[OBS deste ‘democracia&política’: os mapas acima indicam a contínua invasão e usurpação à força de terras da Palestina (em verde) por Israel, com total apoio financeiro e militar dos EUA e contrariando várias Resoluções da ONU. O 4º mapa (último à direita) é de 1999. Nos últimos treze anos, as invasões continuaram. Se colocássemos, em continuação, um 5º mapa à direita, pouco restaria em verde. As “fronteiras de 1967” mencionadas nesta postagem estão representadas no 3º mapa, da esquerda para a direita. Já significaria significativo furto israelense da Palestina].
Entrevista com Gareth Porter, no “The Real News Network” (TRNN)
PAUL JAY, editor-chefe, TRNN: Sou Paul Jay, em Baltimore. Apresentamos a edição semanal do “Porter Report”, com o jornalista Gareth Porter. Gareth é historiador e jornalista investigativo. Trabalha regularmente para a rede “Inter Press Service“ sobre políticas dos EUA para Irã, Iraque, Afeganistão e Paquistão. Em 2012, recebeu o “Prêmio Gellhorn de Jornalismo”. É colaborador regular de “The Real News”. Obrigado, Gareth, por nos receber.
GARETH PORTER: Obrigado, Paul. Ótimo estar aqui outra vez.
JAY: Gareth fala de nosso estúdio em Washington. Claro, a matéria desta semana é Gaza. Você escreveu várias vezes sobre isso.
PORTER: É, escrevi algumas vezes. E, claro, a crise em curso em Gaza, a guerra que Israel fez contra Gaza, semana passada, lembra-me a “Operação Chumbo Derretido”, de janeiro de 2009. As semelhanças entre as duas operações são realmente muito visíveis. Para começar, os israelenses sentiram-se perfeitamente livres para lançar vastíssimo ataque aéreo contra Gaza, sabendo, obviamente, que haveria centenas e centenas de mortos, sobretudo civis, porque sempre sabem que podem alegar, que podem argumentar que fazem o que fazem “porque estão sendo atacados por foguetes” disparados de dentro da Faixa de Gaza.
Na matéria que escrevi há quatro anos, precisamente há quatro anos, em janeiro, noticiei que, de fato, Israel rejeitara uma proposta de cessar-fogo feita pelo Hamás. E aquele acordo, não na essência, mas precisamente aquele acordo proposto pelo Hamás, já havia sido acertado antes, entre Israel e o Hamás. Tudo isso está demonstrado no que escrevi naquela época. Mas os israelenses decidiram não fazer acordo algum, porque já haviam decidido, estavam decididos, determinados, a usar a força.
Aquela mesma história, me parece, repete-se, praticamente, a mesma história, mais uma vez, no caso atual, porque já se sabe que os israelenses assassinaram o mediador, o homem que recebera uma proposta de cessar-fogo, assassinaram um mediador que trabalhava também com Israel, que já trabalhara na negociação da volta de Gilad Shalit, o soldado israelense que o Hamás capturara alguns anos antes. E o mesmo mediador estava também trabalhando com egípcios e com o Hamás, numa proposta de cessar-fogo, que o general Jaabari já recebera. O general Jaabari era o comandante encarregado da questão dos foguetes e das negociações de cessar-fogo com Israel, até poucas horas antes de ser assassinado. Por isso, acho que aqui, essencialmente, aconteceu uma daquelas repetições da história. Não são situações exatamente iguais, mas muito, muito parecidas.
JAY: A posição dos israelenses sobre Gaza sempre foi de querer que Gaza fosse problema do Egito. Nunca quiseram Gaza como parte de uma possível solução de dois Estados. Pelo menos, com certeza, não querem Gaza sob liderança do Hamás e como parte de um cenário de dois Estados. O que aconteceu parece ser desdobramento do mesmo plano. E agora, com a “Fraternidade Muçulmana” no poder no Egito, e com o Qatar cada dia mais envolvido na situação, talvez tenham pensado em mandar a bola mais fundo, para dentro do campo, quero dizer, fazer de Gaza um local inabitável, a menos que Gaza deixe de ser parte de algum Estado palestino, não sob controle do Hamás, mas, sabe-se lá, como alguma espécie de Estado dependente do Egito, de algum modo.
PORTER: De garantido, é que os israelenses entendem que os egípcios devem ajudar Israel a impedir que o Hamás ganhe condições de, basicamente, defender-se contra Israel, ou que tenham meios para conter ataques israelenses. O serviço dos egípcios e a ideia dos israelenses – e, claro, também dos EUA – é, há muito tempo, impedir que o Hamás consiga ter economia interna em Gaza que lhe permita sustentar a população que ali vive. Por isso, Israel sempre quis controlar tudo o que entra e tudo o que sai de Gaza, manter esse fluxo num nível mínimo, e, assim, claro, impedir também que o Hamás acumule qualquer tipo de capacidade militar.
