sábado, 1 de junho de 2013

MÍDIA SOMENTE PREVÊ DESASTRE ECONÔMICO E OFUSCA CONQUISTAS

“O 'Observatório da Imprensa' publicou uma análise das notícias de jornais econômicos de quinta-feira (30), concluindo sobre uma cobertura pessimista e fatalista da economia brasileira. As matérias, segundo a análise, chegam a negligenciar resultados positivos, que até interrompem tendências negativas recentes, como a medição dos investimentos totais. Leia a análise.

Os três principais jornais genéricos de circulação nacional saíram nesta quinta-feira (30) com a mesma manchete, todos eles induzindo o leitor a acreditar que o Brasil se encontra à beira do abismo.

--“PIB decepciona, mas BC eleva juros para conter a inflação”, diz o “Estado de S.Paulo”.

--“PIB decepciona, mas BC aumenta juros ainda mais”, ecoa a “Folha de S.Paulo”.

--Numa linguagem mais popular, o “Globo” anuncia: “Nem Pibinho segura juros, que vão a 8%”.
 
Em todos eles, o viés é o do desastre iminente.

O ponto de partida para a interpretação catastrofista é mais um resultado frustrante do Produto Interno Bruto, que cresceu 0,6% no primeiro trimestre deste ano, na comparação com [o último trimestre de 2012]. O contraponto é a decisão do Banco Central de elevar a taxa de juros em 0,5 ponto porcentual, surpreendendo previsões da maioria dos analistas credenciados pela imprensa, que esperavam uma taxa de 0,25 ponto porcentual.

Mas há algumas interpretações conflitantes e nem todas sustentam o viés catastrofista indicado pelas manchetes. Por exemplo, a melhoria da produtividade da agropecuária fez o setor crescer 9,7% no período, o melhor resultado em cinco anos. O resultado aponta para menos pressão sobre os preços de alimentos nos próximos meses, segundo algumas análises.

As safras dos principais produtos superaram expectativas: a soja, que tem grande peso na cesta da produção rural, tem uma safra 23,3% maior que a do mesmo trimestre de 2012, sem que tenha sido necessário expandir na mesma proporção a área cultivada, o mesmo acontecendo com o arroz e o milho, gerando produção recorde de 185 milhões de toneladas de grãos em 2013. A produção de cana deve crescer mais de 100% no período até junho.

Há claro descompasso entre a interpretação induzida pelas manchetes e algumas reportagens e análises apresentadas internamente pelos jornais. Interessante observar que o viés negativo é mais acentuado nos comentários de jornalistas não especializados, principalmente colunistas que normalmente se dedicam a temas políticos. Em alguns casos, como no da “Folha de S.Paulo”, o tom chega a ser triunfalista em seu negativismo, como se fosse o caso, em qualquer circunstância, de comemorar as dificuldades da economia nacional.

FESTEJANDO O DESASTRE

Esse descompasso fica mais claro quando se lê com atenção as reportagens internas, entre as quais se registra, por exemplo, um aumento de 4,6% nos investimentos totais na economia no primeiro trimestre deste ano, em relação ao último trimestre de 2012, o que pode apontar a possibilidade de interrupção da série negativa de desempenho da indústria.

Quanto ao PIB, os gráficos que têm como ponto comparativo inicial o ano de 2011, quando houve uma queda acentuada na produção de riqueza, mostram que o ponto mais baixo do “vale” ficou no terceiro trimestre daquele ano, quando o PIB ficou negativo em 0,1%.

Nos gráficos que abrangem um período maior de tempo, o olhar sobre esse indicador mostra o desenho de uma curva segundo a qual a economia brasileira vem se recuperando gradualmente desde meados de 2012, após um período de estagnação no começo daquele ano.
Embora lenta, há uma retomada neste começo de 2013, e as comparações lineares entre o final do ano anterior e os três meses iniciais deste ano não podem ser consideradas a sério se não levarem em conta as variações sazonais do consumo e o costumeiro desaquecimento do primeiro trimestre.

Finalmente, o gráfico comparativo entre as economias de outros países mostra o Brasil no grupo daqueles com melhor resultado, com um desempenho semelhante ao dos Estados Unidos, inferior à evolução da Coreia do Sul e Japão e superior ao crescimento do México, Inglaterra, Alemanha, França e resto da Europa.

Portanto, há muitas maneiras de interpretar os dados disponíveis.

A oscilação do nível de geração de riqueza se deve, em grande parte, ao esfriamento do consumo, que pode ser atribuído a muitas causas, entre as quais se deve incluir o estado ânimo dos consumidores, algumas altas de preços pontuais, os juros e a sazonalidade de alguns produtos que vinham puxando a economia.

Toda interpretação de dados econômicos e sociais é feita a partir de um recorte específico, e os jornalistas sabem, de antemão, que cada analista estará olhando apenas uma fatia do bolo. A escolha de manchetes equilibradas ou catastrofistas é uma decisão editorial, que não contempla necessariamente a realidade objetiva.

Não há como fugir à evidência de que, diante de um copo sobre a mesa, a imprensa tem a tendência de enxergá-lo mais vazio do que cheio.


FONTE: do “Observatório da Imprensa”. Transcrito no portal “Vermelho”  (http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=214959&id_secao=1). [Imagens do Google adicionadas por este blog ‘democracia&política’].

Nenhum comentário:

Postar um comentário