender novos negócios na área.
    Não sou radical em dizer que tudo de bom é a metrópole estrangeira que consegue e nós, periferia, sabemos, no máximo, utilizar o que os países do Norte desenvolvem. A Petrobras, a EMBRAPA, e vários outros setores já se destacam em tecnologia, já são criadores de conhecimento. Supondo que seja verdadeira a afirmação do referido geólogo da Petrobras, de que a tecnologia de exploração em águas profundas quem desenvolveu não foi a Petrobras, foi a Schulumberger e outras multinacionais, digo o seguinte. Então, a Petrobras conseguiu a tecnologia de aperfeiçoar e aplicar esse desenvolvimento da Schulumberger e ser a mais respeitada e competente no mundo em exploração em águas profundas.
    Maria Tereza

    ResponderExcluir
  3. Maria Tereza
    Me tira uma dúvida.
    Sobre aquele comentário que fiz naquele post de nanotecnologia sobre os empresários que vc inicialmente errou de destinatário.
    Foi engano seu mesmo ou vc achou meu comentário muito radical ?
    rsrsr

    ResponderExcluir
  4. Iurikorolev,
    Foi engano mesmo. Não tenho essa capacidade de tão sutil ironia. Além disso, não o acho radical. Tenho concordado com muitos dos seus pontos-de-vista.
    Maria Tereza

    ResponderExcluir
  5. Ah bem .... rsrsr
    Quanto àquele geológo da Petrobras, (por sinal ele trabalha direto no Pré-sal)não sei se é verdade o que ele disse.Confesso que fiquei surpreso. Mas realmente a Schlumberger é uma centenária e famosa empresa de prospecção de petróleo.
    E ele foi categórico, não deixou dúvida quanto a sua opinião ; deu todos os louros do desenvolvimento da tecnologia a ela, não à Petrobras.

    ResponderExcluir