terça-feira, 17 de abril de 2012
MAIA REDUZ A “VEJA” A PÓ. E A MÍDIA INTEIRA SILENCIA
Por Brizola Neto
“Há, até agora, silêncio completo dos sites dos grandes jornais sobre a nota emitida domingo, às 19 horas, pelo presidente da Câmara dos Deputados – a terceira posição na hierarquia de poder deste país – sobre o comportamento da revista “Veja”, que lhe imputa "atitudes conspiratórias" (?) ao defender a instalação de uma CPI sobre o caso do bicheiro Carlinhos Cachoeira.
A nota não podia ser mais clara e lúcida, a partir de seu título: “POR QUE A VEJA É CONTRA A CPMI DO CACHOEIRA?”.
Nela, Maia diz o óbvio, que toda a grande imprensa nega-se a admitir: que a CPI sairá por acordo quase unânime de todas as forças políticas.
- “a decisão de instalação de uma CPMI, reunindo Senado e Câmara Federal, resultou do entendimento quase unânime por parte do conjunto de partidos políticos com representação no Congresso Nacional sobre a necessidade de investigar as denúncias que se tornaram públicas, envolvendo as relações entre o contraventor conhecido como Carlinhos Cachoeira com integrantes dos setores público e privado, entre eles a imprensa”;
Qual é o problema? É chamar Cachoeira de contraventor e não de “empresário do ramo de jogos”, como faz a Veja? Ou é dizer que suas ligações com a imprensa devam ser também investigadas? A imprensa (ou a Veja, claro) está acima da lei?
O presidente da Câmara dá um basta a essa indignidade de dizer que apurar notórias irregularidades seria “cortina de fumaça”:
- “não é verdadeira, portanto, a tese que a referida matéria tenta construir (de forma arrogante e totalitária) de que esta CPMI seja um ato que vise tão somente confundir a opinião pública no momento em que o judiciário prepara-se para julgar as responsabilidades de diversos políticos citados no processo conhecido como ‘Mensalão’;”
E não tergiversa, como é comum acontecer no mundo da política, nem entra na conversa fiada de que conhecer a verdade é ameaçar a imprensa. Ora, isso só seria ameaça se a imprensa mente, não é verdade?
- “também não é verdadeira a tese, que a revista Veja tenta construir (também de forma totalitária), de que esta CPMI tem como um dos objetivos realizar uma caça a jornalistas que tenham realizado denúncias contra este ou aquele partido ou pessoa. Mas posso assegurar que haverá, sim, investigações sobre as graves denúncias de que o contraventor Carlinhos Cachoeira abastecia jornalistas e veículos de imprensa com informações obtidas a partir de um esquema clandestino de arapongagem”;
Maia manda o recado: ínvestigar isso é próprio de países civilizados e das democracias. E vai onde dói:
- “vale lembrar que, há pouco tempo, um importante jornal inglês foi obrigado a fechar as portas por denúncias menos graves do que estas. Isto sem falar na defesa que a matéria da Veja faz da cartilha fascista de que os fins justificam os meios ao defender o uso de meios espúrios para alcançar seus objetivos”;
O presidente da Câmara porta-se com uma altivez cada vez mais rara de encontrar-se nos homens públicos e brinda o país com um raríssimo momento em que se vê um deles indignar-se e reagir contra o abuso sistemático de uma publicação que se arvora em dona do país:
- “afinal, por que a revista Veja é tão crítica em relação à instalação desta CPMI? Por que a Veja ataca esta CPMI? Por que a Veja, há duas semanas, não publicou uma linha sequer sobre as denúncias que envolviam até então somente o senador Demóstenes Torres, quando todos (destaco “todos”) os demais veículos da imprensa buscavam desvendar as denúncias? Por que não investigar possíveis desvios de conduta da imprensa? Vai mal a Veja!”;
- “o que mais surpreende é o fato de que, em nenhum momento nas minhas declarações durante a última semana, falei especificamente sobre a revista, apontei envolvidos, ou mesmo emiti juízo de valor sobre o que é certo ou errado no comportamento da imprensa ou de qualquer envolvido no esquema. Ao contrário, apenas afirmei a necessidade de investigar tudo o que diz respeito às relações criminosas apontadas pelas Operações ‘Monte Carlo’ e ‘Vegas’”;
- “não é a primeira vez que a revista Veja realiza matérias, aparentemente jornalísticas, mas com cunho opinativo, exagerando nos adjetivos a mim, sem sequer, como manda qualquer manual de jornalismo, ouvir as partes, o que não aconteceu em relação à minha pessoa (confesso que não entendo o porquê), demonstrando o emprego de métodos pouco jornalísticos, o que não colabora com a consolidação da democracia que tanto depende do uso responsável da liberdade de imprensa”.
O deputado Marco Maia vai ser jurado de morte por essa organização, como diz ele, autoritária e totalitária. Mas abre, à custa de seu próprio pescoço, uma gigantesca esperança de que a verdade possa surgir e que este país seja, de verdade, libertado das máquinas de poder político que, derrotadas sucessivamente nas eleições, continuam a impingir, pela via da manipulação, a decisão sobre o que é ou não é honesto.
E que não se acanha em fazer, sobre as instituições políticas e judiciais, o lobby do terror, do medo, da intimidação.
É escandaloso que o restante da imprensa mantenha este silêncio. Gostem ou não do que disse Marco Maia, isso é notícia e notícia das mais importantes.
Se esse silêncio orquestrado não é golpismo, o que é?”
FONTE: escrito por Brizola Neto em seu blog “Tijolaço” (http://www.tijolaco.com/maia-reduz-a-veja-a-po-e-a-midia-inteira-silencia/).
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