sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

LIÇÕES DE CHÁVEZ


Por Beto Almeida


“Desde que foi eleito em 1998, o presidente Hugo Chávez vem estimulando uma série de debates, seja em razão das amplas transformações sociais que promove na Venezuela, seja em razão do medo pânico que causa nos governos imperiais e nas oligarquias de cada país, vassalas e zeladoras dos interesses desse imperialismo em cada país. Certamente, sobre cada um desses aspectos é possível retirar profundas lições.

No caso brasileiro, a mídia do capital que jamais se preocupou em oferecer um mínimo de informação objetiva sobre as mudanças em curso na Venezuela, agora, em razão do infortúnio da enfermidade de Chávez, essa mídia supera-se. Promove uma comunicação necrológica, havendo, inclusive, comentarista de veículos das “Organizações Globo”, que chega mesmo ao grotesco de torcer pela desaparição do mandatário venezuelano.

Sobre isso, devemos tirar lições, seja aquelas amargas , a partir do comportamento medieval da mídia empresarial sobre a trágica enfermidade de Chávez, enfermidade que, óbvio, pode alcançar a qualquer um de nós, mas também sobre o que esse mandatário já realizou mudando a face de seu país e ajudando a mudar a face da América Latina.

Por um lado, fica claro que, para aqueles comentaristas globais, a ideologia está por cima de qualquer conceito básico de humanidade ou solidariedade, que sustentariam desejos de restabelecimento e de superação deste azar pessoal. Mas, o que se observa é ainda mais grave: para além do desejo pessoal da morte alheia, as concessões de serviço público de radiodifusão estão a ser utilizadas para a propagação desses desejos mórbidos em grande escala de difusão, violando a Constituição Brasileira, que, em seu artigo 221, estabelece como princípio a ser observado, “o respeito aos valores éticos e sociais, da pessoa e da família”, sem qualquer manifestação da autoridade responsável. É como se fosse autorizado aos concessionários de serviços públicos de abastecimento de água distribuir água contaminada e suja à sociedade.

PARA QUE SERVE A MÍDIA?

Será que isso estaria se tornando uma tendência? Há alguns meses, quando cientistas iranianos foram assassinados em atentados que, segundo o noticiário da época, teriam sido organizados por comandos israelenses, - os mesmos que assumem agora terem participado na eliminação de Yasser Arafat - num programa televisivo, “Manhattan Conexion”, também veiculado por empresa das “Organizações Globo”, comentaristas chegaram a defender que aqueles cientistas iranianos mereciam mesmo ser assassinados. Apologia do homicídio!

Tanto num caso, como em outro, Venezuela e Irã são países com os quais o Brasil possui relações de amizade e cooperação, aliás crescentes, em benefício mútuo notório. Qual seria a reação do Itamaraty, do Governo Federal, caso emissoras de TV da Venezuela ou do Irã passassem a hostilizar autoridades brasileiras, e, chegassem a torcer pela reincidência do câncer em Dilma ou em Lula, e para que eles não resistissem? Ou se essas emissoras defendessem a morte de cientistas brasileiros, pois, como sabemos, o Brasil também possui - de modo soberano - seu próprio programa nuclear, como EUA, Rússia, China, Israel e Irã?

Para que servem os meios de comunicação social, afinal de contas? Para hostilizar e desejar o pior, de modo incivilizado, embrutecido, desumano e antidemocrático, a personalidades de outros países, com o que se desrespeitam povos com os quais temos relações de cooperação e amizade? Será mesmo admissível que concessões de serviço público sejam utilizadas para insuflar, propagandear e celebrar o desejo de morte de seres humanos, simplesmente por não comungar de suas ideias? Essa prática não seria equiparável àquelas que Goebels denominava de “razões propagandísticas”, e que precederam os ataques nazistas a outros povos?

ESTRANHO “DITADOR”

As notas que a mídia brasileira divulgam sobre Hugo Chávez atentam contra a prática basilar do jornalismo. Críticas e discordâncias são absolutamente normais e devem ser praticadas. Mas, desinformação, distorção e inverdades grotescas são atributos rigorosamente alheios ao jornalismo.

Um dos aspectos mais utilizados nessa cruzada midiática de anos é a tentativa de rotular Hugo Chávez como “ditador”. Estranho “ditador” esse que chegou ao poder pelas urnas e, em 14 anos, promoveu 16 eleições, referendos e plebiscitos, dos quais venceu 15 pelo voto popular e respeitou, democraticamente, o resultado do único pleito em que não foi vencedor. Estranhíssimo “ditador” esse Chávez que introduziu na Constituição Bolivariana - ela também referendada pelo voto popular - o mecanismo da revogabilidade de mandatos, utilizado pela oposição que, no entanto, não conseguiu a vitória nas urnas.

