sexta-feira, 21 de junho de 2013

ODOR FÉTIDO NA MÍDIA (sobre as manifestações de rua)


PiG toca a manada

Wanderley sente um odor fétido

“Suaves apresentadoras perguntam se eles não vão fechar a ponte Rio-Niterói...



O portal “Conversa Afiada reproduz irretocável artigo do professor Wanderley Guilherme dos Santos para o “Cafezinho”: 

CONTRABANDOS AUTORITÁRIOS EM BOA FÉ ALHEIA

Por Wanderley Guilherme dos Santos

“É frenética a competição pela atribuição de sentido a manifestações deste junho que já não possuem sentido unívoco algum. Da tentativa de apropriação pela mídia conservadora, que obteve sucesso em pautar as demandas e insinuar o roteiro das caminhadas, às solenes reflexões sobre o aprofundamento da participação popular e o esgotamento da democracia representativa, nada faltou para obscurecer o já espinhoso desafio de compreender o sucesso e eventuais explosões de coletividades. Até mesmo a subserviente beatificação da juventude pelos velhotes assustados com o estigma de superados, caso não adotem o corte de cabelo à moicano, compareceu. Mas em seu tempo, a bem da verdade, nenhum deles foi preservado de cometer sandices pela juventude de que desfrutavam.

É razoável atribuir ao aumento nas tarifas dos transportes coletivos a força causal que pôs em movimento as primeiras manifestações. A repressão bruta, na cidade de São Paulo, à passeata de quinta-feira, 13 de junho, forneceu uma razão suficiente para a velocidade inédita com que manifestações semelhantes se disseminassem horizontalmente em várias capitais. 

Ao saírem às ruas, na segunda-feira, dia 17, o que as marchas conquistaram em adesão extensa perderam em unidade reivindicatória. Do mesmo modo, a causalidade que mobilizava o povaréu tornou-se múltipla e não automaticamente coerente. A lista de reivindicações avolumou-se, fragmentando os grupos de interesse e anunciando o óbvio: é impossível atender completa e instantaneamente a todas as deficiências do país. Insistir nisso é torcer por um impasse sem negociação crível. O clima ficou grávido de sinais disparatados, com a ausência de coordenação de legitimidade reconhecida. Paraíso para todos os oportunismos, charlatanices, além dos equívocos de boa fé.

Nada a ver com os “cara pintadas” do “Fora Collor”. À época, todos foram às ruas com o mesmo e único propósito: o impedimento do presidente. Princípio causal único do movimento, indicava o que era apropriado e o que não era apropriado fazer. Não havia sentido, para o objetivo comum, promover depredações, alienar aliados ou desrespeitar adversários. Muito menos aproveitar a audiência para fazer propaganda de algum interesse faccioso. Agora, a que vem a PEC 37, por exemplo, nas manifestações sobre aumento de passagens de coletivos?

Trata-se de um "aprofundamento do processo decisório", dirão alguns de meus colegas. Sim, e por conta disso lá virá a mídia conservadora sugerir que as manifestações não parem, apenas substituam as bandeiras, quem sabe sabotar as próximas licitações ferroviárias, rodoviárias e aeroviárias fundamentais para o país? Ou, ainda melhor, alterar o sistema de partilha do pré-sal [voltar para as generosas concessões a petrolíferas estrangeiras] e revogar a exigência de participação da Petrobrás? As suaves apresentadoras do sistema golpista de comunicação passaram a perguntar ao repórter que cobria manifestação na cidade de Niterói se os protestos não iriam se dirigir à ponte Rio-Niterói, justo depois de os prefeitos do Rio e de Niterói revogarem o aumento nos transportes. Em qualquer democracia que se preze essa incitação à desordem não ficaria sem consequência.

[OBS deste blog ‘democracia&política’: a ‘Globo’, especialmente, vem apregoando nos últimos dias, centenas de vezes, que as manifestações são também “contra a PEC 37”. O que está por trás do interesse da ‘Globo” em colar esse falso objetivo nas manifestações? Seria pura defesa "democrática" da manutenção do poder do Ministério Público chefiado pelo Procurador-Geral Roberto Gurgel?

Para melhor compreender a agenda oculta da ‘Globo’, creio suficiente lembrar alguns fatos. Geraldo Brindeiro foi Chefe do Ministério Público como o Procurador-Geral da República durante os oito anos de governo de Fernando Henrique Cardoso. Dos 626 inquéritos criminais que recebeu envolvendo o governo FHC e parlamentares do PSDB, DEM e PPS, engavetou 242 e arquivou outros 217. Dessa maneira, as enormes corrupções demotucanas não foram investigadas, não vieram a público e, assim, impune e cinicamente, eles posam de “honestos” até hoje. Isso ficou notório até no Exterior, mas aqui nada era divulgado. Vejamos, por exemplo, o seguinte vídeo feito na Inglaterra:




Em fato mais recente, temos o engavetamento, por dois anos, pelo PGR Gurgel/MP, de investigação contra o multimilionário bicheiro corruptor Cachoeira e seu auxiliar no Congresso, o Senador do DEM Demóstenes Torres. 

Cito, também, o abafamento pela mídia e pelo PGR/MP e STF do "mensalão tucano", sua dispersão em diversas instâncias e Estados para processos de duração infinita e sem destaque midiático. Apesar desse mensalão da direita ser anterior e envolver muito maiores quantias de dinheiro, realmente público, desviado para bolsos tucanos (verbas de Furnas etc), seu julgamento vem sendo postergado por razões desconhecidas. Até mesmo, o PGR Gurgel propôs ao STF seu arquivamento.

Esse poder do PGR/MP de interferir na defesa da direita, escondendo suas falcatruas, a PEC 37, se aprovada pelo Congresso, realmente diminuirá. Por isso, a “Globo”, travestida de "defensora da democracia", quer manter a situação atual do PGR/MP e usa as atuais manifestações de rua como sendo “contra a PEC 37”...



Voltemos ao texto de Wanderley Guilherme dos Santos:]


Ao contrário de ser uma beleza de movimento sem líderes, o espontaneísmo infantil se revela um desastre na confissão de alguns de que não conseguem impedir a violência de subgrupos. Nem por isso deixam de ser responsáveis por ela, na medida em que continuem recusando a adesão cooperativa das instituições com alvará de estabelecimento reconhecido, instituições capazes de assegurar a virtude pacífica das manifestações. É politicamente primitivo, nada vanguardista, impedir a associação de movimentos organizados e, inclusive, de partidos políticos, desde que submetidos ao objetivo central da manifestação. Em movimentos de boa fé democrática, há a hora de desconfiar e a hora de convergir. Ou estão sub-repticiamente provocando o descrédito de legítimas instituições democráticas a pretexto de alargar a esfera de liberdade do espaço público?

Não são só os de boa fé e bem intencionados que se manifestam e pautam o “espontâneo” alheio. Reconheço o odor fétido dessa teoria de longe.”

FONTE: escrito por Wanderley Guilherme dos Santos no blog “Cafezinho”. Transcrito no portal “Conversa Afiada”   (http://www.conversaafiada.com.br/brasil/2013/06/20/wanderley-sente-um-odor-fetido/). [Trecho entre colchetes em azul adicionado por este blog ‘d
emocracia&política’].

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