segunda-feira, 25 de março de 2013

"HOJE, BRASIL É LÍDER DE LÍDERES", diz escritor espanhol Javier Moro


Javier Moro

 Do “Sul 21”

 ENTREVISTA COM JAVIER MORO: “O BRASIL, LÍDER DE LÍDERES

 Por Nubia Silveira

“Javier Moro, escritor espanhol de sucesso, parece ter nascido viajando. De mãe francesa e pai espanhol, executivo de uma empresa de aviação, Javier, desde jovem, andou pelo mundo, conhecendo países da África, da Ásia e das Américas, além dos da Europa. Estudou na Espanha e na França, diplomou-se em História e Antropologia. Aos 17 anos, ganhou uma bolsa de estudos para viver, durante três meses, entre os esquimós, em Igloolik, uma vila canadense próxima ao Polo Norte. O relatório dessa experiência lhe valeu uma segunda bolsa: para conhecer os Yanomamis, na Amazônia brasileira.

Moro iniciou a vida profissional como pesquisador das obras de seu tio Dominique Lapierre e de Larry Collins, ambos escritores. De pesquisador a escritor foi um pulo. Seus livros têm como ponto de partida a realidade. Já contou a vida de dois brasileiros: Chico Mendes (Caminhos de Liberdade) e Dom Pedro I (O Império é Você). Romanceou a vida de Sônia Gandhi, a italiana que se tornou uma das principais políticas da Índia, em o “Sári Vermelho”, e da espanhola Anita Delgado, que se tornou uma princesa indiana, em “Paixão Índia”. Sobre a luta pela liberdade do Tibete, escreveu “As Montanhas de Buda”. No Brasil, seus livros são editados pela “Planeta”.

Ao escrever sobre personagens reais, Javier se expõe a críticas. Foi assim com “Paixão Índia”, “Sári Vermelho” e o “Império é Você”. Aos 58 anos, ele se mostra tranquilo. Não faz História, não é historiador. Escreve romances sobre personagens que admira, como Chico Mendes e Dom Pedro I. O Brasil, portanto, é seu velho conhecido. Já passou por aqui muitos anos. Agora que os corpos da família imperial – Dom Pedro I, Dona Leopoldina e Dona Amélia – foram exumados e examinados, ele volta a falar, com humor, sobre sua última obra e o Brasil. A entrevista foi, prontamente, concedida ao Sul21”, por e-mail. Para ele, o Brasil é “líder de líderes”.

Sul21 – Você tomou conhecimento da exumação dos restos mortais de Dom Pedro I, Dona Leopoldina e Dona Amélia? A seu ver, qual a importância desses estudos?

Javier Moro - Me pareceu fascinante ver como a imperatriz Dona Amélia segue bonita, ainda que seja uma múmia. E que linda múmia! A importância desses estudos é a de esclarecer, de uma vez por todas, as meias verdades e os boatos que se sucederam ao longo da história. É importante conhecer a História, porque ela nos ajuda a nos conhecermos melhor. Conhecer o passado é fundamental para entender o Brasil de hoje. E quanto mais exato for esse passado, melhor.

Sul21 – O que o levou a escrever sobre Dom Pedro I?


Javier Moro – Ele sempre me pareceu um personagem fora do comum. Maior do que a sua própria vida. Um homem contraditório, com grandeza. Um homem aberto e progressista, apesar de ter crescido em um meio muito convencional.

Sul 21 – Você já havia escrito sobre outro brasileiro – Chico Mendes. Considera que os dois – Dom Pedro e Chico -, cada um a seu tempo, são heróis brasileiros? Quais os maiores legados de cada um deles?

Javier Moro – Dom Pedro I possibilitou que o Brasil se mantivesse unido, e hoje essa unidade faz com que o Brasil seja uma grande potência. Também lutou em Portugal pelo constitucionalismo. E, definitivamente, pela liberdade de todos. Chico Mendes foi um pequeno grande líder, que ajudou o mundo a tomar consciência da crise ecológica. Obviamente, um não tem nada a ver com o outro, a não ser pelo fato de que suas vidas tiveram uma projeção mundial, além das fronteiras do Brasil.

Sul 21 – Você costuma passar algum tempo – até anos – nos países em que se situam suas histórias, como, por exemplo, no Brasil e na Índia. Em qual dos países em que já esteve pesquisando para seus livros encontrou maiores dificuldades para trabalhar? Por quê? 