AUDITORIA ELEITORAL

Na Venezuela, para dar ainda mais segurança às eleições, essas não são julgadas pela mesma autoridade que as organiza. Além disso, as urnas possuem mecanismo de impressão do voto, possibilitando ao eleitor conferir se o voto que teclou foi realmente o voto registrado pelo computador. De posse desse voto impresso, o eleitor, no mesmo momento da votação, o deposita em urna anexo. Isso possibilita que haja plena auditoria do voto, o que não ocorre no Brasil, onde, conforme já demonstraram especialistas da UnB, as urnas eletrônicas são vulneráveis à interferência externa sobre seus programas, além do que, não existe a possibilidade do voto material em papel para eventual necessidade de recontagem.

Estranho “ditador” esse Chávez, que ampliou a segurança eleitoral dos cidadãos, lembrando que lá na Venezuela o voto não é obrigatório, tendo sido registrada, na eleição de outubro de 2012, participação superior a 86 por cento do colégio eleitoral. O revelador aqui é que as “Organizações Globo”, tão empenhada em rejeitar e criticar a democracia venezuelana, é aquela que apoiou o a supressão do voto popular no Golpe de 1964, apoiou a “Proconsult” contra a eleição de Brizola em 1982 e foi contra a “Campanha Diretas-Já”, em 1984, uma das mais belas páginas da consciência democrática do povo Brasil. E, ainda hoje, a Globo insiste em difamar e combater a instituição do voto impresso na urna eletrônica brasileira, cuja vulnerabilidade tem lhe causado a rejeição por mais de 40 países, exceção para o Paraguai, a quem o TSE regalou tais equipamentos......

POVO IGNORANTE?

Esses comentaristas da “Globo” tentam passar a imagem de que a Venezuela é um país de atraso cultural, para o que se valem , novamente, do expediente corriqueiro da desinformação massificada, repetida sistematicamente. Vamos aos fatos: enquanto a Venezuela já foi declarada oficialmente, pela UNESCO, como “Território Livre do Analfabetismo”, o Brasil ainda não tem sequer uma meta segura para erradicar esta mazela social, apesar de terem nascido aqui os geniais Anísio Teixeira, Darcy Ribeiro e Paulo Freire. Lá, para a erradicação do analfabetismo, além da utilização de um método super- revolucionário elaborado em Cuba, o “Yo Si Puedo”, houve tremenda mobilização do governo, das massas, das instituições, mas também dos meios de comunicação públicos, que, existem, informam e possuem uma programação cultural educativa elevada, ao contrário daqueles sintonizados com os ditames prepotentes do “Consenso de Washington”.

Aliás, vale lembrar que foi exatamente por meio desse método que o Deputado Tiririca foi alfabetizado em prazos relâmpagos e foi capaz superar as ameaças elitistas da autoridade eleitoral que lhe queria cassar o mandato. Tiririca aprendeu a ler e escrever em poucas semanas. Como também foram alfabetizados campesinos, índios, povo pobre na Venezuela, na Bolívia e no Equador. Em breve, será a Nicarágua a ser declarada também, oficialmente, pela UNESCO, “Território Livre do Analfabetismo”.

Como contraponto, vale lembrar que o programa “Telecurso Segundo Grau”, produzido pela “Fundação Roberto Marinho”, é exibido em horário da madrugada pelas emissoras que empregam esses comentaristas, apesar dos volumosos recursos públicos despendidos para a sua produção e veiculação. A escolha do horário é apenas demonstração da baixa preocupação e vontade dos concessionários de serviços públicos de radiodifusão em contribuir para a elevação do nível educacional e cultural do nosso povo. Contrariando a Constituição.

O QUE É NOTÍCIA?

