Por Rodrigo Vianna
“Já nos primeiros meses de governo, tudo estava claro. O governo Dilma significou um movimento rumo ao centro. Parecia uma estratégia inteligente, como escrevi na época aqui [no “Escrivinhador”]: Lula tinha já o apoio da “esquerda” tradicional – com sindicatos, movimentos sociais e também a massa de eleitores de baixa renda beneficiados pelos programas sociais. Dilma avançou para o centro, com acenos para a classe média que preferira Serra e Marina em 2010. A agenda ”técnica” e a ”faxina” são a face visível desse giro ao centro. Não é à toa que Dilma alcançou mais de 80% de aprovação.
Mas ela não fez só isso. Abriu mão de conquistas importantes dos anos Lula: houve retrocessos na Cultura e na área Ambiental, pouca disposição para dialogar com os movimentos sociais, nenhuma disposição para qualquer avanço na área de Comunicações. São apenas alguns exemplos.
Concentro-me nesse último ponto: o Brasil tem uma legislação retrógrada e um mercado de mídia dominado por meia dúzia de famílias. Não é só um problema de falta de concorrência, mas problema político – na medida em que essas famílias impedem a diversidade de opinião e interditam o debate no país. No segundo mandato, Lula percebeu a necessidade de mexer nessa área; convocou a CONFECOM (Conferência Nacional de Comunicação) e encomendou a Franklin Martins um novo Marco Regulatório para o setor. Dilma preferiu o silêncio, mandou o ministro Paulo Bernardo guardar o projeto de Franklin numa gaveta profunda.
Dilma foi a festinhas em jornais e TVs, logo após a posse, e aceitou as pressões da velha mídia para barrar a investigação da “Veja” e de Policarpo na CPI do Cachoeira. O governo foge do confronto. Ao mesmo tempo, entope de anúncios – e de dinheiro- as empresas que são as primeiras a barrar qualquer tentativa de avanço no país – como escreveu Paulo Henrique Amorim.
A turma que cuida da Comunicação no governo Dilma parece dividir-se em duas: uma tem medo da Globo e da Abril,a outra quer garantir empregos na Globo e Abril quando terminar o mandato.
Dilma segue popular. Mas a base tradicional lulista está ressabiada.
A velha mídia e os tucanos perceberam a possibilidade de abrir uma cunha entre Dilma e o lulismo. A estratégia é simples: poupa-se Dilma agora, concentra-se todo o ódio no PT e em Lula. Com PT e Lula fracos, ficará mais fácil derrotar Dilma logo à frente.
A presidente, pessimamente aconselhada na área de Comunicações, parece acreditar na possibilidade de uma “bandeira branca” com a mídia. Não percebe que ali está o coração da oposição.
A velha mídia, derrotada por Lula em 2006 e 2010, mostra que segue fortíssima com esse episódio do ”Mensalão”. Colunistas de quinta categoria pautaram os ministros do STF, capas da “Veja” e manchetes do “JN” empurraram o julgamento para as vésperas da eleição municipal. O STF adota uma linha “nova” para o julgamento, que rompe com a jurisprudência adotada até aqui, e aceita indícios como elementos para a condenação.
Evidentemente que – nesse episódio do chamado “Mensalão” - dirigentes do PT erraram feio: está claro que a rede de promiscuidade e troca de favores entre agências de publicidade, bancos privados e entes públicos precisava ser investigada e punida. Não era “mensalão”, mas era ilícito.
O que chama atenção é o moralismo seletivo da Justiça e da velha mídia. Querer transformar o arranjo mambembe – e desastrado – feito pelo PT de Delúbio Soares no ”maior escândalo da história republicana” é quase uma piada.
O fato é que a velha mídia ganhou esse jogo até aqui. Outro fato: ninguém acredita que “indícios” serão suficientes para condenar mensalões tucanos, nem banqueiros ou publicitários que tenham se lambuzado em operações com outras forças políticas. Não. O roteiro está preparado para condenar o PT. E só isso. É parte da estratégia de retomar o Estado brasileiro.
