Entrevista com Damaskino Mansour (Arcebispo da Igreja Ortodoxa Síria no Brasil), em Damasco, Síria
“Arcebispo da Igreja Ortodoxa Síria no Brasil diz que é um erro o apoio estrangeiro aos grupos de oposição armados no país árabe.
A comunidade cristã da Síria, cerca de 10% da população do país, se mostra preocupada com a guerra civil no país árabe.
Um de seus principais líderes, o arcebispo do Brasil, Damaskino Mansour, esteve em Damasco este mês após a morte do patriarca da comunidade, Inácio 4º.
Nascido em Damasco há 63 anos e morador de São Paulo desde 1992, Mansour chegou a ser um dos mais cotados como sucessor.
Na Síria, a comunidade cristã sempre teve boa convivência com o regime de Bashar Assad, mas há o temor, atualmente, de que sua substituição por um governo permeado por radicais islâmicos resulte em mais perseguição religiosa.
Enquanto conversava com a “Folha” no escritório da catedral de Santa Maria, os bombardeios eram constantemente audíveis nos bairros adjacentes à Cidade Velha da capital síria.
"Cada explosão me dói na alma", confessa o líder religioso, que sonha com o fim da violência e que evita se pronunciar sobre temas políticos devido ao momento delicado que as autoridades da Síria vivem.
-Folha - Como está Damasco?
Damaskino Mansour - Desde que cheguei, não tive problema algum, mas é perceptível que a situação está muito instável. Nossa esperança é que o mal tenha limites e que a bondade acabe por vencer esta batalha. Não perdemos a esperança.
-Desde o início da revolta contra Bashar Assad, a Igreja vem se mantendo neutra. Como o senhor vê a situação depois de 21 meses de instabilidade na Síria?
Sabemos que a causa principal do problema do país é a ingerência estrangeira, e creio que esse seja um grande erro da parte dos países que apoiam a oposição armada.
Os combatentes que vêm de outros países matam em nome de Deus, mas seu Deus é um Deus da morte, e não da vida.
-Qual será o maior desafio para o próximo Patriarca?
Enfrentar a nova situação do Oriente Médio; as coisas mudaram demais em período muito curto.
-Em que posição ficam os cristãos depois da chamada ‘Primavera Árabe’ em países como a Tunísia, Líbia, Egito e Síria?
Isso a que a imprensa internacional denomina "Primavera Árabe", em minha opinião, deveria começar a ser chamado, claramente, de "destruição árabe".
A primavera é uma estação do ano que traz vida, mas o que vemos ao nosso redor é morte e destruição.
Quanto aos cristãos, embora sejamos minoria nessas sociedades, historicamente desempenhamos papel essencial em países como a Síria, e sofremos como os demais cidadãos. Não se pode fazer distinções em um momento de dor para todos.
-O exemplo do vizinho Iraque, onde ocorreu um êxodo maciço de cristãos, ainda é bastante recente. Será que a comunidade não se sente especialmente perseguida? Não se vê como alvo de grupos extremistas?
Tudo o que está acontecendo me traz à lembrança a experiência iraquiana, mas, como já disse, o sofrimento é de todo o povo, e não exclusivo dos cristãos. Não podemos nos diferenciar em sociedades das quais somos apenas mais uma parte, como qualquer das demais religiões.
Convivemos há milhares de anos, e todos sofremos essa pressão que vem de fora, de terroristas sem coração que chegam à Síria apenas para matar. Aqueles que matam não distinguem os cristãos dos demais, matam os habitantes da Síria, matam sírios.
-O senhor chegou a Damasco há poucos dias. Já se acostumou ao barulho das explosões?
Ninguém se acostuma a isso, e elas me causam muita dor. Antes, havia paz e segurança aqui, e agora estamos em situação difícil. Tenho de confessar que isso me causa medo, mas esperamos que não seja tarde demais para uma solução.
-Como sua comunidade no Brasil acompanha os acontecimentos aqui?
Os ortodoxos formam uma comunidade importante no Brasil. Temos 150 anos de tradição, e nossa história no Brasil começou devido à forte emigração de todo o Oriente Médio para lá no século 19. Hoje, a maioria dos emigrantes tem parentes em Damasco e, especialmente, em Aleppo e em Homs. Para eles, é sofrimento diário, porque as notícias não param de surgir e eles veem como as coisas estão. É uma grande pena para todos.”
FONTE: entrevista com Damaskino Mansour conduzida por Mikel Ayestaran, em colaboração para a “Folha”, em Damasco, Síria. Publicado na “Folha de São Paulo” com tradução de Paulo Migliacci (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/85006-a-primavera-arabe-deveria-ser-chamada-de-destruicao-arabe.shtml). [Imagem do Google adicionada por este blog ‘democracia&política’].
