sábado, 19 de janeiro de 2013

A HERANÇA DA CASA GRANDE, por Mino Carta


Atenção! Embora pareça, esta cena não é dos dias de hoje
Por que os super-ricos me incomodam menos do que os seus aspirantes.
O portal “Conversa Afiada reproduz editorial de Mino Carta, na revista “CartaCapital” desta semana:
“Não quero que os ricos chorem, dizia o líder do PSD sueco, Olof Palme, quero é que os pobres riam. Palme, social-democrata autêntico, foi primeiro-ministro e crente denodado da igualdade social. Sublinho autêntico para que não seja confundido com nossos social-democratas de fancaria.
Palme, assassinado por um demente, é um herói de outro tempo, quando a religião do deus mercado ainda não vingara, dois impérios dividiam a terra e as esquerdas da Europa Ocidental contribuíam de forma determinante para o progresso dos seus povos. Não existiam oligarquias financeiras para mandar mais que os governos nacionais, e anátemas eram lançados contra o chamado “capitalismo selvagem”.
É do conhecimento até do mundo mineral que a crise dos dias de hoje foi deflagrada pela aplicação dos mandamentos neoliberais, que ela não poupa o Brasil e que os remédios aviados até agora pelos governos do ex-Primeiro Mundo mostram-se incapazes de combater a origem do mal. Quando não cuidam, abertamente, de proteger quem provocou o desastre, e mesmo de fortalecer-lhe o poder.
Vivemos o tempo dos super-ricos e dos superpobres. A diferença entre uns e outros tornou-se voragem infinda, abismo sem fundo. O Brasil também conta com seus super-ricos, arrolados nas listas anualmente propostas ao espanto global. Essa privilegiadíssima tigrada dispõe de fortunas calculáveis em bilhões e não é fácil entender como se deu essa frenética, desenfreada multiplicação de dinheiro, enquanto bilhões de seres humanos morrem de fome.
Sem pretender parafrasear Olof Palme, eu diria que os super-ricos me incomodam muito menos do que os aspirantes a super-ricos. Medram no Brasil, em diversos patamares da escada social, burgueses e burguesotes de diversos calibres. Classes A e B1, digamos, sem excluir de pronto os anseios recônditos de inúmeros remediados. Pergunto: que ricões, ricos, riquinhos e sonhadores de riqueza são estes?
Algo é certo: não se trata dos burgueses que fizeram a Revolução Industrial e a Revolução Francesa. Do meu modesto ponto de vista, anoto que classe média tem um significado no Brasil e outro em diversos cantos do globo. Claro, existem parâmetros econômicos para medições precisas, embora pareça dilatada demais a separação entre limites mínimo e máximo fixados no Brasil para figurar na categoria.
Coube à burguesia acabar com as monarquias por direito divino e selar de certa forma, e de vez, o fim da antiguidade medieval. A classe média europeia é uma larga maioria que incorporou e alargou os horizontes burgueses, em termos de cultura no sentido mais amplo. Nada disso se aplica ao Brasil, onde a casa-grande e a senzala, ou se quiserem, os sobrados e os mocambos, continuam de pé, ao sabor de uma aparente contemporaneidade que não lhes abranda os efeitos.
A ostentação do luxo é típica de uma herança resistente na ausência de saber e verdadeiro refinamento, dramaticamente compensados por atitudes toscas e mesmo vulgares. Há exceções, mas não passam disso. Não é por acaso que o Brasil conta com um exército de mais de 7 milhões de empregados domésticos. Recorde mundial estabelecido quando há décadas esse gênero de serviçal é cada vez mais raro nos países democraticamente evoluídos. E nem se fale de manobristas, passeadores de cachorros, babás. E assim por diante.
E que dizer da segurança privada, dos soturnos senhores de terno escuro e gravata, escalados para a proteção de patrões em trajes esporte fino, eventualmente de bermudas? Há, mundo afora, senhores graúdos que não dispensam guarda-costas, capangas, jagunços. Não é simples distinguir, porém, quem manda de quem obedece, e este não se perfila à porta de prédios e mansões, de lojas de comércio retumbante ou de restaurantes hoje habilitados a figurar entre os mais caros do planeta.
Sim, o país do futuro é estranhamente obsoleto e continua a pagar caro por três séculos e meio de escravidão.”

6 comentários:

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  2. O Brasil se torna um país decadente antes mesmo de atingir o ápice, é o que percebo. Apesar de não ser muita coisa a minha conformidade, concordo com tudo o que está escrito. As classes médias no Brasil são quase que assaltantes,desavergonhadas,querem aproveitar o momento como se estivéssemos nos últimos dias da existência, fazem de tudo para chegar ao topo e com isso arrastam o restante da sociedade. Não têm uma moral como se pode notar nas classes médias Americanas - EUA, sim - e Européias. Não sou uma pessoa ideologicamente articulada, mas registro o que apreendo do momento em que vivo. Contudo, penso que todo o desregramento em que está mergulhada nossa sociedade tem por objetivo a sua própria dissolução.Chegaremos a tal nível de descontrole que não saberemos mais o que é certo e o que é errado. Já está difícil saber tal a iniquidade reinante e essa situação poderá abrir as portas para duas consequências, no mínimo: 1) A dissolução do País, causando a sua divisão ou 2) A um outro período de ditadura para tentar colocar as coisas no lugar.

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  3. Fluxo,
    Não concordo. Essa "moral" que você admira na classe média norte-americana e europeia é muito discutível. Sobre isso, poderia encher páginas de exemplos. Cito o apoio quase unânime dessa classe média à invasão do Iraque, que causou direta e indiretamente um milhão de mortos. "Moral"? Verdadeiro genocídio! E por pretexto mentiroso (salvar o Mundo das armas atômicas, químicas e biológicas que ameaçavam a Humanidade).
    Essa classe também é vítima da doutrinação da mídia direitista que é braço de escusos grandes interesses financeiros e econômicos internacionais. Os brasileiros também são atingidos por essa doutrinação que, por exemplo, leva você a vislumbrar a dissolução do Brasil ou a volta da ditadura da direita.
    Maria Tereza

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  5. Quando me referi à moral quis dizer o que tange à construção de suas sociedades nacionais, da mesma forma que o artigo se refera à nossa sociedade e não a sua relação com outras sociedades. Vislumbro a divisão ou a volta à ditadura, sim, considerando até que é assim que agem, podendo até citar artigos ora postados que confirmam esse ponto de vista, tal como o de André Vltchek, que não havia lido ao postar o comentário.Voce erra quando fala que admiro, só digo que evitou um descontrole social, tal como vem acontecendo no Brasil. Até o momento, que me lembre, nunca como leitor eventual e não alinhado a qualquer ideologia, postei qualquer idéia defendendo genocídios, intervenções, assassinatos praticados seja por quem quer que seja.

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  6. Fluxo,
    Agora compreendi seus pontos de vista. Creio corretos. Interpretei errado seu primeiro comentário.
    Maria Tereza

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