No dia em que o julgamento começou, Dilma anunciou o tal “pacote de concessões” para a iniciativa privada, na área de infraestrutura. Não foi à toa. Era como se a presidenta tentasse se desvincular: o “velho PT” vai para o banco dos réus; ela não, é “moderna” e confiável. Hum…
Imaginem Zé Dirceu condenado. Na manhã seguinte, o alvo será Lula. Consolidado o ataque a Lula, as baterias estarão voltadas contra Dilma. Rapidamente, a sucessora de Lula perceberá que a ilusão de um trato “republicano” com a velha mídia brasileira não era nada além disso: ilusão.
Será que Dilma deu-se conta do erro que é apostar na lua-de-mel com os conservadores? Afinal, bateu pesado em FHC, quando este último escreveu sobre a “herança” pesada que Lula teria deixado para ela. Mas e a relação com a mídia? Preocupante saber que Dilma teria confirmado presença no Congresso da SIP (Sociedade Interamericana de Imprensa). Trata-se de uma espécie de “Instituto Millenium”, maior e mais articulado em todas as Américas. FHC e Marina estarão lá na SIP. Se Dilma também for, o círculo estará fechado.”
FONTE: escrito por Rodrigo Vianna em seu blog “Escrivinhador” (http://www.rodrigovianna.com.br/palavra-minha/dilma-a-ilusao-de-um-acordo-com-a-midia.html#more-15454) [Imagens obtidas no google e legenda entre colchetes adicionadas por este blog ‘democracia&política’].
“Já nos primeiros meses de governo, tudo estava claro. O governo Dilma significou um movimento rumo ao centro. Parecia uma estratégia inteligente, como escrevi na época aqui [no “Escrivinhador”]: Lula tinha já o apoio da “esquerda” tradicional – com sindicatos, movimentos sociais e também a massa de eleitores de baixa renda beneficiados pelos programas sociais. Dilma avançou para o centro, com acenos para a classe média que preferira Serra e Marina em 2010. A agenda ”técnica” e a ”faxina” são a face visível desse giro ao centro. Não é à toa que Dilma alcançou mais de 80% de aprovação.
Mas ela não fez só isso. Abriu mão de conquistas importantes dos anos Lula: houve retrocessos na Cultura e na área Ambiental, pouca disposição para dialogar com os movimentos sociais, nenhuma disposição para qualquer avanço na área de Comunicações. São apenas alguns exemplos.
Concentro-me nesse último ponto: o Brasil tem uma legislação retrógrada e um mercado de mídia dominado por meia dúzia de famílias. Não é só um problema de falta de concorrência, mas problema político – na medida em que essas famílias impedem a diversidade de opinião e interditam o debate no país. No segundo mandato, Lula percebeu a necessidade de mexer nessa área; convocou a CONFECOM (Conferência Nacional de Comunicação) e encomendou a Franklin Martins um novo Marco Regulatório para o setor. Dilma preferiu o silêncio, mandou o ministro Paulo Bernardo guardar o projeto de Franklin numa gaveta profunda.
Dilma foi a festinhas em jornais e TVs, logo após a posse, e aceitou as pressões da velha mídia para barrar a investigação da “Veja” e de Policarpo na CPI do Cachoeira. O governo foge do confronto. Ao mesmo tempo, entope de anúncios – e de dinheiro- as empresas que são as primeiras a barrar qualquer tentativa de avanço no país – como escreveu Paulo Henrique Amorim.
A turma que cuida da Comunicação no governo Dilma parece dividir-se em duas: uma tem medo da Globo e da Abril,a outra quer garantir empregos na Globo e Abril quando terminar o mandato.
Dilma segue popular. Mas a base tradicional lulista está ressabiada.
A velha mídia e os tucanos perceberam a possibilidade de abrir uma cunha entre Dilma e o lulismo. A estratégia é simples: poupa-se Dilma agora, concentra-se todo o ódio no PT e em Lula. Com PT e Lula fracos, ficará mais fácil derrotar Dilma logo à frente.
A presidente, pessimamente aconselhada na área de Comunicações, parece acreditar na possibilidade de uma “bandeira branca” com a mídia. Não percebe que ali está o coração da oposição.
