quarta-feira, 27 de março de 2013

SENADOR REQUIÃO DETONA TUCANOS E PETISTAS


 

REQUIÃO DÁ NOME AOS BOIS, DETONA MÍDIA, GOVERNO DILMA E O CORO SINISTRO DE TUCANOS QUE PREGAM RECESSÃO E DESEMPREGO


Íntegra:

“Senhoras e senhores senadores, venho hoje a esta tribuna para fazer uma confissão: eu confesso que tenho medo de fantasmas. Esse pavor acentuou-se em minha recente viagem à Polônia e à Suécia. Longe do Brasil, sob o frio europeu, com temperaturas nunca acima do zero, frequentando ambientes já antigos antes que Cabral aqui aportasse, elevou-se-me o terror às almas penadas.

A cada notícia do Brasil, especialmente as notícias sobre a economia nacional, sobressaltava-me com o desfile dos espectros que emergiam da tela do computador, da tela da televisão, da tela do celular, das páginas dos jornais, dos boletins e releases dos bancos, corretoras e empresas de consultoria, que a nossa gloriosa mídia usa como fonte primária.

Como no filme “Poltergeist”, um dos clássicos do cinema de terror dos anos 80, as assombrações surgiam, reproduziam-se, envolviam-me. Mesmo que fantasmagóricas, ilusivas, era possível reconhecer as aparições.

E lá vinham os avejões dos irmãos Mendonça de Barros, o Luiz Carlos e o José Roberto. O primeiro, nada amistoso para a circunstância de desencarnado, interpelava a presidente Dilma, acusando-a de impor “condições inaceitáveis” às concessionárias privadas. Nos limites da irresponsabilidade, reivindicava “condições de mercado” para as privatizações petistas, semelhantes às da entrega da telefonia, da Vale, das ferrovias e comezainas da espécie, como diriam os portugueses .

Ainda dando de dedo na presidente, vi esfumar-se o Mendonção, e dá-se o aparecimento de José Roberto. Suas apóstrofes dirigem-se ao “modelo do setor elétrico” do atual governo.

As reprimendas foram tão incisivas que, assustado, vieram-me à lembrança aqueles anos, entre 1995-2002, quando o Brasil quebrou três vezes, e não foi possível ver todos os estragos da débâcle porque houve um apagão, tão denso que jornais, televisões, rádios não puderam noticiar, por falta de luz e, certamente, também para não espalhar o medo antipatriótico entre os brasileiros. Afinal o patriotismo é um recurso à mão, quando faltam razões, como nos exemplifica aquele jornal a serviço do Brasil.

Mal se evaporam os Mendonças, emergem do vazio as barbas brancas de Gustavo Loyola, tantas vezes colocadas de molho. Professoralmente, elas advertem: o Brasil não está preparado para conviver com taxas de juros estruturalmente menores.

Proclamada a nossa incapacidade atávica de se libertar dos usurários, as barbas do ex-presidente do Banco Central desmancham-se em mil fios. Enquanto opera-se o prodígio, coça-me uma pergunta: “Seriam os ares tropicais ou a nossa tão celebrada mulatice responsáveis por essa inabilitação a desenredar-se da agiotagem?”.

Pela janela do hotel em Varsóvia, via a neve cair e aquela chuva branca produzia a ilusão de novos fantasmas.

Agora, vinham em cortejo, esvoaçando, voltejando, rodopiando, bailando na noite fria, de fraque e cartola, pois era um cortejo de banqueiros, embora, embaçando-se no fundo da cena, parecia-me que alguém vinha a cavalo, pelo porte um puríssimo árabe. Banqueiros, corretores, financistas, ex-presidentes do Banco Central. Enfim, uma finíssima coleção de espectros.

Não consegui identificar todos. Goldfarb? Arida? Lara Rezende? Gustavo Franco? Bacha? Ou aquele lá poderia ser Salvatore Cacciola?

Seja como for, como um jogral ou o coro sinistro de uma tragédia grega, invectivavam contra o ministro Mantega, a presidente Dilma, o PT, o Lula acusando-os de não entender nada de economia, de ”ignorantes dos fundamentos macro-econômicos”, de remendões pretensiosos que ultrapassaram os limites dos chinelos, de perdulários, dissipadores da burra pública.

Um deles, não consegui identificar quem, embora uma vozinha miúda o traísse, gritava: “E a inflação? O que é que o PT tem a me dizer da inflação? Hein, hein?”. A que outro fantasma atalhou: “E a inadimplência? E a inadimplência? Não esqueça a inadimplência”.

