domingo, 10 de junho de 2012

DELFIM REFUTA TESE DE UM BC INDEPENDENTE

Sede do Banco Central, em Brasília

Por Daniela Amorim e Ricardo Leopoldo, do “Estadão”

PARA DELFIM, A IDEIA DE BC INDEPENDENTE JÁ ACABOU

"Política econômica tem de ser de uma integração entre a monetária, a fiscal e a cambial"

“A nova realidade econômica impõe diálogo maior entre o Banco Central e o governo, não apenas no Brasil, mas também no resto do mundo.

Como resultado, a independência total do Banco Central já não existe mais, defendeu Antonio Delfim Netto, ex-ministro e professor emérito da Faculdade de Economia e Administração da USP. Em entrevista à Agência Estado, ele também considerou inócua a polêmica em torno do câmbio flutuante.

"Não existe câmbio flutuante em lugar nenhum do mundo. Só um idiota pode dizer que existe câmbio flutuante", disparou. Sem reservas, usou o mesmo estilo direto para desqualificar a discussão atual sobre a independência do Banco Central. "A política econômica tem de ser de integração entre a política monetária, a fiscal e a cambial. Essa ideia de que o BC é independente já acabou. É coisa ridícula, de pessoas que, provavelmente, desde a crise de 2008, não leram um artigo sobre a tragédia do FED."

A independência do BC vem sendo questionada após sucessivos cortes na taxa básica de juros, alguns acima da expectativa do mercado. Na visão de alguns economistas, há movimento casado com a meta do governo da presidente Dilma Rousseff de redução dos juros. Dilma teria a intenção de transformar a cruzada contra os juros em marca de sua gestão. Os bancos oficiais, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal, são os instrumentos para forçar a queda dos juros nas instituições financeiras privadas.

INCOMPREENSÃO

Segundo Delfim, é preciso esquecer a discussão sobre a perda de independência do BC e considera saudável uma interlocução entre a autoridade monetária e a presidente Dilma, e também com o Ministério da Fazenda. "Há enorme incompreensão sobre as relações do governo com o Banco Central. O BC, hoje, é tão independente quanto foi no passado. Simplesmente, tem mais conversa, porque o mundo é muito mais complexo. Você acha que o Bernanke (Ben Bernanke, presidente do FED) é independente do Obama (Barak Obama, presidente dos EUA)? Você acha que o Draghi (do BCE) não conversa com ninguém?", questionou.

Quanto à taxa básica de juros, a SELIC, o economista prefere não fazer previsões, mas concorda que ainda há espaço para corte de um ponto porcentual: "O (presidente do BC, Alexandre) Tombini já provou que está muito mais antenado com a realidade brasileira e com a realidade internacional. Vai conversar com seus companheiros do COPOM e ver onde podem ir."

O economista acredita que a forte desvalorização do real em relação ao dólar nas últimas semanas foi resultado da atuação do governo, que permitiu que a moeda brasileira ficasse supervalorizada por muito tempo, em parte devido aos juros altos. Na avaliação dele, no entanto, ainda é difícil definir uma taxa de câmbio ideal para o País.

Entretanto, ele não acredita em pressão inflacionária mais forte como consequência da mudança no câmbio. "A passagem do câmbio para os preços evidentemente existe. Mas a economia tem outros fatores. Seguramente, um aumento de câmbio de 10%, 15%, 20% se transfere como aumento de preços, talvez em 1%, 2%, ou 3%, mas ao longo de 12, 15 meses", calculou.

O ex-ministro disse ser mais pessimista com o crescimento do PIB este ano e revisou a previsão de crescimento para 3,2% ou 3,3%.”

FONTE: portal de Luis Nassif  (http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/delfim-refuta-tese-de-um-bc-independente) [Imagem do Google adicionada por este blog ‘democracia&política’].

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