quinta-feira, 26 de julho de 2012

O “ESTADO-ANUNCIANTE” E A “LIBERDADE SUJA”, sob o ponto de vista tucano


[Tucanos envergonhados e revoltados com as críticas a eles de alguns blogs, que não as abafam como sempre fez a grande mídia em relação à direita]

“A representação do PSDB ao Procurador Geral Eleitoral contra blogs quze criticam suas lideranças e agenda partidária é um pastel revelador. O recheio exala as prendas do quituteiro; a oleosidade da fritura qualifica o estado geral da cozinha. Na primeira mordida, fica explícito que a referência de 'bom' jornalismo do PSDB é a revista “VEJA”, uma ferradura editorial adestrada para escoicear três dimensões da sociedade: agendas progressistas; lideranças que as representem; governos que lhes sejam receptivos.

Curto e grosso, o poder tucano pleiteia a asfixia publicitária - com supressão de publicidade estatal - de qualquer outra forma de imprensa que não se encaixe no tripé que o espelha. A singular concepção de “pluralidade” afronta boa parte dos sites e blogs alternativos que se reservam o direito de exercer a crítica política da sociedade e do desenvolvimento de uma perspectiva não conservadora. 'São blogs sujos', fuzila a representação tucana, cuja coerência não pode ser subestimada. Há esférica sintonia entre a forma como o PSDB se exprime e o higienismo de uma prática que São Paulo, a 'cidade limpa', tão bem conhece.

O tema da publicidade estatal mereceria discernimento mais amplo do que o reducionismo estreito do interesse eleitoral tucano. O Estado deve se comunicar com a sociedade. A comunicação deve se pautar pelo interesse público. Campanhas educativas e institucionais não podem ser confundidas com propaganda partidária, nem servir aos seus interesses, sejam eles quais forem. Dito isso, resta o ponto sensível ao PSDB: quem merece veicular tais mensagens de pertinência pública reconhecida?

O tucanato e certos 'especialistas em comunicação' parecem convergir, ainda que por caminhos diversos, a um consenso: a mídia alternativa deve ser alijada dessa tarefa. O 'Estado anunciante', uma corruptela do cacoete neoliberal 'Estado interventor', teria atingido, asseguram, hipertrofia perigosa; deslizamos a centímetros do abismo antidemocrático. No país que tem um dispositivo com o poder intromissor da “Rede Globo”, insinua-se que a principal ameaça à democracia é o Estado impor seu 'monólogo' à sociedade. Afirma-se isso com ares de equidistância acadêmica e engajamento liberal.

Passemos.

Evitar essa derrocada exigiria veto cabal a toda e qualquer publicidade oriunda da esfera pública? Em termos. Na verdade, não seria exatamente essa a malha do coador tucano. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em artigo "esclarecedor" no 'Estadão', de 3 de junho último, foi ao ponto: “Será que é democrático", disse ele, "deixar que os governos abusem nas verbas publicitárias ou que as empresas estatais, sub-repticiamente, façam coro à mesma publicidade sob pretexto de estarem concorrendo em mercados que, muitas vezes, são quase monopólicos? (...) O efeito deletério desse tipo de propaganda disfarçada não é tão sentido na grande mídia, pois nessa há sempre a concorrência de mercado que a leva a pesar o interesse e mesmo a voz do consumidor e do cidadão eleitor. Mas nas mídias locais e regionais o pensamento único impera sem contraponto.”

É isso. O grão-tucano adiciona nuances na investida contra o Estado anunciante. Nas páginas de 'Veja' e sucedâneos, “não haveria risco de influência editorial”. Ali a 'voz do consumidor e a concorrência' preservam a 'isenção do jornalismo'. "Mas nas mídias locais e regionais..." Quais? Sobretudo aquelas que incomodam ao engenho e à arte tucana de governar e fazer política.

'Especialistas em comunicação' com passagem pelo governo Lula - experiência descrita sempre como traumática, mas de uso conveniente nos salões conservadores - reivindicam, é bem verdade, intolerância mais abrangente contra o 'Estado-anunciante'. No limite, advertem: o uso da máquina publicitária instrumentalizaria poder de coerção de tal forma desproporcional que ameaçaria a própria alternância no poder. A evocação colegial de um ambiente quase-nazista sob o terceiro Reich petista tem, como se sabe, audiência cativa em certos veículos e tertúlias filosóficas de endinheirados. Mas o libelo antitotalitário tropeça nos seus próprios termos ao não adotar idêntica ênfase na denúncia de uma oligárquica estrutura de propriedade do sistema de comunicação que, essa sim, instituiu um verdadeiro diretório paralelo no país, arvorado em corregedor das urnas, da economia e da ética.

A hipocrisia que perpassa esse descuido pertence à mesma matriz ideológica que inspirou agora a representação tucana contra os 'blogs sujos'. Contra ela, Brecht resolveu cunhar um dia a metáfora de hígida atualidade: 'O que é assaltar um banco, em comparação com fundar um banco?'

Leia neste endereço a íntegra da sugestiva representação do PSDB que pede, especificamente, a investigação dos blogs de Luis Nassif e Paulo Henrique Amorim:  http://www.psdb.org.br/psdb-quer-investigacao-de-blogs-financiados-com-dinheiro-publico/.”

FONTE: escrito por Saul Leblon no “Blog das Frases”, no site “Carta Maior”  (http://www.cartamaior.com.br/templates/postMostrar.cfm?blog_id=6&post_id=1040). [Imagem do Google adicionada por este blog ‘democracia&política’].

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