quarta-feira, 17 de abril de 2013

VENEZUELA: CRESCEM A TENSÃO E O RISCO DE CONFRONTOS E VIOLÊNCIA NA VENEZUELA, por Bob Fernandes


 

Panelaços em Coro, Puerto Ordaz, Puerto La Cruz, San Cristóbal, Maracaibo, Cabimas, Barquisimeto, Los Teques, Cumamá, Valencia, Maracay e Caracas, incluindo zonas populares, como Caricuao e El Cementerio.

Henrique Capriles, o candidato da oposição derrotado na eleição presidencial da Venezuela, já convoca marchas de protesto para as ruas.

Com 234 mil votos a mais, o chavista Nicolás Maduro venceu Capriles. Bastaria a metade mais 1 voto, mas a vantagem de menos de 2% levará a uma batalha. No mínimo, política. Vejamos quem está na luta, e por que está.

Capriles: Em dezembro, ele se elegeu governador do estado Miranda, que abriga parte da capital. Capriles teve 50,35% dos votos. O Conselho Eleitoral era o mesmo, as urnas eletrônicas idem. Capriles teve apenas 28 mil votos a mais que o adversário, o primeiro vice-presidente da Era Chávez, o hoje chanceler Elias Jaua.

Maduro: Com a morte de Chávez, o presidente provisório largou na frente na curtíssima campanha de três semanas. Com uma vantagem que poderia ser, ao mesmo tempo, um problema. O choque com o desaparecimento do líder parecia oferecer grande liame emocional junto à população chavista. Maduro abrigou-se sob a sombra do líder morto. Com a campanha correndo, a sombra tornou-se grande demais.

O que era positivo, a favor, com as comparações foi se transformando em problema. Pesquisas detectaram isso. E aí se viu o adversário, Capriles, criar a frase que atacava Maduro e absolvia e glorificava Hugo Chávez. Capriles, quem diria, disse e repetiu: "Maduro não é Chávez".

Capriles quer recontagem de votos. É de se ver no que dará isso tudo. Ele pode conseguir, está no seu papel, o de fazer política. Em junho, aconteceriam eleições municipais, mas com esse pleito agora antecipado e realizado, o de junho será adiado. Mas terá que acontecer o mais breve possível. Há riscos políticos para Capriles se, nas ruas, os eventos fugirem ao controle, vierem os confrontos, a violência.

E há mais nesse enredo, a instigar a guerra de desgaste desde já. Criação de Chávez, na metade de qualquer mandato popular pode se dar um referendo para revogá-lo ou não. Para isso, basta 20% do eleitorado assinar e cobrar o referendo. É óbvio que Capriles tem 20%, mas será preciso mantê-lo e consolidar sua liderança na oposição. Também por isso o barulho.

Em 2004, Chávez enfrentou um referendo. Venceu com diferença de 19% dos votos. A oposição não queria aceitar. Alegou fraude, com apoio dos Estados Unidos e da OEA. O ex-presidente Jimmy Carter, observador internacional com seu “Centro Carter”, atestou a lisura do referendo e ajudou a desatar o nó. Agora, os Estados Unidos e OEA [novamente] cobram a recontagem.

A não ser que se prove fraude, na Venezuela isso não necessariamente ajudará Capriles no médio e longo prazos. Se vierem confrontos e violência, o governo tratará de lembrar aos chavistas que agora votaram na oposição o que aconteceu há 11 anos. Então, um golpe midiático e militar derrubou Hugo Chávez acusado de ser um ditador; Chávez havia tentado um golpe, 10 anos antes, contra o presidente Carlos Andrés Pérez.

Em abril de 2002, após derrubar Chávez na madrugada do dia 12, em menos de 24 horas a oposição fechou o Congresso, a Corte Suprema e derreteu todos os poderes. Capriles, então prefeito de Baruta, pulou o muro da embaixada de Cuba para prender governistas refugiados. Os EUA trabalharam pelo golpe e apoiaram o novo governo. George W. Bush era o presidente. O mesmo Bush que perdeu a eleição popular para Al Gore, não aceitou recontagem e levou no tapetão, nas cortes.

Por que tanto? Por que tudo isso? Por que tanto interesse? Porque a Venezuela, um país árabe que fala espanhol, tem a primeira ou segunda maior reserva de petróleo do mundo por mais um século. Na segunda-feira, 15, empresas em Caracas liberaram seus funcionários mais cedo. Para evitar riscos de confrontos.Toda essa tensão e história começam a chegar às ruas. A se levar em conta o passado recente, pode acabar em confrontos e violência.”

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