Quando é que vai parar essa gastança dos trabalhadores? As famílias já estão muito endividadas!”.

E eis que ouço um “oh!” extasiante, comovedor. Os espectros financeiros apartam-se reverentes e, no centro da fantasmagoria, surgem Milton Friedman e Eugênio Gudin, uma visagem tão inesperada que me paralisa. De que profundezas, de que ideias tão fossilizadas ergueram-se?

Pontificais, recitam a litania: corte dos gastos públicos, redução do consumo, enxugamento do crédito e elevação dos juros como mecanismos de combate à inflação, contenção dos aumentos salariais, flexibilização das leis trabalhistas, abertura ilimitada ao capital estrangeiro e à remessa de lucros para o exterior, privatizações, terceirizações, concessões….. …..e, recitando a chorumela, apagaram-se na noite tenebrosa.

Enquanto Friedman e Gudin se desmancham, o coro financeiro, agora encorpado por notáveis da oposição, pelos “especialistas” ouvidos todos os dias pela “GloboNews” e pela “CBN”, a cada meia hora, por colunistas multiuso que nada entendem de tudo, o coro de novo extasia-se, deleita-se, inebriado.

À medida que se produz a esfumação, revelasse-me certa confusão, transparece-me que os fantasmas inquietam-se e vejo, tenho a ilusão de ver, que uma nova assombração, toda esbaforida, quer se incorporar ao cortejo, talvez querendo ser o filho nessa trindade. Não deu tempo. Chegou atrasado. E vejo toda a frustração no rosto mal delineado de Mailson da Nóbrega.

Nem bem se dissolve o coro dos financistas, colunistas e avizinhados, vejo formando-se novo préstito cantante. São editorialistas dos jornalões, apresentadores e comentaristas de televisão, economistas e analistas do mercado, e os inefáveis oradores da oposição.

Esvoaçam, adejam sem qualquer graça ou arte, desafinam na cantoria, um cantochão maçante, cujo estribilho repete sem parar, como o corvo de Poe, “contabilidade criativa”, “contabilidade criativa”, “contabilidade criativa”.

O coro eleva o tom, vocifera protestos, vergasta o lombo do ministro Mantega com adjetivos contundentes, pontiagudos. Deploram o que chamam de fraude, desonestidade, falta de transparência. Enquanto o pobre ministro e a própria presidente vêem-se na roda, espetados por tanta indignação, eis que surge um estraga-prazeres para espantar os fantasmas. É o professor Luiz Gonzaga Belluzzo, ele faz voltas em torno dos abantesmas com um cartaz, onde se lê: “Lembrem-se dos anos 90”.

Curioso pela advertência do economista, acuro os ouvidos para entender o que ele diz. Mas o vozerio das assombrações é muito forte, o tom elevado. A muito custo, distingo parte do que ele diz. E ele diz: “Não é novidade o uso de receitas não recorrentes para engordar o superávit primário. Assim foi feito nos anos 1990, na “era das privatizações”. Isso não impediu a escalada da dívida pública entre 1995 e 1999. Nesse período, a dívida saltou de 29 por cento por cento do PIB para 44,5 por cento”.

Estarreço-me com a revelação. “Contabilidade criativa” nos dois períodos do governo tucano? O PSDB também fez isso? Não posso acreditar.

Mas, sendo verdade, o editorial do “Estadão”, afirmando que a presidente Dilma, ao fazê-lo, deu “mais uma prova do firme compromisso com o atraso e o subdesenvolvimento” também se aplica ao presidente Fernando Henrique Cardoso? Seria sua Excelência também vanguarda do atraso e do subdesenvolvimento como os Mesquitas, ou seja lá quem hoje é o dono do jornal, disseram?

Doem-me ainda nos ouvidos os agudos da exasperação, da santa fúria do jornalão: “As bases de uma economia saudável, promissora e atraente para empreendedores de longo prazo estão sendo minadas por uma política voluntarista, imediatista, populista e irresponsável, embalada num mal costurado discurso desenvolvimentista”.

Senti pena do couro dos senhores Pedro Malan, Gustavo Franco e outros criativos condutores da política econômica no governo FHC; com que marteladas foram agraciados pelos barões paulistanos.

O constrangimento provocado pelo economista palmeirense, reavivando fatos tão recentes, opera como exorcismo, pulverizando o cortejo fantasmático.

As assombrações, no entanto, não se aquietam. Deixo a Polônia, despeço-me de Varsóvia que, tão coberta de neve, parece-me ilusória, irreal, fictícia para quem acostumado aos trópicos. Na Suécia, não faz menos frio. Também Oslo envolve-se na neve.

