quarta-feira, 21 de novembro de 2012

EXTREMA-DIREITA “OPUS DEI” QUER ALCKMIN PRESIDENTE, ESTÁ INFILTRADA NA MÍDIA E NA AMÉRICA LATINA

O Papa com D. Javier Echevarría Rodríguez, Prelado da "Opus Dei "

A ‘Opus Dei’ atua, também, no monopólio da imprensa. Controla o jornal ‘El Observador’, de Montevidéu, e exerce influência sobre órgãos tradicionais da oligarquia como ‘El Mercurio’, no Chile, ‘La Nación’, na Argentina e ‘O Estado de S. Paulo’, no Brasil.

Por Henrique Júdice Magalhães

O elo com a imprensa é o curso de pós-graduação em jornalismo da Universidade de Navarra em São Paulo, coordenado por Carlos Alberto di Franco, numerário e comentarista do “Estadão” e da “Rádio Eldorado”.

O segundo homem da ‘Opus Dei’ na imprensa brasileira é o também numerário Guilherme Doring Cunha Pereira, herdeiro do principal grupo de comunicação do Paraná (“Gazeta do Povo”).

Os jornalistas Alberto Dines e Mário Augusto Jakobskind denunciam que a organização controla também a “Sociedade Interamericana de Imprensa” (SIP).

Analisando a estrutura de classes dos países latino-americanos, Darcy Ribeiro identificava como segmento hegemônico dentro das classes dominantes o corpo de gerência das transnacionais. Ponta de lança do imperialismo, é ele quem dita ordens e impõe ideologias às demais facções e, em muitos casos, organiza-as politicamente. A desnacionalização das economias latino-americanas na década de 90 agravou esse quadro. A alteração de mais relevo no perfil da classe dominante verificada no bojo desse processo é o crescimento da influência da Opus Dei.

Sustentada pelo capital espanhol, a organização controla jornais, universidades, tribunais e entidades de classe, sendo hoje peça chave para se compreender o processo político no continente, inclusive no Brasil, onde quer eleger Geraldo Alckmin [PSDB] presidente da República.

Mas o que é afinal, a ‘Opus Dei’ (em latim, Obra de Deus)?

Em seu campo original de atuação, é a vanguarda das tendências mais conservadoras da Igreja Católica. "Este concílio, minhas filhas, é o concílio do diabo" teria dito seu fundador, Josemaria Escrivá de Balaguer, sobre o Vaticano II, no relato do jornalista argentino Emilio J. Corbiere no seu livro “Opus Dei. El totalitarismo católico”.

Fundada na Espanha em 1928, a organização foi reconhecida pelo Vaticano em 1947. Em 1982, foi declarada uma prelatura pessoal, o que, sob o Direito canônico, significa que só presta contas ao papa e que seus membros não se submetem à jurisdição dos bispos. "A relação entre Karol Wojtyla e a Opus Dei", conta o teólogo espanhol Juan José Tamayo Acosta, "atinge seu êxito nos anos 80-90, com a irresistível ascensão da ‘Obra’ à cúpula do Vaticano, a partir de onde interveio ativamente, primeiro no esboço e depois na colocação em prática do processo de restauração da Igreja católica sob o protagonismo do papa e a orientação teológica do cardeal alemão Ratzinger."

Fontes ligadas à Igreja Católica atribuem o poder da ‘Obra’ à quitação da dívida do Banco Ambrosiano, fraudulentamente falido em 1982.

Obscurantismo e misoginia são traços que marcam a organização. Exemplos podem ser encontrados nas denúncias de ex-adeptos como Jean Lauand, professor da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), que recentemente escreveu, junto com mais dois ex-membros, o juiz Márcio Fernandes e o médico Dário Fortes Ferreira, o livro “Opus Dei - os bastidores”.

Em entrevista ao programa “Biblioteca Sonora”, da Rádio USP, Jean Lauand conta que a Obra tem um "Index" de livros proibidos que abrange, praticamente, toda a filosofia ocidental desde Descartes.

Noutra entrevista, à revista “Época”, Jean Lauand denuncia as estratégias de fanatização dos chamados “numerários”, leigos celibatários que vivem em casas da organização: "Os homens podem dormir em colchões normais, as mulheres têm de dormir em tábuas. São proibidas de segurar crianças no colo e de ir a casamentos". É obrigatório o uso de cinturões com pontas de ferro fortemente atados à coxa, como prática de mortificação que visa a refrear o desejo". Mas os danos infligidos pelo fanatismo não se limitam ao corpo.

No site que mantém com outros dissidentes  (http://www.opuslivre.org/), Jean Lauand revela que a ‘Obra’ conta com médicos especialmente encarregados de receitar psicotrópicos a numerários em crise nervosa.

