quinta-feira, 29 de março de 2012

SATÉLITES VÃO ENCORPAR CARTEIRA DA EMBRAER


Por Virgínia Silveira, no jornal “Valor”

“A entrada da Embraer no segmento espacial, com o projeto do ‘Satélite Geoestacionário Brasileiro’ (SGB), poderá representar valor adicional superior a R$ 700 milhões em sua carteira de pedidos, que, em 2012, está estimada em cerca de US$ 3,4 bilhões [na área militar e espacial]. Desse valor, segundo o presidente da empresa, Luiz Carlos Aguiar, US$ 2 bilhões estão relacionados ao desenvolvimento do cargueiro militar KC-390 e outros US$ 1,1 bilhão aos programas de modernização de aeronaves da Força Aérea Brasileira (FAB) e da Marinha. O restante se divide entre as vendas do Super Tucano, das aeronaves de vigilância aérea e vendas de serviços.

O primeiro satélite SGB, que será adquirido no exterior pelo prazo relativamente curto definido pelo governo para se ter o equipamento, estará voltado para comunicação governamental e internet em banda larga. O projeto já foi incluído no “PPA de 2012-2015”, com previsão de investimentos da ordem de R$ 716 milhões.

A contratação da Embraer e da Telebras para o projeto do SGB, segundo Aguiar, ainda não está formalizada, mas a expectativa do executivo é que o processo seja efetivado em breve. As duas empresas anunciaram, em novembro do ano passado, a celebração de um memorando de entendimento para a constituição de sociedade, na qual a Embraer terá 51% de participação e a Telebras 49%.

Aguiar explica que, num primeiro momento, o papel da Embraer no projeto do SGB será o de fazer a gestão da cadeia de suprimento e de logística de todo o satélite, que será comprado de fornecedor externo. "Também, estará sob nossa responsabilidade a montagem de metodologia de absorção e retenção de tecnologia desses fornecedores para que, futuramente, a empresa tenha capacidade de desenvolver satélites 100% brasileiros", explicou.

A localização da nova empresa, segundo o executivo, provavelmente será em São José dos Campos (SP), onde está concentrada hoje todo know-how brasileiro em tecnologia espacial. O executivo disse que, pelo fato de a Embraer não ter atuação nessa área, as parcerias tecnológicas com outras empresas serão um caminho natural. "A Embraer já se vê no futuro como fabricante de satélites", afirmou o executivo.

O plano de negócios da “Embraer Defesa e Segurança”, diz o executivo, prioriza o crescimento da empresa por meio da diversificação de atividades. "Estávamos focados em Aeronáutica e agora estamos avançando para área de segurança. O crescimento é desafiador, pois saímos de uma participação de 6% na receita global da Embraer em 2006 para chegar a quase 15% em 2011", disse. A perspectiva para 2020, segundo ele, é que a área de defesa e segurança responda por entre 20% e 25% do faturamento da companhia.

Grande parte desse crescimento, afirma ele, foi motivado pela mudança de postura do governo em relação à área de defesa, ao definir a “Estratégia Nacional de Defesa” (END) com objetivos claros de apoio ao fortalecimento da indústria nacional.

"Temos a visão de cumprir a missão de fornecer soluções competitivas para as Forças Armadas, procurando fortalecer as capacitações existentes no Brasil e, pontualmente, gerar algumas parcerias internacionais, mas não de maneira genérica", afirma o executivo ao comentar sobre a possibilidade de novas parcerias estratégicas em áreas onde ainda não possui domínio.

Aguiar cita o exemplo da joint-venture “Harpia”, criada a partir de uma associação com a Aeroeletrônica, empresa controlada pelo grupo israelense Elbit e que hoje tem participação expressiva nos programas de modernização de aeronaves da FAB.

"A “Harpia”, que estará focada no desenvolvimento de VANTS (veículo aéreo não tripulado), tem componente estrangeiro, mas toda a configuração desses veículos será desenvolvida no Brasil e com propriedade intelectual nacional", afirmou.

Além da Aeroeletrônica, da qual adquiriu uma participação de 25%, a Embraer também estabeleceu parceria em 2011 com as empresas brasileiras “Atech”, onde detém 50% de participação e a divisão de radares da “Orbisat”, com 64,7% do capital social da empresa.

As parcerias anunciadas em 2011, segundo Aguiar, já permitem à empresa disputar, com competência, projetos do governo em áreas estratégicas da defesa, incluindo radares de vigilância, VANT, C4I (soluções integradas de comando, controle, comunicação, computação e inteligência) e sensoriamento remoto.

Aproveitando o “expertise” da parceira “Atech” em integração de sistemas, que adquiriu com o projeto do SIVAM (Sistema de Proteção e Vigilância da Amazônia), a Embraer quer ainda canalizar boa parte dos seus esforços no “Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras” (SISFRON), projeto do Exército Brasileiro, que, em 15 anos, prevê movimentar investimentos da ordem de R$ 12 bilhões.”

FONTE: reportagem de Virgínia Silveira publicada no jornal “Valor Econômico” e transcrita no portal da FAB  (http://www.fab.mil.br/portal/capa/index.php?datan=26/03/2012&page=mostra_notimpol). [Imagem do Google acrescentada por este blog ‘democracia&política’].

4 comentários:

  1. Sem um adensamento da cadeia produtiva aeroespacial e uma produção nacional de itens de maior conteúdo tecnológico penso que nunca sairemos da lama do subdesenvolvimento.
    Ficar apenas integrando sistemas alta tecnologia importados não me convence.
    Esta é a hora (novos projetos) do Brasil reverter sua posição de subalternidade tecnológica no mundo.

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  2. Iurikorolev,
    Concordo. Você tem toda a razão.
    Porém, como começar? Estou na esperança de que o envolvimento da Embraer nesse setor seja o catalizador para isso.
    Antes, na década de 90, o então diretor-presidente da Embraer (Juarez) recebeu ameaça (sutil, mas contundente) do Embaixador dos EUA, de que o envolvimento da Embraer no setor espacial brasileiro (a empresa fazia a coifa do último estágio do VLS) "traria sérias consequências para as vendas de aviões da Embraer nos EUA".
    Agora, isso parece estar superado. Como recomeçar?
    Talvez seja por aí. A nossa área de satélites do INPE sempre foi muito menos atacada e embargada pelos EUA, porque eles sabiam que poderiam muito lucrar com os lançamentos (como lucraram gordamente com os SCD-1 e 2).
    Maria Tereza

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  3. Não sei não, MT.
    A Embraer até hj só fez integrar sistemas importados (quase só).
    Espero que ela mude isso agora com a Embraer Defesa. Mas tenho minhas dúvidas.

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  4. Iurikorolev,
    Também tenho dúvidas. Por decisões de políticos antinacionais, a Embraer hoje está majoritariamente sob controle e propriedade de acionistas estrangeiros. Visa somente lucro e dividendos. Não é fácil para ela. Não têm acolhida medidas patrióticas.
    As poucas integrações de sistemas nacionais que a Embraer já fez foram feitas à força, por imposição do cliente FAB. Geralmente, ligadas a armamentos nacionais.
    Outras, por imposição da divisão binacional de trabalhos no Programa AMX.
    Continuo com esperanças.
    Maria Tereza

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