Por Paulo Nogueira Batista Jr
“O que está acontecendo com a
economia brasileira? Apesar de diversas medidas de estímulo adotadas pelo
governo, a economia não dá sinais de reação. Nos dois últimos meses, os
analistas do setor privado vêm revendo sempre para baixo as suas projeções de
crescimento para este ano. É o que mostra o levantamento semanal realizado pelo
Banco Central. A expectativa mediana para o crescimento do PIB em 2012 caiu
para pouco mais de 2%; para a produção industrial a expectativa é de
estagnação. A projeção do FMI, divulgada terça-feira (10), é de crescimento de
apenas 2,5% para o PIB brasileiro neste ano.
Uma hipótese, que parece plausível,
é que a economia esteja vivendo, desde o ano passado, o esgotamento de um ciclo
de consumo baseado na expansão do crédito. Há indicadores que parecem dar
sustentação a essa hipótese. A desaceleração seria “endógena”, pelo menos em
parte, e não poderia ser explicada apenas pelo efeito de medidas restritivas
adotadas no início de 2011 e por choques externos associados à crise na área do
euro.
Parece claro, entretanto, que a
combinação de políticas internas restritivas com fatores externos adversos
contribuiu poderosamente para a desaceleração. No início do atual governo,
predominava a preocupação com o aquecimento excessivo da economia e o risco de
volta da inflação. Dentro e fora do governo, avaliava-se que era preciso agir
rapidamente e dar uma “freada de arrumação”.
A freada veio forte, com medidas de
contenção simultâneas nos campos fiscal, monetário e creditício. À luz do que
ocorreu depois, a freada talvez tenha sido excessiva. Em meados de 2011, ficou
claro que a crise na área do euro era muito mais grave do que se supunha. E que
o Brasil não ficaria imune às suas repercussões. O choque externo se somou às
políticas restritivas para derrubar o dinamismo da economia.
Desde então, o quadro internacional
não melhorou – antes o contrário. Nos meses recentes, a queda do ritmo de
crescimento atingiu até mesmo os países mais fortes da Europa. O risco de
desaceleração generalizada na área do euro se materializou, como observou o
presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi. Persiste um quadro de
fragilidade financeira e fiscal em boa parte do continente europeu. Uma
sucessão de cúpulas europeias ainda não conseguiu dissipar as dúvidas quanto à
viabilidade da área do euro.
As demais economias desenvolvidas
também não estão em grande forma. Nos EUA, a recuperação é lenta, e o
desemprego continua elevado. Para o conjunto dos países desenvolvidos, o FMI
prevê crescimento de apenas 1,4% em 2012.
As economias emergentes e em
desenvolvimento também não escaparam da desaceleração. Não só o Brasil, mas
também outros Brics vêm registrando queda do crescimento. É o caso notadamente
da China e da Índia, que devem crescer 8% e 6,1% respectivamente em 2012,
segundo o FMI. Embora elevadas, essas taxas de crescimento são sensivelmente
inferiores às que se observavam até 2010. Na avaliação dos técnicos do FMI, há
sinais de desaceleração global sincronizada.
Pode-se esperar alguma recuperação
da economia brasileira? Apesar do quadro internacional desfavorável,
provavelmente sim. Há sempre alguma defasagem entre as medidas de estímulo e
seus efeitos sobre a atividade. A depreciação do real, a queda nas taxas de
juro e outras decisões recentes do governo devem se fazer sentir no segundo
semestre. A menos que ocorra alguma catástrofe na área do euro – cenário que,
infelizmente, não pode ser descartado -, o nível de atividade deve se acelerar.
Para 2013, as projeções são mais favoráveis. O FMI projeta crescimento de 4,6%
para o Brasil; os analistas do setor privado, 4,2%.
Mesmo que essa recuperação se
confirme, as perspectivas de médio e longo prazos continuam incertas. As bases
de crescimento vigoroso e sustentado ainda estão por ser lançadas. A despeito
de recuperação gradual nos anos recentes, a taxa de investimento continua baixa
no Brasil. Sem recuperação dos investimentos públicos e privados, é provável
que o crescimento da economia brasileira continue a decepcionar.”
FONTE: escrito por Paulo Nogueira Batista Jr., economista e diretor-executivo pelo Brasil e mais oito países no Fundo
Monetário Internacional. Publicado no “O Globo” e transcrito no portal de Luis
Nassif (http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/a-reacao-as-medidas-de-estimulo-da-economia)
[Imagem do Google adicionada
por este blog ‘democracia&política’].
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