Por Eduardo Guimarães
“O primeiro e o segundo maiores jornais do país,
entre outros, continuam enveredando por um processo kamikaze em que se recusam
a aceitar a derrota da tentativa que fizeram de criar, antes para Lula e agora
para Dilma, um problema energético como o que se abateu sobre o Brasil durante
o governo Fernando Henrique Cardoso, de triste memória.
Entre sexta e sábado, esses dois veículos
publicaram textos literalmente surreais sobre o tal “racionamento” que depois
reduziram para “apagão” e depois para “apaguinhos”, mas que terminou em
desconto maior nas contas de luz. ‘O Globo’, em editorial, e a ‘Folha de São
Paulo’, na sua seção de cartas de leitores, mostram uma direita à beira da
histeria.
Comecemos por ‘O Globo’. Em editorial em que diz
que Dilma “erra ao explorar energia como
tema político” – veja só, leitor: quem explora politicamente o tema é…
“Dilma”! – o jornal não se limita a tomar partido da oposição, como faz em
qualquer assunto há pelo menos uma década. ‘O Globo’, acredite quem quiser,
elogiou o racionamento de energia de 2001/2002.
Segundo a Wikipedia, porém, “A crise do apagão foi uma
crise nacional ocorrida no Brasil que afetou o fornecimento e distribuição de
energia elétrica” e que foi
causada por “Falta de chuvas, que deixaram várias represas vazias, impossibilitando a
geração de energia, e por falta de planejamento e investimentos em geração de
energia”.
No tópico “causas” (do apagão), a Wikipedia elenca
fatores que ninguém, absolutamente ninguém tem condições de negar, razão pela
qual a tese explicativa sobre por que o país teve que racionar energia
sobreviveu aos filtros políticos da “enciclopédia” eletrônica, que extirpam
dela qualquer referência que não possa ser comprovada.
Conheça, abaixo, as causas, segundo a Wikipedia,
para o Brasil ter tido que racionar energia elétrica durante cerca de oito
meses.
“A crise ocorreu por uma
soma de fatores: as poucas chuvas e a falta de planejamento e ausência de
investimentos em geração e distribuição de energia.
Com a escassez de chuva,
o nível de água dos reservatórios das hidroelétricas baixou e os brasileiros
foram obrigados a racionar energia.
Após toda uma década sem
investimentos na geração e distribuição de energia elétrica no Brasil, um
racionamento de energia foi elaborado às pressas, na passagem de 2000 para
2001.
O governo FHC foi
surpreendido pela necessidade urgente de cortar em 20% o consumo de
eletricidade em quase todo o País (a região sul não participou do racionamento,
tendo em vista que suas represas estavam cheias e houve retomada de
investimentos no setor).
[FHC] Estipulou
benefícios aos consumidores que cumprissem a meta e punições para quem não
conseguisse reduzir seu consumo de luz.
No dia 7 de dezembro de
2001, felizmente choveu às catadupas e o racionamento pôde ser suspenso em 19
de fevereiro de 2002.
Não obstante, segundo os
cálculos do ex-ministro Delfim Netto cada brasileiro perdeu R$ 320 com o apagão
ocorrido no final do governo FHC.
Auditoria do Tribunal de
Contas da União (TCU) publicada em 15 de julho de 2009 mostrou que o apagão
elétrico gerou prejuízo ao Tesouro de R$ 45,2 bilhões.”
Qualquer pessoa minimamente sensata concluirá que o
Brasil passou por um problema terrível que torturou a população por absoluta
falta de capacidade administrativa do governo de turno. Contudo, para o diário
carioca ‘O Globo’, o autor do apagão merece elogios.
Leia, abaixo, trecho do editorial “Dilma erra ao
explorar energia como tema político”.