A captação de numerários dá-se entre estudantes de universidades e escolas secundárias de elite. Centros de estudos e obras de caridade servem de fachada. A “Opus Dei” tem forte presença na USP, em especial na Faculdade de Direito, onde parte do corpo docente é composta por membros e simpatizantes,como o numerário Inácio Poveda e o diretor Eduardo Marchi. Outro expoente da organização na USP é Luiz Eugênio Garcez Leite, professor da Faculdade de Medicina e autor de panfletos contra a educação mista. A ‘Obra’ atua, também, na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade de Campinas (Unicamp) e Universidade de Brasília (UnB).

FAZENDO A AMÉRICA

Mas a “Opus Dei” é mais que um tema de saúde pública. Ela tem, desde a origem, clara dimensão política. Durante a ditadura de Franco, praticamente fundiu-se ao Estado espanhol, ao qual forneceu ministros e dirigentes de empresas e órgãos governamentais. No fim da década de 40, inicia sua expansão rumo à América Latina. Não foi difícil conquistar adeptos entre oligarquias como as da Cidade do México, Buenos Aires e Lima, que sempre buscaram diferenciar-se de seus povos apegando-se a um conceito conservador de pretensa hispanidade. Um dos elementos definidores desse conceito é exatamente o integralismo católico.

Alberto Moncada, outro dissidente, conta em seu livro “La evolución del Opus Dei”: "os jesuítas decidiram que seu papel na América Latina não deveria continuar sendo a educação dos filhos da burguesia, e então apareceu para a ‘Opus Dei’ a ocasião de substituí-los - ocasião que não hesitou em aproveitar".

No Brasil, a organização deitou raízes em São Paulo no começo da década de 50, concentrando sua atuação no meio jurídico. O promotor aposentado e ex-deputado federal Hélio Bicudo conta que, por duas vezes, juízes tentaram cooptá-lo. Seu expoente de maior destaque foi José Geraldo Rodrigues Alckmin, nomeado ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) por Médici em 1972 e tio do atual governador de São Paulo [Geraldo Alckmin]. Acontece que, nos anos 70, o poder da “Opus Dei” era embrionário. Tinha quadros em posições importantes, mas sem atuação coordenada. Além disso, dividia com a “Tradição, Família e Propriedade” (TFP) as simpatias dos católicos de extrema-direita.

Era natural, da mesma forma, que, alguns quadros dos regimes nascidos dos golpes de Estado de 1966 e 1976, na Argentina, e 1973, no Uruguai, fossem também quadros da “Opus Dei”. Mas, segundo se lê no livro de Emilio J. Corbiere, sua atuação era ainda dispersa, o que não os impediu de controlar a educação na Argentina durante o período Onganí (1966-70).

Já no Chile, a “Opus Dei” foi para o pinochetismo o que havia sido para o franquismo na Espanha. O principal ideólogo do regime, Jaime Guzmá, era membro ativo da organização, assim como centenas de quadros civis e militares.

No México, a ‘Obra’ conseguiu fazer Miguel de la Madrid presidente da República em 1982, iniciando a reversão da rígida separação entre Estado e Igreja imposta por Benito Juárez entre 1857 e 1861.

INTERNACIONAL REACIONÁRIA

A “Opus Dei” não criou o reacionarismo católico, antes, teve nele sua base de cultura. Mas sistematizou-o doutrinariamente e organizou politicamente seus adeptos de uma forma quase militar. Hoje, funciona como uma espécie de Internacional Reacionária, congregando, coordenadamente, adeptos em todo o mundo.

Concorrem para isto, nos anos 90, o ápice do poder da ‘Obra’ no Vaticano e a invasão da América Latina por transnacionais espanholas.

A Argentina entregou suas estatais de telefonia, petróleo, aviação e energia à Telefónica, Repsol, Iberia e Endesa, respectivamente. A Telefónica controla o setor também no Peru e em São Paulo. A Iberia já havia engolido a LAN, do Chile, onde a geração de energia também é controlada pela Endesa. Bancos espanhóis também chegaram ao continente nesse processo. No Brasil, o Santander comprou o Banespa e o Meridional, enquanto que o BBVA recebeu os ativos do Excel através do PROER, no governo de Fernando Henrique Cardoso [PSDB].

"A ‘Opus Dei’ tem sido para o modelo neoliberal o que foram os dominicanos e franciscanos para as cruzadas e os jesuítas frente à Reforma de Lutero" compara José Steinsleger, colunista do diário mexicano “La Jornada”.

A organização atua também no monopólio da imprensa. Controla o jornal “El Observador”, de Montevidéu, e exerce influência sobre órgãos tradicionais da oligarquia como “El Mercurio”, no Chile, “La Nación”, na Argentina e “O Estado de S. Paulo”, no Brasil. O elo com a imprensa é o curso de pós-graduação em jornalismo da Universidade de Navarra em São Paulo, coordenado por Carlos Alberto di Franco, numerário e comentarista do “Estadão” e da “Rádio Eldorado”. O segundo homem da ‘Opus Dei’ na imprensa brasileira é o também numerário Guilherme Doring Cunha Pereira, herdeiro do principal grupo de comunicação do Paraná (“Gazeta do Povo”). Os jornalistas Alberto Dines e Mário Augusto Jakobskind denunciam que a organização controla também a “Sociedade Interamericana de Imprensa” (SIP).