Tudo isso, penso eu, esteve em discussão nas conversas sobre um cessar-fogo, porque os EUA e Israel, é claro, estão pressionando os egípcios, os EUA à frente, dizendo, basicamente, que, se o Egito quer manter acesso continuado ao sistema de ajuda do mundo capitalista, então terá de desempenhar o papel que EUA e Israel desejam que desempenhe ali.
Por tudo isso, a guerra em curso em Gaza deixa à luz, muito claramente, a desigualdade fundamental que há na estrutura do sistema global. Na essência, o destino de Gaza está, em vasta medida, nas mãos dos egípcios, e os egípcios dependem, pelo menos por enquanto, dos EUA e de seus aliados capitalistas em todo o mundo, para conseguir impedir uma grave deterioração da economia egípcia.
Por essa razão, é caso de todos nos preocuparmos com os desenvolvimentos daquela crise, quero dizer, com a possibilidade de o status quo não se alterar, continuar o que sempre se viu ali, no passado. É possível que, como resultado desse cessar-fogo, não se veja nenhuma abertura das passagens, nenhum alívio no bloqueio e que aumentem as restrições de Israel contra o governo do Hamás, depois do cessar-fogo.
JAY: Obrigado por falar conosco, Gareth.
PORTER: Obrigado a você, Paul.”
FONTE: entrevista com Gareth Porter, no “The Real News Network” (TRNN). Traduzida pelo “pessoal da Vila Vudu”. Postado por Castor Filho no blog “Redecastorphoto” (http://redecastorphoto.blogspot.com.br/2012/11/hamas-sempre-quis-acordo-baseado-nas.html). [Imagem do Google (mapas) e trechos entre colchetes adicionados por este blog ‘democracia&política’].
Entrevista com Gareth Porter, no “The Real News Network” (TRNN)
PAUL JAY, editor-chefe, TRNN: Sou Paul Jay, em Baltimore. Apresentamos a edição semanal do “Porter Report”, com o jornalista Gareth Porter. Gareth é historiador e jornalista investigativo. Trabalha regularmente para a rede “Inter Press Service“ sobre políticas dos EUA para Irã, Iraque, Afeganistão e Paquistão. Em 2012, recebeu o “Prêmio Gellhorn de Jornalismo”. É colaborador regular de “The Real News”. Obrigado, Gareth, por nos receber.
GARETH PORTER: Obrigado, Paul. Ótimo estar aqui outra vez.
JAY: Gareth fala de nosso estúdio em Washington. Claro, a matéria desta semana é Gaza. Você escreveu várias vezes sobre isso.
PORTER: É, escrevi algumas vezes. E, claro, a crise em curso em Gaza, a guerra que Israel fez contra Gaza, semana passada, lembra-me a “Operação Chumbo Derretido”, de janeiro de 2009. As semelhanças entre as duas operações são realmente muito visíveis. Para começar, os israelenses sentiram-se perfeitamente livres para lançar vastíssimo ataque aéreo contra Gaza, sabendo, obviamente, que haveria centenas e centenas de mortos, sobretudo civis, porque sempre sabem que podem alegar, que podem argumentar que fazem o que fazem “porque estão sendo atacados por foguetes” disparados de dentro da Faixa de Gaza.
Na matéria que escrevi há quatro anos, precisamente há quatro anos, em janeiro, noticiei que, de fato, Israel rejeitara uma proposta de cessar-fogo feita pelo Hamás. E aquele acordo, não na essência, mas precisamente aquele acordo proposto pelo Hamás, já havia sido acertado antes, entre Israel e o Hamás. Tudo isso está demonstrado no que escrevi naquela época. Mas os israelenses decidiram não fazer acordo algum, porque já haviam decidido, estavam decididos, determinados, a usar a força.
Aquela mesma história, me parece, repete-se, praticamente, a mesma história, mais uma vez, no caso atual, porque já se sabe que os israelenses assassinaram o mediador, o homem que recebera uma proposta de cessar-fogo, assassinaram um mediador que trabalhava também com Israel, que já trabalhara na negociação da volta de Gilad Shalit, o soldado israelense que o Hamás capturara alguns anos antes. E o mesmo mediador estava também trabalhando com egípcios e com o Hamás, numa proposta de cessar-fogo, que o general Jaabari já recebera. O general Jaabari era o comandante encarregado da questão dos foguetes e das negociações de cessar-fogo com Israel, até poucas horas antes de ser assassinado. Por isso, acho que aqui, essencialmente, aconteceu uma daquelas repetições da história. Não são situações exatamente iguais, mas muito, muito parecidas.
