sexta-feira, 17 de maio de 2013

PSDB, PETRÓLEO E INTERESSE NACIONAL : "ANTAGONISMO INCONCILIÁVEL"


Por Saul Leblon

“No seminário dos dez anos de governo do PT, realizado na 3ª feira (14), em Porto Alegre, o ex-presidente Lula fez uma ponderação interessante:

Quando você ficar em dúvida, feche os olhos, imagine o que seria o Brasil de hoje sem os dez anos de governo do PT’.

Um bom começo é dar de barato que José Serra venceu as eleições em 2002 e seria reeleito em 2006, fazendo o sucessor em 2010.

Nesse Brasil imaginário, caso a Petrobras ainda resistisse, reservas imensas de petróleo seriam descobertas em 2009.

A seis mil metros abaixo da superfície do oceano, o Brasil seria premiado com uma poupança equivalente a 50 bilhões de barris. As maiores descobertas de petróleo do século 21.

O que Serra faria com elas não é preciso imaginar.

Basta reler despachos de dezembro de 2009, da embaixada norte-americana no Brasil, revelados pelo “WikiLeaks”.

Matéria da ‘Folha de S.Paulo’, de 13/12/2010 transcreveu o teor desses documentos.

Neles, o tucano explicita as consequências para o Brasil, caso as urnas de 2010 transformassem em realidade o país imaginário proposto por Lula.


Trechos da matéria da Folha intitulada ‘Petroleiras foram contra novas regras para pré-sal’:

“Segundo telegrama do WikiLeaks, Serra prometeu alterar regras caso vencesse. Assessor do tucano na campanha confirma que candidato era contrário à mudança do marco regulatório do petróleo (realizada por Lula).

As petroleiras americanas não queriam a mudança no marco de exploração de petróleo no pré-sal que o governo aprovou no Congresso, e uma delas ouviu do então pré-candidato favorito à Presidência, José Serra (PSDB), a promessa de que a regra seria alterada caso ele vencesse.

“Deixa esses caras [do PT] fazerem o que eles quiserem. As rodadas de licitações não vão acontecer, e aí nós vamos mostrar a todos que o modelo antigo funcionava… E nós mudaremos de volta”, disse Serra a Patricia Pradal, diretora de Desenvolvimento de Negócios e Relações com o Governo da petroleira norte-americana Chevron, segundo relato o telegrama (NR: enviado da embaixada dos EUA no Brasil ao Departamento de Estado, em Washington).

O texto diz que Serra se opõe ao projeto, mas não tem “senso de urgência”. Questionado sobre o que as petroleiras fariam nesse meio tempo, Serra respondeu, sempre segundo o relato: “Vocês vão e voltam”.


A mudança no marco regulatório do pré-sal, que Serra prometia reverter, restituiu à Petrobras o controle integral de todo o processo de extração, refino e comercialização, esfarelado em 1997, quando o PSDB rompeu o monopólio.

Desde então, a exploração passaria a ser regida pelo modelo de concessão em que a empresa vencedora dos campos licitados se torna a proprietária soberana de todo o óleo.

Em síntese, o Estado deixa de exercer qualquer controle sobre o processo.

No modelo de partilha do pré-sal, que teve oposição virulenta do conservadorismo, a Petrobras ganhou duas vantagens: será a operadora exclusiva dos campos e terá, no mínimo, 30% de participação nos consórcios que exercerem a exploração.

O óleo extraído será dividido com o país. A presença direta da Petrobrás impedirá manipulações.

Mais importante que tudo: a estatal definirá o ritmo da extração, de modo a viabilizar a pedra basilar do novo marco regulatório.

A regra de ouro consiste em tornar o pré-sal uma alavanca industrializante, capaz de deflagrar um salto de inovação no parque fabril brasileiro.

Cerca de 60% a 70% dos bens e equipamentos requeridos em todo o ciclo de exploração terão que ser adquiridos de fabricante local.

O fracasso desse modelo conta com poderosa torcida incrustrada em diferentes setores da economia, da política e da mídia. Local e internacional.

O Brasil que Lula convida a especular felizmente não aconteceu. Mas seus atores potenciais não desistiram de protagonizá-lo.

Um fiasco da Petrobrás no pré-sal é tido por eles como o atalho capaz de materializar a relação de forças que as urnas descartaram em 2002, 2006 e 2010.

Na 5ª feira da semana passada, o arguto José Serra reafirmou essa esperança em um artigo no “Estadão” em que reitera a incompatibilidade histórica do PSDB com o petróleo brasileiro. Trata-se de uma espécie de atualização histórica do antagonismo entre a UDN e o desenvolvimentismo.

O texto sugere o nome de Lula ao “Guinness World Records”.

Motivo: o ex-presidente teria empurrado a Petrobrás a uma situação de pré-insolvência, entre outras razões, por ter modificado a regulação herdada do PSDB, no caso das reservas do pré-sal.