“Arcebispo da Igreja Ortodoxa Síria no Brasil diz que é um erro o apoio estrangeiro aos grupos de oposição armados no país árabe.
A comunidade cristã da Síria, cerca de 10% da população do país, se mostra preocupada com a guerra civil no país árabe.
Um de seus principais líderes, o arcebispo do Brasil, Damaskino Mansour, esteve em Damasco este mês após a morte do patriarca da comunidade, Inácio 4º.
Nascido em Damasco há 63 anos e morador de São Paulo desde 1992, Mansour chegou a ser um dos mais cotados como sucessor.
Na Síria, a comunidade cristã sempre teve boa convivência com o regime de Bashar Assad, mas há o temor, atualmente, de que sua substituição por um governo permeado por radicais islâmicos resulte em mais perseguição religiosa.
Enquanto conversava com a “Folha” no escritório da catedral de Santa Maria, os bombardeios eram constantemente audíveis nos bairros adjacentes à Cidade Velha da capital síria.
"Cada explosão me dói na alma", confessa o líder religioso, que sonha com o fim da violência e que evita se pronunciar sobre temas políticos devido ao momento delicado que as autoridades da Síria vivem.
-Folha - Como está Damasco?
Damaskino Mansour - Desde que cheguei, não tive problema algum, mas é perceptível que a situação está muito instável. Nossa esperança é que o mal tenha limites e que a bondade acabe por vencer esta batalha. Não perdemos a esperança.
-Desde o início da revolta contra Bashar Assad, a Igreja vem se mantendo neutra. Como o senhor vê a situação depois de 21 meses de instabilidade na Síria?
Sabemos que a causa principal do problema do país é a ingerência estrangeira, e creio que esse seja um grande erro da parte dos países que apoiam a oposição armada.
Os combatentes que vêm de outros países matam em nome de Deus, mas seu Deus é um Deus da morte, e não da vida.
-Qual será o maior desafio para o próximo Patriarca?
Enfrentar a nova situação do Oriente Médio; as coisas mudaram demais em período muito curto.
-Em que posição ficam os cristãos depois da chamada ‘Primavera Árabe’ em países como a Tunísia, Líbia, Egito e Síria?
Isso a que a imprensa internacional denomina "Primavera Árabe", em minha opinião, deveria começar a ser chamado, claramente, de "destruição árabe".
A primavera é uma estação do ano que traz vida, mas o que vemos ao nosso redor é morte e destruição.
Quanto aos cristãos, embora sejamos minoria nessas sociedades, historicamente desempenhamos papel essencial em países como a Síria, e sofremos como os demais cidadãos. Não se pode fazer distinções em um momento de dor para todos.
-O exemplo do vizinho Iraque, onde ocorreu um êxodo maciço de cristãos, ainda é bastante recente. Será que a comunidade não se sente especialmente perseguida? Não se vê como alvo de grupos extremistas?
Tudo o que está acontecendo me traz à lembrança a experiência iraquiana, mas, como já disse, o sofrimento é de todo o povo, e não exclusivo dos cristãos. Não podemos nos diferenciar em sociedades das quais somos apenas mais uma parte, como qualquer das demais religiões.
Convivemos há milhares de anos, e todos sofremos essa pressão que vem de fora, de terroristas sem coração que chegam à Síria apenas para matar. Aqueles que matam não distinguem os cristãos dos demais, matam os habitantes da Síria, matam sírios.
-O senhor chegou a Damasco há poucos dias. Já se acostumou ao barulho das explosões?
Ninguém se acostuma a isso, e elas me causam muita dor. Antes, havia paz e segurança aqui, e agora estamos em situação difícil. Tenho de confessar que isso me causa medo, mas esperamos que não seja tarde demais para uma solução.
-Como sua comunidade no Brasil acompanha os acontecimentos aqui?
Os ortodoxos formam uma comunidade importante no Brasil. Temos 150 anos de tradição, e nossa história no Brasil começou devido à forte emigração de todo o Oriente Médio para lá no século 19. Hoje, a maioria dos emigrantes tem parentes em Damasco e, especialmente, em Aleppo e em Homs. Para eles, é sofrimento diário, porque as notícias não param de surgir e eles veem como as coisas estão. É uma grande pena para todos.”
FONTE: entrevista com Damaskino Mansour conduzida por Mikel Ayestaran, em colaboração para a “Folha”, em Damasco, Síria. Publicado na “Folha de São Paulo” com tradução de Paulo Migliacci (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/85006-a-primavera-arabe-deveria-ser-chamada-de-destruicao-arabe.shtml). [Imagem do Google adicionada por este blog ‘democracia&política’].
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