JAY: A posição dos israelenses sobre Gaza sempre foi de querer que Gaza fosse problema do Egito. Nunca quiseram Gaza como parte de uma possível solução de dois Estados. Pelo menos, com certeza, não querem Gaza sob liderança do Hamás e como parte de um cenário de dois Estados. O que aconteceu parece ser desdobramento do mesmo plano. E agora, com a “Fraternidade Muçulmana” no poder no Egito, e com o Qatar cada dia mais envolvido na situação, talvez tenham pensado em mandar a bola mais fundo, para dentro do campo, quero dizer, fazer de Gaza um local inabitável, a menos que Gaza deixe de ser parte de algum Estado palestino, não sob controle do Hamás, mas, sabe-se lá, como alguma espécie de Estado dependente do Egito, de algum modo.
PORTER: De garantido, é que os israelenses entendem que os egípcios devem ajudar Israel a impedir que o Hamás ganhe condições de, basicamente, defender-se contra Israel, ou que tenham meios para conter ataques israelenses. O serviço dos egípcios e a ideia dos israelenses – e, claro, também dos EUA – é, há muito tempo, impedir que o Hamás consiga ter economia interna em Gaza que lhe permita sustentar a população que ali vive. Por isso, Israel sempre quis controlar tudo o que entra e tudo o que sai de Gaza, manter esse fluxo num nível mínimo, e, assim, claro, impedir também que o Hamás acumule qualquer tipo de capacidade militar.
Tudo isso, penso eu, esteve em discussão nas conversas sobre um cessar-fogo, porque os EUA e Israel, é claro, estão pressionando os egípcios, os EUA à frente, dizendo, basicamente, que, se o Egito quer manter acesso continuado ao sistema de ajuda do mundo capitalista, então terá de desempenhar o papel que EUA e Israel desejam que desempenhe ali.
Por tudo isso, a guerra em curso em Gaza deixa à luz, muito claramente, a desigualdade fundamental que há na estrutura do sistema global. Na essência, o destino de Gaza está, em vasta medida, nas mãos dos egípcios, e os egípcios dependem, pelo menos por enquanto, dos EUA e de seus aliados capitalistas em todo o mundo, para conseguir impedir uma grave deterioração da economia egípcia.
Por essa razão, é caso de todos nos preocuparmos com os desenvolvimentos daquela crise, quero dizer, com a possibilidade de o status quo não se alterar, continuar o que sempre se viu ali, no passado. É possível que, como resultado desse cessar-fogo, não se veja nenhuma abertura das passagens, nenhum alívio no bloqueio e que aumentem as restrições de Israel contra o governo do Hamás, depois do cessar-fogo.
JAY: Obrigado por falar conosco, Gareth.
PORTER: Obrigado a você, Paul.”
FONTE: entrevista com Gareth Porter, no “The Real News Network” (TRNN). Traduzida pelo “pessoal da Vila Vudu”. Postado por Castor Filho no blog “Redecastorphoto” (http://redecastorphoto.blogspot.com.br/2012/11/hamas-sempre-quis-acordo-baseado-nas.html). [Imagem do Google (mapas) e trechos entre colchetes adicionados por este blog ‘democracia&política’].
Assim como muitas crianças ainda acreditam em Papai Noel (e o Natal está se avizinhando!) outras, não tão crianças mas igualmente infantis e ingênuas afirmam: [sic] "Hamás 'sempre' quis (?!) acordo baseado nas fronteiras de 1967"! Só se for de 1967 a.C. Para elas acreditar que o Sol aparece durante o dia pode ser difícil porque sempre viveram nas TREVAS.
ResponderExcluirMarco Aurélio,
ResponderExcluirÉ lógico que nem sempre o Hamás quis as fronteiras de 1967. É errado, infantil e ingênuo, como você bem diz, assim afirmar, pois elas já significavam grande roubo do território dos Palestinos. Sob o pretexto da "guerra" [!!!] de 1967, Israel invadiu e tomou aquelas terras e continua até hoje avançando. "Guerra" é gozação, escárnio, pois se tratava de país fortíssimamente armado e apoiado militarmente pelos EUA contra um povo sem Forças Armadas, defendendo-se basicamente com pedras. Querendo parar com as invasões, expulsões e apropriações, os palestinos consolam-se em aceitar a paz em troca daquelas diminuidas fronteiras. Também acho que forçar os palestinos a sempre viverem nas trevas é lento genocídio.
Maria Tereza