Trechos do artigo de Serra, publicado na edição de 09/05/2012 do jornal:

“Em palestra recente, afirmei que o ex-presidente Lula mereceria pelo menos três verbetes no ‘Guinness World Records’. O primeiro por ter levado à pré-insolvência a Petrobras, apesar de ser monopolista, a demanda por seus produtos ser inelástica, os preços internacionais, altos e as reservas conhecidas, elevadas. Fez a proeza de levar a maior empresa do País à pior situação desde que foi criada, há 60 anos. Promoveu o congelamento de seus preços em reais, instaurou uma administração de baixa qualidade e conduziu a privatização da estatal em benefício de partidos e sindicatos, com o PT no centro. Esse condomínio realizou investimentos mal feitos e/ou estranhos, sempre a preços inflados; queimou o patrimônio da Petrobras na Bolívia; promoveu previsões irrealistas sobre o horizonte produtivo do pré-sal e fulminou, para essa área, o modelo de concessão, trocando-o pelo de partilha, que exige da empresa ampliação de capacidade financeira, administrativa e gerencial impossível de se materializar”.

O tucano causou frisson na rede conservadora, recebendo rasgados elogios daqueles que o consideram dotado de um tirocínio econômico privilegiado.

Três dias depois de sepultada no mausoléu dos grandes fracassos nacionais, a Petrobrás ressuscitou no noticiário.

O mármore da lápide onde o coveiro tucano gravou seu artigo do “Estadão” dissolveu-se, então, sob o peso de US$ 11 bilhões de dólares.

A montanha de dinheiro foi captada no mercado internacional com a venda de seis tranches diferentes de títulos da Petrobrás, com vencimentos variáveis que se estendem até 2043.

A demanda dos investidores internacionais teria alcançado US$ 40 bilhões, excesso que a estatal declinou.

Os maiores bancos e fundos internacionais negligenciaram a perspicaz avaliação do PSDB e de seu eterno presidenciável sobre a higidez presente e futura da Petrobras, do Brasil e do modelo de extração do pré-sal, que lastreia papeis com horizonte de vencimento de até 30 anos.

Não só. Na 3ª feira, infelizmente pelo modelo de concessão ainda vigente em áreas externas ao pré-sal, dezenas de empresas se apresentaram para arrematar campos leiloados pela Petrobras em diferentes regiões brasileiras.

O investimento previsto é de R$ 7 bilhões.

O que evidencia esse exercício frugal de rememoração, inspirado no convite de Lula, é a frivolidade quase caricatural com que o PSDB e seus ventríloquos torturam as palavras ‘desastre’, ‘fracasso’ e ‘crise’, de modo a vesti-las no país e num governo, cujos flancos existem.

Mas, por certo, não serão aqueles diagnosticados por Serra; e tampouco passíveis de superação com a receita conhecida dos herdeiros do udenismo.”

FONTE: escrito por Saul Leblon no seu “Blog das Frases” no site “Carta Maior”  (http://www.cartamaior.com.br/templates/postMostrar.cfm?blog_id=6&post_id=1247). [Imagem do Google adicionada por este blog ‘democracia&política’].

2 comentários:

  1. Com muito respeito, mas, Saul Leblon é da tropa de choque da DILMA, igual ao PHA.

    E com a Dilma: Magda Chambriard está distribuindo o BraZil pra CHEVRON, SHELL, BP, TOTAL, não é???

    Sem contar que a Shell, Dreyfus, BP, Bunge, etc, assumiram o controle da produção do METANOL no BRAZIL, não foi??

    E os Royalties do PETRÓLEO e do GÁS do PIAUÍ, são EXCLUSIVAMENTE do POVO do PIAUÍ, não é??? Feito o Rio de JANEIRO, não é?? Ou vão fazer feito a VALE do Rio DOCE que era do POVO do PARÁ... HOJE pertence a BOVESPA e, tem sua sede no RIO de JANEIRO... sei não...

    CONTRA a PERVERSÃO não bastaram os GRITOS do Cyro Martins e do Graciliano Ramos, não é??
    E a FOME começa na FALTA da SOLIDARIEDADE, e a SOLIDARIEDADE é a DOR dos OUTRO na GENTE.
    Fazer da FOME e da DOR um NEGÓCIO é satânico!!

    "TUDO por São PAULO, nada pelo BRASIL. São PAULO não pensa o BRASIL."

    PALESTINA é aqui... falta só um Hezbollah, um Hamas, uma Fatah, um IRA, um ETA, uma FARCS.
    Tel AVIV a gente sabe onde fica, só os SUDESTINOS desconhecem.
    Dá até pra saber onde o "MURO da VERGONHA", começa, na Fronteira do LINDO Estado da BAHIA.
    E o NAKBA nordestino foi em Nove de Julho de 1932.

    FIESP... FIRJAN... DILMA...

    "Brasil leiloado", por Adriano Benayon

    http://contextopolitico.blogspot.com.br/2013/05/brasil-leiloado-14052013-por-adriano.html

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  2. Probus,
    Admiro o seu acirrado nacionalismo. É dever de todos os brasileiros.
    Contudo, preocupa-me exagerar no afastamento do apoio ao governo atual, pois acaba dando a volta na Terra e juntando-se à direita. Ver o PSOL, que virou instrumento do PSDB. Campos, por sua vez, já perdeu a vergonha e já juntou-se aos interesses da direita. Volta e meia leio sobre entendimentos dele com Serra, Aécio e, agora, com os Bornhausem. Na atual conjuntura, execrar Dilma significa trabalhar para a volta da direita ao poder.
    Um detalhe. Creio que algumas de suas críticas à Dilma são exageradas, pois penso que abertura do nosso petróleo para os estrangeiros, doação da Vale, fome e abandono dos pobres são coisas dos governos demotucanos.
    Maria Tereza

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