“Desde as eleições gerais
de 2002, ocorre esse tipo de exploração, pois o PT fez do racionamento um dos
seus principais cavalos de batalha [sic], atribuindo à administração Fernando Henrique Cardoso inteira
responsabilidade pelo que tinha acontecido (embora a mobilização da sociedade
para evitar consequências mais drásticas de uma eventual escassez de energia
elétrica possa ser apontada como uma das iniciativas mais positivas do governo
FH ao fim de seu mandato)”
Só para refrescar sua memória, leitor, lembro que o
racionamento tucano de energia previa pesadas multas para quem não reduzisse em
20% o consumo de energia em casa ou nas empresas e ameaçava com desligamento do
fornecimento quem reincidisse no “crime” de “gastar” mais luz do que o
permitido.
A despeito disso, o jornal diz que a “mobilização da sociedade” que, em
verdade, foi fruto do medo de ficar nos escuro, constituiu-se em “uma das iniciativas mais positivas do
governo FHC”. Ou seja: a falta de
investimentos que causou tantos prejuízos à sociedade não foi negativa, foi
positiva porque o ex-presidente teria feito toda uma nação, alegre e de mãos
dadas, enveredar por um esforço cívico.
Enquanto isso, o mesmo jornal critica o desempenho
energético dos sucessores de FHC, que, segundo o presidente da Empresa de Planejamento
Energético (EPE), Maurício Tolmasquim, fizeram o país chegar, em fins de 2011,
com o Sistema Interligado Nacional
(SIN) superando 105 mil MW, instalados em hidrelétricas (77%), termelétricas e
fontes alternativas.
O número acima, isolado, não quer dizer muito sem a
informação de que a demanda por energia, naquele ano, foi de 56.000 MW médios.
Ou seja: os investimentos dos governos
Lula e Dilma nos tiraram de uma situação em que só produzíamos 80% da energia
de que precisávamos para uma situação em que produzimos quase o dobro de nossas
necessidades.
Registre-se que ‘O Globo’ faz cortesia para FHC com
o chapéu alheio, ou seja, do povo, pois a economia compulsória que este teve
que fazer não se deveu a FHC, mas às ameaças de represálias do governo tucano a
quem não economizasse.
Todavia, mais engraçadas são as seções de cartas de
leitores dos jornais oposicionistas. Na ‘Folha de São Paulo’, por exemplo,
esses leitores, na contramão do sentimento nacional de júbilo com o forte
alívio nas contas de luz, praticamente pedem que elas continuem caras,
demonstrando amplo desconhecimento sobre a real situação energética do país.
Vale a pena ler e rir, já que chorar não adianta.
“Folha de São Paulo
26 de janeiro de 2013
Painel do Leitor
Energia
Atenção, presidenta
Dilma, eu não quero desconto na conta de luz. Quero é ter luz todos os dias, o
que já não acontece e só vai piorar se o seu governo sucatear as hidrelétricas
para obter essa redução de tarifa. Já fico sem luz com demasiada frequência.
Como será agora? Não sou pessimista nem do contra, só quero pagar para ter o
que eu preciso.
FERNANDA MADUENO (São
Paulo, SP)
Ao garantir energia
elétrica a todos e com desconto, sem mostrar claramente como efetivar essa
promessa, o governo parece estar fazendo “gambiarras” financeiras e “gatos”
técnicos.
CARLOS GASPAR (São Paulo,
SP)”
Não deve ter sido fácil a ‘Folha’ encontrar essas
duas peças raras que querem pagar mais caro pela energia elétrica. Uma delas,
fica sem luz com freqüência. A tal senhora Fernanda por certo desconhece que
quedas de energia que sofre devem ser cobradas do governo do Estado, que não
fiscaliza o cabeamento pela cidade, que se rompe toda vez que chove.
Agora, o impressionante é que as únicas duas
manifestações de leitores que a ‘Folha’ publicou vêm de um microcosmo da
sociedade que, ao contrário da quase totalidade dela, não deve ter onde enfiar
seu rico dinheirinho e, portanto, quer doá-lo a concessionárias que cobram
preços entre os mais altos do mundo justo no país com maior potencial de
geração de energia.
Essa é a realidade paralela em que vive uma
elitezinha minúscula, egoísta, pervertida, sonegadora, racista e, acima de
tudo, golpista que infecta o Brasil. Eis por que insisto com a presidente Dilma
que faculte às empresas geradoras e distribuidoras de energia elétrica poderem
oferecer aos seus clientes a opção de pagarem mais caro pela energia.”