Aqueles comentaristas são incapazes de informar sobre tudo isso, bem como sobre o papel dirigente de Hugo Chávez ao formar com esses países e outros a ALBA – “Aliança Bolivariana para o Progresso”, numa iniciativa em que colocou o petróleo com instrumento da elevação das condições de vida não apenas dos venezuelanos, mas também do progresso social conjunto desses povos. A isso chamam de “ingerência”, trocando solidariedade por intromissão. Graças aos recursos do petróleo, milhares de latino-americanos estão recuperando a plena visão, por meio de cirurgias gratuitas realizadas pela “Operación Milagro”, um esforço comum entre Cuba e Venezuela. Essa operação humanitária, jamais divulgada adequadamente pelas “Organizações Globo”, nasce quando a OPAS alertou para a possibilidade de que, pelo menos, 500 mil latino-americanos perdessem a visão à curto prazo, vítimas de catarata, uma tragédia perfeitamente evitável. As cirurgias são feitas tanto em Cuba, como na Venezuela, e agora também na Bolívia, no Equador, seja por médicos cubanos, ou locais. Isso não se informa, mas um dia destes fiquei tomei conhecimento, pelo “Jornal Nacional”, da edificante informação de que a esposa do Príncipe Willians, a tal duquesa de Cambridge, está sofrendo muito enjoo na sua gravidez. Cuba e Venezuela decidiram operar 6 milhões de latino-americanos, gratuitamente, em 10 anos. O que é notícia?

ÍNDIOS LÊEM “CEM ANOS DE SOLIDÃO”

Aí temos outra lição de Chávez: depois de erradicar o analfabetismo, Chávez criou a “Universidade Bolivariana”, pública e gratuita, a “Universidade das Forças Armadas”, e um programa para elevar a taxa de leitura do povo venezuelano. Por meio desse programa, foram editados, dando apenas alguns exemplos, a obra “Dom Quixote”, com tiragem de 1 milhão de exemplares que foram distribuídos gratuitamente nas praças públicas; e também a obra “Contos”, da Machado de Assis, pelo mesmo programa, com tiragem de 300 mil exemplares, tiragem que o genial escritor do Cosme Velho jamais mereceu aqui no Brasil, onde não apenas o analfabetismo persiste, mas a tiragem padrão de nossa indústria editorial arrasta-se na melancólica marca de 3 mil exemplares. Além disso, algumas tribos indígenas da Amazônia venezuelana, que, até Chávez, ainda desconheciam a escrita, já tiveram seu idioma sistematizado, e, como primeira obra publicada no novo sistema de escritura, tiveram o belíssimo “Cem Anos de Solidão”, de Gabriel Garcia Marquez. No entanto, apesar de tudo isso, para esses comentaristas da “Globo”, que agridem Chávez no leito de um hospital, na Venezuela há um “povo ignorante”, dirigido por um “ditador”.... 

Como explicar, então, a realização dessas mudanças marcantes? Vale contar um caso: o senador Cristovam Buarque, ex-Ministro da Educação de Lula, foi à Venezuela para a solenidade de Declaração de Território Livre do Analfabetismo. Escreveu num papelucho um endereço e saiu pelas ruas perguntando ao acaso aos transeuntes, que lhe orientassem como chegar ao destino marcado. “Falei com pessoas indistintamente, camelôs, donas-de-casa, jovens ou não, ninguém me disse que não sabia ler e davam a informação”, contou. São as lições de Chávez que a “Globo” não possui aptidão para aprender....

PETRÓLEO A PREÇO DE ÁGUA

Antes de Chávez, quando 80 por cento dos venezuelanos viviam na miséria absoluta, o petróleo era regalado aos EUA, enquanto a burguesia local era conhecida por ser a maior consumidora de champanhe do mundo, depois da francesa, e pela elevadíssima importação de caviar para pequenos círculos oligarcas. Eleito, Chávez cumpriu promessa de campanha de acabar com a farra imperialista com o petróleo venezuelano regalado. Recuperou gradativamente o controle sobre a PDVSA e também fez uma cruzada internacional para acordar a OPEP de seu sonho colonizado. Na época, o preço do petróleo estava em 7 dólares o barril - ou seja, muito mais barato que água mineral ou Coca-Cola - e hoje, avança pela casa dos 100 dólares. Eis a razão do ódio dos EUA a Chávez.

EVITA PERÓN E VARGAS

Esse ódio imperial se expressa como uma ordem, uma sentença de morte, dada pelos falcões norte-americanos para que seja alcançada, por meio do câncer, aquela meta mórbida contra qualquer mandatário que não seja talhado para vassalagem, para submissão. Não é a primeira vez na história que isso ocorre. Quando Evita Perón foi acometida por um câncer, esse jornalismo mortífero se expressou sem qualquer escrúpulo. O ódio que os círculos imperiais nutriram por Evita fez com que ele saltasse das páginas da imprensa portenha para os muros de Buenos Aires, nos quais a oligarquia festejava sua podridão moral escrevendo “Viva el Câncer!”. Os imperialistas jamais perdoaram Evita por ter armado os trabalhadores da CGT para resistir aos golpes que frequentemente se organizavam contra Perón. Chegou mesmo a advertir Perón, que lhe criticou pela distribuição de armas, da qual ela nunca se arrependeu, que ele estava preparando as condições - desmobilizando os trabalhadores - para não ter capacidade de resistir ao golpe, que chegou em 1955, 3 anos depois da morte de Evita. Ela bem que avisou.

