terça-feira, 29 de maio de 2012

O IRÃ E A ENCRUZILHADA DE OBAMA

[Teerã. O Irã (em português brasileiro) ou Irão (português de Portugal), oficialmente “República Islâmica do Irã”, é país asiático do Médio Oriente. Limita-se ao norte com a Armênia, Azerbaijão, Turquemenistão e Mar Cáspio. Ao leste, com o Afeganistão e o Paquistão; a oeste, com o Iraque e a Turquia; ao sul, com o Golfo de Omã e Golfo Pérsico. Sua capital é Teerã, a língua oficial é o persa e a moeda é o rial]
“O presidente dos EUA Barack Obama meteu-se, literalmente, numa encruzilhada iraniana, na qual, como escreveu o poeta Robert Frost, “Two roads diverged in a yellow Wood[1] [duas estradas divergiram num bosque amarelo].

Por MK Bhadrakumar, no “Indian Punchline”

MK Bhadrakumar
Evidentemente, não pode viajar pelas duas, porque é “[só um] o viajante”. A grande pergunta é se tomará a estrada na qual a grama é mais alta porque por ali bem poucos transitam, o que, como Frost descobriu, pode fazer toda a diferença.

No fim de semana, já havia notícias de que Obama aproximava-se da encruzilhada nas conversações sobre o Irã. A conversa evoluía lenta, firmemente, sem dúvida já ganhando tração [2], desmentindo os detratores e os atiradores. Agora, chega a confirmação, quando o diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) Yukiya Amano voltou a Viena, na tarde ventosa, chuvosa, depois de viagem surpresa a Teerã [3].

Amano confirmou que a AIEA e o Irã chegaram a um acordo [4] sobre as inspeções da ONU às instalações nucleares iranianas. Até o [jornal britânico] “Guardian”, que já disse mais de uma grosseria contra o Irã no passado, admite que “a música ambiente está mudando.” Em matéria sobre a grande notícia que Amano trouxe, o “Guardian” comentou: “Um movimento de otimismo cauteloso irrompeu na frenética atividade dos diplomatas que acontece nos bastidores das conversações nucleares iranianas em Bagdá na quarta-feira. Pela primeira vez, parece que há possibilidade real de que se iniciem negociações sérias.” [5]

Obama apostou e venceu. Mas agora começa a parte mais difícil. Obama tem de continuar pressionando [por ordem do poderoso lobby judeu que, na prática, comanda os EUA e quer o imediato ataque militar arrasador ao Irã]. Abraçar esse tipo de diplomacia de alto risco em ano eleitoral é extraordinariamente perigoso. Os abutres sobrevoam nos céus à procura de carcaças no cenário do impasse EUA-Irã, já povoado de ossos ressequidos. O Senado dos EUA aprovou por unanimidade, na segunda-feira, resolução que exige que Obama imponha novas sanções contra o Irã, como reforço ao que o lobby israelense está fazendo, incansável, para torpedear as iniciativas de Obama para o Irã [6].

Que bizarra coincidência, que os veneráveis senadores tenham votado o que votaram, apenas poucas horas antes das produtivas conversas de Amano em Teerã! Será que a história se repetirá? Houve ocasiões no passado, quando EUA e Irã, como estranhos na noite, cruzaram-se e trocaram olhares, apenas para cada um seguir seu caminho. Obama enfrenta agora o maior desafio da política externa de todo seu governo: como agir com o Irã. A parte curiosa é que ainda terá de lutar e vencer uma batalha em casa, [7] antes de aventurar-se por outras plagas.

Saeed Jalili, principal negociador do Irã, acaba de voar para Bagdá, domingo (27) cedo, indiferente à violenta tempestade de areia que assola a capital iraquiana [8]. Obama escolherá a estrada pouco trilhada, nas conversação entre o P5+1 e o Irã, em Bagdá, nesta quarta-feira (29)? Neste momento, ironicamente, é o lado iraniano que exibe a audácia da esperança [9].

NOTA DOS TRADUTORES

[1] FROST, Robert (1874-1963), Mountain Interval, 1920, “The road not taken” (em  http://www.poets.org/viewmedia.php/prmMID/15717).
[2]  http://www.atimes.com/atimes/Middle_East/NE22Ak01.html
[3]  http://english.farsnews.com/newstext.php?nn=9102112955
[4]  http://www.bloomberg.com/news/print/2012-05-22/iaea-iran-reach-accord-on-atomic-inspections-amano-says.html
[5]  http://www.guardian.co.uk/commentisfree/2012/may/22/iran-nuclear-talks-optimism?newsfeed=true
[6]  http://www.google.com/hostednews/afp/article/ALeqM5hur4aHg05_WQLeIx5uV4U0mk4EJQ?docId=CNG.083833085acfb87a2eafecefbd831ed9.481
[7]  http://www.google.com/hostednews/ap/article/ALeqM5i760w1acGNXZlC7DV5fkP24I0NxQ?docId=24993c54685c468f9281f4c6f2a53399
[8]  http://english.farsnews.com/newstext.php?nn=9102112923
[9]  http://english.farsnews.com/newstext.php?nn=9102112885

FONTE: escrito por MK Bhadrakumar, no “Indian Punchline”. O autor é ex-diplomata de carreira do Serviço Exterior da Índia. Prestou serviços na União Soviética, Coreia do Sul, Sri Lanka, Alemanha, Afeganistão, Paquistão, Uzbequistão e Turquia. É especialista em questões do Afeganistão e Paquistão e escreve sobre temas de energia e segurança para várias publicações, dentre as quais “The Hindu”, “Asia Online”. Artigo transcrito no blog “O Outro Lado da Notícia” e no portal “Vermelho”, traduzido pelo “pessoal do Vila Vudu”.  (http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=184260&id_secao=9) [Imagens do Google e trechos entre colchetes adicionados por este blog ‘democracia&política’].

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