Javier Moro – Não encontrei dificuldades por causa dos países. As dificuldades estão nos assuntos. Por exemplo, foi muito difícil pesquisar sobre Sônia Gandhi porque ela era contra que eu escrevesse o “Sári Vermelho”. Quanto mais altos os personagens estão na escala de poder, mais dificuldades se encontram. Os poderosos, geralmente, têm o que esconder e não querem ver seus segredos revelados.

Sul21 - Ao concluir a leitura de “O Império é Você”  fica-se com a sensação de que, para o escritor, não só Dom Pedro I, mas também Dona Leopoldina foi injustiçada pela História do Brasil. Essa injustiça se deve a quê? À forma como Dom Pedro a tratou?

Javier Moro – Em vida, dona Leopoldina foi tratada injustamente por determinada classe social dos portugueses no Brasil. Mas, o povo sempre a considerou uma heroína. O povo também se compadeceu dela, ao saber o quanto Pedro a tratava mal.

Sul 21 – Há alguma outra figura injustiçada pela História do Brasil?

Javier Moro – Não sou especialista em História do Brasil para poder responder a essa pergunta. Não sou historiador. Sou escritor. Todos os países têm personagens tratados injustamente pela História. Nem a vida, nem a História são justas. O importante, porém, é que se continue pesquisando, porque a História tem que ser algo vivo, sujeito a constantes questionamentos.

Sul 21 - Qual dos atos de Dom Pedro I, como imperador, além da renúncia, a seu ver, foi o mais marcante para a vida política brasileira?

Javier Moro – Por exemplo: negociar com os militares insurgentes quando ainda não era imperador. Depois, sua negativa de participar em golpes de estados anticonstitucionalistas.

Sul 21 - Qual ato de Dom Pedro I, como governante, deveria ser adotado, na atualidade, pelas autoridades brasileiras? Para salvar a economia do país, por exemplo, ele reduziu seu salário, reduziu os custos da casa imperial e até as joias de Dona Leopoldina foram “provisoriamente depositadas nos cofres do Banco do Brasil”. Nos dias de hoje ações como essas não soariam demagógicas?

Javier Moro – Ações como essas, e em grande escala, são o que estamos sofrendo aqui na Europa. Uma política de cortes para equilibrar o orçamento. O mesmo que Pedro se viu obrigado a fazer quando seu pai voltou para Portugal, deixando vazios os cofres do estado brasileiro. Não sei, no entanto, se é possível adotar essas medidas na atualidade. Cada momento histórico tem seus próprios desafios e complicações.

Sul 21 - O que causou a destruição política de Dom Pedro I? Seu lado mulherengo? Ou sua faceta autoritária?

Javier Moro – Acho que foi o fato de que ele não se amoldava aos nacionalistas brasileiros. Pedro sempre esteve no meio. Para os nacionalistas brasileiros, ele era demasiadamente português. Para os portugueses, era ele que tinha feito a independência da colônia… Ele não entrava em nenhum molde, porque era um espírito livre. Ele se sentia brasileiro, mas também português. Seu coração não podia renunciar às suas duas pátrias. Os extremistas de ambos os lados do Atlântico não admitiam isso.

Sul 21 - Você já acumulou alguns anos pesquisando, trabalhando e visitando o Brasil. Como descreveria a forma de atuação dos políticos brasileiros? Ela é uma herança do Império, com suas futricas e interesses pessoais?

Javier Moro -  Hoje, o Brasil é líder de líderes, graças a Lula e, agora, a Dilma. Provavelmente, a política brasileira é tão corrupta quanto a de muitos outros países, porque a corrupção é um mal endêmico. No entanto, são notórios e exemplares os esforços empreendidos por Dilma para combater a corrupção.

Sul 21 - Você, admirador e defensor de Dom Pedro I, admira algum político brasileiro da atualidade? Qual e por quê?

Javier Moro - Admiro a Dilma. Por ser uma mulher valente, honrada, simples e inteligente.

Sul 21 – Você está preparando um novo livro? Se está, sobre o que é?

Javier Moro – Segredo… ssshhh…”

FONTE: reportagem de Nubia Silveira para o “Sul 21”, transcrita no portal de Luis Nassif (http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/hoje-brasil-e-lider-de-lideres-diz-escritor-javier-moro) [Imagens do google adicionadas por este blog ‘democracia&política’].

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