Mídia da direita
“Sob o ataque de ‘Sistema Globo’ e ‘Abril’, o Estado brasileiro capitula, apostando numa segunda onda de privatização. Assim como fez com as tarifas públicas a partir dos anos 70, reduzem-se receitas públicas preparando o segundo passo da redução dos gastos.
Por J. Carlos de Assis
Diz o provérbio romano que Júpiter enlouquece aqueles a quem quer perder. O Estado brasileiro está se deixando perder desde a segunda metade dos anos 70, quando um incipiente programa de privatização tomou a forma de dilapidação das empresas estatais mediante o sistemático rebaixamento de suas tarifas e preços sob o pretexto de combater a inflação. Entre 1975 e 1987, as tarifas elétricas tiveram queda real de 33%, no setor siderúrgico de 40%, na telefonia de 54%, nos Correios de 37%, no ferroviário de 13%. Não haveria receita que poderia suportar isso.
Esses dados, originalmente colhidos por Paulo Galletta, estão transcritos no meu livro “Análise da Crise Brasileira”, 1988, Forense. Depois de 1987, a situação apenas piorou. As estatais seriam estigmatizadas como incompetentes e de baixa produtividade, não obstante o contra-exemplo da Vale do Rio Doce, da Petrobrás, da Eletrobrás, da Embrapa, e também da Telebrás, que chegou a desenvolver tecnologia própria, genuinamente brasileira, em seu centro de pesquisa em São Paulo. Controlar e esmagar seus preços foram a forma de forçar a privatização.
Bem, convenhamos que certos setores industriais (aço) e certos serviços públicos (telecomunicações) podem perfeitamente ser comandados pelo setor privado. Esses, na verdade, representam um filé extraordinário, pois significa fluxo de caixa bilhões de reais provenientes de uma grande parte da população servida por monopólios e oligopólios, com fraca regulamentação. Mas há os setores estratégicos como os citados acima (Telebrás à parte) que ou foram privatizados por razões ideológicas (Vale) ou foram privatizadas na margem (Petrobras).
No setor elétrico, não fora o racionamento de 2001, as grandes geradoras teriam sido privatizadas sem qualquer justificava estratégica, econômica ou moral. Se isso tivesse acontecido, a presidenta Dilma não teria como implementar a recente redução das tarifas na ponta.
Esses dados, originalmente colhidos por Paulo Galletta, estão transcritos no meu livro “Análise da Crise Brasileira”, 1988, Forense. Depois de 1987, a situação apenas piorou. As estatais seriam estigmatizadas como incompetentes e de baixa produtividade, não obstante o contra-exemplo da Vale do Rio Doce, da Petrobrás, da Eletrobrás, da Embrapa, e também da Telebrás, que chegou a desenvolver tecnologia própria, genuinamente brasileira, em seu centro de pesquisa em São Paulo. Controlar e esmagar seus preços foram a forma de forçar a privatização.
Bem, convenhamos que certos setores industriais (aço) e certos serviços públicos (telecomunicações) podem perfeitamente ser comandados pelo setor privado. Esses, na verdade, representam um filé extraordinário, pois significa fluxo de caixa bilhões de reais provenientes de uma grande parte da população servida por monopólios e oligopólios, com fraca regulamentação. Mas há os setores estratégicos como os citados acima (Telebrás à parte) que ou foram privatizados por razões ideológicas (Vale) ou foram privatizadas na margem (Petrobras).
No setor elétrico, não fora o racionamento de 2001, as grandes geradoras teriam sido privatizadas sem qualquer justificava estratégica, econômica ou moral. Se isso tivesse acontecido, a presidenta Dilma não teria como implementar a recente redução das tarifas na ponta.
Na área da Petrobrás, se o governo não tivesse preservado o controle do capital da empresa não poderia implementar um programa de investimentos no pré-sal vital para o desenvolvimento do país. É que os acionistas privados, apoiados pela grande mídia, querem lucros imediatos, não investimentos.
Acontece que uma segunda frente de ataque ao setor público, agora não apenas o setor público indireto, mas também o direto, vem escalando no Brasil na forma de tentativa de desmonte da arrecadação tributária. São as campanhas contra os impostos lideradas pela FIESP e federações do comércio sob o argumento de que o Brasil teria uma das cargas tributárias mais elevadas do mundo. Isso é falso, como é falsa a ideia de que temos um elevado custo trabalhista – alegação de que se deveria envergonhar à vista dos salários médios brasileiros.
É falso também dizer que não temos uma estrutura de serviços públicos compatível com a carga tributária. Esse mantra tornou-se comum entre os próprios usuários ou beneficiários dos serviços públicos, como os mais de 28 milhões de aposentados e pensionistas, os mais de 300 milhões de usuários do SUS, os milhões de alunos e professores das redes públicas de educação, assim como de dezenas de outros serviços de massa atendidos pelo Estado. É claro que a qualidade ainda deixa a desejar. Contudo, ela não é tão ruim como mostra a TV em casos isolados.
Acontece que uma segunda frente de ataque ao setor público, agora não apenas o setor público indireto, mas também o direto, vem escalando no Brasil na forma de tentativa de desmonte da arrecadação tributária. São as campanhas contra os impostos lideradas pela FIESP e federações do comércio sob o argumento de que o Brasil teria uma das cargas tributárias mais elevadas do mundo. Isso é falso, como é falsa a ideia de que temos um elevado custo trabalhista – alegação de que se deveria envergonhar à vista dos salários médios brasileiros.