FONTE: escrito por Eduardo Guimarães em seu
blog “Cidadania” (http://www.blogdacidadania.com.br/2013/01/globo-elogia-apagao-de-fhc-e-leitores-da-folha-pedem-luz-cara-2/).
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirFluxo,
ResponderExcluirTenho certeza de que o atual governo não consegue fazer pior do que o governo FHC/PSDB/DEM. No ano do apagão, por coincidência, mudei-me para o RJ, para um apt que estava sem uso. Assim, as contas anteriores mensais de consumo de eletricidade do apt. eram mínimas. O governo federal estabeleceu, como limite, um percentual dessa média anterior, sob ameaça de corte total da luz. Esse meu consumo autorizado mal dava para usar uma geladeira. Requeri revisão do meu limite, sem êxito. Preparei requerimento ao governo francês, pois o governo FHC havia "vendido" (doado) a Light do RJ para uma estatal francesa (EDF). Vergonha. Duvido que haja governo mais incompetente, antinacional e protetor dos grandes grupos financeiros e econômicos estrangeiros do que aquele.
Maria Tereza
Lembro-me que a essa época (FHC) já havia substituído todas as lâmpadas pelas lâmpadas eletrônicas, com a finalidade de economizar energia, contudo, tive que suportar um aumento de cerca de 30% (trinta por cento na conta), o que foi bom para o Estado,porque recolheu mais impostos e para as companhias de geração e distribuição, que aumentaram o seu faturamento. A queda no faturamento das empresas e dos cofres do governo se deveu a que a sociedade passou a economizar energia elétrica.
ResponderExcluirNa atualidade, da mesma forma sairemos prejudicados, apesar da queda do preço. O Governo já deu, antecipadamente, aumento superior ao dobro da inflação, tendo como resultado duas consequências, no mínimo: 1) Aumento do faturamento das empresas 2) Aumento do recolhimento dos tributos como consequência do primeiro. Assim, o Estado transfere renda para as empresas, pois dentro de dois ou três anos o desconto ora dado será plenamente recuperado e aumentado de forma significativa o faturamento das empresas, seus lucros e o pagamento de tributos. Concluindo, quando o Governo oferece alguma coisa com a mão esquerda,podemos ter certeza que retirará com a esquerda, com a direta e com a ajuda dos empresários. Sabemos de antemão que parte do lucro obtido será enviado ao exterior.
Maria Teresa, concordo no que tange ao FHC, contudo, parece-me que a atual política só corrobora a iniciada naquele governo, pois o consumidor acaba financiando, COM A AJUDA dos Governos os investimentos das empresas, quando deveriam ser aportados capitais das matrizes ao País, bem como do lucro originário da atividade econômica. Assim, menos capital seria enviado ao exterior, permanecendo aqui dentro. Entretanto, como sabemos, os países-sede das matrizes estão em dificuldades econômicas, cabendo a nós, ricos países, financiarmos/capitalizarmos, com a mão amiga do Estado, essas empresas. Vide o exemplo da GM que ao vencer a isenção do IPI já pensa em despedir centenas de empregados, quando em passado recente foi a única do grupo a ter lucro.Concluindo, geramos lucro para que sejam enviados ao exterior e cobrir parte do rombo que eles próprios provocaram em suas economias. Realmente, é o NEOCOLONIALISMO, não restando dúvidas.
Fluxo,
ResponderExcluirConcordo. Realmente, é muito difícil o Brasil e outros países periféricos saírem desse neocolonialismo, que aqui se enraizou muito mais profundo nos tristes anos "neoliberais". A saída tem que ser com iniciativas muito sutis. Caso contrário, enfrentaremos forte reação contrária, até golpes, de toda a mídia, partidos da direita (PSDB, DEM, PPS) e até de setores da Justiça (PGR, STF) afins com os interesses dos grandes conglomerados financeiros e econômicos das grandes potências.
Maria Tereza