As noites ermas, frias e escuras são um convite à visitação das almas penadas.

E elas não se fazem de rogadas e logo me assombram, espantam-me, assustam-me. Vejo ajuntamentos de pessoas, desfiles. São imagens muito antigas. Os pelotões passam, os marchadores erguem o braço direito, gritam uma saudação indígena; no alto das mangas de suas camisas, um símbolo, uma letra, o sigma, a décima oitava letra do alfabeto grego, também usada como símbolo matemático, representando somas ou variáveis estatísticas.

Tenho a ilusão de que o sigma desgruda das camisas verdes, gira em um caleidoscópio, e compõe como que uma coroa de letras e transforma-se, agora, em símbolo da mais poderosa usina da idéias conservadoras do Brasil, o “think thank” “Instituto Millenium”. A visagem deságua em pesadelo quando o subconsciente trás à memória siglas como IPES, Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais, IBAD, Instituto Brasileiro de Ação Democrática, GPMI, Grupo Permanente de Mobilização Industrial, usinas de idéias antipopulares, antitrabalhistas, antissociais, antidemocráticas, antibrasileiras, anti-humanas.

IPES, IBAD, GPMI, anauê, sigmas…… que pesadelo!

Na derradeira noite sueca, fria, nebulosa, inóspita, os fantasmas se divertem em me pespegar outra pantomima. De novo, um imenso cortejo espectral. Não me é muito difícil distinguir as fisionomias dessas almas aflitas que flutuam entre os fantasmas dos terríveis vikings e o espírito inquieto de Gunnar Myrdal, desolado com o afastamento de suas idéias.

Furando as brumas polares, penso ver plataformas de exploração de petróleo, espalhando-se mar adentro; tenho a ilusão de navios, imensos petroleiros; desorientam-me, em seguida, nova dança de símbolos, logotipos que se sobrepõem, dissolvem-se, anulam-se .

E das águas glaciais, das geleiras tão áridas quanto o ardente Saara ilumina-se um dístico, heráldico: Petrobrax.

À medida que a marca toma conta do campo visual de meu pesadelo, ouço vozes, discursos indignados, e leio manchetes de genuíno e antigo verde-amarelismo em defesa da estatal. E fico confuso com essa troca de papéis entre os fantasmas da pátria tão distante.

Teria ocorrido alguma revolução? Alarmei-me.

Esses foram os últimos espectros que me rondaram e me assombraram no velho continente. Aportado o Brasil, de outra qualidade são os meus espantos.

Aterroriza-me não a contabilidade criativa, e sim a ideologia do superávit primário.

Desassossega-me não o aumento da inflação, e sim corrosão de nossa base industrial, sucateando-se ao céu aberto da incúria governamental.

Alvoroça-me não o crescimento da inadimplência, e sim a fragilidade de uma política econômica que se ancora no consumo, no crédito consignado e na exportação de commodities.

Assusta-me não a expansão dos gastos públicos, e sim a paralisia das obras de infraestrutura; a execução lentíssima, sonolenta do Orçamento da União.

De que têm medo os nossos próceres ministeriais? Intimidam-nos a insepulta “Delta” ou o libérrimo Cachoeira?

Apavora-me não o desacordo em relação às metas, e sim, as próprias metas, camisa de força imposta pelo mercado, pela financeirização da economia, que certa esquerda transforma bandeira para ser vista como “responsável”, “moderna”.

Argh!!!

Estarrecem-me não as privatizações, e sim o abuso, o desregramento das concessões, superando até mesmo toda fobia privatista de Margareth Thatcher, como se vê agora no caso dos portos.

Assombra-me não o picadinho variado das medidas do Ministério da Fazenda, e sim a falta de uma Política Econômica que se enquadrasse em um Programa para o Brasil, doutrinariamente à esquerda, fundado na solidariedade, na distribuição da renda e dos benefícios do avanço tecnológico, na prevalência, sempre, dos interesses populares e nacionais.

A oposição, a direita sabe o que quer. Não se apoquenta com dúvidas, receios ou escrúpulos; quando muito, disfarça o tom para não assustar, e açucara o óleo de rícino com que, no poder, trata as crises e os interesses conflitantes.

São dessa ordem, são dessa qualidade os meus espantos, os espectros que me assombram, assustam e inquietam. E até quando viveremos nesse tormento, sem rumo, sem qualquer garantia, sem nenhuma segurança?
E a única segurança é um Programa para o Brasil.

Quem se habilita?”

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