Sediada na Espanha, a Universidade de Navarra é a jóia da coroa da “Opus Dei” no negócio do ensino. Sua receita anual é de 240 milhões de euros. Além disso, a ‘Obra’ controla as universidades “Austral” (Argentina), “Montevideo” (Uruguai), de “Piura” (Peru), de “Los Andes” (Chile), “Pan Americana” (México) e “Católica André Bello” (Venezuela).

Dentro da igreja católica, a “Opus Dei” emplacou, na última década, vários bispos e Cardeais na América Latina. O mais notável é Juan Luís Cipriani, de Lima, no Peru, amigo íntimo da ditadura de Alberto Fujimori. Em seu estudo “El totalitarismo católico em el Peru”, o jornalista Herbert Mujica denuncia que, quando o “Movimento Revolucionário Tupac Amaru” tomou a embaixada do Japão, em 1997, Juan Luís Cipriani, valendo-se da condição de mediador do conflito, instalou equipamentos de escuta que possibilitaram à polícia invadir a casa e matar os ocupantes.

Na Venezuela, a ‘Obra’ teve papel essencial no fracassado golpe de 2002 contra Hugo Chávez. Um dos articuladores da tentativa foi José Rodríguez Iturbe, nomeado ministro das Relações Exteriores. Também participou da articulação a embaixada da Espanha, governada na época pelo neo-franquista Partido Popular (PP).

Após os reveses na Venezuela, as esperanças da “Opus Dei” voltaram-se para Joaquím Laví, no Chile, e Geraldo Alckmin [PSDB], no Brasil, hoje seus quadros políticos de maior destaque. Joaquím Laví foi derrotado nas últimas eleições presidenciais chilenas em Dezembro. Resta o Brasil, onde a ‘Obra’ tentou fazer de Geraldo Alckmin presidente e formar um eixo geopolítico com os então presidentes Álvaro Uribe (Colômbia) e Vicente Fox (México), aos quais está intimamente associada.

ENTRANHAS MAFIOSAS

Além das dimensões religiosa e política, a “Opus Dei” tem uma terceira face: a de sociedade secreta de cunho mafioso. Em seus estatutos secretos, redigidos em 1950 e publicados em 1986 pelo jornal italiano “L´Expresso”, a ‘Obra’ determina que "os membros numerários e supernumerários saibam que devem observar sempre um prudente silêncio sobre os nomes dos outros associados e que não deverão revelar nunca a ninguém que eles próprios pertencem à Opus Dei."

Inimiga jurada da Maçonaria, ela copia sua estrutura fechada o que, frequentemente, serve para encobrir atos criminosos.

Entre os católicos, a “Opus Dei” é conhecida como "Santa Máfia". Emilio J. Corbiere lembra os casos de fraude e remessa ilegal de divisas nas empresas espanholas Matesa e Rumasa, em 1969, onde parte dos ativos desviados financiaram a Universidade de Navarra. Bancos espanhóis são suspeitos de lavagem de dinheiro do narcotráfico e da máfia russa. A “Opus Dei” também esteve envolvida nos episódios de falência fraudulenta dos bancos “Comercial” (Uruguai, pertencente à família Peirano, dona de “El Observador”) e de “Crédito Provincial” (Argentina).

Na Argentina, os responsáveis pelas desnacionalizações da petrolífera YPF e das Aerolineas Argentinas, compradas por empresas espanholas, em dois dos maiores escândalos de corrupção da história do país, tiveram sua impunidade assegurada pela Suprema Corte, onde pontificava António Boggiano, membro da “Opus Dei”.

No Brasil, as pretensões de controle sobre o Judiciário esbarram no poder dos Maçons.

A “Opus Dei” controla, porém, o Tribunal de Justiça de São Paulo através da manipulação de promoções. Segundo fontes do meio jurídico paulista, de 25 a 40% dos juízes de primeira instância no estado pertencem à organização - proporção que se repete entre os promotores, no tribunal, a proporção sobe para 50 a 75%.

Recentemente, o tribunal, em julgamento secreto, decidiu pelo arquivamento de denúncia contra Saulo Castro Abreu Filho, braço direito de Geraldo Alckmin, acusado de organizar grupos de extermínio desde a secretaria de Segurança, e contra dois juízes acusados de participação na montagem desses grupos.

A fusão dos tribunais de Justiça e de Alçada, determinada pela Emenda Constitucional nº 45, foi uma medida da equipe do ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, para reduzir o poder da ‘Obra’ no judiciário paulista, cuja orientação excessivamente conservadora, principalmente em questões criminais e de família, é motivo de alarme entre profissionais da área jurídica.”

FONTE: escrito por Henrique Júdice Magalhães na “Rede Democrática”. Transcrito no portal “Vermelho” (http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=199068&id_secao=6). [Título modificado e pequenos entre colchetes adicionados por este blog 'democracia&política'].

Nenhum comentário:

Postar um comentário