sexta-feira, 24 de agosto de 2012

OS OBSTÁCULOS PARA A INOVAÇÃO NO BRASIL


A DIFICULDADE DE INOVAR

De Marcelo Garcia, no “Ciência Hoje Online”

“Segundo o “Relatório de Competitividade Global” de 2012, o Brasil é o 53º país do mundo em inovação, cinco posições acima da que ocupa no “Índice Global de Inovação”. O “Barômetro Global da Inovação”, que avalia a percepção do ambiente de inovação de 22 países, nos coloca no 17º lugar do grupo. Os dados são recentes, mas o quadro nem tanto: apesar de ocupar posição louvável na produção científica mundial (13ª), o Brasil ainda não cobriu o fosso que separa seu setor produtivo das universidades e segue com dificuldade de inovar.

As iniciativas, leis e políticas de estímulo e investimento que caracterizam o ambiente de inovação brasileiro foram o foco do Congresso da “Associação Brasileira das Instituições de Pesquisa Tecnológica (ABIPTI), realizado na semana passada, em Brasília. Cientistas, representantes de instituições públicas de pesquisa e empresários discutiram aquele que consideram um dos principais gargalos nacionais: como transformar a excelência da pesquisa científica brasileira em práticas inovadoras.

Presente ao evento, o ministro de Ciência e Tecnologia Marco Antonio Raupp destacou a importância de fortalecer a relação entre universidade e setor produtivo e voltou a defender o papel das instituições científicas e tecnológicas nesse processo.

O Brasil tem boas bases científica e industrial, mas os dois caminhos se desenvolveram separadamente; as empresas nacionais nunca se preocuparam em competir no mercado global”, afirmou. “O papel das entidades de pesquisa, desenvolvimento e inovação é criar pontes entre os dois universos.”

BEIJA SAPO

Fechar esse ‘ciclo de inovação’ depende da superação da histórica aversão ao risco das empresas brasileiras. Segundo o diretor representante da “Fraunhofer” no Brasil, Eckart Bierdümpel, somente cinco em cada mil ideias inovadoras conseguem ser lançadas com algum sucesso. “Ou seja, é preciso beijar muitos sapos para conseguir um príncipe”, completou.

Para o presidente do “Instituto Nacional de Propriedade Industrial” (INPI) Jorge Ávila, a criação de ambiente favorável à inovação passa justamente pela redução do risco. “Isso pode ser alcançado por medidas como a coparticipação do Estado e a desoneração tributária, por exemplo”, destacou, “além de necessários avanços na área de propriedade intelectual e industrial.”

O ex-ministro de Ciência, Tecnologia e Inovação Sergio Rezende lembrou, no entanto, que a própria discussão sobre inovação é recente nas empresas. “Nas últimas décadas, as grandes questões eram a inflação e a qualidade. Só depois veio a inovação”, afirmou. “Em todo país com industrialização moderna, o governo teve papel central na criação de ambiente favorável à inovação, com investimento educacional, estímulo à pesquisa nas empresas e à interação com a universidade, além de incentivos fiscais.”

Um incentivo adicional à inovação pode estar nos resultados de uma pesquisa apresentada pela consultoria “Innoscience”. O grupo acompanhou durante cinco anos as 31 empresas nacionais de capital aberto mais inovadoras e registrou uma valorização 100% maior de suas ações em relação às das empresas mais valiosas da Bolsa de Valores de São Paulo.

A POLÍTICA DA INOVAÇÃO

Colocada como prioridade nos últimos governos, a inovação ganhou nos anos 2000 diversas regulamentações e iniciativas a ela direcionadas, como a própria “Lei de Inovação e a “Lei do Bem, que visam estimular a parceria público-privada e o investimento empresarial na área.

Inovar para competir, competir para crescer”, lema do “Plano Brasil Maior”, política industrial lançada no ano passado, reflete bem esse ímpeto inovador – também representado pela criação de redes como o “Sistema Brasileiro de Tecnologia” e de iniciativas como a “Empresa Brasileira de Inovação Industrial” e o “Código Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação”, em tramitação no Congresso Nacional.

Mesmo com a proposta de  elevar o investimento em C,T&I para 1,8% do PIB,  governo  realizou corte de mais de 20% no orçamento da área em 2012.

Paradoxalmente, o país vive um quadro de desaceleração da produção industrial nos últimos anos, destacado pelo gerente executivo de inovação e tecnologia da “Confederação Nacional da Indústria”, Jefferson Gomes. “Há algumas décadas, a indústria de transformação já representou quase 30% do PIB brasileiro, mas hoje não chega a 15%”, lamentou. Gomes apresentou o projeto de instalação dos institutos Senai de inovação, que visam auxiliar as empresas brasileiras a inovar.

O próprio investimento governamental em ciência, tecnologia e inovação derrapou no início do ano. Mesmo tendo assumido o compromisso eleitoral de elevar o investimento na área para 1,8% do PIB até 2015, como lembrou Rezende, o governo federal anunciou corte de mais de 20% do orçamento da pasta para este ano – a princípio um reflexo da crise global que não sinaliza mudanças nos rumos da política nacional.

O presidente da “Financiadora de Estudos e Projetos” (FINEP), Glauco Arbix, defendeu a prioridade de investimento em ciência, tecnologia e inovação, além da educação, neste momento de crise. “Qualquer outro discurso é paliativo; precisamos agregar valor ao que produzimos ou continuaremos a viver de soluços.” Arbix também comentou sobre o processo de transformação da FINEP em uma agência de fomento, que poderá dar mais flexibilidade para a instituição atuar na gestão de risco tecnológico e no estímulo à inovação no país.”

FONTE: escrito por Marcelo Garcia no Ciência Hoje On-line” e transcrito no portal de Luis Nassif (http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/os-obstaculos-para-a-inovacao-no-brasil). [Imagem obtida no Google e adicionada por este blog ‘democracia&política’].

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