segunda-feira, 26 de março de 2012

REPASSE DO PREÇO INTERNACIONAL DO PETRÓLEO PARA O MERCADO INTERNO FREARIA CONSUMO


Presidente da Petrobras diz que barril a US$ 120 preocupa e pode afetar economia global, mas não acredita em choque


Graça Foster afirma que, a partir do fim de 2013, empresa trará ganhos de curtíssimo prazo aos acionistas

“A nova presidente da Petrobras, Graça Foster, diz que não adianta repassar automaticamente as oscilações do preço internacional do petróleo aos preços dos combustíveis vendidos no mercado interno porque isso afetaria o consumo no país.

"O que adianta eu passar 40% de paridade [de preço] on-line e voltar à condição de quando, para trabalhar, saíamos cinco num Fusquinha para não gastar gasolina?", questiona ela, para quem o barril a US$ 120 preocupa muito.

Reportagem de Maria Cristina Frias, Valdo Cruz e Denise Luna na “Folha de São Paulo”

Graça Foster
-Folha - Com o petróleo a US$ 120 o barril, como fica o cenário para a Petrobras, que trabalha com projeção de preço entre US$ 80 e US$ 90?


Graça Foster - Trabalhamos neste primeiro trimestre do ano com US$ 102 o barril nos testes de robustez dos nossos projetos, então temos margem muito positiva, consequência dessa infraestrutura que temos.

Agora, quando digo que o petróleo a preço mais alto se traduz em coisa positiva para nós, tudo tem um limite, gera um custo. Você não pode considerar que o petróleo sai de US$ 80 para US$ 120 e que os custos da indústria de bens e serviços não acompanhem esse petróleo.

-Não é hora de aumentar, então, os combustíveis?

Tivemos na última reunião do Conselho [de Administração] uma apresentação cheia de dados, e os nossos indicadores ainda mostram que a gente tem certa folga nos nossos previsores para este ano. Mas entendo que é inexorável que tenhamos de fazer ajustes de combustível.

-Até quando vai essa folga?

Depende de como se comportar o [petróleo] Brent, se ele vai ficar nesse patamar ou se vai ficar escalonando.

-Quando a Sra. diz que tem uma certa folga, dá a entender que ela não é muito elástica.


Não é elástica, não é elástica.

-Se continuar esse preço, US$ 120, US$ 124, por mais alguns meses...

A capacidade de financiamento da Petrobras é bastante grande. Eu não quero antecipar prazo, se é daqui a três, daqui um mês.

-Até pouco tempo, a grande ameaça mundial era recessão global. Agora, é a possibilidade de novo choque de petróleo, como já dizem alertas do FMI. Corremos esse risco?

O petróleo a US$ 120 preocupa, em especial para os países que têm sua economia fundamentada em importação de todos os hidrocarbonetos. O preço do petróleo crescente é bastante ruim para a economia mundial. Mas não acredito, com os indicadores de hoje, em choque.

-A Sra. acha que pode chegar a US$ 130?

Pode.

-A questão dos preços dos combustíveis afeta os acionistas minoritários, já que o valor das ações está caindo.

Eu faço uma ressalva de que, dentro dos minoritários, temos um grupo que também investe para o longo prazo.

Os grandes resultados da Petrobras virão no médio e no longo prazo. No curto prazo, são ações extremamente líquidas, esse é o portfólio de uma empresa que vem investindo tanto para alcançar 6 milhões de barris/dia num plano para 2020. Esse é um sinal claro e inequívoco de que será uma empresa de curtíssimo prazo a partir do alcance da sua rampa de produção.

-Só em 2020?

Não sei se em 2020. Mais cedo. No fim de 2013, no início de 2014, a empresa começa a ficar uma empresa cujo resultado, para muitos, vai traduzir ganhos de curtíssimo prazo.

-Os analistas, tanto daqui como do exterior, criticam a intervenção do controlador na Petrobras. Está sendo maior ou menor na sua gestão?

Olha, o controlador interfere nas suas empresas sempre. Aquele que tem maior número de ações tem maior poder sobre a empresa.

As grandes questões dessa companhia são discutidas no Conselho de Administração, onde há ponderação entre as proposições feitas pela empresa e pelos demais acionistas que ali estão.

-Como presidente da empresa, como é conviver com um acionista majoritário que sempre leva em conta a questão macro, como o impacto de reajustes de combustíveis na inflação? O ideal seria não ter essa preocupação, certo?

Minha preocupação é com meu consumidor, com sua capacidade de consumir tudo o que produzo. Eu aprendi isso na BR [Distribuidora], quando fui presidente lá, porque você vê o consumo encolher e crescer numa relação direta com preço.

Então, se você tem aumento maior, num momento da economia que possa traduzir alguma preocupação, o consumidor viaja menos.

Como eu disse, a saúde financeira da companhia é discutida o tempo inteiro junto com o controlador. O tempo todo.

O que adianta eu passar 40% de paridade [de preço] ‘on-line’ e voltar à condição de quando, para trabalhar, saíamos cinco num Fusquinha para não gastar gasolina?

-E o título de “Dilma da Dilma”? A Sra. tem muito afinidade com a presidente, que semelhança a Sra. vê?

Eu acho que, talvez, [somos] muito objetivas, determinadas, para mudar nosso rumo é difícil. Às vezes, a gente pode até perder um bom aconselhamento porque somos muito determinadas em perseguir um alvo.

Mas fico muito orgulhosa. Às vezes acho engraçado, fico rindo, não é tanto assim, mas acho interessante e fico orgulhosa da comparação.

-Sua chefe está enfrentando momento de turbulência política?

Não entendo dessa parte.

-Ela está aprendendo a lidar com política? Diziam que ela era mais gestora?

Acho ela bastante habilidosa, muito habilidosa, mas eu não entendo essa parte...Eu seria, assim, completamente inconsequente de dar uma posição.

RAIO-X GRAÇA FOSTER

NOME: Maria das Graças Silva Foster
IDADE: 58 anos
CARGO: Presidente da Petrobras
FORMAÇÃO: Engenheira química
(http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mercado/33252-raio-x-graca-foster.shtml)

FONTE: reportagem de Maria Cristina Frias, Valdo Cruz e Denise Luna na Folha de São Paulo  (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mercado/33251-repasse-total-do-petroleo-frearia-consumo.shtml) [Imagens do Google adicionadas por este blog ‘democracia&política’].

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