A velha mídia, derrotada por Lula em 2006 e 2010, mostra que segue fortíssima com esse episódio do ”Mensalão”. Colunistas de quinta categoria pautaram os ministros do STF, capas da “Veja” e manchetes do “JN” empurraram o julgamento para as vésperas da eleição municipal. O STF adota uma linha “nova” para o julgamento, que rompe com a jurisprudência adotada até aqui, e aceita indícios como elementos para a condenação.
Evidentemente que – nesse episódio do chamado “Mensalão” - dirigentes do PT erraram feio: está claro que a rede de promiscuidade e troca de favores entre agências de publicidade, bancos privados e entes públicos precisava ser investigada e punida. Não era “mensalão”, mas era ilícito.
O que chama atenção é o moralismo seletivo da Justiça e da velha mídia. Querer transformar o arranjo mambembe – e desastrado – feito pelo PT de Delúbio Soares no ”maior escândalo da história republicana” é quase uma piada.
O fato é que a velha mídia ganhou esse jogo até aqui. Outro fato: ninguém acredita que “indícios” serão suficientes para condenar mensalões tucanos, nem banqueiros ou publicitários que tenham se lambuzado em operações com outras forças políticas. Não. O roteiro está preparado para condenar o PT. E só isso. É parte da estratégia de retomar o Estado brasileiro.
No dia em que o julgamento começou, Dilma anunciou o tal “pacote de concessões” para a iniciativa privada, na área de infraestrutura. Não foi à toa. Era como se a presidenta tentasse se desvincular: o “velho PT” vai para o banco dos réus; ela não, é “moderna” e confiável. Hum…
Imaginem Zé Dirceu condenado. Na manhã seguinte, o alvo será Lula. Consolidado o ataque a Lula, as baterias estarão voltadas contra Dilma. Rapidamente, a sucessora de Lula perceberá que a ilusão de um trato “republicano” com a velha mídia brasileira não era nada além disso: ilusão.
Será que Dilma deu-se conta do erro que é apostar na lua-de-mel com os conservadores? Afinal, bateu pesado em FHC, quando este último escreveu sobre a “herança” pesada que Lula teria deixado para ela. Mas e a relação com a mídia? Preocupante saber que Dilma teria confirmado presença no Congresso da SIP (Sociedade Interamericana de Imprensa). Trata-se de uma espécie de “Instituto Millenium”, maior e mais articulado em todas as Américas. FHC e Marina estarão lá na SIP. Se Dilma também for, o círculo estará fechado.”
[A tentativa de golpe de 2010 se repetirá, até conseguiirem a volta da direita (“das elites”; sic!) ao poder]
FONTE: escrito por Rodrigo Vianna em seu blog “Escrivinhador” (http://www.rodrigovianna.com.br/palavra-minha/dilma-a-ilusao-de-um-acordo-com-a-midia.html#more-15454) [Imagens obtidas no google e legenda entre colchetes adicionadas por este blog ‘democracia&política’].
Parem de ficar só criticando a mídia, e vamos continuar na luta, pois a Dilma está certíssima, em nao mexer na mídia, pois eu me sinto livre, e os que estao muito incomodados como é o seu caso, é porque querem que aqui vire a Venezuela, onde os erros do Chaves possa ficar por debaixo do tapete.
ResponderExcluirA Dilma está certa, o Lula foi nosso maior presidente (mas nao votaria nele mais), se fingiu de cego até de mais para conseguir algumas coisas, e sou Dilma 2014, e nao vejo a mídia inventando nada, vejo a mídia cobrando, onde sei tambem que cobra só de uma lado, mas antes cobrar de um lado, do que nao cobrar de lado algum.
"Unknown"
ResponderExcluirMuito interessante essa sua tolerante visão unilateral de imprensa e de justiça (cobrar somente de um lado). Não é original, pois já vem sendo adotada há 10 anos pela "grande" mídia, PGR e até pelo STF.
Acho injustiça você não reconhecer a grande capacidade inventiva da mídia. A "Veja", por exemplo, tem tecnologia de ponta nessa área da inovação.
Maria Tereza