É falso também dizer que não temos uma estrutura de serviços públicos compatível com a carga tributária. Esse mantra tornou-se comum entre os próprios usuários ou beneficiários dos serviços públicos, como os mais de 28 milhões de aposentados e pensionistas, os mais de 300 milhões de usuários do SUS, os milhões de alunos e professores das redes públicas de educação, assim como de dezenas de outros serviços de massa atendidos pelo Estado. É claro que a qualidade ainda deixa a desejar. Contudo, ela não é tão ruim como mostra a TV em casos isolados.
Entretanto, a mídia enlouqueceu o Estado. Sob o ataque simultâneo do “Sistema Globo” e da “Abril”, que não se conformam por ter alguns interesses marginais atingidos na relação com o governo, o Estado nada explica e nada informa à população, talvez confiando na boa fé da grande mídia. Mais do que isso: ele capitula aos ataques, preparando, ele próprio, uma segunda onda de privatização. De fato, assim como fez com as tarifas públicas a partir dos anos 70, o Estado está reduzindo receitas públicas, preparando o segundo passo inevitável da redução dos gastos.
Já defendi aqui as PPP como instrumento de construção de grandes obras públicas no setor logístico. Contudo, PPP não pode resolver todo o problema logístico brasileiro: em muitas áreas é essencial o investimento a fundo perdido diretamente pelo Estado. Não obstante, o governo zerou a CIDE (Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico), que é o imposto vinculado a obras de logística. Isso tirou toda a segurança do setor de construção sobre um fluxo de caixa seguro para financiamento de obras rodoviárias e ferroviárias.
Mas há algo ainda pior: consciente ou inconscientemente, os órgãos de controle (TCU, Ministério Público, IBAMA, arqueólogos, índios, quilombolas) estão destruindo a capacidade do Estado de realizar grandes obras públicas. Não que não deva haver controles; contudo, os controles devem seguir um protocolo mínimo de ação coordenada para não impedir as obras. É a existência desse emaranhado de controles que tem levado o governo a optar pelas PPP, que têm meios mais flexíveis de controlá-los do que os órgãos públicos.
Finalmente, convém examinar o papel da imprensa: “Veja” e “Sistema Globo” desfecharam violenta campanha contra a cúpula do Ministério dos Transportes há dois anos. O ministério, tendo Luís Antônio Pagot no DNIT, tinha passado de um orçamento ridículo em 2008 para R$ 18 bilhões realizados em 2009/10. Vieram então as denúncias: o realizado em 2011 passou a R$ 6 bilhões e, em 2012, a R$ 7 bilhões, tendo sido orçados, nos dois anos, R$ 16 bilhões. Em síntese, as denúncias derrubaram os orçamentos públicos numa área vital. Detalhe: até o momento as investigações não constaram qualquer irregularidade do DNIT na era Pagot.”
FONTE: escrito por J. Carlos de Assis, economista, professor de economia internacional da UEPB e autor, entre outros livros, de “A Razão de Deus” (ed. Civilização Brasileira). Artigo publicado no site “Carta Maior” (http://www.cartamaior.com.br/templates/colunaMostrar.cfm?coluna_id=6013). [Imagens do Google adicionadas por este blog ‘democracia&política’].
Quanto à carga tributária brasileira eu já provei que ela é no máximo 1/3 da do Reino unido num cálculo matemático tão simples que até uma criança pode entender: Se os PIBs brasileiro e o inglês estão quase no mesmo patamar (tanto que revesam ano a ano na sexta e sétima posições) e a taxa tributária do Reino Unido é em torno de 39% e a do Brasil de 36%, então a do Reino Unido já é mais alta, mas, levando em conta que a população do Reino Unido é de aproximadamente 1/3 da população brasileira a receita deles por cidadão (demanda) já é mais que o triplo da receita brasileira, se levarmos em consideração que o Brasil tem aproximadamente 15 vezes a extensão geográfica do Reino Unido e que isso aumenta na mesma proporção a nossa demanda por infra-estrutura chegaremos a conclusão que a nossa receita tributária é realmente muito abaixo do que necessitamos para prestarmos os mesmos serviços com a mesma qualidade que aquele país, mas ainda há várias outras variáveis favoráveis aos ingleses e que via de regra não são consideradas pela nossa grande mídia, desenvolvi este raciocínio ao assistir uma matéria do JN que enaltecia o sistema de saúde da Inglaterra em detrimento do brasileiro e que fechava a matéria comparando a nossa taxa tributária com a deles simplesmente, sem levar todos estes aspectos em conta, é claro que isso é má-fé, os jornalistas da globo não são menos inteligentes que eu e, eu não descobri a pólvora, qualquer um sabe que ao fazer qualquer tipo de comparação tem que se levar em conta as diferenças e nesse caso elas são gritantes, portanto, trata-se de uma manipulação da opinião pública.
ResponderExcluirLeônidas,
ResponderExcluirMuito boa a sua análise. Esclarece e enriquece o tema, para mim e nossos leitores.
Obrigada
Maria Tereza