quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Delfim: TAXA DE RISCO BRASILEIRA MENOR QUE A DOS EUA

[OBS deste 'democracia&política': Até a tucana Folha de São Paulo isso registrou, apesar de meio escondido no fim do texto abaixo de Delfim Netto. Talvez, por vergonha das muito elevadas taxas de risco (mais de vinte vezes maiores, acima de 2000 pontos) que o Brasil sucumbia no governo FHC/PSDB] 

“CONFIANÇA”

Por Antonio Delfim Netto

“O Estado e os mercados são instituições que precisam ser coordenadas para atingir o melhor nível de eficiência possível e para que os frutos econômicos produzidos sejam distribuídos da forma mais equânime. É isso que acelera, no longo prazo, o crescimento material com a inclusão social.

É preciso, portanto, cuidadosa calibragem entre as políticas econômica e social do governo e o crescimento do setor privado. Este depende de sua capacidade e disposição de financiar seus novos investimentos com o produto de sua taxa de retorno e sua capacidade de endividar-se.

Diante dessas circunstâncias, deveria saltar aos olhos o absurdo das seguintes proposições:

1) "crescer pelo consumo", uma vez que, sem novos investimentos, a tendência daquele é diminuir; e
2) "crescer pelo investimento", uma vez que, sem consumo, ele tende a desaparecer.

No prazo médio (a cada quatro anos), quem arbitra a expectativa de quanto se vai tentar aumentar o consumo e de quanto se vai aumentar o investimento é a própria sociedade, por meio do sufrágio universal. É na urna que se explicita se a sociedade quer crescimento mais rápido e, consequentemente, inserção social menos rápida, ou vice-versa, se prefere inserção mais rápida à custa de crescimento menos rápido.

O que os economistas podem e devem fazer, porque a economia é uma ciência "moral", é mostrar quais os resultados de uma escolha inteligente e aceitável para o crescimento econômico (aumento do PIB) e para o crescimento social (aumento da inserção), uma vez que não há elemento objetivo para uma escolha "ótima" das duas variáveis.

O que torna o processo mais harmônico (crescimento + inserção) é o estabelecimento de um ambiente de confiança entre o poder incumbente eventual e os agentes do mercado. O que se chama de "ambiente de negócios" é o nível da desconfiança mútua entre o poder incumbente e os agentes econômicos do setor privado, criada pelo excesso de controle burocrático e [desconfiança] dos agentes econômicos em relação ao poder incumbente, que não hesita em mudar as "regras do jogo" quando ele já está em andamento.

Não há dúvida de que, desde a Constituição de 1988, temos avançado na construção daquela "confiança", mas ainda estamos longe de tê-la em nível adequado.

O ponto curioso é que os investidores estrangeiros parecem ter maior confiança no governo [brasileiro] do que os [demotucanos] nacionais.

A prova disso foi a última colocação dos títulos do Tesouro Nacional no mercado internacional com uma taxa de risco inferior a cem pontos em relação aos papéis americanos de mesmo prazo, ajudada, é verdade, pela excepcional liquidez mundial.”

FONTE: escrito por Antonio Delfim Netto e publicado na tucana “Folha de São Paulo”  (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/67010-confianca.shtml) [Imagem do Google, negritos e itálicos e trechos entre colchetes adicionados por este blog ‘democracia&política’].

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