Depois, foi contra Getúlio Vargas, quando sua saída da vida para entrar na história foi comemorada em círculos manipulados pelo capital externo, que não suportavam a criação da estatal Petrobrás, dos direitos laborais inscritos na CLT e da lei da remessa de lucros ao exterior. Não por acaso, o povo expressou sua tristeza e sua fúria, pranteando Vargas, mas também empastelando os símbolos daquele ódio contra o popular presidente, entre os quais os jornais “Tribuna da Imprensa”, “Globo”, e, até mesmo do jornal do PCB, “Tribuna Popular”, que no dia do suicídio de Vargas trazia desorientada entrevista de Prestes pedindo sua renúncia. Assustados e envergonhados, os dirigentes comunistas recolhiam os exemplares do jornal que ainda estavam nas bancas. Mas, não tiraram conclusões históricas do porquê também foram alvo da fúria popular contra seus inimigos, sobretudo porque Vargas havia convidado Prestes para ser o chefe militar da Revolução de 30, aquela que, em apenas 24 horas, alistou mais de 20 mil voluntários para pegar em armas e combater a República Velha. Prestes, inicialmente, aceitou o convite, mas a ordem stalinista foi para que se afastasse de Vargas, enquanto que, na mesma época, em sentido contrário, Leon Trotsky escrevera que tanto Vargas como o mexicano Cárdenas eram expressão de um bonapartismo sui generis, com potencial revolucionário, e que deveriam receber o apoio tático dos revolucionários.

O LEVANTE DE 4 DE FEVEREIRO DE 1992

Processos revolucionários começam sob formas mais inesperadas, normalmente com rupturas da legalidade instituída quando esta acoberta iniquidades, sob a forma de insurreições, armadas ou não. A partir das revoluções, outra legalidade é constituída. Assim foi a Revolução de 30. Assim havia sido a Revolução Francesa, Assim foi a revolução em Cuba, na Nicarágua ou na Argélia. A Revolução Iraniana, por exemplo, desde 1979, de quatro em quatro anos promove eleições diretas, o que ainda não foi conquistado pelo povo dos EUA, onde o voto é indireto e apenas os candidatos que podem pagar aparecem na mídia para defenderem suas ideias. A “Revolução Bolivariana” começa com um levante insurreicional - o 4 de fevereiro de 1992 - destinado a convocar uma Assembleia Nacional Constituinte, cujo objetivo era retirar a Venezuela da condição de colônia petroleira. Evidentemente, os comentaristas que seguem orientação imperial não suportam qualquer forma de rebeldia contra hegemonias colonizadoras. Na prisão, Chávez se transforma no homem mais popular da Venezuela, aquele capaz de traduzir e promover a identidade de seu povo com a sua história, com Bolívar, com a sua identidade cultural, sua mestiçagem negra e índia, como são os venezuelanos.

A Revolução Bolivariana começa com um levante armado e transforma-se em processo institucional por meio da aprovação do voto popular. Mas, diante das constantes ameaças golpistas imperiais e também das provocações desestabilizadoras da oligarquia, Chávez mesmo declarou que “esta é uma revolução pacífica, pero armada” , como a expressar a consciência do golpismo que sempre esmagou processos democráticos de transformação social na América Latina. Não lhe sai da lembrança que Allende morreu de metralhadora na mão...

JORNALISMO DE DESINTEGRAÇÃO

As lições de Chávez estão aí aos olhos do mundo, mesmo que essa mídia golpista, praticando o mais vulgar jornalismo de desintegração, queira ocultar. A parceria Brasil-Venezuela multiplicou em mais de 500 por cento o comércio bilateral em poucos anos e hoje estão atuando na pátria de Ali Primera a Embrapa, a Caixa Econômica e muitas empresas brasileiras. Realizam obras de infraestrutura indispensáveis para que o país dê um salto em seu desenvolvimento, o que sempre foi sabotado pelas oligarquias do período pré-Chávez. Agora, Venezuela constrói ferrovias, metrôs, teleféricos, estradas, hidrelétricas, pontes, e a participação brasileira nisso, com financiamento estatal, via BNDES, traduz bem o pensamento de Lula de que integração significa “todos os países crescendo juntos”. Os comentaristas da “Globo” não informam nada disso, até porque apoiaram quando o Brasil, na era da privataria neoliberal, demoliu um terço de suas ferrovias, além de ter destruído sua indústria naval, que agora, recuperada, tem inclusive 27 encomendas para a construção de navios petroleiros da PDVSA, a serem feitos aqui.

