quarta-feira, 18 de abril de 2012

O BRASIL FORA DA AGENDA ESTRATÉGICA DOS EUA


Da agência alemã de notícias “Deutsche Welle”

DEPENDÊNCIA DE ‘COMMODITIES’ DO BRASIL EXCLUI PAÍS DA AGENDA ESTRATÉGICA DOS EUA

A política externa brasileira e a dependência do país de ‘commodities’ causam incômodo ao governo norte-americano. Por isso, Brasil ainda não é um parceiro estratégico de Washington, como os emergentes China e Índia.

O Brasil não é um parceiro chave no combate ao terrorismo, não representa grande ameaça à indústria norte-americana, e também não é um essencial mercado consumidor – principalmente devido às suas barreiras comerciais. Em linhas gerais, é assim que os Estados Unidos veem o Brasil. O problema é que são, justamente, essas questões que guiam a política externa norte-americana.

Essa visão ajuda a explicar por que o Brasil ainda não é um parceiro estratégico do governo norte-americano, diferentemente dos emergentes China e Índia. "Quando a economia brasileira for capaz de passar de uma sociedade baseada em ‘commodities’ para uma baseada numa grande classe média com produção de alto valor agregado, aí sim as coisas vão mudar", avalia o especialista norte-americano Jonathan Warren, da Universidade de Washington, em conversa com a ‘DW Brasil’.

O discurso, neste caso, seria outro. "Nós ouviríamos conversas sobre o Brasil se juntando ao Conselho de Segurança da ONU", garante Warren. Para os norte-americanos, a geopolítica brasileira é "amadora" e "irritante" – vide o caso do Irã. "E os brasileiros não se mostraram muito sofisticados no uso 'suave' do poder a favor de seus próprios interesses – ao contrário dos países asiáticos", comenta Warren a maneira como os Estados Unidos olham para o gigante sul-americano.

E a série de reuniões oficiais previstas não significa que uma "elevação do status" esteja próxima. Depois do encontro em Washington entre os presidentes Dilma Rousseff e Barack Obama, na semana passada, desembarcou em Brasília na segunda-feira (16/04) a secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, para uma visita de dois dias. Ela cumpre a agenda da “3ª Reunião do Diálogo de Parceria Global Brasil-Estados Unidos”, que coordena cooperações em áreas como educação, ciência e tecnologia.

TUDO MUITO BÁSICO

A expansão econômica brasileira, [país pacífico, sem bomba atômica, com Forças Armadas pobres, fracas e obsoletas e com economia] fortemente baseada na exportação de ‘commodities’, confere ao país uma posição menos prestigiada na agenda dos Estados Unidos. Uma análise assinada por Ruchir Sharma, indiano que chefia o setor de investimentos em mercados emergentes da Morgan Stanley, chama a atenção dos investidores norte-americanos: "A reluzente imagem do Brasil repousa numa premissa, o preço vacilante das ‘commodities’."

O executivo alerta: "O problema é que a fome mundial por essas ‘commodities’ (ferro, petróleo, cobre) está diminuindo. E se o Brasil não tomar um rumo para diversificar e estimular seu crescimento, o país pode, brevemente, cair com as ‘commodities’."

A estrutura do Produto Interno Bruto do país é decisiva quando as nações se sentam à mesa de negociação política, defende Warren, que chefia o departamento de estudos brasileiros. "A China, por exemplo, é uma economia que cresce num sentindo bem diferente do crescimento do Brasil: baseada em manufatura, produção de alto valor agregado, fortes investimentos em infraestrutura", compara Sharma a diferença de tratamento dada pelos Estados Unidos aos dois emergentes.

"PODEMOS CONFIAR?"

Não se trata apenas do aspecto econômico, opina Amos Nascimento, professor convidado da Universidade de Washington e doutor formado pela Universidade de Frankfurt. "O que explica então o fato de o Chile e a Argentina, mais dependentes da agricultura do que o Brasil, terem mais visibilidade nos Estados Unidos que o próprio Brasil?", questiona.

Nascimento, brasileiro que atua como acadêmico no exterior desde 1991, reconhece que existe certa ignorância norte-americana em relação ao Brasil. E a culpa também é de Brasília: "O país não tem política de apresentação. É difícil vender o Brasil nos Estados Unidos", critica, apontando a ausência de uma política cultural brasileira nos EUA.

Outro ponto que influencia a política externa norte-americana é a histórica tradição de independência diplomática brasileira – e que, em muitos casos, se opõe aos Estados Unidos. "Apesar de todas as exigências de Hillary Clinton, Lula recebeu Ahmadinejad, por exemplo. Essa independência deixa o pessoal aqui meio assustado", contou em conversa com a “DW Brasil”. E adicionou: "Essa independência diplomática é muito boa. Mas, aqui nos Estados Unidos, gera certa instabilidade".

FONTE: reportagem de Nádia Pontes da agência alemã de notícias “Deutsche Welle” (revisão: Roselaine Wandscheer). Transcrita no portal de Luis Nassif  (http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/o-brasil-fora-da-agenda-estrategica-dos-eua#more). [Imagem do Google e trecho entre colchetes adicionados por este blog ‘democracia&política’].

2 comentários:

  1. "O problema é que a fome mundial por essas ‘commodities’ (ferro, petróleo, cobre) está diminuindo"

    Falácia, está aumentado e muito.

    "Para os norte-americanos, a geopolítica brasileira é "amadora" e "irritante" – vide o caso do Irã."

    Porque não concorda em tudo que Tio Sam manda.

    "O que explica então o fato de o Chile e a Argentina, mais dependentes da agricultura do que o Brasil, terem mais visibilidade nos Estados Unidos que o próprio Brasil?"

    Sem comentários, afirmação absurda.

    "O país não tem política de apresentação. É difícil vender o Brasil nos Estados Unidos"

    Porque eles são altamente preconceituosos com a cultura latina.

    "Essa independência diplomática é muito boa. Mas, aqui nos Estados Unidos, gera certa instabilidade"

    Danem-se, o problema é deles.

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  2. Iurikorolev,
    Para mim, suas reflexões sobre o texto da DW estão 100% corretas.
    Maria Tereza

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