SOLIDÃO DO UNIFORME

Além da integração, Chávez recuperou para o centro do debate o conceito de socialismo, além de propor a organização de uma nova Internacional, indignando-se com a cruzada da morte que o imperialismo organizou contra o Iraque, a Líbia e também contra Síria. Muito longe de resolver o desemprego galopante que assola a França, o governo de Hollande lança-se em mais uma empreitada imperial contra. Só sabem guerrar. Chávez recupera o debate sobre uma nova função social para os militares, retirando-os da solidão do uniforme, unindo-os ao povo e às causas mais preciosas para viver com dignidade, com soberania e como democracia e justiça social. Recuperou, até mesmo, a função histórica do General José Ignácio de Abreu e Lima, pernambucano que lutou ao lado de Bolívar e que foi o primeiro a escrever sobre “O Socialismo” na América Latina, o que, em boa medida era desconhecido até mesmo pelas esquerdas brasileiras. Hoje, os militares venezuelanos cumprem função libertadora e resgatam a função das correntes militares progressistas e anti-imperialistas na história e seus representantes como Velasco Alvarado, Torres, Torrijos, Perón, Prestes, Nasser, Tito, a Revolução dos Cravos.....São lições de Chávez.

Os comunicadores que ignoram os fatos objetivos alardeiam a existência de desabastecimento alimentar quando a UNICEF comprova que a Venezuela teve reduzida, drasticamente, a desnutrição e sua mortalidade infantil. O que há é boicote da indústria alimentar, o que levou o governo a montar uma rede estatal de mercados, fixos e móveis, que chegam a vender alimentos ao povo a preços até 70 por cento mais baratos, já que supera a especulação dos oligopólios. Na semana que passou, as autoridades venezuelanas confiscaram 3 mil toneladas de alimentos que estavam escondidos pelos oligopólios, numa operação casada com a mídia para fazer a campanha de que “falta alimento”, operação da qual participam, vergonhosamente, os comentaristas globais e sua grotesca desinformação. Segundo estatísticas da FAO, o consumo de alimentos na Venezuela aumentou em 96 por cento no período de 2001 a 2011, “Era Chávez”, enquanto a CEPAL atesta que esse país é hoje o menos desigual da América Latina, além de pagar o maior salário mínimo do continente, o equivalente a 2440 reais, informação que a “Globo” jamais noticiará.

MST, SEM VENENO

Antes de Chávez, a Venezuela não possuía economia agrícola, ou melhor, tinha apenas uma “agricultura de portos”. Todo alimento era importado, até alface vinha de avião de Miami. Hoje, o país, graças à integração e à cooperação promovidas incansavelmente por Chávez, já tem uma pecuária leiteira, já produz metade do arroz que consome e recebeu até a solidariedade do MST que lhe doou toneladas de sementes criollas de soja não transgênica. Aliás, Chávez organizou convênio com o MST, o então governador Roberto Requião e a Universidade Federal do Paraná para montar escolas de agroecologia aqui no Brasil, abertas à participação de estudantes de toda a América Latina.

JORNAIS POPULARES E DIVERSIDADE

Essas são algumas das generosas lições de Chávez, atacado pela “Globo” daqui, como pela de lá, exatamente porque existe plena liberdade de imprensa na Venezuela. Ou, como disse Lula, “o problema da Venezuela é excesso de democracia”. Vale contar episódio de jornalista brasileira que, antes de viajar para lá, me perguntou como poderia ter acesso à imprensa não controlada pelo governo, segundo frisou. Eu lhe disse, vá às bancas de jornal. Ela desconfiou, mas foi. E me contou: “pedi ao jornaleiro imprensa de oposição ao Chávez. Ele apontou para toda a sua banca e disse-me. minha filha, isso aí tudo é contra o governo, que poderia escolher á vontade”, relatou-me surpreendida. A diferença é que essas grosseiras distorções e manipulações que se lançam aqui contra Chávez lá têm respostas, pois foi constituído um sistema público de comunicação, inclusive com jornais populares distribuídos gratuitamente ao povo nos metrôs e rodoviárias, o que ainda não temos aqui. O povo brasileiro eleva seu padrão de consumo, mas não tem um jornal com o qual possa dialogar e refletir sobre as mudanças sociais em curso aqui. Continua “dialogando” com as xuxas da vida....

CAMINHANDO E CANTANDO E SEGUINDO A LIÇÃO....

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